As Crônicas de Aethel (II): O Livro das Bruxas escrita por Aldemir94


Capítulo 31
Perdão




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Na grande floresta sombria, James Salazar, 2° cônsul e ditador do império, corria em busca de refúgio; seu coração acelerava, seus músculos começavam a doer e as mãos feridas lhe atormentavam.

Apesar do esforço, sua audição ainda captava a voz de Aethel, clamando “atrás dele!”, sendo seguido por Jack, Danny e pelos outros.

De repente, os olhos do fugitivo fitaram a sombra de um grande dragão, que rodeava as árvores antigas e mergulhava no céu, serpenteando de cima a baixo e caindo rapidamente em direção ao chão, como uma águia em busca de sua próxima presa.

Tentando segurar a espada com a mão direita, James escondeu-se atrás de uma pedra e procurou áreas que melhor o ocultassem de seus inimigos.

Enquanto isso, Aethel corria para o interior profundo da floresta e pedia que seus amigos prestassem atenção:

— Ele está aqui – disse o imperador – Formaremos duplas: Dipper e Mabel, vocês ficarão juntos; Rosa, você ficará com Jack; Danny e Sam, quero que fiquem juntos. Quanto a mim, ficarei sozinho.

Rosa buscou na grama sinais de fuga, logo encontrando marcações de calçados, próximas de um grupo de pedras cobertas com limo:

— Ele correu para lá – apontou a loira – Vamos, Jake!

Encolhendo-se em meio a alguns arbustos, próximos de um grupo de árvores, Salazar segurou sua espada e, de forma rápida, engatinhou até uma rocha próxima.

Mirando em Aethel, o ditador lançou mais um ataque de fogo, obrigando os jovens a se abaixarem.

Aproveitando-se do momento, James deslizou por trás das pedras e correu em direção a uma clareira fechada, olhando por todos os lados e cobrindo as mãos com sua capa:

— Vamos ver… se os revolucionários se escondiam aqui, então deve haver algum arsenal – sussurrou o ditador – Aethel, vou mandá-lo pelos ares.

Enquanto o cônsul retomava sua dolorosa caminhada, seus ouvidos captaram uma trovoada, seguida de outras; um grande relâmpago cruzou o céu e uma borrasca começou.

A água fria molhava a capa e entrava em contato com as mãos do ditador, provocando ardência.

Apesar da terrível dor, James prosseguiu até chegar a uma abertura escondida por vegetação, onde havia quatro barris de pólvora e dois baús cobertos por limo, cujos cadeados já estavam enferrujados demais para oferecer qualquer resistência.

Com um sorriso, Salazar averiguou seus conteúdos, constatando a presença de algumas adagas, quatro mosquetes, uma pequena caixa com pólvora, um saquitel com munição e algumas poucas bombas.

Próximo aos baús, o homem encontrou um rolo com pavio embebido em óleo que, tempos antes, fora usado nos modelos antigos de mosquete.

 Com um sorriso, o cônsul pegou uma das adagas e fez buracos em um dos barris, escondendo-se em seguida no lado de fora, em meio a vegetação.

 Poucos minutos depois, Aethel e seus amigos encontraram a trilha do ditador e chegaram até o pequeno esconderijo, onde viram os baús e seus conteúdos.

Sam sentiu um cheiro de queimado e disse que o inimigo deveria estar próximo, tendo apoio de Rosa e Danny.

Jack segurou um dos mosquetes e perguntou porque coisas como aquelas estavam ali, ao que Aethel respondeu:

— Vinte anos atrás, muitos revolucionários se esconderam nesta floresta. Me diga, Rosa, os mosquetes funcionam?

— Eles estão bons – respondeu a garota, segurando uma das armas – Se a pólvora estiver seca, então estarão perfeitos para uso.

Mabel se distraiu com uma das adagas enquanto Dipper se abaixava para, com a ajuda de Jack, averiguar o conteúdo dos barris.

Rapidamente, Salazar saiu do meio da vegetação e, de espada em punho, desferiu uma chuva de fogo em direção ao pequeno esconderijo, incendiando a pólvora e provocando uma grande explosão, que sacudiu a terra e causou um desmoronamento.

Ofegante, James afastou-se e cobriu a cabeça com a capa, tentando preservar-se da terrível tempestade que piorava cada vez mais.

As mãos do ditador continuavam a doer e suas pernas sofriam com o frio da água que caía, como se anunciando um novo dilúvio para limpar o mundo dos pecados e ambições mundanas.

Satisfeito, Salazar começou a rir, como há muito não fazia, ignorando as mãos feridas ou seu esgotamento muscular:

— Hahaha, finalmente, ele morreu! Matei ele, matei, hahahaha! Erradique a praga Ryu! Finalmente acabou! E agora – sorriu, pérfido – Devo retornar para o palácio e ajudar aqueles idiotas a enfrentarem o populacho revoltado… E teremos uma magnífica cerimônia na fogueira, para o jantar desta noite; com os cumprimentos de James Salazar, o venturoso cônsul, ditador perpétuo, pontífice máximo e novo imperador… Ouviu isso, Antônio?! – gritou o traidor, exaltado – Seus parentes imbecis não vão mais me atrapalhar, e tampouco você… porque está morto! Me ouviu, “bom imperador”?! Você morreu e eu estou vivo! Vivo para tomar tudo aquilo que foi seu! Eu vou…

Antes que pudesse terminar seu monólogo, o usurpador sentiu um poderoso impacto no lado direito da face: Danny Phantom estava desferindo um soco magistral no traidor!

Após cair com força, Salazar limpou o filete de sangue que descia pelo lado direito do lábio e olhou para o garoto fantasma; naquele momento, o ditador sentiu um frio correr-lhe pela espinha: diante de seus olhos estavam Aethel e seus amigos, salvos e prontos para mais um dia de batalha.

Levantando-se com dificuldade, James olhou o jovem imperador:

— Isso nunca vai acabar, criança. Nosso destinos estão presos nos fios das parcas… O Criador dos Céus determinou que deveríamos estar aqui, juntos, para resolver nossas pendências; presumo que ache tudo, um tanto, “poético”, estou certo?

Aethel não respondeu, mas empunhou a Excalibur com determinação, assim como fizera no dia em que travou combate contra o mago sombrio.

Segurando sua lâmina com as duas mãos, o cônsul continuou:

— Sabe, no dia em que Antônio foi derrubado, eu o persegui até algum lugar próximo daqui… – zombou Salazar – Estava tentando salvar o filho, hahaha. Ele me perguntou porque eu havia feito tudo aquilo, e eu respondi “não preciso de razão”... Simples, não acha? Ora, meu rapaz, fale alguma coisa! Me perseguiu até aqui, então deve ter planejado algo, não é verdade?

Com fúria, Salazar avançou contra Aethel e as duas lâminas chocaram-se, mais uma vez, como se tivessem vida própria.

O garoto se abaixou e tentou acertar a perna direita de James, que deu um passo para trás e acertou o rosto do rei com uma joelhada.

Aethel limpou o sangue do lábio inferior e se levantou e desferiu uma estocada rápida, que feriu o ombro direito do inimigo.

Apesar da dor, James teve forças para estender sua espada e, sorridente, lançar chamas poderosas, que faziam a água da chuva evaporar ao menor contato.

O rapaz aproximou-se com um salto baixo e tentou acertar a cabeça do ardiloso inimigo, porém, a experiência de Salazar fazia-se mostrar a cada momento da batalha; em um movimento ágil, o ditador cobriu a Excalibur com a capa negra e puxou-a para baixo, junta de Aethel.

O cônsul preparou-se para desferir o golpe fatal no menino rei, enquanto sorria:

— A dinastia Ryu acaba aqui – disse Salazar – Adeus, Aethel.

No momento derradeiro, o garoto desferiu uma rasteira no adversário, fazendo-o perder o equilíbrio e se afastar.

Veloz como um dragão, o jovem imperador se levantou e, com um corte lateral esquerdo, acertou a mão direita de Salazar, desarmando-o.

Possesso, o homem sacou um punhal e, ignorando as dores, tentou atingir Aethel no ventre.

Sempre ágil, o discípulo de Merlin estendeu a mão esquerda e lançou poderosas chamas azuis contra o inimigo, provocando queimaduras dolorosas, arruinando suas roupas e trazendo ainda mais ferimentos para sua agonia.

Derrotado, Salazar desabou na grama molhada e sorriu para seu algoz:

— Hahaha… parece que estou em desvantagem – disse o usurpador – Vamos lá, meu bom príncipe, termine o que começou e vingue seus ancestrais.

Aethel aproximou a lâmina, do pescoço daquele que trouxera tanto a dor a sua família, porém, os olhares de Mabel o detiveram, apesar das provocações do ditador:

— Depressa, meu jovem, acabe comigo… Vamos logo com isso, não me importo… Então a coragem Ryu acaba aqui? Hahaha, vamos logo com isso, garoto; hahahaha, seja homem.

Nesse momento, o imperador olhou severo para Salazar e, guardando a espada, respondeu:

— Eu sou um homem, Salazar, mas não serei um assassinato.

Mabel caminhou até o amigo e sorriu:

— Seus pais estariam orgulhosos – disse a garota – Nossa, que incrível; você virou imperador no lugar do seu pai… e agora vingou a morte dele e da sua mãe. Parece roteiro de filme.

— Pais? – perguntou o ex-cônsul – Hahaha, mas é claro, estava diante de mim… Será que teria sido diferente se eu tivesse percebido antes? Bem… que diferença isso faz agora? Aethel, lamento não tê-lo esmagado como fiz com seu maldito pai.

Danny e Jack se aproximaram, perguntando ao amigo se podiam “dar uma lição” em Salazar, mas o rei pediu que se afastassem, a despeito das palavras ofensivas do inimigo:

— Já chega, isso não vale a pena – disse o imperador – Como era mesmo? Merlin, acho que tenho de treinar um pouco a memória… “Perdão”… perdoar nosso semelhante; mas isso se aplica a Salazar? Como era mesmo? “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?”...

Mabel deu alguns passos e abraçou Aethel, carinhosamente, enquanto seus amigos davam-se as mãos.

A garota agradecia por seu “príncipe de armadura” ter encerrado com toda a violência, ao que ele respondia, enquanto afagava-lhe os cabelos castanhos:

— O sangue que precisava ser derramado, já o foi… Sorria, minha fada açucarada, que chegou o dia do perdão; estamos perdoados, todos nós… perdoar “setenta vezes sete”...

Sem largar a amiga, o jovem rei levantou o braço esquerdo e lançou chamas azuis, que alcançavam o céu e iluminavam as nuvens cinzentas.

Seguindo o sinal, o grande dragão voou até o grupo e, sem pousar, fitou o imperador e seus amigos, revelando-se como sendo o poderoso Mael.

Olhando com atenção para a cena de batalha, a fera percebeu o cônsul traidor e, sem esperar qualquer comando de Aethel, agarrou James com suas garras e o levou para longe.

Segurando nas mãos de Mabel, o rei conduziu seus amigos para fora da grande floresta, cruzando os arvoredos, as pedras cobertas de limo verde, a terra fresca e molhada e toda sorte de criaturas que, de formas diversas, tentavam se proteger do temporal.

Entre risos, Danny perguntou se o dragão não poderia ter dado uma carona, mas o imperador respondeu:

— Mael é um rei, irmão Fenton, e tem sua maneira de fazer as coisas; devemos respeitá-lo. Além do mais, você e Jack podem voar.

Sam beliscou Danny de leve e todos começaram a rir, ainda mais do que antes, como crianças que haviam descoberto algum desenho animado antigo e especial.

Embora molhados e cansados, ninguém teria preferido estar em outro lugar que não ali, junto dos amigos e partilhando daquela felicidade originada na vitória.

Cada passo, beliscãozinho, sorriso e abraço coroava o passeio (pois já não era uma simples caminhada) para fora da sombria floresta; todos unidos, rumando ao grande palácio, onde as mais notáveis aventuras começaram…


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Notas finais do capítulo

Borrasca:
No caso empregado, se refere a uma ventania tempestuosa acompanhada de forte chuva.

"Setenta vezes sete" :
Aethel citou a passagem de Mateus 18: 21 - 22. No texto, Pedro questiona quantas vezes deve perdoar seus inimigos; "até sete?" pergunta o discípulo, ao que Jesus responde "não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete".



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