As Crônicas de Aethel (II): O Livro das Bruxas escrita por Aldemir94


Capítulo 32
Para Um Novo Amanhã


Notas iniciais do capítulo

Saudações.
Antes de mais nada, gostaria de dirigir meus mais sinceros agradecimentos a todos que acompanharam mais esta história de Aethel e seus amigos; espero que tenham se divertido e, de alguma forma, sorrido bastante com ela.
Também gostaria de agradecer pelos gentis comentários e, sem esquecer, por toda a paciência de vocês, com os erros que sempre acabam por me escapar, durante as revisões (risos).
Agora, sem mais delongas, vamos para o capítulo final : )



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Após a queda de Salazar, os traidores revolucionários mergulharam na desordem e foram derrotados.

Libertados, os senadores iniciaram uma sessão extraordinária para lidar com os recentes acontecimentos, solicitando por essa razão a presença de Aethel, que trocou as roupas molhadas pelo traje formal branco.

Junto de seus amigos, Jake, Rosa, Danny, Sam, Dipper e Mabel, o rapaz caminhou pelas ruas, sendo seguido por uma grande multidão: toda a cidade, incluindo centenas de bruxinhas divertidas com chapéus pontudos, estavam presentes, rindo sem parar e aplaudindo seu jovem e leal imperador.

Aquela altura, a tempestade já havia acabado, dando lugar a um clima gélido, porém fresco, que tornou a noite apaixonante.

Poderia ser primavera, outono ou príncipio de inverno, mas como a desordem de Salazar aborreceu até as  forças da natureza, Merlin aconselhou, movido por inspiração divina:

— Deixem isso para lá, uma hora as coisas voltam ao normal.

Seguindo a orientação do mago, a grande multidão procurou esquecer do caos, logo retornando ao estado de satisfação, como bem disse o profeta popular: “se não podemos mudar o clima, desfrutemos do que ele tem de melhor”.

Os senadores conversaram durante algumas horas, mas como essas sessões tendem a ser tediosas, será suficiente dizer que todos cumpriram seus deveres com brilhantismo e esmero (pois em Ghalary, poucas instituições são tão afeitas ao trabalho quanto o senado).

Para o bem do império, era fundamental que um novo 2° cônsul fosse nomeado e, como fora Aethel a impedir os planos de James, o senado decidiu que a decisão final deveria caber a ele.

Curvando-se diante dos senadores, Aethel decidiu que apenas Atreu era digno daquela dádiva:

— Com a espada em punho, nosso irmão, Lúcio Atreu (ou Lucius, como chamam no Sul), demonstrou a coragem de um leão; quando Felipe se feriu, esse senador liderou nossas legiões contra o inimigo franco-armaniano, sem demonstrar o menor sinal de covardia… Manteve-se imparável mesmo diante da derrota iminente. Além do mais, Atreu preza por nossas tradições e não receia me criticar ou se opor a mim, quando considera junto. Considerando isso tudo, negar a ele a faixa púrpura seria ingratidão.

Entre aplausos e comentários de elogio, o senado aceitou a nomeação de Atreu, que chegou pouco mais de um dia depois e agradeceu ao imperador.

A escolha do jovem rei também agradou o povo, que começou a dizer “sábio como Aethel, firme como Atreu”, sempre que alguém se mostrava como tendo características que pudessem destacar na arte da liderança.

Seguindo com as obrigações do senado, Aethel convocou Gael, Nealie e o Cavaleiro Verde, que logo chegaram no grande edifício do senado:

— Vocês mostraram que são dignos – disse o monarca – E devo muito aos três; por essa razão, tomei novas decisões: Gael, desejo que seja meu conselheiro, ao lado de Merlin e Jazz; sei que sua grande sabedoria pode ser útil para algo mais que tentar dominar o mundo ou ressuscitar soldados zumbis….

Enquanto todos riam, inclusive o próprio mago, o rei prosseguiu:

— Nobre guerreiro que veio do castelo do norte, gostaria que aceitasse fazer parte de minha nova ordem de cavaleiros: será um dos meus campeões, sempre em defesa da justiça, paz, tradições e honra das damas.

O Cavaleiro Verde se ajoelhou e Aethel sacou a Excalibur com a mão esquerda, dando início ao juramento:

— Que todos sejam testemunhas da elevação deste homem, no dia de hoje – disse o garoto, tocando a lâmina com cuidado nos ombros do cavaleiro – Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, eu o nomeio agora cavaleiro do império e membro da ordem do dragão.

O Cavaleiro Verde se levantou e deu dois passos para trás, dando espaço para que Nealie se aproximasse.

Aethel olhou a mulher de cabelos negros e olhos verdes, como a grama de primavera,  e chamou Mabel, que ainda estava com a armadura da deusa:

— Nealie – começou o rei – Nas últimas semanas, admito que eu deseja a sua morte e você bem que merecia… No entanto, na hora derradeira, seus olhos verdes trouxeram algum alívio, mesmo quando me senti mais só, do que em qualquer outro momento de minha vida. É claro que sua motivação maior era a ambição, mas isso não muda a gentileza do ato. Infelizmente, não tenho como lhe devolver um certo cinto dourado, mas não deixarei de mostrar minha gratidão; não posso trazer de volta quem já partiu para o “grande desconhecido”, mas me foi dado o poder para realizar seu antigo sonho de infância: Nealie, a partir de hoje, será nomeada rainha de todas as bruxas e ninguém estará acima de você, exceto eu, o 2° cônsul e o Mestre de Justiça. Sua posição será respeitada e reconhecida pelo império, suas súditas poderão se estabelecer em algumas planícies desabitadas do Sul e eu a tratarei como minha irmã… Porém, no momento em que se levantar contra nós, desonrar seu título ou fizer mal ao inocente, perderá sua coroa e o legado de Maeve não tornará mais a você.

A nova rainha das bruxas se ajoelhou e a armadura deixou o corpo de Mabel, para vestir a estonteante feiticeira.

Tendo terminado com as honrarias da bela mulher, o jovem imperador chamou Blair e Roland e os declarou “irmãos do império”, de modo que seus reinos passaram a fazer parte do grande império ghalaryano.

Não era uma anexação de território, mas um estreitamento dos laços entre três nações, como disse o próprio menino rei:

— Serão sempre bem vindos aqui. Seus súditos não precisarão de passaportes para caminharem em solo ghalaryano, suas palavras serão recebidas com consideração e suas famílias serão tratadas como parte da minha própria. Quando retornarem aos seus lares, serão acompanhados por alguns senadores e representantes do império, que criarão embaixadas de Ghalary; tanto em Gardênia quanto em Enchancia.

Os dois monarcas se curvaram diante de Aethel, em sinal de respeito, logo se afastando para que os demais amigos do rapaz se aproximassem.

Houve muitas  outras recompensas, até para algumas pessoas que não puderam estar presentes: Felipe foi declarado herói nacional com direito a um desfile de triunfo; Miriam (que ainda estava ajudando com a prisão de alguns revolucionários) foi elevada à condição de “amazona real”, passando a fazer parte da guarda pessoal do imperador (e ganhando um salário melhor); por fim, alguns líderes populares tiveram suas organizações reconhecidas e ligadas ao governo – entre outras palavras, Aethel “enquadrou” os sindicatos como órgãos de colaboração com o Estado ghalaryano, na tentativa de impedir que o “mal revolucionário” renascesse.

Continuando com as premiações, Dipper, Jack, Danny, Sam e Rosa foram condecorados com a “cruz do império” e ganharam o título de cavaleiros (com exceção das garotas, que foram nomeadas amazonas), Spud e Tucker foram presenteados com os títulos de “mestres inventores” por suas colaborações na evolução tecnológica e ganharam lugares entre o corpo científico do império.

Spud não desejava trabalhar em uma mesa séria e sem graça, no entanto, Aethel disse ao amigo que só precisariam atuar no corpo científico quando quisessem; além disso, o rei concedeu aos dois “gênios de além do véu” abastecimento vitalício de “nachos” (prato estranho cuja receita havia sido passada ao rei pelo amigo).

Trixie ganhou um cargo no ministério da cultura para, finalmente, ensinar a todos o “hip-hop” que tanto amava, e Jazz foi nomeada conselheira real, ganhando até um assento no senado – honra incomensurável, pois jamais uma mulher tivera a oportunidade de fazer parte dessa nobre instituição.

Carlos foi nomeado por Aethel como “ministro das antiguidades” e Gemma foi reconhecido como “diretor chefe de arqueologia”, sendo o primeiro arqueólogo a fazer parte do recém-criado "Instituto de Arqueologia Imperial”; ao lado de sua família (que não estava presente), o bom doutor poderia explorar os mistérios do império e ajudar a escrever histórias jamais contadas até então.

Ainda houveram outras gratificações, mas foi a questão de Juba que prendeu a atenção de todos nos momentos finais da sessão.

Com a ajuda de Jazz, cujas palavras clamavam por paz e reconciliação, Aethel não permitiu que alguns senadores mais “esquentados” prosseguissem com a ideia tola de uma “guerra de vingança” contra o império Franco-Armâniano:

— Já vencemos a guerra – disse o jovem rei – Agora é hora de reconstruir!

Mediante muita conversação, foi decidido que Franco-Armânia seria anexada ao império ghalaryano, mas que Juba III e sua família seriam mantidos no trono, embora com poderes bastante reduzidos; Aethel e o senado enviariam representantes ghalaryanos para instituirem sua política ao inimigo derrotado.

As tradições e cultura franco-armanianas seriam respeitadas, mas o jovem imperador jamais permitiria que a nação de Juba voltasse a ameaçar Ghalary outra vez.

URSI teve igual destino, sendo “engolida” pelo império, com a diferença de que o senado nomearia um "presidente correto” para governar a problemática república: ele não teria qualquer poder, mas serviria para introduzir um “parlamentarismo moderno”, onde Aethel seria tanto chefe de Estado quanto de Governo, sendo a figura decorativa o presidente, não o imperador.

O rei inimigo não estava presente quando a sorte de seu império foi decidida, mas seria informado de tudo dois dias depois, podendo apenas conformar-se com tudo e agradecer por não ter sido executado pelo império vencedor.

Embora já tivesse sido premiado, Dipper Pines ganhou das mãos do próprio Merlin uma enciclopédia sobre criaturas mitológicas e outras esquisitices.

Após o encerramento da longa sessão, Aethel e o senado declararam três dias de recesso, em honra aos festejos de vitória sobre o inimigo franco-armaniano.

O clima geral de paz havia sido restaurado e, ao terceiro dia, bem no auge da alegria, as ruas se encheram com as bandeiras do império; música foi ouvida por todos os lados e o ar cobriu-se pelo aroma de perfumes adocicados, doces e flores.

Todos tiveram a chance de assistir o triunfo de Felipe, com sua armadura dourada, elmo decorado com penas, capa vermelha e sandálias de couro nobre.

A biga ricamente adornada com ouro fino e arranjos florais, a frente os soldados tocadores de cornetas, as moças de branco jogando guirlandas de flores brancas e amarelas e a grande multidão gritando o nome de Felipe, cuja bravura ajudou a defender o império.

Seguindo atrás do militar, estavam as tropas que haviam mostrado seu valor na guerra contra Juba, segurando os estandartes do império e marchando, alegremente, a caminho da catedral, onde Aethel cumprimentou Felipe.

A seguir, o general recebeu uma oração de Ambrósius, para que Deus abençoasse o herói e protegesse o império, foi saudado pelos membros do senado e seguiu para um lugar chamado “praça dos vencedores”, onde participaria de um banquete oferecido pela cidade, em homenagem a ele.

Nessa festividade final, Aethel permaneceu por apenas alguns minutos; nada mais que o suficiente para prestigiar o público e homenagear Felipe, cuja lealdade para com os pais do garoto havia se mostrado até nos momentos finais, quando a sombra de Salazar cobriu a casa de Ryu; após isso, o rapaz retornou ao palácio, ofegante.



***



Após os dias de alegria, tudo na cidade começou a normalizar, começando pelo climas: como as ninfas não decidiram se Ghalary teria outono ou inverno, Merlin as convenceu que nada poderia superar a primavera, naquele momento pós-vitória.

Era sábado de manhã e os funcionários do palácio estavam todos de folga, à exceção de Aethel, que preferiu dedicar-se aos assuntos de Estado mais urgentes.

No começo, Dipper, Mabel, Danny e Jack elogiaram a dedicação do amigo, porém, não gostaram de saber que o senado também estava em recesso e que, portanto, apenas o jovem imperador ocupava-se com assuntos políticos.

O aborrecimento era latente no rosto de Aethel, cujos olhos ignoravam a presença de todos e focavam unicamente na papelada em cima da mesa.

Às vezes o garoto ajeitava seu uniforme branco, batia de leve nas dragonas e mexia nos alamares dourados, apenas para perder o interesse em tudo e voltar aos documentos.

Olhando para o lindo tapete, Mabel tirou a poeira de seu vestido branco, caminhou até a janela do escritório e abriu-a, revelando a luz majestosa do Sol, trazendo calor e deixando o cômodo mais aconchegante.

Enquanto a garota admirava a cidade, as torres da igreja, as florestas e campos mais ao longe e toda sorte de pessoas engraçadas, avistou Arquimedes se aproximando, com um bilhete no bico.

Pousando no parapeito da janela, a coruja entregou o papel para a menina e pediu que ela entregasse-o para o jovem rei, acrescentando:

— É um assunto delicado – admitiu a ave – Acho que vocês dois deveriam passar um tempo juntos; provavelmente, ele vai precisar.

Seguindo as orientações do corujão, Mabel levou o pequeno bilhete até Aethel, que suspirou, enquanto lia seu conteúdo:

— “Eles foram achados. Meus pêsames – M.”; então, os arquivos de Salazar serviram para alguma coisa boa, afinal…

Dipper se aproximou, enquanto ajeitava a gravata borboleta do smoking e perguntou do que se tratava:

— Alguma coisa haver com James?

— Não exatamente, irmão – respondeu Aethel – O bilhete está se referindo ao capítulo mais sinistro da história de minha família: a morte dos meus pais… eles foram encontrados.

O silêncio foi geral, enquanto o amigo prosseguia:

— Depois que tudo estiver pronto e os corpos forem… Bom, Antônio Aureliano e Sophia receberão um “enterro de Estado”, como aquela rainha Vitória do seu mundo, Mabel… Quer saber? Acho que estou cansado desse trabalho todo, além disso é sábado…

Arquimedes olhou a garota, abriu suas asas e voou, deixando o grupo para trás.

A gêmea segurou a mão esquerda de Aethel e perguntou se ele gostaria de passear, enquanto fazia sinais para que Dipper e os outros se retirassem.

Logo, os dois estavam caminhando pelos corredores do palácio, admirando a arquitetura que mudava a cada novo recinto, partindo do barroco ao helênico; uma mostra clara do quanto aquele império era antigo, assim como o palácio de seu rei.

Com paciência, Mabel levou Aethel até os jardins, onde sentou-se em um dos bancos de mármore e passou a admirar o céu azul.

Sorrindo, a garota falou:

— Príncipe Nikolas… poxa vida. E eu achando que seu nome era Aethel.

— Merlin me explicou isso tudo – respondeu o rapaz – O herdeiro do trono costumava ter quatro nomes, sendo apenas um deles de conhecimento geral… meu nome “público” era Nikolas. Quanto a “Aethel”, esse era meu nome de família… apenas meus pais o conheciam. Minhas memórias ainda estão se recuperando, mas já me lembro de minha mãe me chamando de Aethel…

— E quanto aos outros dois nomes? – perguntou a garota.

—O terceiro era conferido pelo senado e o quarto por Deus… Mas como nikolas “morreu”, ele não ganhou nenhum deles ainda.

Houve alguns minutos de silêncio, até que Mabel voltou a sorrir e, cheia de compaixão, começou a falar:

— Anda, vamos lá, pode começar.

— O que quer dizer? – perguntou o menino.

— Desabafar, você sabe; deita a cabeça no meu colo – pediu a garota, sorrindo – vai se sentir melhor.

O garoto recusou, mas aceitou segurar a mão direita da amiga, enquanto ambos se distraíam com a fonte jorrando água cristalina, enfeitada pela escultura de um casal se beijando.

Mabel olhou a linda estátua e disse, com o rosto enrubescido:

— Atrevidinhos, não acha?

— Cupido e Psiquê – respondeu Aethel – A história deles foi descrita por Apuleio… É um pouco parecida com “A Bela e a Fera”. A moça simboliza a alma humana que…

— Chaaaaato – disse a garota, fazendo biquinho – Eu só achei a estátua bonita, não precisa bancar o professor. Mas me fala, eles vivem felizes para sempre?

O garoto admirou os olhos castanhos de Mabel e sorriu:

— Sim, eles vivem felizes para sempre… como nos contos de fadas.

A menina abraçou o amigo, como um leãozinho fofo de pelúcia, aconchegou a cabeça em seu peito e perguntou:

— Acredita em “felizes para sempre”?

Aethel afagou os cabelos da gêmea e olhou para o casal da fonte, respondendo entre suspiros:

— Acho que o mais correto é dizer… que eu “quero” acreditar; “para sempre” é tempo demais, não é?

Mabel não respondeu, mas seus olhos se encheram de lágrimas, que ela muito bem escondeu, mantendo a cabeça baixa.

Aethel continuou a afagar os cabelos longos e macios da garota, enquanto sussurrava uma antiga canção de ninar:

A trilha de areia sumiu com o vento, o povo liberto montou seu altar; à tenda sagrada trouxeram presentes: riquezas do rei afogado no mar…

Você não entende muito de encontros, né não? – perguntou a garota.

— Passei cinco anos em uma floresta – respondeu Aethel – Ainda estou aprendendo.

Mabel riu, timidamente, enquanto os dois olhavam para o céu azul, procurando figuras nas nuvens.

Depois de um silêncio incômodo, Aethel colocou a mão direita nos cabelos, fechou os olhos e começou a falar:

— Mabel, você passou por muita coisa desde que chegou aqui e, bem, sei que é irresponsável de minha parte perguntar isso mas…

— Ok, já entendi – respondeu a garota – Nem tudo foi maneiro, eu sei; mas vê se pára de enrolar. Às vezes você é nerd demais.

— Tudo bem – disse Aethel, abrindo os olhos –, você está certa. É que, bom… presumo que Dipper e você voltarão a Piedmont em breve…

Mabel concordou, dizendo que, por mais que gostasse daquele mundo, já estavam em Ghalary a tempo demais; apesar disso, lamentava deixar seus amigos e voltar para casa:

— Vou sentir falta daqui, sabe? É uma pena deixar as fadas, o palácio, nossos amigos… você…

Ante a surpresa de Aethel, a garota se corrigiu rapidamente, enquanto cobria o rosto com seus cabelos macios e apontava a estátua da fonte, mais uma vez.

O garoto considerou o comentário e disse, enquanto mexia nos alamares do uniforme:

— Mabel, não quero que vá… de novo. Se ficasse, poderia voar com os garanhões alados, passear pela cidade, explorar bosques e dançar com as fadas; fique aqui, com a gente e… comigo.

— E quanto aos meus pais? – perguntou a garota – E o colégio? Não dá pra deixar essas coisas de lado.

— Construo um castelo para seus pais – respondeu o imperador – e o mais medíocre colégio de Ghalary faz as melhores escolas e universidades de seu mundo parecerem piada infame! Pense bem, Mabel: Você terá as mentes mais brilhantes que jamais existiram para te ensinar coisas incríveis, como as leis de Newton, os mistérios da eletricidade e até o segredo do pó das fadas!

A garota concordou que seria maravilhoso, mas que ainda possuía uma vida em Piedmont e, portanto, não poderia viver em Ghalary.

Aethel abaixou o olhar e, confiante, insistiu:

— Haverá banquetes majestosos, shows de mágica e as mais incríveis aventuras, Mabel! Se ficar, poderá explorar ilhas, navegar em lindos navios, aproveitar sorvetes muito bons! Você aprenderá a montar e até a mexer com flechas… eu te ensino, e deixo você usar o arco do mestre Quíron; Mabel, fique comigo e farei de você a princesa do império, saudada pelos maiores mestres e artistas… eu gosto muito de você.

— Também gosto de você – concordou a gêmea, enquanto alisava os cabelos e olhava para a fonte – Gosto muito, de verdade… é sério – insistiu a menina, segurando uma lágrima – Seria bom viver aqui, mas… Existe uma outra vida no mundo de onde eu venho…

— Não quero que vá embora… – respondeu o rei – Daremos um jeito, pode ter fé. Não quero que as pessoas importantes para mim se afastem; não, eu resolvo isso! Sou imperador e o meu desejo é lei.

Antes que mais fosse dito, Dipper, Danny e Jake chegaram, acompanhados de Rosa, Sam e Jazz; todos desanimados e suspirando:

— Também não queremos ir embora – disse Jasmine – Quer dizer, imagina só o que a gente pode aprender aqui! Mas…

Nesse momento, Aethel se levantou e disse, irritado:

— Mas, mas, mas! Sei que todos têm suas vidas! Danny e Jake protegem seus mundos, Dipper e Mabel precisam ir para a escola e todos aqui têm suas famílias; mas pensem por um momento: Eden-Ghalary não é como os mundos de vocês: o que acontece aqui afeta universos inteiros, inclusive o de vocês! Caso alguma outra mente doentia se levante, não acham que poderiam ajudar a impedi-la? Além do mais, ninguém aqui quer, realmente, partir.

Sam e Rosa riram, enquanto Spud, Tucker e Trixie cruzavam a porta e entravam no jardim, cheios de curiosidade.

Após serem inteirados do assunto, os três concordaram com as palavras de Aethel, embora discordassem sobre a possibilidade de viverem naquele mundo.

De repente, o dr. Gemma cruzou a porta e, ajeitando os óculos, entregou um papel dobrado para Aethel.

Todos se aproximaram, enquanto o imperador lia o documento:

— É a tradução da última mensagem daquela placa de pedra – disse o rei –, e Gemma parece ter “atualizado” alguns termos. Aqui diz “Que meu legado esteja preservado, para quando os deuses retornarem as terras férteis de Ílion; que o sangue de meus filhos perdure, pois deles provém a esperança de dias melhores. A cidade nascente, dos quatro círculos, onde meus pais descansam, foi preservada; salva para sempre do furor divino. Aos que vierem depois de mim, que ouçam minha voz: sigam o vento Oeste, até as terras verdes, próximas ao fim do mundo, além dos pilares de Héracles.” E é isso. Essa mensagem trouxe mais perguntas que respostas.

Após fazer ponderações, Aethel decidiu deixar essas coisas de lado, considerando que não havia nenhuma razão imediata para se preocupar com a enigmática mensagem.

Sam perguntou se não valeria a pena questionar o Cavaleiro Verde, já que fora ele o responsável por encontrar a placa de pedra, no entanto, era a iminente partida dos amigos que tomava a atenção do rei.

O clima de desânimo era geral, mas para aquele cujo mestre e tutor fora, ninguém menos, que o sábio e poderoso Merlin, não poderia haver qualquer limite.

Abraçando Mabel, com carinho, Aethel aceitou a partida de todos, no entanto, deixou claro que não deveriam perder contato, especialmente agora, que a mensagem de Gemma apresentava a chance de novas aventuras:

— Proponho que façamos como Arthur, o rei, e criemos uma nova ordem de cavaleiros, vinculada a Ordem do Dragão… Um grupo feito para proteger a harmonia e impedir outros “maus elementos”, como Salazar.

— Ah, já saquei – disse Spud – Tipo uma liga de super heróis?

— Não entendi… – disse Aethel – Eu estava pensando em uma “Távola Redonda”... Merlin vai gostar; pelo menos, Arthur teria apreciado a ideia.

Neste momento, quando todos sorriam com a proposta, Arquimedes chegou voando e entregou um bilhete de Merlin, pedindo que todos seguissem até o salão norte do palácio, próximo a galeria dos imperadores.

Seguindo as orientações, o grupo chegou até uma grande e magnífica porta, com entalhes retratando cenas bíblicas e folhas de ouro cobrindo as ombreiras.

No momento em que Aethel cruzou a porta com seus amigos, se deparou com uma grande mesa redonda, com vinte e cinco lugares, feitos de madeira nobre e adornados com ouro e relevos de animais.

Marcados com magia, cada um dos assentos possuía palavras escritas em ouro, tanto no topo de sua cabeceira quanto na parte da mesa a ele correspondente: eram os nomes daqueles que fariam parte da nova ordem de cavalaria criada por Aethel.

Aethel, Gemma, Dipper, Mabel, Spud, Trixie, Rosa, Jack, Tucker, Sam, Jazz, Danny e o Cavaleiro Verde (que não estava presente) tinham lugar na mesa, porém, os lugares vagos não possuíam nomes.

Cada um seguiu para o lugar que lhe pertencia e Aethel começou a dizer algumas palavras:

— Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que esta ordem permaneça na Lei, honre as tradições, mostre dignidade e não se afaste de sua missão sagrada: defender os aflitos, os órfãos, as viúvas e os necessitados; que a honra, lealdade e justiça estejam em cada um de nossos atos, assim como os bons frutos do espírito: amor, alegria, paz, longanimidade, benevolência, bondade, fé, mansidão e temperança; que nossa amizade jamais tenha fim e nossos corações estejam sempre voltados para o bem. Não se esqueçam das minhas palavras, pois o código de um cavaleiro é severo para com aqueles que dele se afastam. Se alguém não concorda com isso tudo, fale agora.

Curvando a cabeça, todos concordaram com os discursos de Aethel, sem discordar de nada.

Sorrindo, o imperador convidou a todos para se sentarem, o que fizeram com grande entusiasmo; a nova ordem de cavalaria estava criada, para se reunir em torno da mesa.

Com exceção de Aethel, ninguém ali poderia ser considerado, de fato, um cavaleiro, porém, como o imperador já possuía a Ordem do Dragão para sua proteção (além de sua guarda pessoal), o jovem monarca já estava mais do que satisfeito.

Entre risos, conversas animadas e tapinhas amigáveis, aquele grande grupo começou a discutir os mais variados temas, para benefício da ciência e do povo comum.

Assim, teve início a nova Távola Redonda de Aethel, o imperador.



FIM


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Notas finais do capítulo

Lúcio Apuleio (por volta de 125 - cerca de 170) foi um filósofo e escritor romano. Dentre suas obras, destaca-se "Metamorfose" (às vezes conhecida como "O Asno de Ouro"); único romance da literatura latina que chegou de forma integral aos nossos dias. Talvez o conto mais famoso de "Metamorfoses" seja o de Cupido e Psiquê.



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