Moeda de Troca escrita por Miss Siozo


Capítulo 7
Nova Função


Notas iniciais do capítulo

Estou lutando contra o desânimo para manter esse compromisso de postar. Espero trabalhar nas outras fics em andamento no próximo mês que será mais tranquilo. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807884/chapter/7

Ikki estava em um lugar bem distante do Santuário. Após a conversa que teve com o antigo mestre de Shun, o irmão mais velho compreendeu que ele estaria mais seguro no Meikai do que com Athena.

“Seu irmão é uma pessoa muito especial. Eu soube disso assim que o vi chegar na Ilha de Andrômeda” - contava Albion — “Eu acredito que a constelação de Andrômeda resolveu protegê-lo para que sobrevivesse até seu destino ser cumprido, pois treinar para ser um cavaleiro de Athena contrariava completamente sua natureza pacífica”.

 

— Eu não quero aceitar que Shun estará melhor com aquele maldito, mas… — começava a pensar em sua deusa — Aquela garota egoísta o trocou tão fácil. Você estava disposto a sacrificar sua vida em minhas mãos quando estávamos em Giudecca e há poucas semanas atrás fez isso novamente. Se entregou ao inimigo pela paz do planeta — atirou uma pedra sobre o lago — Eu espero que seu mestre esteja certo. Preciso ter notícias suas… — levantou-se com um destino em mente.

 

 

Um burburinho rondava entre os espectros no Submundo. Os de patente mais baixa apenas se limitavam a reclamar pelos cantos, mas não ousavam contestar o seu senhor, mas com os juízes era diferente. O grupo não conseguia conceber a ideia de que seu antigo inimigo não era tratado como um escravo ou não ficou aprisionado. Eles se sentiam incomodados ao ver o rapaz de túnica branca andar alguns passos atrás de Hades que se dirigia ao salão onde as audiências ocorrem.

A verdade era que Shun não sabia ao certo como se portar na situação que estava. Ele andava alguns passos atrás de Hades com a cabeça levemente abaixada e encarava seus próprios pés para não olhar para os outros subordinados do deus. Com a exceção de Pandora, outros que faziam parte do exército de seu novo senhor o olhavam de uma forma que conhecia bem, o desprezo.

 

— Bom, pode se sentar aqui — apontou para uma cadeira que ficava próxima ao seu trono, mas em um patamar mais baixo — Creio que durante a invasão tenha conhecido esse lugar e o propósito dele, certo?

 

— Eu consigo me recordar um pouco — respondeu — Aqui é onde as almas dos mortos são julgadas.

 

— E cada uma tem a punição adequada para seus crimes — complementava a explicação — Apenas as almas mais virtuosas não precisam passar por aqui e vão diretamente aos Elísios.

 

— Quer dizer que todos que passam por aqui são culpados? — perguntou surpreso.

 

— Em maior ou menor grau, sim — abriu o livro — Podem chamar o primeiro do dia — estalou os dedos.

 

Um homem de meia idade entrou no recinto sem entender o que estava acontecendo. Quando viu que aquele lugar parecia com um tribunal humano, ele tentou correr de lá, mas um espectro foi mais rápido ao alcançá-lo e o subjugou frente ao imperador. Shun observava a cena com preocupação. Será que todos os que passam por lá são realmente culpados?

 

— Caro Bartholomeu Grimm, não adianta fugir desse lugar — dizia o deus — Acaso não se recorda de como morreu?

 

— Eu estou morto? — o homem grisalho perguntava confuso — Mas como?

 

— Uma de suas garotas conseguiu te envenenar — lia em sua ficha — Agora não há mais tempo para raiva ou lamentos — levantou-se brevemente de seu assento enquanto todos os demais o reverenciavam, até mesmo o jovem virginiano que demorou um pouco, mas o fez — Eu sou Hades, deus e imperador do Submundo. Hoje estou fazendo o julgamento de sua e mais algumas pobres almas.

 

— Então essa merda é real mesmo? Não estou alucinando? — Grimm estava desesperado — Eu não tinha como saber que vocês deuses realmente existiam! Isso não é justo!

 

— Quem é o senhor para falar sobre justiça? Quanto à fé… bom, isso fica difícil de adivinhar, mas não é da minha conta — sentou-se novamente e lia o livro — Faça silêncio enquanto leio sobre sua passagem na Terra. Bartholomeu Grimm, nascido em 1965 nos EUA. Veio de uma família que enriqueceu as custas da escravidão, mas esse pecado não é seu, apenas li como uma grande ironia — Hades abriu um sorriso de dar medo — Por que um homem rico decidiu se aventurar com tráfico de mulheres? Pela adrenalina? 

 

— Pelo poder. Eu era poderoso e influente! 

 

— Mas gastava demais em futilidades e torrou grande parte da fortuna da família, não se importava com seus filhos de verdade. O seu poder nunca foi real, já que o mataram e agora está aqui, em meu território, sendo julgado.

 

— E o que vai acontecer? Já viu tudo o que fiz. Sequer um advogado eu tenho!

 

— Sei que está curioso, garoto. Pergunte o que desejar — Hades olhava para Shun que apertava suas mãos em sinal de nervosismo.

 

— E-eu não disse nada, senhor..

 

— Nem precisa dizer para que eu saiba. Quer perguntar algo para esse ser repugnante que está a sua frente? — encorajou-o.

 

— Não sente arrependimento por suas ações?

 

— O que está feito não há como ser alterado — limitou-se a responder.

 

— Se tivesse chance de fazer tudo diferente, faria?

 

— Se eu soubesse que esse lugar existia, com certeza.

 

— Então isso não é um arrependimento genuíno — concluiu triste —  Todas as pessoas que o senhor fez sofrer, aposto que até algumas delas devem estar aqui… — apertou os punhos nervoso — Por favor, senhor Hades, continue… — disse o final quase sem forças. O ex-cavaleiro não conseguia mais olhar para aquela alma, tampouco encarar o imperador.

 

— Tudo bem — seus olhos corriam a ficha do homem no livro — Realmente, ele mandou outras pessoas para cá antes dele — sanou a dúvida do mais novo — Parabéns, senhor Grimm! A única alma na Terra que poderia tentar interceder por ti no momento está certa sobre sua corrupção — Shun levantou a cabeça e encarou confuso o deus entre lágrimas — Eis a sua pena. Um homem com tantos crimes cruéis tem uma gama de opções, mas o deixarei onde os criminosos violentos estão, para o primeiro vale da sexta prisão. Um mar de sangue fervente o fará bem pela eternidade — estalou os dedos — Adeus! 

 

 O homem havia desaparecido sob as vistas de todos e já estava cumprindo com sua pena. Shun ainda estava atordoado ao ver o julgamento e ainda mais pelas palavras de Hades. Ele não conseguia entender o motivo de estar ali ao lado do deus.

 

— Perdão, mas eu não compreendo. O que faço aqui? Qual é o motivo real de estar aqui?

 

— Minos! — chamou um dos juízes — Prossiga com o próximo julgamento. Eu preciso ter uma conversa particular, mas não demoro.

 

— Sim, senhor.

 

Hades fez com que os dois fossem transportados para Giudecca novamente. O rapaz ao seu lado estava visivelmente abalado e descontava isso apertando o tecido de sua túnica branca. O imperador decidiu romper com o silêncio, dizendo:

 

— Eu não gosto quando questionam a minha autoridade, mas como é novo aqui está tendo a oportunidade de aprender as coisas de um jeito menos doloroso — viu que o outro se manteve calado e continuou — Acaso não se recorda do que disse no quarto antes de encostar sua cabeça no muro atrás do trono?

 

— Eu recordo, disse que iria servi-lo, não como um guerreiro. 

 

— Então, sua nova função é me acompanhar nos julgamentos. Não será sempre…

 

— O senhor disse para aquele homem que eu era a única alma na Terra que poderia tentar interceder por ele. Isso era verdade?

 

— Eu já disse que não minto, Shun — era raro ouvir seu nome ser chamado por Hades — Está me acompanhando, pois quero que entenda uma coisa, são pessoas assim que tentou salvar. Aquele homem fazia o mal antes mesmo de você nascer, treinar para cavaleiro e arriscar inúmeras vezes sua vida. Valeu a pena?

 

— A Terra merecia mais uma oportunidade, nem todos são maus…

 

— E nem todos são bons. Há aqueles que nada fazem e vivem por aí vagando como fantasmas. O que eu quero dizer é que o mundo atual não reconhece a existência dos deuses ou acreditam naquilo que é conveniente. Vocês, cavaleiros de Athena, não interferem nos assuntos dos homens quando servem uma deusa que deveria proteger a Terra — explicava — Os deuses não são o único problema dela, os humanos são. 

 

— Eu compreendi essa parte, mas onde eu entro nisso?

 

— Simples, meu caro. Eu gosto de ouvir seus pontos de vista, eles me deixam deveras intrigado — tocou-lhe delicadamente o queixo — Agora não podem dizer que eu não mudei em nada após a guerra. Quero que seja o meu consultor.

 

— Senhor Hades, eu não tenho o direito de julgar sobre a vida alheia. Eu errei muito, não sou perfeito ou digno para tal tarefa — fitava aqueles olhos frios — Posso não sentir mais o peso da culpa dos meus erros por causa do Muro das Lamentações, mas isso não apaga o que fiz. Eu também serei julgado e culpado pelos meus julgamentos.

 

— Touché! Não há como te dissuadir, não é mesmo? Tens um ótimo raciocínio, mas como és meu, não há motivos para preocupar-se. Assim como minha general e espectros, nada de ruim entrará mais em sua ficha, como meu subordinado, mas isso não quer dizer para perder o seu bom senso e cometer atrocidades. Se está cumprindo com minhas ordens, não há porque ser penalizado.

 

— Então, se por acaso aparecer alguém ali e eu não o considerar um criminoso. O que vai acontecer?

 

— Vou tentar por um segundo considerar essa possibilidade como real — começava a pensar a respeito — Se sua argumentação for válida, a alma terá uma nova chance.

 

— Nos Elísios?

 

— Voltará à Terra em uma nova vida em condições diferentes. Dependerá de seu histórico.

 

— Isso se parece com a reencarnação.

 

— É sim, mas antes grupos seletos reencarnaram, isso foi ideia de minha ex-esposa Perséfone. Eu não entendia o motivo daquela nova oportunidade, além dos exércitos dos deuses, é claro — olhou o rapaz — Já que estamos combinados, nós podemos voltar.

 

— Certo — assentiu.

 

— Vamos! — estalou os dedos e retornaram para a primeira prisão.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E sobre essa nova função de Shun? Será que vai dar certo?
O Albion me deixou com uma pulga atrás da orelha, o que será que ele estava visualizando sobre o futuro de seu antigo aprendiz?
Até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Moeda de Troca" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.