Moeda de Troca escrita por Miss Siozo
Notas iniciais do capítulo
Estou lutando contra o desânimo para manter esse compromisso de postar. Espero trabalhar nas outras fics em andamento no próximo mês que será mais tranquilo. Boa leitura!
Ikki estava em um lugar bem distante do Santuário. Após a conversa que teve com o antigo mestre de Shun, o irmão mais velho compreendeu que ele estaria mais seguro no Meikai do que com Athena.
“Seu irmão é uma pessoa muito especial. Eu soube disso assim que o vi chegar na Ilha de Andrômeda” - contava Albion — “Eu acredito que a constelação de Andrômeda resolveu protegê-lo para que sobrevivesse até seu destino ser cumprido, pois treinar para ser um cavaleiro de Athena contrariava completamente sua natureza pacífica”.
— Eu não quero aceitar que Shun estará melhor com aquele maldito, mas… — começava a pensar em sua deusa — Aquela garota egoísta o trocou tão fácil. Você estava disposto a sacrificar sua vida em minhas mãos quando estávamos em Giudecca e há poucas semanas atrás fez isso novamente. Se entregou ao inimigo pela paz do planeta — atirou uma pedra sobre o lago — Eu espero que seu mestre esteja certo. Preciso ter notícias suas… — levantou-se com um destino em mente.
…
Um burburinho rondava entre os espectros no Submundo. Os de patente mais baixa apenas se limitavam a reclamar pelos cantos, mas não ousavam contestar o seu senhor, mas com os juízes era diferente. O grupo não conseguia conceber a ideia de que seu antigo inimigo não era tratado como um escravo ou não ficou aprisionado. Eles se sentiam incomodados ao ver o rapaz de túnica branca andar alguns passos atrás de Hades que se dirigia ao salão onde as audiências ocorrem.
A verdade era que Shun não sabia ao certo como se portar na situação que estava. Ele andava alguns passos atrás de Hades com a cabeça levemente abaixada e encarava seus próprios pés para não olhar para os outros subordinados do deus. Com a exceção de Pandora, outros que faziam parte do exército de seu novo senhor o olhavam de uma forma que conhecia bem, o desprezo.
— Bom, pode se sentar aqui — apontou para uma cadeira que ficava próxima ao seu trono, mas em um patamar mais baixo — Creio que durante a invasão tenha conhecido esse lugar e o propósito dele, certo?
— Eu consigo me recordar um pouco — respondeu — Aqui é onde as almas dos mortos são julgadas.
— E cada uma tem a punição adequada para seus crimes — complementava a explicação — Apenas as almas mais virtuosas não precisam passar por aqui e vão diretamente aos Elísios.
— Quer dizer que todos que passam por aqui são culpados? — perguntou surpreso.
— Em maior ou menor grau, sim — abriu o livro — Podem chamar o primeiro do dia — estalou os dedos.
Um homem de meia idade entrou no recinto sem entender o que estava acontecendo. Quando viu que aquele lugar parecia com um tribunal humano, ele tentou correr de lá, mas um espectro foi mais rápido ao alcançá-lo e o subjugou frente ao imperador. Shun observava a cena com preocupação. Será que todos os que passam por lá são realmente culpados?
— Caro Bartholomeu Grimm, não adianta fugir desse lugar — dizia o deus — Acaso não se recorda de como morreu?
— Eu estou morto? — o homem grisalho perguntava confuso — Mas como?
— Uma de suas garotas conseguiu te envenenar — lia em sua ficha — Agora não há mais tempo para raiva ou lamentos — levantou-se brevemente de seu assento enquanto todos os demais o reverenciavam, até mesmo o jovem virginiano que demorou um pouco, mas o fez — Eu sou Hades, deus e imperador do Submundo. Hoje estou fazendo o julgamento de sua e mais algumas pobres almas.
— Então essa merda é real mesmo? Não estou alucinando? — Grimm estava desesperado — Eu não tinha como saber que vocês deuses realmente existiam! Isso não é justo!
— Quem é o senhor para falar sobre justiça? Quanto à fé… bom, isso fica difícil de adivinhar, mas não é da minha conta — sentou-se novamente e lia o livro — Faça silêncio enquanto leio sobre sua passagem na Terra. Bartholomeu Grimm, nascido em 1965 nos EUA. Veio de uma família que enriqueceu as custas da escravidão, mas esse pecado não é seu, apenas li como uma grande ironia — Hades abriu um sorriso de dar medo — Por que um homem rico decidiu se aventurar com tráfico de mulheres? Pela adrenalina?
— Pelo poder. Eu era poderoso e influente!
— Mas gastava demais em futilidades e torrou grande parte da fortuna da família, não se importava com seus filhos de verdade. O seu poder nunca foi real, já que o mataram e agora está aqui, em meu território, sendo julgado.
— E o que vai acontecer? Já viu tudo o que fiz. Sequer um advogado eu tenho!
— Sei que está curioso, garoto. Pergunte o que desejar — Hades olhava para Shun que apertava suas mãos em sinal de nervosismo.
— E-eu não disse nada, senhor..
— Nem precisa dizer para que eu saiba. Quer perguntar algo para esse ser repugnante que está a sua frente? — encorajou-o.
— Não sente arrependimento por suas ações?
— O que está feito não há como ser alterado — limitou-se a responder.
— Se tivesse chance de fazer tudo diferente, faria?
— Se eu soubesse que esse lugar existia, com certeza.
— Então isso não é um arrependimento genuíno — concluiu triste — Todas as pessoas que o senhor fez sofrer, aposto que até algumas delas devem estar aqui… — apertou os punhos nervoso — Por favor, senhor Hades, continue… — disse o final quase sem forças. O ex-cavaleiro não conseguia mais olhar para aquela alma, tampouco encarar o imperador.
— Tudo bem — seus olhos corriam a ficha do homem no livro — Realmente, ele mandou outras pessoas para cá antes dele — sanou a dúvida do mais novo — Parabéns, senhor Grimm! A única alma na Terra que poderia tentar interceder por ti no momento está certa sobre sua corrupção — Shun levantou a cabeça e encarou confuso o deus entre lágrimas — Eis a sua pena. Um homem com tantos crimes cruéis tem uma gama de opções, mas o deixarei onde os criminosos violentos estão, para o primeiro vale da sexta prisão. Um mar de sangue fervente o fará bem pela eternidade — estalou os dedos — Adeus!
O homem havia desaparecido sob as vistas de todos e já estava cumprindo com sua pena. Shun ainda estava atordoado ao ver o julgamento e ainda mais pelas palavras de Hades. Ele não conseguia entender o motivo de estar ali ao lado do deus.
— Perdão, mas eu não compreendo. O que faço aqui? Qual é o motivo real de estar aqui?
— Minos! — chamou um dos juízes — Prossiga com o próximo julgamento. Eu preciso ter uma conversa particular, mas não demoro.
— Sim, senhor.
Hades fez com que os dois fossem transportados para Giudecca novamente. O rapaz ao seu lado estava visivelmente abalado e descontava isso apertando o tecido de sua túnica branca. O imperador decidiu romper com o silêncio, dizendo:
— Eu não gosto quando questionam a minha autoridade, mas como é novo aqui está tendo a oportunidade de aprender as coisas de um jeito menos doloroso — viu que o outro se manteve calado e continuou — Acaso não se recorda do que disse no quarto antes de encostar sua cabeça no muro atrás do trono?
— Eu recordo, disse que iria servi-lo, não como um guerreiro.
— Então, sua nova função é me acompanhar nos julgamentos. Não será sempre…
— O senhor disse para aquele homem que eu era a única alma na Terra que poderia tentar interceder por ele. Isso era verdade?
— Eu já disse que não minto, Shun — era raro ouvir seu nome ser chamado por Hades — Está me acompanhando, pois quero que entenda uma coisa, são pessoas assim que tentou salvar. Aquele homem fazia o mal antes mesmo de você nascer, treinar para cavaleiro e arriscar inúmeras vezes sua vida. Valeu a pena?
— A Terra merecia mais uma oportunidade, nem todos são maus…
— E nem todos são bons. Há aqueles que nada fazem e vivem por aí vagando como fantasmas. O que eu quero dizer é que o mundo atual não reconhece a existência dos deuses ou acreditam naquilo que é conveniente. Vocês, cavaleiros de Athena, não interferem nos assuntos dos homens quando servem uma deusa que deveria proteger a Terra — explicava — Os deuses não são o único problema dela, os humanos são.
— Eu compreendi essa parte, mas onde eu entro nisso?
— Simples, meu caro. Eu gosto de ouvir seus pontos de vista, eles me deixam deveras intrigado — tocou-lhe delicadamente o queixo — Agora não podem dizer que eu não mudei em nada após a guerra. Quero que seja o meu consultor.
— Senhor Hades, eu não tenho o direito de julgar sobre a vida alheia. Eu errei muito, não sou perfeito ou digno para tal tarefa — fitava aqueles olhos frios — Posso não sentir mais o peso da culpa dos meus erros por causa do Muro das Lamentações, mas isso não apaga o que fiz. Eu também serei julgado e culpado pelos meus julgamentos.
— Touché! Não há como te dissuadir, não é mesmo? Tens um ótimo raciocínio, mas como és meu, não há motivos para preocupar-se. Assim como minha general e espectros, nada de ruim entrará mais em sua ficha, como meu subordinado, mas isso não quer dizer para perder o seu bom senso e cometer atrocidades. Se está cumprindo com minhas ordens, não há porque ser penalizado.
— Então, se por acaso aparecer alguém ali e eu não o considerar um criminoso. O que vai acontecer?
— Vou tentar por um segundo considerar essa possibilidade como real — começava a pensar a respeito — Se sua argumentação for válida, a alma terá uma nova chance.
— Nos Elísios?
— Voltará à Terra em uma nova vida em condições diferentes. Dependerá de seu histórico.
— Isso se parece com a reencarnação.
— É sim, mas antes grupos seletos reencarnaram, isso foi ideia de minha ex-esposa Perséfone. Eu não entendia o motivo daquela nova oportunidade, além dos exércitos dos deuses, é claro — olhou o rapaz — Já que estamos combinados, nós podemos voltar.
— Certo — assentiu.
— Vamos! — estalou os dedos e retornaram para a primeira prisão.
…
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E sobre essa nova função de Shun? Será que vai dar certo?
O Albion me deixou com uma pulga atrás da orelha, o que será que ele estava visualizando sobre o futuro de seu antigo aprendiz?
Até a próxima!