Moeda de Troca escrita por Miss Siozo


Capítulo 6
A Adaptação


Notas iniciais do capítulo

Que o Santuário está em clima de treta, nós já sabemos. Veremos um pouquinho do Submundo nesse capítulo!
Boa leitura!



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Alguns dias se passaram no Submundo e seu governante conseguiu resolver alguns de seus assuntos mais urgentes. Os deuses gêmeos, Hypnos e Thanatos estavam de volta e eram de grande ajuda para dividir parte do fardo de Hades. Também foram escolhidos vinte e um espectros que ficariam temporariamente sob as ordens de Poseidon. O número em si foi estratégico, já que o número de cavaleiros de Athena estava em oitenta e sete também.

 

Por ter gasto muito cosmo, Hades não poderia fazer demais por seu reino e seus subordinados. Por estarem sob um tratado de paz, eles não precisam se importar com a alimentação que suas sapuris demandam por mais poder de seu senhor. Então as ordens foram dadas para a reconstrução das prisões e os julgamentos das almas. O imperador cuidava dos Elísios que tinha que estar preparado para receber suas ninfas e aqueles que eram dignos de pisar ali, como também seu próprio castelo para relaxar do peso que era comandar um reino de clima naturalmente pesado.

 

Pela primeira vez em semanas, Hades decidiu ir até a superfície para ver um assunto que havia deixado pendente. O ex-cavaleiro de Andrômeda precisou sair de Giudecca para receber um tratamento médico adequado. Demorou uma semana para que Shun conseguisse levantar da cama sozinho depois do processo doloroso que passou. A fisioterapia começou a ser feita e agora havia voltado a andar sozinho sem apoio, um milagre que apenas seres humanos especiais conseguiriam graças a recuperação pelo cosmo.

 

O virginiano ouviu algumas batidas na porta e foi andando devagar para atender. Normalmente ele via algum servo mal educado a servir suas refeições diárias e às vezes recebia Pandora. A moça que tem uma postura muitas vezes austera perante os outros, costumava mostrar ao rapaz um lado mais gentil e sensível do que imaginava ver.

 

— Olá — disse Hades ao adentrar o quarto.

 

— Senhor Hades... — disse vacilante. Ele não esperava ficar cara a cara com o deus que havia o deixado nessa situação tão cedo.

 

— Decepcionado ao me ver? — seu tom era um tanto irônico — Vejo que está se recuperando rápido. Eu disse a Athena que você não era um garoto fraco.

 

— Eu estou surpreso, somente — o rapaz não sabia ao certo como se comportar e o que sentia naquele momento, sua cabeça andava cada vez mais confusa — Agradeço o elogio, mas não sou tão forte quanto imagina.

 

— Depois de tudo o que aconteceu contigo, eu posso confirmar ter uma resistência ímpar, mas continua a ser um humano afinal de contas — sentou-se na poltrona — Sente-se, nós temos assuntos a tratar.

 

— Assuntos? — ele obedeceu, mas seu coração estava aflito — Quais assuntos?

 

— Não precisa ficar nervoso, não penso em te torturar. Sei que a imagem que tem de mim é péssima, mas posso dizer que sou um deus honrado que cumpre com suas promessas — colocou as pontas dos dedos de sua mão sobre o peito — Agora você está sobre minha responsabilidade e eu ando pensando sobre o que fazer contigo. Tem alguma ideia?

 

— Eu não sei como poderia te ajudar. Já faz tempo que não me consideravam útil e acho que estou começando a concordar com essas pessoas — estava de cabeça baixa — Posso tentar ser um servo, de qualquer forma preciso agradecer pelo tratamento e tentar me sentir necessário outra vez.

 

— Não cogita a possibilidade de voltar a ser um guerreiro?

 

— Isso não faz mais sentido para mim. Todas essas guerras… Eu posso dizer que consegui entender um pouco sobre algumas, mas não desejo fazer isso nem para salvar minha própria vida, mas o faria para salvar um inocente — não parava de balançar suas pernas e tentava segurar o movimento de seus braços que também tremiam — No final será inútil, serei culpado mais uma vez, tudo estará condenado…

 

— Você viu demais quando eu estava em sua mente — observava o estado mental deplorável de seu antigo receptáculo — Precisei fazer isso para ter chances de te controlar na guerra, mas as consequências acabam contigo lentamente — levantou da poltrona para chegar mais próximo do rapaz — Você é um humano peculiar, há algo que me intriga. Mal posso crer que depois de tudo pode sentir alguma gratidão e está disposto a servir-me de bom grado.

 

— Não tenho motivos para esconder nada. Não há um plano ou algo do tipo. Sei que não serei visto como confiável — respirou fundo — O que o senhor decidir, eu terei de aceitar antes de… — uma dor de cabeça terrível começou e havia o deixado tonto — O remédio… — tentava alcançar a caixinha sobre a mesinha de cabeceira.

 

— Bom, acho que vi o bastante — colocou sua mão sobre a cabeça do ex-cavaleiro — Durma — emanou sua cosmo energia para adormecê-lo — Não posso permitir uma aquisição tão interessante colapsar assim.

 

O deus deixou o quarto e ao chegar em Giudecca deu algumas instruções para sua comandante. As coisas terminavam de ser resolvidas quando Radamanthys apareceu e queria questionar justamente sobre o assunto que seus superiores falavam.

 

— Aquele moleque vai voltar para cá? — questionou — Não entendo o motivo dele estar sendo tratado na superfície quando deveria estar apodrecendo em uma de nossas masmorras. Ele é nosso inimigo e dar liberdade demais a ele só o faria nos trair na primeira oportunidade!

 

— Correção, aquele era nosso inimigo. Sem a obrigação de servir a deusa Athena, o rapaz não tem uma razão para agir contra nós — disse o deus.

 

— Ser nosso prisioneiro não é razão suficiente?

 

— Você se esqueceu que esse menino possui a alma mais pura dessa era, Radamanthys — pontuou Pandora — A existência dele seria pacífica se não fosse pela interferência dos deuses. Ele não quer e nem planeja guerrear.

 

— Além disso, ele já se sente em dívida conosco — riu o imperador — Creio que mesmo depois da cura, o garoto não fará nada. Por isso estou decidindo o que fazer com ele.

 

— Ficarei atento de qualquer forma — disse o juiz — É até melhor ele não se envolver com lutas. Será um servo então?

 

— Seria um desperdício vê-lo camuflado entre as paredes do castelo — Hades estava pensativo — Há algo que me intriga e quero tê-lo por perto. Bom, esse assunto ficará para outra hora — olhou para a moça — Pandora, siga com o combinado. Dispensados!

 

 

Mais tarde no mesmo dia, Shun despertava confuso. Ele percebeu que estava em um lugar diferente de onde estava antes de Hades influenciar sua mente a dormir. Ao menos a dor de cabeça havia passado. Se levantou devagar do chaise divã e percebeu que estava na parte de trás do Salão do Trono do imperador em Giudecca.

 

— Vejo que já despertou — disse Pandora — Acho que finalmente poderemos te ajudar propriamente, Shun.

 

— Do que está falando? Já estou melhorando com a fisioterapia, logo estarei fisicamente apto para realizar tarefas.

 

— Sua mente está cheia de informações que não lhe pertencem. Venha! — chamou-o com a mão — O senhor Hades estava tratando de assuntos muito urgentes daqui e um deles terminou de ser reconstruído há pouco tempo — andaram até o Muro das Lamentações — Chegamos!

 

— Não entendo. Eu sei o que tem por trás dessa grossa e quase indestrutível barreira — começou a pensar — Será que… não.

 

— O objetivo não é atravessar o muro e sim encostar sua cabeça nele — explicava — O senhor Hades disse para se concentrar nos pensamentos extras e o que mais você quiser esquecer como um grande lamento. O muro é uma defesa quase impenetrável, pois ele se fortalece a partir das sombras dos pensamentos dos humanos. Já o buraco que vocês fizeram só foi possível graças a luz presente nas armaduras de ouro.

 

— Ah! Agora eu compreendo! Agradeço a explicação, mas… — ele tinha um receio — E se eu não conseguir parar?

 

— Não conseguir parar?

 

— Sim. Há muitas coisas que eu lamento com o fundo da minha alma, todas as culpas que carrego. Se eu começar a recordar dessas lembranças, eu irei apagar a mim mesmo?

 

— Eu não havia pensado nisso — coçou o queixo — E agora? O que fazer?

 

— Pode ver com as servas os preparativos do jantar e estará dispensada — disse a voz grave e imponente revelando-se ao passar pelas cortinas — Acho que consigo cuidar disso rápido.

 

— Está bem, com licença — retirou-se rapidamente dali e Hades tomou o seu lugar.

 

— Por que tanto quer estar preso aos seus próprios remorsos, jovem Shun? Acredito que qualquer humano se tivesse a chance de esquecer se livraria de suas culpas e traumas sem ao menos pensar duas vezes — estava intrigado.

 

— Nossas lembranças fazem parte da construção do que nós somos hoje. Se algo estiver faltando, o que garante que ainda seremos nós mesmos no final do processo? — argumentou.

 

— Há uma diferença entre esquecer e superar. Se foi superado, por que tentaria esquecer?

 

— O problema é esse, eu não superei todas as coisas que aconteceram, principalmente o que houve após eu conquistar minha antiga armadura de bronze — não queria ser visto chorando, mas algumas lágrimas teimaram em cair. Simplesmente tentava limpá-las com as costas das mãos — As vidas que eu tirei não se justificam. Lado certo ou errado, errado eu estava a ceifar vidas. No final, nenhum de nós é verdadeiramente inocente.

 

— Todos os que morreram em suas mãos estão vivos outra vez. Não há pelo o que se culpar. Se eles tiveram essa nova chance, por favor, considere que também têm — colocou a mão sobre o ombro do rapaz e delicadamente encostou a cabeça dele no muro — Talvez estar aqui não seja bem uma maldição, veja como uma bênção inesperada — aos poucos os lamentos eram incorporados ao muro — “Tirá-lo de perto de Athena pode ser até benéfico para ti” — pensou — “E talvez para mim também”.

 

Os dois ficaram ali por quase uma hora. No final, Shun estava apoiado em Hades, pois era cansativo demais para um humano passar por aquilo. O virginiano pela primeira vez se sentiu bem em tanto tempo, aliviado, apesar da saudade que sentia de seu irmão e amigos. Já o imperador do Meikai observava atentamente as reações do mais novo. Era como se tivesse expurgado tudo o que estava corrompendo aquele coração tão puro. Ele sentia a alma de Shun tão límpida como no dia em que foi escolhido como seu receptáculo.

 

— Creio que esteja exausto, mas é prudente estar alimentado — pontuou — Acho que finalmente decidi qual tipo de serviço poderá fazer para mim.

 


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Notas finais do capítulo

Duas mentes que eu gostaria de entender como funcionam nessa fanfic: a de Shun e a de Hades.
O que será que Hades planejou? Só no próximo capítulo!



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