Moeda de Troca escrita por Miss Siozo


Capítulo 4
Nova morada


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo chegou rápido! Boa leitura!



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Já havia terminado. As estrelas da constelação de Andrômeda haviam deixado de proteger Shun. Ikki sequer pode ver a cena por ter sido obrigado a permanecer de olhos fechados, mas conseguiu sentir o sofrimento do irmão por seus gritos de dor. Não haveria mais tempo para mais despedidas, já que Shun jazia caído desacordado no chão.

 

— Está terminado — disse Saori com raiva para seu tio — Ele poderia não ter resistido…

 

— O garoto não é fraco, Athena. Se fosse, teria morrido ainda em Giudecca quando minha alma deixou o corpo dele — aproximou-se do rapaz — Já pode deixá-lo comigo, Fênix. Afaste-se.

 

— Ele não estava bem antes e piorou depois disso, não posso permitir que ele parta assim — segurava o ex-cavaleiro nos braços.

 

— Entendo a consideração pelo seu irmão, mas obedeça às ordens dos deuses — Zeus já estava cansado de ficar ali — Entregue-o à Hades.

 

E assim Ikki o fez. O tamanho de seu descontentamento estava nítido em seu rosto. Ver o caçula desacordado nos braços de Hades o fazia lembrar da guerra e do destino que havia lutado contra ainda em tenra infância. O representante da ave mitológica deixou o recinto, mas antes Saori pode presenciar tamanho ódio que emanava de seu cosmo e olhar.

 

— Bom, acho que chegou a hora de nos despedirmos. Obrigado Zeus pelo esforço de tornar essa negociação possível — cumprimentou-o cortês — Acho que nos reencontraremos para discutirmos sobre os assuntos da aliança em breve, Athena.

 

— Acredito que precisaremos dessas reuniões mesmo, mas podemos mudar o foco no momento para reconstruir nossas fortalezas — ver Shun nos braços de Hades como um troféu a enojava — Qualquer coisa mandaremos ou aguardaremos por um aviso.

 

— Então está tudo certo — Zeus tentava deixar o clima menos denso ali — Adeus, minha filha! Vamos, meu irmão.

 

— Certamente — as portas se abriram novamente — Pandora, por favor, avise aos outros que estamos de partida. 

 

— Sim, senhor.

 

— O que está acontecendo aqui? Por que nosso amigo está desacordado nos braços dele? — Seiya perguntava confuso.

 

— Pelo mesmo motivo que você está perambulando por aí e falando como uma matraca com a saúde perfeita — o deus sorriu — Isso faz parte do acordo.

 

— Como é que é? — o cavaleiro erguia os punhos contra Hades.

 

— Athena, controle o temperamento de seu cavaleiro. Quer que outra guerra ocorra aqui mesmo? — desdenhou — Assim só comprova o que conversamos lá dentro com as portas fechadas. Não quer que eu diga na frente deles ou quer?

 

— Não precisa, apenas parta em paz — limitou-se a dizer, o que deixou a parte de seu exército que estava ali incrédula.

 

— Adeus! — eles logo sumiram das vistas de todos.

 

— Saori, digo, Athena. Eu acredito que todos nós merecemos uma boa explicação — disse Hyoga.

 

— Claro, vocês merecem sim, mas deixarei isso para amanhã. Muito cosmo foi gasto apenas para trazer nosso exército de volta — estava exausta — Até eu preciso de um tempo para terminar de assimilar tudo o que foi feito aqui hoje. Eu lamento demais pela situação de Shun, só isso que irei declarar por hoje. Vão para suas casas e dormitórios, descansem que o dia seguinte será longo. E aos que retornaram, eu desejo as boas vindas! Boa noite!

 

 

No Submundo, Hades e seu exército haviam acabado de se reunir. Alguns avisos precisavam ser dados, apesar dos trabalhos começarem no dia seguinte. O deus sentou-se em seu trono em Giudecca e deixou o ex-cavaleiro desacordado aos pés da escada. Não demorou muito para ele começar a se pronunciar:

 

— Meus caros companheiros espectros, me felicita ter todos reunidos aqui novamente nessa era — saudou-os — Sei que tenho muitas coisas a dizer, mas falarei o necessário para essa noite. Nós todos estamos aqui graças a um acordo feito entre eu, Poseidon e Athena, que foi promovido por Zeus.

 

— Então foi por isso que ressurgimos no Santuário? — perguntou Minos.

 

— Certamente. Devo confessar que esse acordo nos beneficia, pois não aprecio guerras desnecessárias. Por mais que eu acredite que a última contra Athena foi válida. Nem ela e nem a humanidade aprenderam a lição.

 

— Mas agora não podemos fazer nada contra eles por causa desse acordo — reclamou Aiacos.

 

— Não precisamos fazer nada contra eles, Aiacos. Athena se enforcará sozinha em sua arrogância — apontou para Shun deitado nos degraus — Essa é uma prova do que estou falando. Uma crise já foi instalada no Santuário por causa das decisões dela.

 

— Então, o que faremos o garoto? — perguntou Pandora — Ele será nosso prisioneiro?

 

— Por enquanto apenas o deixe seguir o tratamento desses curandeiros humanos, isso faz parte de minha promessa. O restante resolvemos depois — voltou-se aos outros espectros — Uma parte de vocês irá colaborar com meu irmão Poseidon, pois isso faz parte do acordo. Irei estipular um número de vocês que irá acompanhá-lo temporariamente, mas sempre haverá alguém para se reportar a mim em segredo — se levantou de seu trono — Agora podem ir descansar, pois precisamos colocar esse lugar para funcionar direito. Essas almas não podem esperar tanto tempo. Dispensados.

 

O imperador estava cansado. Havia gastado muito de seu cosmo e fez movimentos arriscados em seu jogo de tabuleiro mental. Uma das "peças" de sua adversária estava ali aos seus pés. Por mais furioso que tenha ficado com a insubmissão de seu receptáculo durante a guerra santa, ele compreendia sua determinação, mesmo que ao seu ver estivesse lutando do "lado errado" da história. Pegou-o novamente nos braços, sentiu a respiração pesada do jovem enquanto o carregava para uma instalação simples do castelo, deitou-o na cama e fechou a porta rumando para seus aposentos. Chegou a hora do deus descansar, pois muito havia de ser planejado e assistido. Em sua mente, o acordo teria sorte se durasse uns dez anos.

 

 

Já havia amanhecido e apesar dos raios solares sequer serem visíveis no Submundo, Hades e seus espectros sabiam que logo se iniciariam os trabalhos do dia. Quem ainda era completamente ignorante ao fato era Shun, que acordara mais uma vez de modo conturbado, mas estava se acostumando com aquilo. O jovem tentou acalmar sua própria respiração e tentou conter sua crise de choro, mas então começou a olhar ao redor do quarto e se lembrou do dia anterior.

 

— Isso tudo aqui é real? Ontem… — tentou se mexer, mas sentia seu corpo pesar como chumbo — Eu estou… — ouviu algumas batidas na porta antes dela ser aberta.

 

— Com licença — entrou Pandora — Eu passava pelo corredor e ouvi um grito, então vim ver como estava.

 

— Obrigado, eu acho… — conseguiu girar um pouco o pescoço — Me desculpe, mas eu ainda não consigo acreditar.

 

— Ontem foi real e sei que isso representa uma enorme infelicidade para você, mas por enquanto não há nada que precise se preocupar — aproximava-se da cama — Posso checar suas feridas? Caso seja grave, eu terei de levá-lo até um hospital na superfície.

 

— Eu já estava infeliz antes, há muito tempo, na verdade — confessou — Sinto muita dor e mal consigo me mexer, mas acredito que meu corpo vai aguentar.

 

— Pedirei para trazerem remédios para dor e algo para comer. Além disso, eu preciso saber do seu tratamento médico, para que possa dar continuidade. O senhor Hades vai honrar com sua promessa.

 

— Não precisa se preocupar com isso, nem mesmo os médicos estavam me compreendendo no Japão — fechou brevemente os olhos e gemia de dor — Depois de tudo o que vi e sei, nada disso faz mais sentido, não há uma direção e os remédios só serviam para me deixarem mais calmo e dar noites tranquilas aos meus companheiros — estava completamente vulnerável — Eu posso continuar a tomar-los para não ser um estorvo para vocês também.

 

— Por que acha que eles não funcionam? — a moça estava se compadecendo pelo rapaz a sua frente — Os seus olhos estão tão diferentes…

 

— Os remédios não funcionam, pois eu sei coisas demais e minha mente não consegue lidar com isso — fechou seus olhos — Pode retornar para seus afazeres. Não desejo que seu senhor se zangue contigo por minha causa.

 

— Tudo bem, farei como desejar — caminhou para fora do quarto — “Sei que ele foi um inimigo, mas por que me sinto tão triste pela situação dele?” — pensou.

 

 

Atrás do salão do trono em Giudecca, Hades parecia bem concentrado. Eram tantas coisas que precisam ser feitas: reanimar os deuses gêmeos, reconstruir os Elíseos e todas as prisões do Submundo, decidir quantos de seus espectros trabalharão temporariamente com Poseidon. Era muita coisa para se pensar inicialmente e ainda tinha o ex-cavaleiro de Andrômeda que estava ali em seu reino. O deus parou de pensar um pouco em tudo isso, pois sentiu a presença de sua general Pandora de passagem pelo recinto. Ele ainda precisaria conversar com ela.

 

— Pandora — chamou-a em tom sereno — Sei que precisamos terminar aquela conversa de quando havia te dado uma vida temporária.

 

— Estou ouvindo, senhor Hades.

 

— Primeiramente quero dizer que entendo o motivo de ter ajudado o cavaleiro de Fênix a chegar vivo nos Elísios e também entendo porque Thanatos a matou — descia as escadas — Você se sentiu enganada e ele a considerou uma traidora. Estou tendo essa conversa, pois quero esclarecer os mal entendidos antes de reanimar os deuses gêmeos.

 

— Eu realmente me senti traída pelos deuses gêmeos e pelo senhor também — confessou — Eu agi por impulso, no calor da emoção que sentia naquele momento.

 

— Quer dizer que se arrepende?

 

— Não senhor. Acredito que não posso voltar ao passado e mesmo que fosse, as circunstâncias seriam as mesmas, logo o resultado seria o mesmo.

 

— É uma linha de raciocínio interessante, Pandora — estava mais perto da jovem — Vocês humanos são muito peculiares e isso às vezes me atiça curiosidade. Quanto ao que se refere a traição, creio que houve um mal entendido. Você pertence ao meu exército há eras, assim como os outros espectros. O contexto que os leva até mim pode ser um pouco diferente a cada era, mas sempre retornam.

 

— Quer dizer então que eu…

 

— Você é a Pandora original do mito, a reencarnação dela. A condenação que deram a ti foi pesada demais, mas consegui amenizar um pouco as coisas quando a trouxe para meu exército — explicava — Não gostei da forma que os deuses gêmeos conduziram o plano, então tem o direito de se sentir usada. Também vi que não despertou sua consciência ancestral nessa era. Se quiser…

 

— Não precisa, meu senhor — começou a se lembrar do que Shun dizia no quarto — Talvez seja melhor eu não saber demais. Se tudo foi um mal entendido, não vejo motivos para ficar magoada.

 

— Como desejar — deu de ombros — A senhorita passava por aqui com tanta pressa. Houve algum problema?

 

— Não é exatamente um problema. Eu passava pelos corredores quando ouvi um grito, então eu vi que se tratava de nosso mais novo "hóspede" — disse a última palavra em tom de dúvida. O status do rapaz ali era confuso para si.

 

— Oh! Então ele despertou? — estava surpreso.

 

— Sim e não me parecia bem.

 

— Deveras! O que houve ontem a noite foi um dos processos mais dolorosos para um humano, perder sua constelação protetora é algo que só é possível quando um deus ordena que o poder das estrelas que regem a vida de um guerreiro o deixe. Geralmente acontece quando uma grande traição ou um ato muito grave é cometido.

 

— Mas o caso dele foi diferente.

 

— Foi por causa do acordo. A conduta de Shun como cavaleiro foi exemplar até o final — ponderou — É difícil eu elogiar quem não pertence ao meu exército, mas abri uma exceção merecida. O rapaz pode ter se assustado, mas não hesitou. Isso é um sinal de fibra.

 

— Esse rapaz me deixou um tanto intrigada, senhor — pensava em seu breve encontro.

 

— Intrigada?

 

— Algumas das coisas que ele disse não faziam muito sentido para mim, mas quando me questionou sobre ter acesso as minhas lembranças das vidas passadas, eu compreendi um pouco do que ele quis dizer — engoliu seco antes de perguntar — Por acaso o senhor fez algo que atingiu a mente dele durante a guerra santa?

 

— Sim, eu fiz. Eu precisava fazer, afinal ele tentou tomar o controle do corpo de volta e teria nos matado.

 

— Então o problema dele não será um médico humano que poderá resolver?

 

— Não será o caso — suspirou brevemente — O garoto teve acesso a minha mente e exatamente todo o meu conhecimento ancestral. Fiz isso na intenção de que ele se visse obrigado a hibernar definitivamente, pois não suportaria tanta informação. Foi uma surpresa vê-lo lutando nos Elísios normalmente e ontem ele não me parecia tão mal. Cheguei a pensar que aquela estratégia havia dado errado, mas…

 

— Shun está sofrendo seriamente com as consequências de saber de tudo. Sua mente humana começou a colapsar…

 

— Creio que a situação dele precisará esperar um pouco. Tenho noção da promessa que fiz, mas há muito de ser feito e não posso cuidar disso agora — subia de volta as escadas —  Continue usando das poções que os humanos inventaram, creio que serão úteis para atenuar os efeitos. Mais tarde darei uma olhada em nosso hóspede — usou um tom divertido na última palavra — Com certeza será uma estadia que tirará o Meikai da monotonia — abriu um sorriso que Pandora não pode ver.


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Notas finais do capítulo

E a treta só começou... Até o próximo capítulo!



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