Moeda de Troca escrita por Miss Siozo


Capítulo 16
Dom especial (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Agradeço muito ao apoio que tive dos leitores no último capítulo. Estou tentando retornar aos poucos, como já sabem. Espero que gostem da continuação do capítulo anterior. Achei melhor dividir os acontecimentos em duas partes por achar melhor para a leitura e por organização mesmo.

Boa leitura!



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Shun só conseguiu acordar no dia seguinte no hospital. Pandora estava ao seu lado com um semblante preocupado. A confusão do despertar aos poucos dava espaço a outros questionamentos.

 

— Onde está o menino?

 

— Ei! Calma! O garotinho está bem, ok? — segurou a mão dele — Teve sorte de pegar um resfriado leve. Você que ficou mais afetado!

 

— E a polícia?

 

— Já pedi para se acalmar, “Super Homem”. Não vai conseguir resolver todos os problemas do mundo de uma vez — bronqueou — Vou te contar tudo o que precisa saber.

 

— Está bem. Desculpe.

 

— Depois que você desmaiou no meio de nossa ligação. Eu chamei a polícia e solicitei uma ambulância também — suspirou — Não foi difícil de te encontrar devido ao sinal do GPS. Eles foram imediatamente para lá e eu fui em outra viatura. Me fizeram um monte de perguntas que não soube responder, por isso estavam esperando que você acordasse.

 

— Certo. Eu ainda lembro de algumas coisas. A mãe do pequeno Bruno me passou as instruções para …

 

— Espera aí? A mulher que você se refere é a morta dentro carro? Como vocês conversaram? A deixou para trás quando foi salvar o menino?

 

— Não! O que aconteceu foi assustador demais, mas ignorei as circunstâncias para salvar o garotinho — tentava respirar fundo para conter a ansiedade — Ainda estou pensando sobre o que contarei à polícia, pois se contasse a versão original da história me chamariam de louco.

 

— Ok. Acho que temos algum tempo antes da enfermeira vir aqui. Pode me contar do seu jeito.

 

— Eu estava caminhando por aí, como você já sabe. Quando, de repente, ouvi alguns gritos pedindo ajuda. Eu pensei que poderia ser alguma armadilha, mas quando os gritos desesperados continuaram eu segui em frente.

 

— Muito imprudente — bufou — Você está se recuperando e ainda está completamente fora de forma, Shun!

 

— Eu sei, mas não consegui pensar direito. O meu senso de dever vai além…

 

— Das suas capacidades físicas. Eu sei disso.

 

— Continuando. Eu vi uma mulher que estava completamente encharcada, da cabeça aos pés, mas não havia nenhuma poça ao seu redor.

 

— Você então viu um espírito? — ele assentiu — Isso não deveria ser possível. Apenas um grupo seleto do exército de Hades que tem a habilidade de ver espíritos fora do Submundo.

 

— Não sei como isso aconteceu, mas eu a vi. O nome dela era Aurora. Só percebi que se tratava de um espírito quando entrei no lago e fui salvar o menino. O motorista e a mulher no banco do passageiro estavam mortos.

 

— Então ela ficou mais alguns instantes na Terra para tentar salvar o filho?

 

— Exatamente. Ela desapareceu poucos instantes depois.

 

— Vamos ter que conversar sobre isso com o Senhor Hades, depois, mas antes nós precisamos de uma versão oficial para a polícia. Eu te ajudo com isso.

 

 

No Submundo, um julgamento em especial deixou o imperador intrigado. Há algumas horas de diferença havia julgado um homem completamente prepotente e sem um pingo de remorso sobre o ato que o levou até o mundo dos mortos. Tentara matar a esposa e o filho consigo, e infelizmente a tragédia só não foi completa, pois o menino sobreviveu.

Geralmente quando há acidentes, as almas tendem a ficar confusas e muitas não se conformam com a própria morte. O sujeito grotesco a aceitou, já que foi o grande causador disso, mas a esposa levou mais tempo para partir e agora Hades a julga.

 

— Aurora Evans, creio que consiga entender sua real situação, antes de eu prosseguir — falou em tom complacente dadas as circunstâncias que a trouxeram ali.

 

— Eu morri no acidente causado pelo meu marido, ou pior, ele tentou nos matar. Graças aos céus que aquele anjo foi enviado para ao menos salvar o meu filho de uma morte agonizante!

 

— A quem se refere, senhora? — questionou curioso — Tenho o seu arquivo em mãos escrito neste livro e não há anotações sobre o estado da criança. O patife de seu marido foi julgado e condenado, caso queira saber.

 

— É um alívio saber disso, mas por favor, se for para me colocar em algum lugar ruim pela eternidade, que seja longe dele — voltou seus olhos para a autoridade, juntando as mãos implorando para ficar distante daquela alma pavorosa — Não entendo como, mas eu consegui ficar mais um pouco na Terra depois que morri. Eu sabia que estava morta, mas não queria aceitar… — chorava.

 

— Sua morte?

 

— Não! Isso eu percebi quase de imediato, mas eu ouvi a voz do meu filho. Meu coração sangrava ao vê-lo em sofrimento sem que eu pudesse fazer nada. Gritei por socorro mesmo sem ter a certeza de que seria ouvida, mas um garoto me ouviu.

 

— Por acaso sabe quem salvou seu filho? — Pela localização não havia ninguém de seu exército em missão oficial, a menos que…

 

— Eu o perguntei antes de partir. Estava cansado e assustado com a situação. Shun é o nome do anjo que iluminou aquele lago e salvou o meu bebê! Eles conseguiram ser resgatados?

 

— Er.. Eu vou pedir para checarem a informação para dar um alento à sua alma, mas se esse Shun for o mesmo que conheço, seu menino está seguro — seus sentimentos estavam bagunçados. Ficara orgulhoso ao mesmo passo que preocupado — Bom, vamos ao seu julgamento. Antes de ler sobre a sua vida, eu preciso me apresentar propriamente. Sou Hades, deus do Submundo e estou julgando o seu caso. Independente da fé que escolheu professar no mundo humano, estou aqui para garantir um julgamento justo. Tens algo a declarar?

 

— Eu sei dos meus erros, não fui a melhor pessoa do mundo. Fui uma adolescente inconsequente que se encantou pelo idiota que me matou. No entanto, eu estava aprendendo a ser uma pessoa melhor pelo meu pequeno Bruno. Tinha planos de me separar e criar o meu menino longe do mal que o pai dele causava, mas não deu certo.

 

— Realmente, a sua breve vida não foi das melhores. Morreu muito jovem, cometeu erros, mas não tão graves a ponto de se unir ao seu antigo cônjuge. Sua alma irá para um lugar novo que criei recentemente. Terá que se preparar para uma nova vida, pois há lições para aprender e muito para se viver. Por enquanto só chamamos o lugar de “nove”.

 

— Muito obrigada, senhor Hades! 

 

— Ah! Antes de partir, tenho a informação que queria. Seu filho e o salvador dele estão bem. Markino, por favor, a acompanhe — estalou os dedos e um portal se abriu para que a alma e seu espectro a acompanhasse até sua nova morada — Chamem o Lune de Griffon para dar sequência nos julgamentos. Tenho assuntos a resolver.

 

Por mais que não confessasse isso em voz alta, os subordinados presentes já sabiam do que se tratava o assunto, ou melhor, quem. Shun dava seu depoimento à polícia acompanhado de Pandora e em sua versão “oficial” apenas disse que estava passeando quando ouviu um barulho estranho e viu o carro dentro do lago. Que o menino estava agitado e não pensou muito em nadar para tentar tirá-lo de dentro. Os adultos já estavam mortos, então quando saiu da água já estava sem forças, pois a adrenalina baixou e ligou para a irmã pedir ajuda para resgatá-los.

 

— Tudo bem, isso é tudo — disse o policial.

 

— O Bruno vai ficar bem? Encontraram alguém da família para ficar com ele?

 

— Fizemos algumas ligações. O natural seria ficar com algum dos avós, mas há uma pessoa que ficou interessada, Beatrice.

 

— Acho que ela pode ser a melhor escolha.

 

— Por que diz isso, meu jovem?

 

— Eu poderia dizer que é minha intuição, mas eu ouvi o menino chamar por essa tia antes de nós desmaiarmos de exaustão — foi uma leve mentira, mas faria o possível para realizar o desejo da mãe do garoto.

 

— Compreendo. Vou deixar uma anotação sobre isso. Caso lembre de mais algum detalhe, entre em contato com o número que deixei com a sua irmã — caminhou até a porta — Desejo uma boa recuperação. Você foi muito imprudente, mas salvou uma vida. Parabéns, garoto! — saiu.

 

— Opa! — a alemã mostrou a tela de seu celular — Acho que Hades já está ciente de sua recente peripécia — ele respondeu com um suspiro profundo.

 

— Acha que meu ato terá consequências ruins?

 

— Torça para ele estar de bom humor — deslizou o dedo na tela — Senhor Hades.

 

“Por que não me avisou antes sobre o que aconteceu, Pandora?” — o imperador foi direto ao ponto — “Exijo, no mínimo, uma explicação”.

 

— Vou colocar no viva-voz a ligação, Shun está aqui ao meu lado.

 

“Ótimo! Assim não terei que repetir essa conversa” — o humor dele não parecia dos melhores.

 

— Pronto. Está no viva-voz — deu um suspiro — Não dei notícias antes, pois estava cuidando de toda a situação. Tive que chamar a polícia e a ambulância. Há pouco estávamos prestando um esclarecimento oficial para a polícia local, porque não foi um mero acidente, um crime aconteceu ali.

 

— Sobre o crime já estou ciente. Julguei o homem há algumas horas atrás, mas foi o relato da morta que me deixou surpreso. Por isso que liguei. A explicação de Pandora já tive e compreendo as suas medidas, mas procure me avisar dos fatos logo após ter ocorrido. Detesto receber as notícias por terceiros.

 

— Tudo bem, não se repetirá.

 

— Agora eu preciso de uma explicação sua, meu jovem. Tens noção sobre onde se meteu?

 

— Na hora eu não pensei sobre as consequências de meus atos, mas não me arrependo de ter salvo a vida de uma criança — disse em tom firme.

 

— Não vou lhe repreender por ter salvo uma vida, mas por ter arriscado a sua. Está em tratamento, sem treinamento e ainda utilizou do seu cosmo debilitado, Shun?

 

— Eu sei que foi uma loucura, mas não consegui ignorar os gritos daquele espírito! — apertava suas mãos em sinal de nervosismo — O senhor falou sobre o meu cosmo, como?

 

— Aurora o descreveu como um “anjo que iluminou aquele lago” e salvou o bebê dela. O que pode ter iluminado um lago naquelas circunstâncias?

 

— Ok. Eu admito que usei o meu cosmo para quebrar o vidro do carro e salvar o menino. Tentei usar minha força física, mas não conseguia resultados por causa da pressão da água ali. Não tinha certeza se daria certo, há muito tempo que não tentava usar meu cosmo… — segurava sua respiração na tentativa de controlá-la e Pandora notou isso.

 

— Senhor Hades, nós estamos seguros. Ninguém que tenha ciência sobre os deuses vieram até nós para nos confrontar. Foram ínfimos segundos de um cosmo fraco, não há perigo e os veículos de notícia preservaram o nome e a imagem de Shun por se tratar de um menor. Como eu disse antes, eu cuidei de tudo — falou para tentar encerrar a conversa, mas apenas isso não foi o suficiente.

 

— Terei que mudar vocês de lugar ou trazê-los de volta para cá? Quem garante que algo do tipo não acontecerá outra vez?

 

— Não há… infelizmente… — disse o virginiano.

 

— Vou tirar do viva-voz — avisou a alemã e aproveitou para apertar o botão próximo ao leito de Shun — Chamei a enfermeira. Vou te dar um tempo — falou cobrindo o microfone do celular e saiu do quarto.

 

— Está bem… Obrigado… — estava entrando em crise e como ele odiava isso.

 

A espera do outro lado da linha telefônica não era algo que o Senhor do Meikai estava habituado. Logo começou a falar:

 

“Pandora? Você está aí?”

 

— Sim senhor. Mais uma vez tive que cuidar da “gestão de crise” — disse cansada — Senhor Hades, não notou algo diferente enquanto ouvia Shun?

 

 “Refere-se a algo para além da petulância? Não notei nada. Essas ligações são melhores do que cartas, mas inferiores ao “cara-a-cara”, entende?”

 

— Certamente — deu um suspiro — Ele estava entrando em uma crise nervosa. A enfermeira deve estar cuidando disso nesse momento.

 

“Oh!” — exclamou surpreso — “Não era a minha intenção. Só queria enfiar naquela cabeça imprudente um pouco de juízo”.

 

— Eu entendo, senhor, mas ele acordou hoje completamente atordoado com tudo o que passou, preocupado com o menino que salvou e com o que contaria à polícia. Já era muita coisa para absorver. Também dei a minha dose de bronca nele antes do senhor. O que houve agora foi um retrocesso em seu emocional. Talvez tenha disparado algum gatilho.

 

 “A última discussão nossa o deixou péssimo. Ainda lembro do rosto dele na cela… Uma expressão que só de lembrar não me faz bem” — confessou — “Apenas cuide dele e me mantenha informado. Irei me distanciar para não prejudicar o tratamento dele”.

 

— Cuidarei bem dele. Senhor, antes de encerrar a ligação, eu tenho uma pergunta.

 

“Faça-a”

 

— Como Shun conseguiu ver uma alma fora do Submundo?

 

“A possibilidade mais forte seria que algum resquício de poder meu ficou em seu corpo por ter sido o meu receptáculo, assim como o inundei com minhas memórias para desestabilizá-lo” — ponderava — “Mas depois de tudo o que houve era para ele voltar a ser o mesmo que sempre foi. No entanto, não foi só ele que viu minhas memórias. Eu espiei as dele antes mesmo de despertar em seu corpo”.

 

— Então ele já tinha esse “dom especial”?

 

“Sim, mas não tinha consciência disso. Foram poucas experiências que eu como um deus pude facilmente identificar, mas uma criança não pode” — suspirou do outro lado da linha — “Talvez a possessão reavivou essa sensibilidade que já existia, mas tente vigiá-lo de perto. Outro incidente desse não pode acontecer, a menos que ele esteja preparado para lidar com a situação. Desligando”.


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Notas finais do capítulo

Não me matem por pressionar mais um pouco o nosso querido Shun. O que aconteceu até agora com ele virá a fortalecer no futuro a si mesmo e suas relações.
Gostaram do capítulo?
Até a próxima!



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