Moeda de Troca escrita por Miss Siozo


Capítulo 13
Olhar para o passado


Notas iniciais do capítulo

Olá! Capítulo novo recém saído do meu "forninho" de ideias!
Para quem estava curioso sobre Perséfone, esse capítulo saberemos da história dela (neste universo).
Boa leitura!



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Um pouco mais de um mês havia se passado desde a partida de Shun e Pandora para o mundo humano, mas parecia que a lacuna deixada pelos dois não conseguia passar despercebida. Mesmo sem ter em vista uma guerra, a general de Hades fazia falta em suas funções, mas ajudava a coordenar as coisas remotamente graças ao advento da tecnologia. Já o pequeno consultor que trazia um pouco mais de leveza e compaixão nos julgamentos, de longe era a diferença mais brusca a qual conseguiram notar.

 

Shun havia feito sua prova e pelo nivelamento não se saiu tão mal. Apenas precisaria estudar naquele período de férias para que conseguisse acompanhar o restante dos alunos da mesma faixa etária. Pandora estava dois anos à sua frente na escola, mas foi sua parceira de estudos naquele período e ficou impressionada com a capacidade do mais novo em aprender rápido coisas novas. Suas crises já estavam mais controladas e vivia uma rotina mais saudável para si. Conheceu lugares novos, se enturmou com alguns colegas que estavam na mesma situação que si no colégio e começou a se permitir a criar novos vínculos com as pessoas, iniciando pela alemã.

 

— Eu soube que Ikki retornou ao Santuário.

 

— Acho que ele teria que voltar por bem ou por mal, Shun. Ele pode te ver de novo e mesmo que haja um ressentimento por Athena, o dever o chama.

 

— Você tem razão — terminava o café da manhã — Acha que ele vai contar alguma coisa?

 

— Acredito que o necessário. Não creio que a fênix o porá em risco.

 

— Eu acho até estranho ouvir vocês dois falando um bem do outro — comentou aos risos — Parece até aquela coisa de universo paralelo que eu vi em filme no outro dia.

 

— Ikki é um turrão, mas sei que não é burro. Também creio que foi por sua causa que nós dois de alguma forma pudemos conversar sem brigar. Já chegou a pensar nisso?

 

— Desculpe, não compreendi. Pensar no quê?

 

— Você é um tipo de pessoa conciliadora, sabe? — tentava explicar melhor — Sei que ajudou muitas almas sendo o consultor do senhor Hades, mas talvez a sua vocação esteja em ajudar os vivos.

 

— Eu sempre gostei de ajudar as pessoas. No Submundo, eu tentava intervir para trazer algum conforto para os que partiram, mas não me sentia tão útil assim, sabe?

 

— Isso me lembrou um pouco a antiga senhora Perséfone — deu um sorriso triste — Algumas memórias minhas estão emergindo aos poucos, mas no outro dia consegui me recordar da época em que ela vivia no Submundo.

 

— Realmente, esse foi um assunto que eu não procurei saber a respeito. O que houve com ela?

 

— Não precisa se sentir mal com isso. Sua mente chegou cheia lá e muitas coisas aconteceram. Vou contar sobre o que eu lembro da senhora Perséfone.

 

— A lenda é verdadeira? O senhor Hades a sequestrou?

 

— Digamos que ele a protegeu, ok? Vou narrar a versão do Submundo da história…



“Ainda nos tempos mitológicos, várias disputas aconteceram entre os deuses. Há muitas classes de deuses, a começar pelos primordiais e haviam os titãs. A família principal olimpiana que tem Zeus, Poseidon, Hades, Héstia, Hera e Deméter. Nem preciso explicar que relações incestuosas aconteceram entre a maioria deles, isso faz parte da história. O problema começou na geração seguinte de deuses. Então as disputas ocorreram por diversos motivos, incluindo futilidades.

 

Perséfone, antes chamada de Koré, era uma jovem deusa que vivia uma vida pacata em meio a natureza. Por ser muito bela atraía sempre os olhares de cobiça de outros deuses e sua mãe não gostava disso, tanto que a proibiu de conversar com deuses homens e os mortais também. Outras deusas que fizeram votos de castidade, como Athena e Ártemis, tentaram convencê-la de fazer o mesmo. O que não deu certo, pois em belo dia, Éros brincava com suas flechas e o senhor Hades faria uma visita ao Olimpo, por isso estava na superfície.”

 

— Foi assim que os dois se apaixonaram? — o jovem estava envolvido pela história que Pandora contava.

 

— É muito apressadinho, sabia? — riu — É melhor terminarmos essa conversa no sofá que é mais confortável do que essa cadeira — reclamou.

 

— Tudo bem — foram até a sala — Continue a história, por favor!

 

— Ok.

 

“O senhor Hades se encantou por Koré e pensou que não precisou de uma flecha de Eros para isso. Foi por muito pouco que eles não foram acertados na primeira vez, mas não perceberam a segunda flecha. Logo depois de chamarem a atenção do cupido, que não confessou que os acertou, os dois conversaram bastante e Hades seguiu para seu compromisso com Zeus. Uma faísca de paixão surgiu ali, mas diferente dos irmãos, nosso senhor sempre foi sério e chegou a pedir a Zeus que caso Koré aceitasse, se Zeus daria a bênção para o matrimônio. Ele não se opôs, mas não consultou Deméter sobre o assunto.

 

Mais tarde no mesmo dia, Hades reencontrou com Koré que estava sendo importunada por alguns deuses e a levou para conhecer o Submundo. Ela se tornou uma hóspede em nossos domínios, mas logo veio a história do sequestro e o escândalo de Deméter. Foram poucos dias que os dois tiveram juntos e quando Koré teve certeza sobre o compromisso, comeu a romã e passou a fazer parte do Submundo.”

 

— Então daí que surgiu a história dela passar um tempo com a mãe e um tempo com o marido?

 

— Sim! E com o passar do tempo isso se tornou desgastante — suspirou — No tempo longe do Submundo, Deméter e outras deusas tentavam envenenar a relação dela com o senhor Hades. Houveram até armações para causar a infidelidade de ambos. Já ouviu a história sobre o jovem Adônis?

 

— Não.

 

— Ele foi um dos amores da senhora Perséfone, mas a deusa Afrodite entrou nessa disputa. O infeliz não teve boa sorte. Já o senhor Hades teve seus momentos de tentação, mas resistiu. Até mesmo uma antiga ninfa com quem já teve relação, Minta, enfrentou a fúria da senhora Perséfone e virou aquela planta, menta, conhece?

 

— Os relacionamentos dessa família de deuses é complicado demais! São tantas informações, tudo é uma intriga…

 

— Concordo. Até os dias atuais ainda tem um pouco disso, mas os deuses evitam entrar em confronto em áreas habitadas por humanos. Desse modo respeitam a soberania da deusa Athena. De tal modo, como também não invadem os limites de Poseidon e Hades. A regra costumava ser quebrada por eles no período das guerras santas.

 

— E porque não vi Perséfone no Submundo?

 

— Ela partiu depois da primeira guerra santa — contava com pesar — O nosso senhor costumava ser muito paciente, até com a história envolvendo Adônis. O conflito entre Hades e Athena surgiu quando ele visitou o Olimpo na época que Perséfone era Koré novamente. Os dois já tiveram discussões filosóficas antes sobre a Terra, mas a deusa resolveu se intrometer no assunto familiar. O clima ficou péssimo e um dos cavaleiros dela, o Pégaso mitológico, estava aos pés do Monte Olimpo. Por um movimento que o cavaleiro considerou hostil, foi o suficiente para agir contra o meu senhor que foi ferido. Pégaso foi morto em seguida e uma guerra santa foi anunciada para os próximos dias.

 

— Então, Perséfone teve que escolher um lado?

 

— Exato. No caso, ela não escolheu. Nem a irmã, nem o marido. A neutralidade foi tanta que quando esses conflitos ocorrem ela busca por hibernar em local desconhecido.

 

— Uma separação oficial entre eles não aconteceu de fato, ou estou errado?

 

— Perséfone tem seus direitos no Submundo, por isso ainda a chamamos de “senhora” ou “imperatriz”, mas ela não os exerce mais há eras. A separação de fato ocorreu no século X, quando o receptáculo dele despertou mais cedo naquela era e a procurou antes da guerra santa acontecer. Foi tudo feito de modo amigável, mas as sombras ficaram. Eros desfez em definitivo o efeito de sua flecha e o amor foi embora junto, restando apenas o respeito entre eles.

 

— É uma história triste — massageava os pontos em sua orelha das sessões de auriculoterapia que havia começado há pouco tempo. Aquilo ajudava a administrar o estresse — E o senhor Hades não amou mais ninguém e continuou a guerrear, não é?

 

— Exatamente. Se afundou no trabalho e continuou recebendo a pior face da humanidade em larga escala em seus domínios. Com o passar do tempo, as penas foram endurecendo. Os poucos humanos de sua confiança continuam reencarnando para servi-lo.

 

— Ele se fechou completamente para tudo e todos — este fato o fez lembrar de si mesmo — Consigo compreender melhor a história, mas eles todos poderiam tentar se reconciliar de tantas intrigas e mal-entendidos.

 

— Os deuses são muito orgulhosos, Shun. Isso não é tão fácil como parece ser — levantou-se — Perséfone costumava ser conciliadora, assim como você, mas a convivência com o mundo humano em suas andanças começou a afetá-la, até em seus posicionamentos. Queria defender a humanidade, mas ao mesmo tempo entendia os motivos do marido a detestar.

 

— Ela entrou em um conflito interno — parecido com o seu.

 

— Possivelmente. Como a senhora não nasceu naquele ambiente de energia sombria, por mais que quando se casaram, herdasse parte dessa energia.Perséfone sentia falta do mundo humano e do Olimpo. A tarefa de andar entre luz e trevas sem se deixar afetar por nenhuma das forças é difícil.

 

— Talvez eu consiga imaginar — parou de massagear o lóbulo de sua orelha — Essa conversa explicou tanta coisa!

 

— E ao mesmo tempo não explica tudo — comentou com um sorriso — Entender o passado é fundamental para pensarmos sobre nossas ações no presente.

 

— E para dar rumos diferentes para o futuro…


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Notas finais do capítulo

*auriculoterapia - é uma técnica derivada da acupuntura, que faz pressão em pontos específicos da orelha para tratar e diagnosticar diversos problemas físicos, mentais e até emocionais.
(link: https://www.postalsaude.com.br/auriculoterapia-o-que-e-para-que-serve-quem-pode-fazer/)
É um dos tratamentos que Shun está passando no momento. Trouxe o link acima apenas para quem quiser aprofundar mais um pouco o conhecimento.
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Sobre a Perséfone, precisei usar um pouco de licença poética para adaptar a mitologia grega com o contexto desta fanfic, onde Hades e Perséfone não são mais casados.
Acredito que falar sobre ela, faz com que a gente entenda um pouco sobre Hades. Pelo menos, Shun pode notar a origem de tanta amargura do deus.
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Até o próximo capítulo!



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