Checkpoint - Love Is a Laserquest (Percabeth) escrita por pixxieme


Capítulo 7
Capítulo 7 - Ride.


Notas iniciais do capítulo

eaiiiiii galerinha do mal, demorou mas veio ai
espero que vocês gostem!



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“I am alone at midnight 

Been trying hard not to get into trouble  

But I’ve got a war in my mind” 

 

A sala de jantar ela o lugar mais silencioso que Annabeth estivera nos últimos dias. Nenhuma palavra tinha sido dita nos últimos dezessete minutos desde que Silena saíra, desconfortável, pela porta principal da casa. A loira encarava a mãe desde então, enquanto o pai parecia bastante próximo de ter um aneurisma a qualquer momento. Atena dava pequenos e descontraídos goles no chá de camomila posicionado na sua frente, provavelmente já estava frio naquela altura. 

— Então? Você não vai falar o que caralhos está fazendo aqui? - Annabeth disse, os braços cruzados e postura ameaçadora, o pai suspirou baixo ao seu lado. Atena sorriu levemente ao bebericar o chá pela última vez, a serenidade da mulher fez o sangue da loira ferver.  

— Deuses, toda vez que você abre a boca sai algo grosseiro. Tenha educação, criança. 

— Desculpa, é que acho que minha mãe nunca me ensinou como. - A garota respondeu com um sorriso. A voz carregada de cinismo fez com que a expressão da mais velha se fechasse.  

— Não seja ridícula, Annabeth. O seu vitimismo não vai me afetar, então nem tente.  

— Calma, VITIMISMO? - A loira bateu a mão com força na mesa, o que fez com que o pai se assustasse. Atena, por outro lado, não parecia muito impressionada. - Você ABANDONA sua família inteira, DUAS CRIANÇAS e simplesmente some completamente do mapa, nos deixando saber de você apenas por matérias em jornais. Me diga, se não somos as vítimas da história, quem é? Você? - A mulher suspirou calmamente, os olhos vazios analisando cada detalhe do rosto furioso da filha. 

— Eu não posso dizer que estou muito surpresa que você se tornou exatamente igual ao seu pai, mas acho que ainda esperava que você fosse menos patética. - A loira travou o maxilar. A vontade que tinha era de desmanchar completamente aquele coque perfeitamente alinhado dela até que todos os fios estivessem completamente fora da cabeça.  

— Atena, eu vou ter que interromper você - Frederick disse, por fim. - Se você veio até minha casa para me ofender e ofender nossa filha, por favor, vou pedir para que você saia. Mas caso tenha algo importante a falar, peço que seja direta. - A mulher revirou os olhos e respirou fundo. 

— Bem, acho que não há por que fazer mais pretextos, não planejo ficar muito tempo. - A mulher cruzou as pernas, posicionando ambas as mãos em cima do joelho – Estou doente. -  Anunciou como se esperasse uma reação. Quando percebeu que não a teria, continuou - Não doente resfriada ou pneumonia. - Ela suspirou mais uma vez, como se ainda estivesse tentando se acostumar como o que estava dizendo – Estou com Leucemia, LMA, para se mais exata. Medula óssea e... Enfim. Estou doente. - Annabeth arqueou uma das sobrancelhas, talvez se perguntando onde ela queria chegar com aquela conversa. Alguma coisa em sua consciência a causou um aperto no peito. Não sabia se inconscientemente o fato de que a mãe estava morrendo a deixava apreensiva, ou se sentia culpada por não sentir tristeza alguma. De qualquer forma, ela se manteu calada.  

— Eu sinto muito, Atena. Qual... Qual o estágio? - O pai disse. Ao contrário da filha, Frederick parecia genuinamente abalado, como se tivesse ganhado 10 anos de vida no último segundo, os olhos já fundos pareciam mais cansados do que o normal. Annabeth pensava o quão puro o homem tinha que ser para ainda se compadecer tanto daquela criatura. Era algo que sempre se sobressaia sobre sua personalidade, Frederick era doce, incapaz de guardar rancor. Nunca em toda sua vida o ouvira falar algo ruim de sua mãe, apesar de tudo o que ela os tinha feito passar. A garota por outro lado sempre fora orgulhosa, não necessariamente tendo dificuldade para perdoar, mas sim para esquecer. Se questionava as vezes se havia herdado aquilo da mãe.  

— Os médicos chamam de acelerada, é algo como o segundo estágio.  

— Entendo. Mas... Desculpe, acho que ainda assim não entendi o que você está fazendo aqui. - A mulher umedeceu os lábios, parecia quase nervosa. Uma ideia se passou pela ideia da loira, de repente. Sentiu o corpo tremer somente em pensar na possibilidade.  

— LMA é um tipo de câncer que não se resolve somente com quimioterapia e medicamentos. Ela é muito mais rápida que os outros tipos. E principalmente, requer... Transplantes. - A mulher finalmente encarou a garota e então Annabeth soube que estava certa. A fúria que a invadiu preencheu todo seu peito até o estômago, estava com tanta raiva que se senti tonta. Respirava com tanta violência que parecia prestes a rosnar.  

— Transplantes de medula, não é? - A loira disse rangendo os dentes. Ela sorriu desgostosa, sentindo as lágrimas de ira se acumularem no canto dos olhos. - Eu certamente sou compatível com você, não é isso? - A voz trêmula soava como um rugido, pela primeira vez Atena pareceu um pouco desconfortável. Annabeth correu as mãos pelos cabelos, tentando não esbravejar.  

Estava com tanta raiva que não conseguia falar, sabia que acabaria chorando e a última coisa que seria pega fazendo é demostrar fraqueza na frente dela, não a deixaria saber que aquilo a afetava tanto. A fúria era entorpecente, estava a uma palavra rude da mãe de surtar completamente. Não sentia raiva somente de Atena, sentia raiva do câncer, do pai que deixara Atena passar pela porta e principalmente, sentia raiva de si mesma por ainda nutrir algum tipo de esperança. Estava furiosa porque se sentia humilhada. Como que havia cogitado que aquela mulher moveria um grão de areia por ela? Como havia pensado que ela estava ali para pedir perdão, ou que sentia sua falta? Se sentia tão estúpida, tão usada. A garota respirou e engoliu o turbilhão de palavras entaladas na sua garganta.  

— Eu não tenho interesse em te ajudar, Atena. Talvez tenha mais sorte com a outra prole que você deixou pra trás. - A loira levantou-se bruscamente, fazendo a cadeira em que antes sentava arranhar o chão. Saiu da sala em passos pesados em direção ao seu quarto, achou que o pai tinha dito algo, mas o sangue fervente pulsando suas veias a impedia de dar atenção. Quando adentrou o lugar, fechou a porta com tanta força que a estante do seu lado tremeu. Ela encostou-se, cobrindo o rosto com as mãos. Não havia mais razão para segurar as lágrimas ali. 

A garota se sentia perdida, as emoções intensas a atordoavam. Se sentia efetivamente tonta, acabou apoiando-se na cabeceira da cama ao sentar-se na mesma. O corpo inteiro tremulava em pequenos espasmos, o coração batia tão acelerado que quase machucava. A cena em que talvez perdesse a cabeça e procurasse o endereço de Atena para ir até sua casa a dar uma surra passava repetidas vezes em sua cabeça. Genuinamente desejava que ela sentisse dor, tormento e angústia.  Odiava ter pensamentos assim. Annabeth tinha problemas de raiva, apesar de internos. Ela nunca explodia, raramente gritava, tentava não expressar descontentamento e a ideia de ser desagradável a apavorava. Então ela guardava, lidava com tudo da maneira mais pacífica possível, sem demonstrar qualquer descontrole emocional, mantendo tudo em ordem. Queria ser diferente do que via quando menor, o mais distante possível da mãe.  

Annabeth respirou algumas vezes, se sentia enjoada. Suava um pouco, mas a respiração aos poucos voltava ao normal. Precisava de distrair, precisava sair daquela casa. Pensou em ir até a casa de Thalia, mas sabia que teria que dar explicações pelo que havia acontecido, além de que Percy provavelmente estaria lá. Silena também a atingiria com um turbilhão de perguntas, o que a deixava com apenas uma opção. A loira não hesitou muito em discar o número.  

— ...Annabeth?  

— Oi. 

— Uh... Não que eu esteja reclamando, mas vou admitir que me surpreendi um pouco com você me ligando. 

— Sinceramente, eu também. O que está fazendo?  

— Nada demais, arrumando o freio da moto aqui na oficina. 

— Está na casa da sua mãe?  

— Sim, ela viajou e pediu para eu cuidar dos gatos.  

— Posso ir aí?  

— Ah, aqui? Pode, claro... Eu iria te buscar, mas, como disse, estou arrumando o freio da moto.  

— Tudo bem, eu vou de ônibus. - A loira não deu tempo para obter uma resposta e desligou. Levantou-se da cama e andou até o armário, colocou algumas coisas na mochila, carteira, carregador, hidratante, um livro, alguns lanchinhos e algumas roupas extras só para garantir. Calçou os tênis e pegou as chaves antes de disparar escada abaixo. O pai estava sentado na mesa, parecendo estressado. Annabeth sentiu um pesar no coração e de repente quis sentar-se ali, o abraçar e dizer que estava bem, que nada a afetaria e que ele poderia descansar, mas não poderia mentir daquela vez, sabia que precisava de um tempo pra si. Ele a olhou, os olhos castanhos mais cansados do que o normal. Atena o havia sugado toda a energia em poucos minutos.  

— Está de saída, girassol? - Disse sem muita empolgação, mas ainda com um sorriso no rosto. A loira se contentou em assentir. Ela se aproximou do pai e o deu um beijo na bochecha, antes de voltar ao seu trajeto – Seu irmão vai vir aqui amanhã - A fala fez com que seu corpo ficasse estático, mas não se virou - Ele vai passar a semana, precisamos conversar sobre isso. Por favor, esteja em casa, minha filha. - Annabeth tensionou o maxilar e assentiu, ainda de costas. Saiu pela porta antes que pudesse ouvir mais alguma coisa.  

A cabeça da garota velejava entre tantos assuntos e questionamentos diferentes que mal percebeu quando chegou no ponto. Estava vazio, somente uma senhora estava sentada ali. Annabeth se acomodou ao lado dela, cumprimentando-a rapidamente. Arrumou-se de um elástico na bolsa e prendeu as madeixas num rabo de cavalo, o calor estava deixando suas bochechas rosadas. Não demorou muito para que o veículo chegasse, a loira se apressou em embarcar. A senhora não subiu no ônibus, mas acenou para Annabeth enquanto o ônibus partia, a loira acenou de volta. O transporte estava praticamente vazio, talvez pelo fato de que não era horário de pico.  

Não pensou em muita coisa durante a viagem, por incrível que pareça. Não que fosse um trajeto tão longo, de qualquer forma, mas era geralmente o que a acontecia depois de um surto daquele nível, a calmaria após a tempestade. Não era paz, não havia como superar algo daquela dimensão num piscar de olhos, principalmente quando se tratava de Annabeth, mas sim vazio, apatia. No caso da garota, algo mais próximo de desassociar.  Não sentiu quando posicionou os fones no ouvido, a música tocava dentro de sua cabeça, entretanto parecia estar saindo de uma caixa de som em alguma das casas que via pela janela. Também não percebeu quinze minutos depois quando já havia descido do ônibus, ou que depois disso passou mais de vinte minutos parada na rua onde Luke morava, encarando um ponto específico da calçada do outro lado. Nem se quer notou que havia caminhado todo o trajeto que percorrera dentro do ônibus, até o ponto de ônibus. 

Já era noite, a senhora já não estava mais sentada lá. Annabeth não estava mais com raiva de Atena, não se sentia terrivelmente triste pelo pai e não sentia a tormenta da decepção pesar no peito. Annabeth não sentia absolutamente nada.  

Em algum lugar de sua mente, o primeiro pensamento que teve em mais de duas horas se formava. Pensou no quanto o que ela fazia parecia com uma série que assistia com suas amigas quando mais nova, onde os vampiros eram capazes de desligar a “humanidade”, sendo assim o conjunto de sentimento que os aproximavam da ideia do que é ser humano. Compaixão, tristeza, amor. Aquela ideia a fez soltar um riso breve, inaudível, apenas porque achava um pouco patético o modo como tentava se consolar comparando sua situação com coisas que a traziam conforto. Mas a verdade é que não havia muita coisa que pudesse dizer para justificar aquilo. Sabia que não era normal, que não deveria ser capaz de conseguir oprimir tanto seus sentimentos que se quer conseguisse lembrar como era os sentir. Sabia que havia algo errado com ela e por muitas vezes se assustava com o quão destrutiva seria capaz de ser quando estava naquele estado. 

Geralmente tentava se isolar, ocupar sua mente com livros e filmes ou dormir até que voltasse ao normal. Mas já estava na rua, não podia voltar para casa e de repente não queria mais ir ver Luke. Não queria ver nenhum de seus colegas, na verdade. Sabia que todos eles eram ótimos amigos e tentariam o que pudessem para consolá-la e a tirar de seu fosso. Mas a garota queria se distrair, se rodear com pessoas que não ligassem pro seu bem-estar, que não tivesse nenhum interesse no que ela estava pensando. 

E Annabeth sabia exatamente onde iria conseguir isso.  

A garota se sentou no banco onde estava a duas horas atrás e vasculhou a mochila que carregava. Achou rapidamente o que procurava, um vestido preto de Thalia que pensou em aproveitar para devolver deixando-o com Luke. Não era muito seu estilo, mas certamente não faria muito sentido ir para o lugar que tinha em mente com o vestido florido que estava. Ela pegou a peça e observou os arredores. Havia uma cafeteria na esquina que parecia prestes a fechar, então Annabeth se levantou e apertou o passo até lá. Adentrou o lugar dando um boa noite rápido para o funcionário que varria a calçada. O lugar estava vazio, exceto por uma atendente que estava sentada atrás do balcão. Ela estava fazendo um livro com palavras cruzadas e não pareceu dar muita importância quando a agora parou diante dela.   

— Boa noite, eu queria um café. - disse sem muita enrolação. A caixa suspirou, revirando os olhos, mas não disse nada – Hm... Licença dona... - A garota deu uma espiada na plaquinha presa no lado esquerdo do peito na blusa de algodão que a mulher usava – Alecto Dodds. Pode ser só Alecto?  

— Não. E seja mais específica, docinho. Isso é uma cafeteria, você não pode simplesmente dizer que quer um café. - Annabeth arqueou a sobrancelha, o jeito que a mulher estava mastigando chiclete a dava nos nervos. 

— Ok, Alecto. Quero um café pequeno gelado sem açúcar.  

— Sem açúcar, hein? Se quer emagrecer tem que fazer exercícios, docinho. Ficar tomando café ruim não ajuda ninguém. Cinco reais. - A mulher sorriu falsamente com os dentes cheios de tártaro e se levantou, andando até a máquina onde prepararia a bebida. A loira estava perplexa com a audácia, chegou até a olhar em volta para ver se estava em algum tipo de pegadinha. Quando constatou que não, respirou fundo, procurou cinco reais na mochila e os colocou raivosamente no balcão, andando até o banheiro em seguida. Trocou de roupa rapidamente, depois dobrou o vestido que usava anteriormente com cuidado na mochila. Olhou-se no pequeno espelho em cima da pia, correndo as mãos pelo tecido da peça.  

— Definitivamente parece emprestado – pensou alto. Deu de ombros, não fazia muita diferença no momento. Pegou um lápis de olho preto e um batom e retocou a maquiagem, a dando um aspecto mais próprio para a noite. Estilizou o cabelo rapidamente, apenas causando um pouco mais de volume e então voltou para o lado de fora. A mulher havia acabado de colocar o pedido no balcão, os olhos de falcão dela examinaram a garota da cabeça aos pés, mas não disse nada. - Obrigada. - Annabeth disse, sem muita gratidão. Alecto sorriu falsamente e sentou-se novamente, com o livro de palavras cruzadas na mão - Megera – a loira murmurou antes de sair.  

Enquanto caminhava para seu destino, ficou feliz de não ter pegado tanta coisa em casa, suas costas agradeceram bastante. O café já havia acabado quando chegou na frente do lugar, no letreiro luminoso era possível ler o nome “Hotel Cassino Lotus”. O que era engraçado porque o estabelecimento não era nem se quer um hotel, muito menos um cassino. Era somente uma espécie de boate onde as pessoas acabavam só saindo de manhã e gastando muito dinheiro. Já estava aberto fazia uns oito anos, geralmente era pra lá que Thalia a arrastava quando estava num dos seus dias de querer procurar confusão. Ainda era cedo, então ainda não havia tumulto na frente. 

— Boa noite, loirinha. Quanto tempo, ein?- O segurança disse animadamente quando ela se aproximou.  

— Boa noite, Argos. É, faz mesmo. - Argos era um cara grande e alto, tipo um lutador de MMA, mas era loiro e o rosto parecia de um modelo de revista, tipo o Chad Michael Murray quando tinha o cabelo raspado. Ele tinha algum parentesco com o dono do bar, pois trabalhava de segurança lá desde mais novo. Devia ser uns quatro anos mais velho que Annabeth.  

— Está sozinha hoje? Cadê sua amiguinha psicopata? 

— Estou sozinha e não estou muito a fim de papo hoje, tá?  

— Sim senhora. Talvez eu vá te fazer companhia depois pra fazermos outra coisa além de falar – Argos sorriu, mas a loira não retribuiu. 

— Argos?  

— Sim? 

— Não fode, porra. - Disse e passou pela entrada. Conseguiu ouvir o garoto suspirar atrás dela. Dentro da boate estava relativamente vazio. Música alta tocava e as luzes mudavam de cor no fundo da pista de dança. Annabeth suspirou, pensando que talvez tivesse sido uma péssima ideia. - Bem, já estou aqui. - A garota andou até o bar na direita e sentou-se duas cadeiras após um casal.  

— Boa noite, o que posso te servir hoje? - Uma voz suave dirigiu-se a ela. A loira ficou mais feliz de ver que a bartender era uma mulher. A garota não parecia ser muito mais velha, tinha cabelos ruivos e uma feição muito amigável. 

— Boa noite... 

— Ella! 

— Ella, então...Sinceramente? Não sou muito de beber. Gosto geralmente de tudo que tem limão, pode me surpreender? - A ruiva a deu um sorriso animado. 

— Com certeza, voltarei em breve. - Annabeth retribuiu seu sorriso e se aproximou mais do balcão. Lembrou-se então de que não havia avisado Luke de que não iria mais até sua casa. Vasculhou a bolsa em busca do celular, até que o achou no fundo da mochila.  

— Puta merda – Resmungou. Havia sete chamadas perdidas de Luke, cinco de Thalia e quatro de seu pai, a mais recente sendo a dois minutos atrás. Mandou mensagens parecidas para todos, na tentativa de tranquilizá-los e então guardou o aparelho novamente. Quando olhou para cima, notou que alguém ao seu lado a observava de maneira nada discreta. Não se tratava mais de um casal e sim somente de um homem. Ele era tinha cabelos pretos e olhos da mesma cor, uma cicatriz bem eminente enfeitava o rosto, do topo da sobrancelha esquerda até o nariz. Combinava com ele, de alguma forma. A loira sorriu antes de virar para a frente, a fim de receber a bebida que Ella trazia.  

— Pois bem, espero que você goste da minha criação. - A garota orgulhosamente posicionou o copo afrente de Annabeth.  

— É bonito, mas o que é?  

— É... Um drink “À la Ella”!  

— Okay... Vamos ver do que você tem gosto então. - Annabeth tomou um gole generoso da bebida. O gosto era peculiar, lembrava as caipirinhas que havia tomado na casa de Thalia, porém mais forte e também mais adocicada. Descia queimando um pouco na garganta, e dava a sensação no estômago de ter tomado fogo líquido. - Nossa senhora! 

— Socorro, é ruim? É muito ruim? - Ella se desesperou, o que fez Annabeth rir. 

— Não se preocupe, é gostoso. Só sinto que sou capaz de ficar bêbada com um gole disso, o que você colocou aqui? - Disse entre risos. 

— Assim, é só uma caipirinha normal, mas eu coloquei laranja e... Uma dose de tequila com pimenta. 

— Okay, então definitivamente é um drink bem perigoso.  

— Sim, recomendo bastante água depois. - Ella sorriu e se afastou, andando até outro cliente no bar. Annabeth riu e deu mais um gole na bebida. Realmente dava um calor, geralmente só se sentia daquele jeito quando bebia vinho.  

— Ser uma mulher linda te proporciona até drinks exclusivos, estou vendo. - O garoto ao lado dela disse.  

— Aparentemente, mas acho que ela te faria um se eu pedisse com jeitinho. - Ele sorriu, balançando a cabeça.  

— Então você sabe que é bonita, não sabe?  

— Você espera que eu diga que não? - Annabeth não fazia ideia de onde estava surgindo aquela personalidade e certamente não sabia do que estava falando.  

— Jamais, gosto de confiança. Posso? - ele apontou para a cadeira ao lado dela, a loira assentiu. Deu mais um gole generoso enquanto ele se acomodava. - Prazer, Ethan Nakamura. - O garoto a estendeu a mão, a loira a pegou. 

— Annabeth Chase – O moreno arqueou as sobrancelhas.  

— Amiga de Thalia, não é?  

— Sim, a gente se conhece?  

— Mais ou menos, eu já fui amigo de uns amigos dela, já cheguei a te ver uma vez, mas... - Ele a escaneou com o olhar - Você era bem diferente.  

— Estranho, não lembro de você.  

— Ouch, mas normal. Não cheguei a falar com você. 

— Entendi, mas por que já foi amigo? Não é mais? - Annabeth dava um gole na bebida a cada frase, já estava chegando na metade naquele ponto.  

— Não sei dizer exatamente, acho que só viramos pessoas diferentes. E você, por que está sozinha hoje? - A loira suspirou.  

— Não estava muito a fim de ver ninguém hoje.  

— E, no entanto, você está numa boate. - Ethan disse com um sorriso. 

— Ninguém conhecido, quis dizer.  

— Entendi, suponho que estraguei seus planos, então. 

— Não exatamente, você me conhece, mas não faço a menor das ideias de quem você é. 

— Não tomarei ofensa disso, mas suponho que é melhor assim.  

— Por que seria?  

— Eu não tenho uma reputação muito boa entre seus amigos. - Annabeth arqueou uma das sobrancelhas.  

— Então você certamente fez uma merda gigantesca, porque todos os meus amigos tem uma reputação ruim. - Ethan gargalhou. 

— Eai? Vai me dar o toco agora que sabe que nenhum deles gosta de mim? 

— Eu provavelmente deveria, mas já estou ficando meio bêbada e meu julgamento um pouco prejudicado. Acho que vou deixar você ficar. - O garoto sorriu maliciosamente. Os dois ficaram conversando durante algumas horas, mas nada com muita substância. O garoto só a dava informações vagas e cantadas ruins. Claro, não tinha muito mais o que esperar de uma conversa de boate. Ethan a mostrou alguns drinks que conhecia, Annabeth odiou a grande maioria. O moreno era carismático, desenvolvia um clima bom, ou talvez fosse só o álcool falando. De qualquer forma, ele estava sendo uma distração boa o bastante.  

— Você quer ir dançar? - Perguntou, depois de algumas horas sentados. 

— Claro, mas você vai ser humilhado naquela pista. - O garoto riu e a ofereceu a mão, a qual Annabeth aceitou com prontidão. Só quando levantou percebeu o efeito de todos os drinks que havia tomado, pois o mundo girou a sua volta. A garota balançou a cabeça levemente e deixou-se ser levada por Ethan. O lugar estava muito mais cheio do que estava momentos antes, a pista de dança estava cheia, ele a conduziu até um canto mais afastado, onde já havia alguns casais dançando. A maioria parecia estar prestes a sair dali pra um motel.  

— Pessoal animado. - O garoto disse.  

— Nem me fale – Ethan sorriu e a puxou mais para perto. A boate estava num dia temático dos anos 2000, todas as músicas tocadas eram hits dessa época. Annabeth não sabia que a música Promiscuous da Nelly Furtado tinha aquele poder sobre ela. Dançava sem constrangimento algum, o corpo estava leve e o coração palpitava na batida da música. Ethan não fazia muito, mas parecia estar adorando a vista. Dançaram mais umas cinco músicas, até que a loira começou a sentir sede. - Vou pegar uma água.  

— O QUE? - Ethan gritou, a música Maneater tocava de forma estrondosa, eram incapazes de se comunicar ali num volume normal. 

— ÁGUA, VOU BEBER ÁGUA! - O garoto falou alguma coisa, mas ela não ouviu. Fez seu caminho entre a multidão até o bar, ainda dançando. Quando finalmente chegou no balcão a música já não afetava mais a comunicação. - Oii Ella!  

— Oii! Annebeth, não é? - A loira pendeu a cabeça pro lado. 

— Isso. Ué, como você sabe? - A ruiva riu. 

— Você pediu pra eu guardar sua mochila aqui atrás faz umas duas horas e dai me disse seu nome. 

— Ah... Faz sentido... 

— Estou vendo que os drinks estão fazendo efeito. 

— Você não faz ideia. Pode me dar uma água?  

— Agora mesmo. - Annabeth sorriu. Estava esperando quando ao fundo a música Gasolina do Daddy Yankee começou a tocar e todo mundo na pista começou a gritar. Annabeth também gritou, mas foi a única no bar a fazer isso. Algumas pessoas riram e comemoraram com ela.  

— Annabeth?! - Uma voz alardada soou do seu lado direito. Quando a garota se virou, sentiu o coração parar por um segundo. Percy estava sentado cinco cadeiras dela, havia se virado quando ouvira alguma maluca gritando no bar.  

— Percy?! - o garoto se levantou imediatamente e andou até ela. 

— Mas o que você está fazendo aqui? E sozinha? - Annabeth percebeu que uma garota os observava. Ela estava sentada na cadeira ao lado da que ele estava e parecia prestes a cometer um crime de ódio. Annabeth estava quase ofendida com o quanto eram parecidas. Ela também tinha cabelos loiros, apesar de mais escuros. Os olhos eram castanhos, ao invés de cinzentos e era a única garota ali que usava uma roupa inadequada para uma boate. Annabeth riu, desdenhosa. A desconhecida também não parecia particularmente muito feliz.  

— Bem, você certamente tem um tipo. - disse, a voz carregada de ironia. Percy parecia desconfortável, mas não necessariamente com o comentário. O garoto analisava Annabeth como uma bomba prestes a explodir.  

— O quanto você bebeu, ein? Deuses, Annabeth. Thalia não veio com você? Você está sozinha? - ele se aproximou, se abaixando na altura dela.  

— Ei, garanhão. Essa aí já tem dono. - Ethan se aproximava, trazendo dois copos na mão e um sorriso desafiador nos lábios. Percy tensionou o maxilar. Em algum lugar de sua mente Annabeth se perguntou onde ele havia conseguido aquelas bebidas se não no bar, mas o álcool em suas veias e o caos que estava instaurado não a deixara pensar por muito tempo. 

— Ethan Nakamura, você não consegue mesmo entrar nas calças de uma garota sóbria, não é? Seu verme desgraçado. - Percy se aproximou do garoto como se estivesse prestes a matá-lo. Annabeth quis impedir, mas se sentiu tonta de repente. Se sentou rapidamente numa das cadeiras no bar. Percy correu de volta para ela e se abaixou para ficar na altura dela de novo.  

— Annie? Annabeth? O que foi? - Ele segurou o rosto dela com as duas mãos e a fez olhá-lo, mas a garota não respondeu. - O que você deu a ela seu desgraçado?  

— Eu? - Ethan sorriu – Por que você não vai cuidar da sua namoradinha ali, ein? Olha só, a Calypso está indo embora. - Percy tensionou o maxilar de novo, parecia estar se controlando muito para não quebrar Ethan na porrada.  

— Você tem namorada? - Annabeth disse, sem muita dicção.  

— O que? É... Não? Mas... Pelos Deuses, isso não importa agora. Olha pra mim, Annabeth. Com todo respeito, você é maluca? Você se quer conhece esse doente filha da puta? 

— Oi, ainda estou aqui bem atrás de você?  

— CALE A BOCA, SEU IMBECIL. VÁ EMBORA ANTES QUE EU TE QUEBRE NA PORRADA. - Ethan deu uma risada e saiu andando.  

— Eii... Ele era meu amigo.  

— Não é mais. Vem, vamos embora daqui. - Ele a ajudou a levantar com cuidado e começaram a andar.  

— Ei! Percy! Annabeth! - Ella gritou do bar. Quando se viraram, a garota estava balançando uma mochila preta.  

— Ah! Minha mochila! Ella eu te amoooooo – A garota balbuciou, o que fez a ruiva dar uma risada.  

— Tchau Annabeth, foi bom te conhecer! Tchau Percy, boa sorte.  

— Obrigada Ella, até depois. - O garoto pegou a mochila e a colocou nas costas. Juntos, eles saíram da boate.  

Já era tarde, então as ruas estavam bem vazias. Percy a conduziu até uma praça perto da boate e a sentou num balanço. Ela quase caiu pra trás, mas ele conseguiu segurá-la, depois sentou-se com mais firmeza. O garoto e agachou na frente dela e começou a vasculhar a mochila. Quando achou uma garrafa de água a ofereceu, mas viu que ela estava apagada.  

— EI, EI! - Percy segurou o rosto dela e a deu leve batidinhas no rosto – Por tudo que é sagrado, Annabeth. Acorde! - A garota abriu os olhos com dificuldade, piscando algumas vezes até que finalmente o olhou. O moreno sorriu, aliviado. - Eu achei que você tinha entrado em coma alcóolico. 

— É mais incomum do que fazem parecer, na verdade. É muito mais fácil criar uma dependência química de álcool do que entrar em coma, sabia? - O garoto deu uma risada breve. 

— É mesmo, Sabidinha? Mais alguma informação científica pra me dar?  

— Ei... Seus olhos ficam quase azuis nessa luz. - Annabeth disse, tocando o rosto dele levemente. Percy sorriu e deu um beijo leve na palma da mão dela.  

— Vem maluca, vamos te deixar sóbria.  


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Notas finais do capítulo

eita como se diverte essa annabeth, até próximo capítulo gente!!!



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