Checkpoint - Love Is a Laserquest (Percabeth) escrita por pixxieme


Capítulo 15
Capítulo 15 - Casual.


Notas iniciais do capítulo

Booooa noite galerinha do mal!!! Como vocês estão?
Perdão pela demora pra atualizar, to reescrevendo algumas partes da história.
Percebi que acabei esquecendo de alguns detalhes durante os DOIS ANOS que venho escrevendo ela kkkkkkkkkk
Me perdoem por prolongar tanto e obrigada a todo mundo que continua acompanhando apesar disso, amo vocês ♥3
Espero que gostem!!!



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“Let me in, don’t shut me out 

Why complicate what could be so easy?” 

Annabeth estava desconfortável. A garganta, a cabeça e por algum motivo a parte traseira de sua coxa doíam. A febre estava estável, mas ainda sentia as sequelas dela no seu corpo adoecido. Além disso, mesmo se esquecesse de suas questões físicas, ela precisava se preocupar em mais de uma conversa complicada que provavelmente iria ter naquele dia. Lee e Percy, dois lados da mesma carta, dois assuntos inacabados. Deveria estar se sentindo extremamente rabugenta, mas ao invés disso, Annabeth se sentia leve como não se sentia a dias, não fazia o menor sentido. Ali, sentada na cozinha da casa com uma xicara de chá quente aquecendo a palma das mãos e vendo seus amigos discutirem os planos para o resto do dia, a loira nunca se sentira tão tranquila.  

O lugar estava mais vazio. Rachel havia ido embora com suas amigas, enquanto Silena, Piper, Jason e Beckendorf também partiram logo pela manhã. Nico iria depois do almoço com Will e Lee. O que significava que apenas Luke, Thalia, Percy e Annabeth ficariam na casa para o último dia. Também significava que a garota teria que arrumar rapidamente uma oportunidade de falar com Lee a sós. Os olhos de Annabeth discretamente buscaram pelo loiro e olhando pela janela da porta, ela o encontrou no quintal atrás da cozinha, provavelmente evitando a presença dela. Ele assistia enquanto Will tentava explicar Nico como plantar tomates. Como se tivesse pressentido, o olhar dele encontrou com o de Annabeth. O garoto levantou as sobrancelhas, surpreso, o rosto ganhou um forte tom avermelhado na altura das bochechas e ele parecia mais nervoso do que o normal, provavelmente ele lembrava bem da noite passada. Annabeth o dirigiu um sorriso leve, também se sentindo sem graça por suas ações. Não conseguia pensar numa situação mais constrangedora do que vomitar no sapato de um garoto enquanto ele se declara para você.  

—Bom, acho que está decidido, então. - Thalia disse, batendo na mesa como um juiz bate o martelo no tribunal. Annabeth voltou sua atenção para a conversa na mesa, confusa. - Hoje vamos o dia dos jogos de tabuleiro! Vai nos deixar mais descansados para acampar na trilha mais tarde! - A morena disse animadamente, ela e Luke trocaram um “toca aqui” e um beijo rápido.  

—É... Eu não acho que acampar seja uma boa ideia. - Percy disse, decisivo. 

—É claro! - Thalia bufou - E por que não, seu estraga-prazeres rabugento? - A morena disse, enfurecida.  

—Você acha uma boa ideia levar a sua MELHOR AMIGA adoentada para o meio do nada para dormir numa barraca de nylon e ser picada por insetos enquanto está com a imunidade baixa, sua tapada? - O moreno rebateu, ainda mais raivoso. Thalia o fuzilou com os olhos, antes de se dar conta que ele estava certo e amolecer a expressão.  

— Foi mal, loirinha. Tinha esquecido. - A morena disse, com um biquinho nos lábios. Annabeth e Percy tinham explicado a situação da noite anterior algumas horas mais cedo.  

— Gente, mas eu me sinto melhor!  

—Não. - Os três disseram em uníssono. A loira revirou os olhos e se encostou em sua cadeira, frustrada.  

— Tudo bem, podemos vir acampar quando tivermos férias da faculdade. - Luke disse, acariciando o ombro de Thalia. A morena suspirou, tentando não parecer muito triste.  

— Tem razão, podemos fazer no ano que vem. - A garota forçou um sorriso.  

— Ah, não. Você está falando de acampar desde antes da formatura, Lia. Eu vou levar muitos casacos e cobertores. Juro, vou ficar bem. - A loira sorriu de forma convincente.  

— Sem chance, loirinha. Não quero que você arrisque ficar pior. Luke está certo, ano que vem a gente faz isso. - Thalia piscou na direção dela, tentando parecer descontraída. Annabeth suspirou, sentindo-se culpada por estragar os planos da amiga.  

— E se vocês forem sem mim? Eu não sou muito de acampar, de qualquer forma.  

— E te deixar sozinha, Annabeth Chase? Caso você não saiba, você está DOENTE. - A morena disse. 

— Eu posso ficar com ela. - Thalia olhou na direção de Percy, uma sobrancelha erguida. A loira também desviou o olhar para ele, curiosa.  

— Você? - A morena questionou enquanto cruzava os braços.  

— Eu. - Percy defendeu-se, acompanhando-a em sua postura.  

— Cuidar dela? - Dessa vez foi a vez de Luke de questionar. O moreno suspirou.  

— Sim, gente. Eu não sou um incompetente, cuidei dela ontem, não?  

— Com Silena te ajudando.  

— Pelos deuses, Thalia. Annabeth não é um bebê! - O garoto disse, gesticulando em frustração.  

— Vocês podiam parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui? - A loira disse, irritada.  

— Viram? Ela já sabe até falar! - O moreno brincou e deu batidinhas na cabeça da garota como faria a um cachorro. 

— É melhor parar. - Annabeth disse, entredentes. Percy não precisou ouvir muito mais do que isso para se encolher e afastar. A loira respirou fundo e arrumou o cabelo calmamente. - Estou gripada, não com câncer terminal. Vocês dois vão acampar, nós dois ficamos. Não tem por que discutir.  

— Mas...  

— Mas nada, Thalia Grace! Vocês vão e acabou. - Annabeth disse, determinada. A morena abriu a boca para dizer algo, mas fechou logo em seguida. Ela trocou um olhar com Luke e então suspirou. 

— Tudo bem, mas você tem que DESCANSAR e TOMAR REMÉDIOS, okay?  

— Claro! Por acaso você acha que eu gostaria de continuar doente? Maluca. - Annabeth deu um último gole em seu chá. 

— Bom, nesse caso, é bom irmos almoçar para sair logo em seguida, a trilha vai ser um pouco longa. - Luke disse. O barulho da porta da cozinha se abrindo chamou a atenção dos quatro. Nico passou primeiro, com Will logo atrás e Lee por último.  

— Eai... - O garoto disse para em seguida suspirar pesadamente.  

— Ih, o que te deu? - Annabeth perguntou.  

— Bom, acho que só preciso dizer que nunca mais chegarei perto de plantas de novo. - O garoto pendeu a cabeça para o lado dramaticamente, encostando a testa no ombro de Will. O loiro riu enquanto balançava a cabeça. 

— Ele afogou os tomates do seu pai, Thalia. Tipo, de verdade. Acho que eles... Morreram. - Nico emitiu um muxoxo, Will deu batidinhas em seu ombro. 

— É tranquilo, meu pai nem gosta de tomates. - A morena disse, dando de ombros. Will sorriu enquanto arrastava Nico para a sala. Annabeth ainda conseguiu ouvi-lo murmurar algo parecido com “Tudo o que eu toco morre” antes de sair.  

— Eles são um casal inusitado. - Luke comentou. 

— Você não faz ideia – Lee disse ao se aproximar. Dessa vez o olhar dele não encontrou com o da loira, ele também parecia estar mantendo a distância. - Thalia, você sabe dizer onde estão os violões que eu e Will trouxemos para cá? Tenho que colocar eles no carro.  

— Ah, mas já? Vocês não vão almoçar com a gente? - A morena disse com um m- Ainda vamos passar na casa da minha avó antes de pegar a estrada, então vamos almoçar com ela. - O loiro disse com um sorriso simpático no rosto. Annabeth mordeu o lábio, aquilo significava que teria que conversar com ele naquele exato momento. O coração dela disparou.  

— Ah, acho que eles estão no quarto dos meninos.  

— Vou lá pegar então.  

— Eu te ajudo. - Annabeth disse, se levantando. Lee arregalou os olhos por alguns milissegundos, mas assentiu e saiu andando. A loira o seguiu, ignorando um olhar sugestivo de Thalia e um confuso de Luke. Não teve coragem de olhar para Percy.  

O pequeno trajeto que fez com Lee foi desconfortavelmente silencioso. A garota fazia questão de manter-se a pelo menos oito passos atrás do garoto, que por sua vez também não parecia exatamente ansioso para falar com ela, o que, bom, certamente era uma novidade. Quando chegaram ao quarto onde Luke, Jason e Beckendorf estavam dormindo nas últimas noites, Lee adentrou e, ainda sem muitos comentários, começou a guardar os violões em suas devidas bolsas de transporte. Completamente constrangida, Annabeth apenas ficou parada do lado de fora do quarto como um vampiro que não havia sido convidado para entrar, o observando em silêncio. O loiro terminou de fechar o segundo zíper, colocou uma das bolsas no obro e segurou a outra pelas alças. Ele virou-se para Annabeth e mesmo com o rosto completamente enrubescido, a encarou corajosamente por alguns segundos, provavelmente esperando que ela dissesse algo. A loira engoliu em seco e trocou o peso do corpo entre os pés, tentando descobrir a melhor maneira de trazer aquele assunto à tona.  

“Então, eu sei que você está apaixonado por mim e eu dei corda para os seus sentimentos, mas você precisa me esquecer porque estou envolvida de alguma forma problemática e incerta com Percy Jackson.” Não parecia exatamente a melhor coisa a se dizer, apesar de ser a verdade. Pensou que talvez nem fosse necessário mencionar Percy. Afinal, não era exatamente ele a raiz do problema, não estavam sequer juntos.  

— Você... Quer falar alguma coisa? -  A voz trêmula e nervosa de Lee a tirou de seus pensamentos. Annabeth o encarou, sentindo o peito apertar assim que o fez. O loiro a olhava como alguém esperando o resultado da loteria. Os olhos azuis estavam céticos, mas brilhavam com um semblante de expectativa. Ele já sabia que não tinha chance, mas ainda se agarrava na esperança de estar errado. A garota apertou os lábios, de repente sentia-se um magarefe prestes a abater.  

—Acho que temos que conversar sobre ontem. - Annabeth disse, com cuidado. Ela entrou no quarto e fechou a porta atrás de sí, ainda sem parar de olhá-lo. O garoto pareceu ainda mais nervoso, porém animado. A garota se perguntou se aquilo teria parecido sugestivo e se sentiu pior ainda.  

— E-eu... - Lee gaguejou - Você... Se lembra? - Perguntou, quase num sussurro. A loira assentiu devagar. Ele respirou de forma irregular e sentou-se em uma das camas, deixando o violão que carregava bater levemente contra o chão. Annabeth ficou de frente para ele, sentada em outra cama com as pernas cruzadas. - Eu nem sei o que... Você lembra de tudo mesmo? - A garota assentiu de novo. Lee emitiu um grunhido envergonhado e cobriu o rosto com as mãos.  

— Está tudo bem, Lee. Você não fez nada demais. Nada para ter vergonha. - Disse, tentando parecer o mais tranquilizadora possível. Pareceu funcionar, porque o garoto lentamente levantou o rosto para olhá-la.  

— É só que... Ugh – Ele bufou, parecendo mais frustrado do que envergonhado - Não era para ter acontecido daquele jeito. Eu não queria que você tivesse me visto chorando. - O garoto apoiou a mão na testa, parecendo estressado. Annabeth franziu as sobrancelhas, confusa. 

— Você... Chorando? - A loira coçou a nuca, tentando encontrar a imagem em sua cabeça - Eu não lembro de ter te visto chorando, não. - Lee levantou o rosto, parecendo revigorado.  

— Você jura? Não lembra mesmo? - Perguntou com um sorriso no rosto. 

— Não mesmo, a última coisa que lembro é de você chamado por Percy e então... Breu total. - O loiro suspirou aliviado, como se estivesse segurando o fôlego por muito tempo.  

— Bom, isso é bom... - Balbuciou em seu alívio - Mas... Você disse que lembra de eu ter chamado o Jackson? - O garoto perguntou, a sobrancelha erguida evidenciando sua confusão. Annabeth assentiu. 

— Sim, assim que eu comecei a apagar. Desculpa ter vomitado nos seus sapatos, inclusive – A loira disse, acanhada.  

— Não é problema, eles já estavam perto da aposentadoria, de qualquer forma. Mas, Annabeth, não fui eu que chamei ele. - A garota pendeu a cabeça para o lado, ainda mais confusa do que ele – Foi você.  

— Oi?! - Annabeth perguntou, num tom agudo.  

— Você que chamou ele, ué. Por qual motivo no mundo EU o chamaria naquele momento? - Lee apontou, como se fosse óbvio. Mas honestamente quanto mais a garota pensava, mais realmente era. - Você, por outro lado... Parece que é o único nome que você gosta no mundo. - O garoto sorriu levemente, não parecendo particularmente feliz.  

— Lee... - A garota começou. - É... É por isso que você chorou? - A loira perguntou, sentindo um rombo enorme no meio do peito. Lee riu levemente.  

— Talvez isso fosse melhor, mas não exatamente. Confesso que provavelmente não ajudou, mas eu fico nervoso em situações de tensão e eu tinha bebido bastante... Teria chorado se fosse você ou qualquer outra pessoa gritando. - Annabeth assentiu, aliviada. Pelo menos não o havia feito chorar, era menos um motivo para se martirizar antes de dormir. - Mas se não é disso que você quer falar, então o que é? - A pergunta fez o alívio momentâneo desaparecer. A garota juntou as mãos nervosamente e o olhou.  

— É sobre... O que você disse ontem. - Annabeth engoliu em seco, tomando coragem para entoar as próximas palavras – Quando você... A sua “declaração” - A garota murmurou, fazendo aspas com os dedos.  

— Ah, sobre eu estar apaixonado por você? - Ele disse sem muitos desvios. A falta de pudor repentina chamou a atenção de Annabeth, não era daquele jeito que o loiro costumava de comportar com ela. A garota o olhou, sentindo-se um pouco menos desconfortável sobre como aquela conversa se desenrolava. Lee estava vermelho, mas a postura dele era firme e descontraída. Os olhos azuis a encaravam com uma determinação pacífica. - Er... Se ainda resta alguma dúvida, eu estou, sim, apaixonado por você. Aquilo não teve nada a ver com a bebida. - A voz do garoto nem mesmo tremeu, seus olhos por nenhum segundo desviaram dos dela.  

Annabeth tinha pensado naquela conversa diversas vezes desde que acordara, tinha traçado cada frase que usaria para convencer Lee de que caso ele confirmasse realmente estar apaixonado por ela, estava completamente confuso. Diria que ele não a conhecia, que não passava de um deslumbramento confundido com afeto. Mas, ali estava Lee, a olhando como se Annabeth fosse a única coisa que ele conseguisse enxergar. O carinho na expressão dele era torturante, fez com que ela se sentisse completamente monstruosa em questionar como o garoto se sentia. O peito da garota apertou, preenchido por culpa. Não era de seu feitio se aproveitar de alguém, ainda mais alguém que cultivava por ela um sentimento tão puro. Annabeth se odiava por não se arrepiar, não sentir seu coração bater, não sentir o rosto queimar.  

— Lee eu... Eu não sei nem como te dizer isso... - A garota disse com a voz fraca e embargada. Para sua surpresa, Lee riu levemente.  

— O que? Que você está apaixonada pelo Jackson? - A pergunta quase fez com que Annabeth se engasgasse.  

— C-como? - Balbuciou, em choque.  

— Você está apaixonada por ele, eu já sabia disso. - Lee disse, como se nada. Ele suspirou, como se a ideia o cansasse. - Na verdade, eu soube que tinha algo aí desde aquele dia na casa de Thalia, no porão.  

— Calma, você... Eu achei que você só estava meio desconfiado e com ciúmes. - A garota correu as mãos pelo cabelo loiro.  

— Ah, mas é claro. Você estava me usando para fazer ciúmes nele, eu tinha o direito de te questionar. - O queixo de Annabeth caiu e ela escondeu o rosto com as mãos novamente. 

— Você sabe DISSO também? - Disse, envergonhada.  

— Mas é claro – O loiro riu, como se fosse uma pergunta ridícula.  

— M-mas... Como que você sabe? Como sabe que eu... Gosto dele? - Annabeth perguntou, baixando o volume da voz ao dizer o final.  

— E tem alguém que não saiba? - O garoto riu novamente. 

— Você ficaria surpreso. 

— Ou talvez você ficasse. - Lee levantou uma das sobrancelhas, contrariado. - Vocês pensam que são muito discretos, mas os olhos não mentem.  - A garota franziu as sobrancelhas, cada vez mais confusa.  

— Por que você me deixaria te usar desse jeito, se já sabia de tudo?  

— Eu me aproveitei da sua mentira. - O garoto sorriu, divertido – Eu desfrutei de cada momento que você me permitiu, não me arrependo. - Annabeth estava boquiaberta novamente.  

— Ah... - Foi tudo o que ela conseguiu dizer. A deixar sem palavras pareceu divertir Lee, pois ele começou a rir. A loira o acompanhou, ainda levemente acanhada.  

— Por essa você não esperava, ein? - O garoto perguntou, entre risos.  

— Bem, definitivamente não era isso que eu achava que você ia dizer. - Respondeu – Mas confesso que me surpreende que você ainda quis falar comigo depois de saber que eu estava te usando. - Lee pendeu a cabeça para o lado, como se estivesse pensando.  

— É, confesso que até cogitei em ficar bravo, mas não consegui. - O garoto deu de ombros -  Annabeth você é... Intrigante. Linda, inteligente e cheia de vida. Ficar na sua presença foi uma dádiva, mesmo que não fosse comigo que você quisesse estar. - As palavras dele foram como levar um tapa no rosto, mas de um travesseiro muito, muito macio. Annabeth respirou fundo e se levantou, abrindo os braços para ele. O garoto sorriu e se aproximou, fechando os próprios braços ao redor dela.  

— Desculpa Lee. Eu deveria ter sido honesta com você, me desculpe. - A garota murmurou, ainda sem soltá-lo. O cabelo dele tinha cheiro de lavanda, assim como suas roupas.  

— Está tudo bem, não estou magoado. - O garoto disse. Eles se afastaram, mas ainda sem se soltar.  

— Obrigada por gostar de mim. - A loira disse e então fez uma careta – Soou esquisito, é esquisito falar isso? - Lee riu, balançando a cabeça negativamente.  

— Não, mas não precisa agradecer. O prazer foi meu. - O garoto sorriu levemente, os olhos percorrendo cada centímetro do rosto de Annabeth. A loira sorriu de volta, sentindo que um peso enorme tinha saído de suas costas.  

Os garotos foram embora rapidamente, deixando a casa ainda mais vazia do que antes. Resolveram fazer omeletes para o último almoço da viagem, era rápido, democrático e não deixaria sobras para estragar na geladeira. Os quatro se reuniram para comer na mesa da sala, enquanto conversavam sobre acontecimentos dos últimos dias. Annabeth estava evitando dirigir a palavra a Percy, consciente de que eles tinham pendências a serem resolvidas. Ele por sua vez não parecia estar particularmente se esforçado para evitar encará-la sem pudor algum. Cada vez mais a garota reparava que eles não vinham sendo tão discretos quanto ela pensava. Na verdade, do jeito que ele a estava olhando, pensou que era insano que tivesse alguém que ainda não soubesse. Era difícil ignorar o peso dos olhos verdes do garoto em si, Annabeth sentia o coração acelerado e o rosto quente. Percy queria respostas, ela sabia disso. Queria saber por que ela havia saído com Lee, o que haviam conversado por tanto tempo. Queria saber o que a garota estava pensando.  

O que era complicado, considerando que nem mesmo Annabeth saberia explicar. 

Não se conheciam a tanto tempo, mas a garota já tinha algumas certezas sobre Percy. Ele era inconstante, irregular e incerto. Explodia e falava o que não devia quando seus sentimentos eram feridos, principalmente porque não fazia ideia de como lidar com eles. Havia a afastado mais de uma vez, traçado limites, regras, simplesmente para não nutrir afeto. Percy era confuso, arrogante e insuportavelmente sarcástico.  

Entretanto, ele também era completamente cativante. Não importava o quanto fossem opostos, a garota se via presa no campo magnético dele. Ele era gentil, atencioso e cuidadoso. Annabeth sentia que tinha a permissão para precisar dele, poderia contar com ele para qualquer coisa. Percy a fazia rir como ninguém, ele entendia todas as suas piadas e dissecava todos os seus pensamentos. Annabeth sentia que tinham naturalmente uma sintonia que normalmente era construída por anos até ser alcançada. Quando estava com ele o mundo se tornava furta-cor, a voz dele soava como sua música favorita, os olhos dele tinham a cor mais linda que já tinha visto. Percy era cálido, aconchegante, sereno. Como podia uma pessoa só ser tão contraditória? Era mais do que entendível que a mente de Annabeth tivesse se preenchido com dúvidas.  

Quando a loira finalmente escapou de seus pensamentos e tornou a comer sua refeição, a omelete já estava fria. Ela deixou o garfo cair ao lado do prato, com um suspiro. Olhou para os amigos, um de cada vez. Thalia e Luke estavam olhando o mapa no celular, provavelmente decidindo o melhor lugar para fincar a barraca onde dormiriam durante a noite. Thalia reclamou do ponto alto onde o loiro havia sugerido, o xingando de “cabeça de vento” e voltando a cutucar a tela do aparelho. Ela não reparou, mas Luke deu um sorriso discreto e amoroso ao encarar a feição furiosa dela. Annabeth sentiu o coração aquecer ao vê-los. O tempo em que sonhava que o garoto a olhasse daquele jeito parecia tão distante agora, como um sonho que se esvaia de suas lembranças quanto mais tempo passava acordada.  

O olhar se desviou para Percy quase como se por instinto.  

Ele já não a encarava. Estava olhando pela janela entreaberta da cozinha, virando o corpo de leve na cadeira giratória. Claro, ele não conseguia parar quieto em um lugar. Annabeth riu consigo mesma, o observando. O leve vento que entrava pela brecha batia de leve em seu cabelo negro e bagunçado e um pequeno feixe de luz clareava um pequeno pedaço de seu rosto quando ele mexia a cabeça. Percy virou o rosto na direção dela, a pegando de surpresa. O traço de luz agora iluminava seu rosto mais uniformemente, principalmente nos olhos. A pele bronzeada se tornou dourada debaixo da resplendência, fazendo com que ele se parecesse quase etéreo. Mesmo que antes estivesse tentando evitá-lo, Annabeth não conseguiu desviar os olhos dos dele. Quando ele a deu um meio sorriso acanhado, a garota quase se ouviu chiar. O coração batia tão forte que quase doía. A loira suspirou, hipnotizada. Tudo o que conseguia pensar era no quanto queria estar nos braços dele. 

Não se importava com discussões, com o quanto ele era complicado ou com o tremendo medo que tinha de que ele fosse, de fato, quebrar seu coração. Nada faria desistir daquilo fazer sentido.  

— Percy, quero dar uma calibrada nos pneus antes de ir, você pode me ajudar? - A voz firme de Luke soou na cozinha, fazendo com que o moreno relutantemente tirasse os olhos dela.  

— Am? - Perguntou, desorientado.  

— Me ajudar no carro. Vamos? - O loiro disse, ríspido. Até mesmo Thalia levantou o olhar na direção dele, confusa com o tom. Percy desviou o olhar na direção de Annabeth por meio segundo, claramente tão confusa quanto as outras duas.  

— Ah... Sim. Sim, claro. - O garoto disse, se levantando. Ele e Luke saíram juntos e em silêncio na direção da garagem, deixando as garotas sozinhas. As duas se entreolharam.  

— Acho que ele se irritou mesmo quando eu recusei subir no monte. - A morena disse. Annabeth riu de leve. 

— Não acho que foi isso, não. - A loira murmurou, espiando por onde eles haviam saído.  

— Enfim, vou terminar de arrumar minha bolsa também, ainda não achei meu kit de facas.  

— Kit de... facas? - Annabeth perguntou pausadamente.  

— Ué, nós vamos pro meio do mato. Lá na floresta tem todo tipo de coisa, já achei uma cobra coral gigantesca uma vez! Meu pai fez uma cachaça com ela, mas ninguém teve coragem de beber. - Thalia deu de ombros, como se o que dissesse fosse completamente normal – Pensando bem é melhor mesmo que você não vai, não sei se conseguiria evitar as aranhas. - Annabeth se arrepiou ao ouvir a última palavra e olhou feio para a amiga. A morena a deu um sorriso de desculpas e começou a andar em direção de seu quarto. 

— Você quer ajuda? - Annabeth disse mais alto, agora que Thalia começava a desaparecer no corredor.  

— Não precisa! - A morena gritou de volta. A loira suspirou, sozinha, olhando de volta para sua omelete fria e, portanto, não tão apetitosa. Certamente não ia terminar. Jogou os restos no lixo e então percebeu então que os outros três nem mesmo tinham tirado os pratos da mesa. Annabeth revirou os olhos, vendo que havia sido colocada numa armadilha. Ela juntou as louças e logo começou a esfregá-las. Lavou também os talheres, juntamente com a tábua onde cortaram os vegetais e o pote onde mexeram os ovos. Já estava secando o último prato quando ouviu passos se aproximando no corredor. Percy apareceu sem Luke, parecendo um pouco nervoso.  

— Você não tem jeito, lavou os pratos mesmo estando doente? - Foi a primeira coisa que ele disse, irritado. Annabeth se contentou em dar de ombros, colocando o prato final empilhado em cima dos outros três.  

— O que lavar pratos tem a ver com ficar doente? - A garota perguntou, rindo levemente.  

— Tem a ver que... Bom, não sei. Mas minha mãe nunca me deixava lavar os pratos quando EU ficava doente, então deve ter um motivo. - O moreno suspirou, frustrado, e andou na direção dela. Ele tocou a mão sobre a testa dela, parecendo averiguar a temperatura. A loira não recuou nem mesmo um passo, apenas observando o rosto enrugado de preocupação dele. O garoto abaixou a mão e a olhou, parecendo mais aliviado. - Vá deitar, eu termino aqui. - Percy retirou o pano das mãos dela a puxou gentilmente para o lado, ficando de frente para a pia no lugar dela. Annabeth não foi se deitar, apenas se afastou um pouco para deixá-lo à vontade e se sentou na bancada da ilha da cozinha. Percy suspirou, insatisfeito por ela não ter o ouvido, mas não disse nada. Ele guardou os pratos já secos e começou a secar os talheres.  

Annabeth encarou as costas do moreno enquanto ele se movia rapidamente. O garoto era ágil no que fazia, o que significava que ele tinha costume. Indagou-se se a mãe dele o havia ensinado, ou se morar com o pai o obrigou a aprender. Percy não falava muito dos pais e até mesmo quando os mencionava, fazia questão de mudar logo de assunto. Tudo o que sabia era que Sally, a mãe dele, gostava muito de fazer comida com corante azul e morava em São Francisco. O moreno sempre sorria quando falava dela e de seu padrasto, Paul. Não era exatamente o caso com Poseidon, o clássico pai ausente manda dinheiro e aparece periodicamente. Tinha se casado de novo e morava na Europa com sua esposa de vinte e poucos anos. Percy o havia mencionado apenas uma ou duas vezes, contra sua vontade.  

Pensar sobre essas coisas tornava particularmente difícil manter uma distância segura dele. Queria tanto saber mais, ouvir sobre cada passo que tomou até que ele se tornasse aquela pessoa. Queria abraçá-lo por trás enquanto ele lavava os pratos, fazer alguma piada sobre como ele ficaria de avental e então beijá-lo. Se perguntava se ele herdara os olhos do pai, ou a se havia sido de sua mãe. Queria estar com Percy, ser a pessoa que pudesse fazer essas perguntas a ele. Alguém que ele levasse para casa, em São Francisco, para comer biscoitos azuis com sua mãe. Annabeth suspirou, frustrada. De repente já não tinha mais medo de resolver suas pendências com ele, precisava que conversassem. Necessitava desesperadamente se resolver com o garoto, colocar todas as cartas na mesa e deixá-lo saber de seus anseios. Seus sentimentos, os sentimentos dele e o que fariam sobre isso, era tudo o que ela precisava saber.  

— O que Luke queria com você? - A garota perguntou, direta. Percy não se virou, mas a deu uma olhada pelo canto do ombro, sorrindo.  

— Então você sabia que ele não queria ajuda, mas não me disse nada? - O moreno disse, não parecendo realmente irritado.  

— Ele não foi exatamente muito carinhoso para alguém que estava pedindo ajuda. Além disso, você não sabe calibrar um pneu, não tem carro. - Dessa vez Percy virou-se para olhá-la, parecendo surpreso.  

— Como você sabe que eu não tenho carro?  

— Eu suponho que se você tivesse um carro eu já teria estado dentro dele, não? - A garota disse, uma das sobrancelhas arqueadas e meio sorriso no rosto. O garoto riu e virou-se para a pia novamente. -  Enfim, esse não é o ponto. O que ele queria?  

— A curiosidade matou a gata, Annabeth. Nunca te contaram?  

— É O gato, cabeça de alga.  

— Mas você é uma gata. - Percy disse piscando para ela e parecendo muito satisfeito com sua piada terrivelmente ruim. A loira bufou, mas teve que segurar um sorriso.  

— Esse não é o momento para flertar comigo, Perseu. Me responda! - A garota disse, impaciente.  

— Bom, na minha opinião, qualquer momento é propício para ver seu rosto ficar todo vermelho.  

— Percy... - Annabeth disse, entredentes. O garoto se contentou em rir.  

— Ele só queria me deixar avisado, sabe, considerando que eu e você vamos ficar sozinhos - Percy sorriu divertidamente no final na frase e se aproximou de onde a loira estava, a encarando diretamente nos olhos. Annabeth não desviou o olhar, mas sentiu o rosto queimar. O moreno se posicionou no meio das pernas dela e se inclinou para frente.  

— Avisado de...?  - A loira perguntou, quase num sussurro. O som da voz dela pareceu diverti-lo, pois abriu um sorriso bastante expressivo.  

— De que aquela escopeta no quadro da sala é de verdade e que ele ia saber usar caso eu tentasse seduzir uma bela jovem indefesa. - O moreno ironizou, sorrindo ainda mais. Ele passou a ponta dos dedos desde o tornozelo da loira até o topo de sua coxa, onde pousou a mão com firmeza. Annabeth quase suspirou, mas segurou o fôlego no peito. O sonho que havia tido com Percy imediatamente apareceu em sua cabeça, fazendo seu corpo estremecer. Estava lutando para manter sua racionalidade, tentando se lembrar de todos os motivos pelos quais beijá-lo naquele momento era uma má ideia.  

— Ainda bem que ele não tem com o que se preocupar – A garota praticamente sussurrou, usando seu último resquício de coerência. Percy sorriu, galante, enquanto desviava o olhar entre os olhos e os lábios da loira. 

— Foi exatamente o que eu disse. - Ele sussurrou de volta. O moreno apertou a mão envolta da pele da garota, a puxando para mais perto de si. Annabeth estava à beira da desistência quando Percy se curvou, apenas para abrir uma gaveta ao lado dela e guardar os talheres secos que carregava na outra mão. Ele se afastou novamente e se encostou no balcão da pia, a encarando com um sorriso discreto, mas completamente canalha nos lábios. A loira resistiu ao impulso de cruzar as pernas, não queria que o garoto soubesse o efeito que acabara de ter sobre ela. Annabeth respirou fundo e arrumou a postura, sustentando o olhar dele.  

— Gente, vamos sair logo. Aparentemente tá um trânsito ali na saída da cidade, não queremos chegar na trilha muito tarde. - Thalia disse, surgindo na cozinha com uma bolsa de viagem nas costas. Ela enrugou a testa ao olhar para Annabeth – Aí loirinha, sua febre subiu? Tá vermelha de novo. - A morena fez menção de se aproximar, mas a loira começou a negar com a cabeça.  

— Estou bem, é só o calor. - A garota mentiu, sorrindo de maneira convincente. Ao lado dela, Percy tossiu para disfarçar uma risada.  

— Hm... Tem certeza? - Annabeth assentiu vigorosamente. Thalia suspirou, mas pareceu acreditar. - Tudo bem, então. Luke já tá tirando o carro, vou deixar essa bolsa lá. Vocês podem trazer a barraca e a bolsa térmica? Estão em cima da cama.  

— Vamos levar, pode ir na frente. - Annabeth disse. A morena mandou um beijo para os dois e saiu pelo corredor de novo. A loira encarou Percy novamente, que já estava indo na sua direção. O garoto estendeu a mão para ela com um sorriso, esperando ajudá-la a descer do balcão. Ao invés disso, Annabeth desferiu um soco no braço dele e pulou do balcão sozinha.  

— AÍ!? - O garoto exasperou, confuso. Passando a mão em cima da área onde foi atingido. - Para que isso? Achei que... Achei que a gente tivesse de boa, agora... - Annabeth riu, irônica.  

— Ainda temos muito o que conversar, Perseu. E até lá, mantenha essas suas mãos demoníacas longe de mim! - A loira disse, apontando para as mãos dele.  

— E depois disso? - O moreno perguntou, abrindo um sorriso novamente.  

— Depois disso o que? - Annabeth perguntou, confusa. Percy muito corajosamente se aproximou dela de novo, o olhar mais uma vez variando entre os olhos e os lábios dela.  

— Depois de conversar, as minhas mãos demoníacas podem tocar em você de novo? - Sussurrou com um sorriso nos lábios. A loira respirou fundo, mantendo sua postura.  

— Veremos. - A garota usou toda sua força de vontade para empurrá-lo e sair andando. Os dois levaram o resto das bolsas de Thalia para o carro, onde a morena e Luke já estavam acomodados.  

— Se cuidem, okay? - A morena disse. - Percy se você matar ela eu juro que vou te enterrar vivo. - Ameaçou. 

— Boa viagem, priminha. Também sentirei saudades. - O garoto disse, sorrindo divertidamente. Luke se despediu dos dois rapidamente, não deixando de lançar um último olhar ameaçador para o moreno antes de dar partida no carro. Percy e Annabeth ficaram na porta os olhando até que o carro desaparecesse. Quando finalmente já não conseguiam vê-los, os dois entraram, fechando a porta atrás de si.  

— Bom, estou indo tomar um banho. - Percy disse e se inclinou na direção dela – Se quiser conversar lá, a acústica é bem eficiente. - O moreno disse, se afastando rapidamente para evitar um segundo soco.  

— IDIOTA -  Annabeth gritou, mas o xingamento apenas tirou mais uma risada dele. A loira bufou e se jogou no sofá da sala, ignorando a incessante palpitação em seu peito.  


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo galerinhaaa
Beijos!!!



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