“I can’t have what I want 

But neither can you.” 

Lee estava mexendo uma panela com cebolas a tanto tempo que os movimentos circulares estavam começando a deixar Annabeth tonta. Eles estavam fazendo o jantar enquanto Thalia e Luke trabalhavam em alguma espécie de drink especial. Era o terceiro dos sete dias que passariam na casa de praia, o que significava que já estavam completamente queimados do sol e considerando a alimentação baseada em petiscos, álcool e eventualmente espetinhos assados na brasa, também desnutridos em algum nível. Lee teve o bom grado de se oferecer para cozinhar uma refeição de verdade para todos e Annabeth se ofereceu para ajudar. Estava passando bastante tempo com o loiro nos últimos dias, a companhia dele era bastante agradável e tinham mais em comum do que a garota imaginara. Eles caminhavam na praia, jogavam baralho e montavam quebra-cabeças. Também a havia ensinado algumas receitas rápidas, visto o apreço que ele tinha por culinária. A receita favorita da garota foi a de um croque monsieur, uma espécie de sanduíche misto pra gente rica. Era bem gostoso. Lee era um ótimo professor, paciente, não a deixava nervosa e nem a fazia repensar cada palavra que ele dizia. Também muito dócil, como um príncipe, até mesmo a voz dele era serena. O cabelo dourado e feições delicadas também ajudavam nesse aspecto.  

Em contra partida, não havia falado muito com Percy nos últimos dias, exceto por vezes onde estavam todos conversando em grupo, mas ainda assim evitou se dirigir diretamente a ele. Tinha a impressão de que o garoto havia percebido isso, pois as vezes o pegava encarando, principalmente quando estava com Lee.  

— Viu? Se você mexer o bastante, começa a engrossar. Aí acaba virando uma sopa. - Lee diz, a tirando de seus pensamentos.  

— Ah, isso é uma sopa! Eu estava esperando você jogar alguma coisa aí dentro – Annabeth diz, rindo. O garoto a acompanha. Até mesmo a risada dele é educada, como se ele fosse naturalmente contido. A garota gostava daquilo, era calmo e pacífico.  

— É uma sopa de cebola, pra comer tom as torradas que você colocou no forno. Uma pequena entradinha. - A garota assentiu, agradecendo pelo prato não ser a única coisa no cardápio. - Acho que elas já assaram, inclusive. Vou tirar a fornada, você pode me ajudar a colocar o frango?  

— Sim, chef! - A garota disse, sorrindo. Lee a retribuiu. Eles rapidamente trocaram as bandejas e logo o frango estava assando.  

— Bom trabalho, sous chef. Pode descansar agora! - Annabeth assentiu e começou a tirar seu avental – Ah, espera – Lee se aproximou e levantou a mão na altura do rosto dela – Posso? - ele diz antes de tocá-la. A garota sente o rosto enrubescer um pouco e assente. Ele tira uma pequena casca de cebola presa em seu cabelo e a mostra.  

— Ah, obrigada. - A loira diz, quase sussurrando. Ele sorri e pisca pra ela.   

— Luke, você não vai colocar kiwi nisso, ninguém gosta de kiwi! - Thalia exalta, fazendo com que eles prestem atenção no diálogo.  

— É claro que gostam, todo mundo gosta de kiwi! Lee, você gosta de kiwi, não é? - Luke pergunta, exasperado. O garoto dá um sorriso amarelo e balança a cabeça negativamente. 

— Não mesmo...  

— Eu gosto – Annabeth diz em uníssono com alguém. Quando se vira para encarar o dono da voz, se depara com Percy. O garoto estava vindo do lado de fora e carregava um saco de gelo nas mãos, ele o colocou na bancada onde Luke e Thalia cortavam frutas.  

— Viu? Percy e Annabeth gostam – O nome dos dois mencionados juntos fez com que a loira sentisse uma coceirinha no estômago. O olhar do moreno correu rapidamente entre ela e Lee, que por sua vez também não parecia exatamente contente com a presença dele. Os dois pareciam não se bater muito bem depois do incidente com a aranha no porão.  

— Mas os outros não gostam! Você vai fazer quatro litros de ponche pra três pessoas? - Thalia disse, ainda mais irritada. Luke respirou fundo, mas não disse mais nada. Ela sorriu vitoriosa. 

— Vamos por morango, todo mundo gosta de morango. - O loiro assentiu, derrotado.  

— Precisam de mais alguma coisa? Estou pensando em ir jogar vôlei com Jason. - Percy perguntou, comendo um morango em cima do balcão. Thalia o olhou feio, mas ele apenas a mostrou a língua.  

— Pode ir jogar seu joguinho, já temos tudo – A morena disse, ele assentiu. - Vou no banheiro rapidinho. VOCÊ - disse, apontando para Percy - Não coma meus morangos. - O moreno se contentou em sorrir. O olhar de Percy passou pelas panelas no fogão e então ele encarou Annabeth. 

— Achei que você não gostasse de cebola. - Disse. A garota sentiu Luke entreolhar entre eles, mas ficou quieto.  

— Você não gosta de cebola? - Lee perguntou, parecendo levemente triste. - Nossa, por que não disse? Eu teria feito uma outra entrada, desculpa. - O garoto disse. 

— Eu como as torradas, não se preocupe! Todo mundo gosta de cebola, não precisava fazer outra receita só por minha causa. - Annabeth olhou para o moreno de relance, apenas para constatar de que ele os observava com um olhar divertido, satisfeito em estar certo. Ele colocou outro morango na boca e deu as costas, saindo da cozinha. A loira soltou uma respiração que não havia percebido que estava segurando. Ela sorriu para Lee, tentando o reafirmar. - É sério, não tem problema nenhum. - O loiro suspirou, mas acabou concordando.  

— Acho que terminamos aqui, de qualquer forma. Só falta tirar o frango depois.  

— Vocês podem ir, já trabalharam muito. Eu vou ficar pela cozinha, posso tirar. - Luke disse. Os dois agradeceram e saíram da cozinha juntos. Eles andaram em silêncio até a sacaca na frente da casa. Dali era possível ver alguns de seus amigos perto da rede de vôlei, discutindo antes do começo do jogo.  

— Acho que vou tomar um banho. - O loiro disse e então fez uma pausa, parecendo hesitante –Você quer vir? - A garota o olhou, uma das sobrancelhar arqueadas diante da proposta inusitada. Só então Lee percebeu o que havia acabado de dizer - D-digo, lá em casa. Não tomar banho, só ir à casa. A-acho que Will e Silena estão por lá. E-er... - Ele coçou a nuca, parecendo nervoso. Annabeth riu levemente. Ela olhou para frente de novo e engoliu em seco. Provavelmente deveria ir com o loiro, mas quando olhava para a cena diante de si, não sentia vontade alguma de sair dali. Podia ser fraca por alguns minutos, afinal, nem estaria em contato direto com Percy. Só... Observando de longe. 

— A gente se encontra depois, acho que vou pegar um sol – Disse. O garoto assentiu e se despediu rapidamente, andando em direção da casa ao lado. A loira respirou fundo e andou até as cadeiras de descanso.  

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Annabeth esticou a mão novamente para a bandeja de amendoins na mesa ao seu lado, o movimento de seu maxilar era a única coisa a prevenindo de cometer um ato obsceno no momento. Ela estava sentada numa das cadeiras de descanso na frente da casa, tentando se concentrar em qualquer outra coisa além da cena a sua frente. Estava ali a tanto tempo que em algum momento se arranjou de uma bandeja de petiscos. Piper, Jason, Nico e Percy estavam jogando vôlei a alguns metros à frente e o pequeno show certamente não estava sendo muito bom para a cabeça da loira. Ele e Nico eram um bom time, mas Percy não era exatamente um jogador esplendido, o mais novo certamente tinha mais familiaridade com o jogo do que ele e era até bem nítido. O moreno já havia mencionado antes que era muito melhor na água do que em qualquer outro esporte, mas isso definitivamente não tornava a performance nem um pouco menos interessante de assistir. Observar o comportamento de Percy numa competição era a coisa mais atraente que ela o havia visto fazer desde que se conheceram, ele não tinha vergonha nenhuma em ouvir quando Nico o explicava um erro e gargalhava de si mesmo quando errava um saque. Percy não parecia nem um pouco abalado com isso e seguia as ordens dele sem pensar. Ele exalava uma confiança tão grande que fazia impossível parar de olhá-lo.  

É claro, o fato de que ele estar usando uma blusa de botão um pouco aberta e com o cabelo levemente molhado também ajudava bastante. 

Percy faz um levante perfeitamente executado, Nico faz um ataque certeiro e eles marcam um ponto. Eles comemoram com pulos e um bater de mãos. O moreno então encara Annabeth e pisca o olho rapidamente na sua direção. Ele esteve fazendo isso desde o primeiro ponto que marcaram, mas o coração da garota falhou uma batida todas as vezes. Ela pende a cabeça para trás na cadeira, respirando fundo. Decide que a melhor maneira de se distrair é música, então pega seu celular e os fones. Pensa em escutar alguma coisa tranquila, como Mazzy Star, mas a ocorre que as músicas seriam românticas demais e a fariam ter devaneios impróprios. Resolveu por escutar os top 100 raggaeton do Spotify, música divertida e que não faria a pensar em nada além de dançar. A tática funcionou e por alguns minutos tudo o que conseguia pensar era o sol em seu rosto. Estava até mesmo prestes a cochilar um pouco, quando uma sombra acima de si cobriu seu rosto. Se tratava de uma criatura de cabelos vermelhos esvoaçantes. Ela estava ao lado de Annabeth, olhando na direção do mar com as mãos na cintura.  

— Rachel? - A loira disse, confusa. Tinha acabado de perceber que não tinha se dado conta da ausência da ruiva até o presente momento. - Como que você chegou aqui?   

— Ah eu... Vim com umas amigas... Minha nossa senhora... - Ela disse distraída, ainda sem tirar os olhos do mar. Annabeth se sentou para acompanhar seja lá o que ela estivesse assistindo. O arrependimento foi quase instantâneo. O jogo havia acabado e enquanto os outros conversavam deitados em toalhas, Percy estava dentro do mar, provavelmente se refrescando depois de uma longa partida. Ele correu as mãos pelos cabelos e a cena parecia digna de um comercial de surf. Annabeth o encarava boquiaberta, Rachel também não estava muito longe disso. - Bonitinho esse primo da Thalia né... - Ela disse, mas Annabeth não teve certeza de que a garota estava falando com ela. O comentário a tirou do transe, mas de repente estava com raiva da ruiva.  

— É, achei que você estava com Reyna. - A loira disse secamente.  

— Ah, só ficamos umas vezes, não é nada sério. Acho que vou dar um mergulho, você vem? - Annabeth tensionou o maxilar e olhou novamente na direção de Percy, que agora também estava olhando na direção delas. Rachel acenou levemente e o garoto retribuiu, parecendo um pouco confuso. A loira sentiu o sangue ferver.  

— É, de repente estou sentindo mais calor do que o normal. - A garota se levantou num movimento brusco e jogou o celular com os fones em cima da cadeira, Rachel começou a andar em direção a água, o que a deixou ainda mais nervosa. Tirou a saia que vestia e começou a ir até onde eles estavam enquanto prendia o cabelo. Quando finalmente chegou na beira da água, Rachel e Percy já estavam engatando numa conversa.  

— É sério? Você deve ser daquelas pessoas que criam músculo fácil, então - Foi a primeira frase que ouviu a ruiva falar ao se aproximar, Annabeth umedeceu os lábios e riu.  

— É... Acho que sim. - Ele desviou a atenção dela e assistiu a loira entrar no mar. Não exatamente de forma discreta, Percy escaneou o corpo dela descaradamente até que finalmente estivessem todos próximos. - Oi. - Ele disse com um sorrisinho safado nos lábios. Estava a tantos dias ali sem olha-lo de perto que se sentia até um pouco tonta. 

— Oi – A loira disse, o olhando diretamente nos olhos. - Você fica confortável que nem um peixe na água. - O garoto riu, Annabeth gostava muito do som da risada dele. Talvez demais. 

— Já você parece completamente tensa, tem medo dos peixes? - Ele tocou nos ombros dela, apertando levemente como numa massagem. Annabeth riu e se sentiu relaxar um pouco ao toque. Ficava completamente confortável quando Percy a tocava, não sentia estranheza alguma, era simplesmente natural deles, mas isso não evitava com que seu coração acelerasse até mesmo numa interação tão simples como aquela. 

— Uh... Eu não sabia que vocês eram próximos. - Rachel disse, fazendo com que lembrassem que ela estava ali. Percy tirou as mãos dos ombros da loira e limpou a garganta. - Achei que tivesse conhecido ele naquele dia na casa de Thalia, junto com todo mundo. 

— Ah, foi sim! É que... Eu sempre to na casa dela e ele mora lá, né! - Annabeth diz.  

— Isso, ela fica tanto lá que parece que mora com a gente, tipo uma outra prima! - Percy diz. Annabeth o franze as sobrancelhas na direção dele por um segundo e então sorri pra Rachel. A ruiva assente devagar um pouco desconfiada, mas resolve ignorar.  

— Enfim, aquela prancha ali é sua? - Ela aponta para uma prancha um pouco longe deles, enfiada na areia.  

— Ah, é sim. - Percy diz.  

— Nossa, nunca conheci alguém que soubesse surfar. - Ela diz num tom sedutor, se aproximando um pouco mais dele. Annabeth trinca os dentes. 

— Ah, nem é tão difícil, não. É mais equilíbrio - O garoto diz, descontraído.  

— Parece física básica. - Annabeth comenta, fazendo que os dois olhem pra ela – Soma das forças igual a zero, equilíbrio estático - Percy e Rachel a encaram como se ela estivesse falando grego antigo – Enfim. - A loira desvia o olhar e bate na testa discretamente.  

— Eu nunca surfei, você pode me ensinar? - A ruiva diz enquanto toca o braço dele. Annabeth coloca as mãos na cintura e sorri, tentando disfarçar olhando para outra direção.  

— É... Acho que sim. Mas nunca ensinei antes, acho que não sou a melhor pessoa pra isso.  

— Não tem problema, eu aprendo rapidinho. - Rachel disse se aproximando mais dele. A loira deu uma risada leve, fazendo com que Percy olhasse para ela confuso. A risada evoluiu para uma gargalhada sem fim, a garota estava literalmente coringando de ciúme. Os dois a encararam completamente confusos enquanto Annabeth ria tanto que estava com falta de ar.

— Am... Você tá legal? - A pergunta fez com que ela risse ainda mais. A garota ficou de costas pra eles enquanto tentava se acalmar, respirou fundo algumas vezes e eventualmente depois de alguns minutos estava bem. Ela se voltou para eles, que ainda estavam completamente desentendidos da situação.  

— Eu só... Lembrei de um vídeo que viralizou de uma menina sofrendo um ataque de tubarão enquanto surfava. É bem engraçado.  

— Ah... Nossa. - Rachel perguntou.  

— E ela morre? - O garoto pergunta num tom mais agudo do que o normal. 

— Não, só se machuca horrivelmente. E agora que você mencionou, sabe que ela até parecia um pouco com você, Rachel? Ruiva e tal. - A garota franziu as sobrancelhas, parecendo assustada. Annabeth se contentou em sorrir. Percy parecia segurar o riso. - Bem, eu vou… embora! Uma ÓTIMA aula de surf pra vocês. Espero que seja MUITO produtivo. - A garota saiu da água e andou até as cadeiras de descanso onde pegou suas coisas. Andou para dentro da casa em passos pesados, sentindo o ciúme a corroer. - Prancha estúpida, surf estúpido. - Murmurou ao entrar.  

— Ei, loirinha. Cuidado pra não fazer um buraco – Luke disse quando ela passou pela cozinha. 

— Luke estúpido - disse. Annabeth andou até o quarto ignorando todo mundo com quem encontrou no caminho e se trancou no banheiro. Ela se olhou no espelho por alguns segundos e então deu um chilique silencioso. 

Agora que já havia feito, sentiu uma vergonha alheia tremenda de seu ciúme. Rachel era sua amiga e ela a havia tratado como se estivessem numa competição. Pior de tudo, por um garoto! A loira gemeu desgostosa e emaranhou as mãos pelos cabelos, deslizando na porta até que estivesse sentada no chão. A parte que mais odiava era que mesmo tendo consciência de que a forma como tinha agido era errada, não sentia vontade nenhuma de pedir desculpas a ela. Não importava que ela não fizesse ideia de que algo rolava entre os dois, Annabeth estava com raiva da simples noção de que Rachel tinha se interessado por ele. Nunca havia se sentido tão louca, seus sentimentos não faziam nenhum sentido. Ela se quer tinha direito de estar com ciúme? Provavelmente não. Não fazia nem uma semana desde que havia colocado na cabeça que se afastaria um pouco de Percy, que não nutriria quaisquer que fossem os sentimentos que estava começando a ter. Entretanto, ali estava ela, no chão do banheiro se corroendo de ciúmes por um garoto que não queria nada com ela.  

Mas será mesmo que não?  

Essa era a pergunta que mais amaldiçoava seus pensamentos ultimamente. Não conseguia parar de pensar na possibilidade de que Percy também sentisse algo por ela, algo mais do que simplesmente desejo ou conforto. Desde o momento que se conheceram Annabeth sentia por ele algo que nunca havia sentido com ninguém antes, nem mesmo com Luke. É claro que não era exatamente amor à primeira vista, a garota nem mesmo acreditava naquele conceito, achava superficial demais. Mas é como se eles só… Se encaixassem. Nunca havia conseguido fluir uma conversa tão facilmente como fazia com ele. A garota balança a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos e se levanta. Ela toma um banho gelado e demorado, deixando com que a água acalme seus nervos. Resolve então que a melhor maneira de não pensar de forma alguma seria dormindo. Ela encosta a porta do quarto, fecha as cortinas e se deita em uma das camas. Não tinha percebido que estava tão cansada até que fechou os olhos, não demorou muito a dormir depois disso.  

Annabeth não sonhou com absolutamente nada em seu curto período de sono. Acordou com o barulho de alguém trancando a porta e abriu os olhos, relutante. O coração quase cai do peito quanto percebe que Percy está vindo silenciosamente em sua direção. O quarto está um pouco escuro, mas ela consegue ver perfeitamente o sorriso animado dele ao se aproximar, a garota não diz absolutamente nada. E então o moreno faz a última coisa que Annabeth esperava que ele fosse fazer, ele tira as sandálias e levanta uma parte do lençol que a cobria, apenas para entrar debaixo do mesmo. A garota não tinha certeza se era o sono ou se ele realmente tinha acabado de se deitar na cama com ela. O sorriso dele em nenhum momento havia deixado seus lábios. 

— E o que em nome dos deuses você está fazendo? – A garota pergunta, sonolenta. Estava com tanta dificuldade de abrir os olhos que eles ardiam.  

— Vim tirar um cochilo com você, atrapalho? – Ele sussurra. O garoto passa o braço em torno dela e a abraça, fazendo com que ela deite a cabeça em seu peito. O coração de Annabeth automaticamente vira uma escola de samba. 

— Mas tem que ser aqui? Vão acabar vendo a gente. - Percy olhou para ela e suspirou.  

— A porta está trancada e eu disse que ia sair pra uma caminhada, ninguém me viu entrar aqui. Eles acham que você está simplesmente dormindo. – Annabeth abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas não pensou em nada. Percy riu. – Não se preocupe, ninguém vai descobrir nosso pequeno caso amoroso. Relaxe. – Ele brinca e então se aproxima para a dar um beijo na testa. Annabeth olha para ele, não podendo evitar um pequeno sorriso. Ela o beija delicadamente, ele retribui. Uma das mãos dele a acaricia o rosto enquanto seus lábios se enlaçam num selar carinhoso. Quando se separam, Percy termina o beijo a dando alguns selinhos breves. Os dois sorriem e voltam para a posição que estavam antes. 

— Cuidado, vou começar a achar que você está sentindo a minha falta.  

— É claro que sinto sua falta, você gasta todo o seu tempo com seu principezinho loiro agora. - O coração de Annabeth bateu tão forte que ela teve a impressão de que iria infartar naquele exato momento. - Por que está me evitando? 

— Não estou te evitando. - Ela diz, tentando parecer convincente. Percy suspira, parecendo insatisfeito.  

— Você está me evitando, não minta pra mim. - Ele sussurra, as mãos passeando pelas costas dela.  

— Não sabia que você queria tanto assim passar tempo comigo. 

— E essa é a sua segunda mentira. - Ele diz, a mão invadindo a pele dela ao entrar debaixo de sua blusa. A garota respira fundo.  

— Isso é difícil – Annabeth diz em meio a um suspiro.  

— O quê? – Percy sussurra. Ele acaricia o cabelo dela, o contato a deixando com ainda mais sono.  

— Você perto, é muito difícil. É muito difícil quando é assim. – Ela balbucia, já de olhos fechados.  

— Do que você está falando? Você bebeu? – O garoto ri levemente, Annabeth consegue ouvir o coração dele bater mais rápido quando ele o faz. A loira suspira e passa o braço por cima do torso dele, o abraçando.  

— Problemas da Annabeth do futuro. – Percy riu mais uma vez e a abraçou com mais firmeza.  

— Acho que você é doida.  

— Shh, vamos dormir cabeça de alga, estou com sono. – Ele suspira e por fim fica em silêncio. Logo eles caíram no sono novamente.  

Annabeth não tinha certeza de como, mas quando acordou estava sozinha. Tinha dormido tão enlaçada com ele que não fazia sentido não ter acordado quando ele saiu. Pensou que talvez tivesse sido um sonho, mas a presença dele era inegável, o cheiro dele estava no seu travesseiro, o lado onde ele se deitou ainda quente. Ela suspirou, olhando para o teto do quarto. Sabia que não tinha dormido por muito tempo, sentia o corpo ainda sonolento. Levou alguns minutos de coragem antes de se levantar, mas o fez. Annabeth passou as mãos pelo rosto, tentando espantar sono e amarrou o cabelo um rabo de cavalo. Quando saiu do quarto, Piper, Jason, Beckendorf, Silena, Thalia, Luke e Rachel estavam conversando na sala. Pareciam ter chegado de algum lugar. 

— Bom dia, bela adormecida – Thalia diz ao vê-la.  

— Mas você só acordou agora? - Silena pergunta.  

— De repente me bateu um sono tremendo, aonde vocês foram?  

— Fomos levar Rachel para ver a cidade, só você ficou. Aliás, Percy saiu pra caminhar, mas já deve estar por ai. - Annabeth assentiu. 

— Ah, é? Nem vi ele, não. - Disse, se fazendo de desentendida. Viu Silena arquear uma das sobrancelhas na sua direção, mas ignorou.  

— Ah, talvez tenha ido dormir também. Ele trabalhou muito me ensinando a surfar, cai tantas vezes nos braços dele que deve ter contado como uma musculação - A ruiva disse, entre risos. Annabeth mordeu o lábio inferior com força e então forçou um sorriso. 

— Nenhum tubarão te atacou, estou vendo. Fico feliz! - A loira diz. Rachel fica confusa por um segundo, mas sorri de volta. Era inevitável, Annabeth simplesmente não conseguia ouvir os comentários sem querer grampear os lábios dela.  

— Tubarão? - Silena pergunta. Os olhos dela passeiam entre Rachel e Annabeth. - Acho que perdi alguma coisa aqui... - Ninguém diz mais nada, percebendo o clima tenso que se formou.  

— É... Vou ver o que tem pra comer na cozinha – Jason diz e então dá um beijinho em Piper e sai em direção da cozinha.  

— Boooa noite, senhoras e senhores – A voz alegre de Will invade a sala, finalmente dando fim ao silêncio. Lee e Nico o acompanham.  

— Oiii, acabamos de chegar da cidade. - Silena diz.  

— Deveríamos ter ido com vocês, mas eu e Nico estávamos meio cansados. - De repente Jason e Beckendorf entram como jatos na sala, parecendo preocupados. 

— Então galera, tem algo errado com o forno. - Beckendorf diz.  

— BEM errado – Jason impõe.  

— PUTA MERDA – Luke grita e então olha na direção de Lee. - O FRANGO. - Ele pula de seu lugar no sofá e corre em direção da cozinha. Os outros o seguem, confusos. - PUUUUTA QUE PARIU – Ele diz ao chegarem na cozinha, o lugar cheirava a queimado e havia fumaça saindo do forno.  

— O QUE É ISSO? - Thalia grita – DESLIGA, VAI PEGAR FOGO!  

— MEU FRANGO – Lee exaspera. Luke desliga o forno e abre a porta com cuidado, liberando uma nuvem de fumaça. Todos tossem descontroladamente e a maioria começa a voltar para a sala.  

— LEVA ESSA PORRA DESSE FRANGO CARBORIZADO PRA FORA! - Thalia grita de novo. Luke a obedece e pega a travessa com ajuda de luvas, levando para o lado de fora.  

— Eu acho que isso já não é mais um frango... - Piper diz.  

— Acho que morgou o jantar... - Annabeth diz, dando um sorriso amarelo para Lee, o garoto se contenta em suspirar fundo. Ela, ele e Piper observam pela janela da cozinha Thalia e Luke discutindo e tentando se livrar do frango. Eles começam a andar de volta para a sala, junto com os outros.  

— Eai, o que fizeram com a bomba? - Nico pergunta.  

— Thalia e Luke estão tentando se livrar dela. Repito, tentando. - Annabeth diz e se joga num pufe, Piper se senta ao lado dela.  

— Isso significa que o jantar morreu? - Jason pergunta.  

— Eu posso tentar fazer alguma coisa, mas acho que ainda demoraria umas três horas, no mínimo. - A morena geme em desaprovação.  

— Podemos fazer uma panelada de miojo, é a alternativa mais rápida. - Jason sugeriu. 

— Acho que se eu comer miojo de novo vou ter uma intoxicação alimentar – Annabeth responde. A porta da sala abre atrás de si, todos os presentes olham na direção dela. Percy entra por ela, carregando várias caixas retangulares empilhadas.  

— Ah, vocês chegaram. - Ele diz ao entrar. - Pizza? - Ele diz, apontando para as caixas. Todos recebem o garoto com comemorações, o deixando confuso. Ele sorri, apesar disso. Ele coloca as caixas em cima da mesa de jantar no canto da sala, todos se aproximam animados. 

— Meu grande amigo Perseu, eu poderia te beijar agora. - Jason diz, segurando o moreno pelos ombros. - Percy ri, retirando as mãos dele dos ombros devagar.  

— Quando eu falei que tenho um fraco por cabelo loiro quis dizer em GAROTAS, Grace, mas aprecio os sentimentos. - O olhar do garoto se encontra com o de Annabeth por um segundo ao dizer a frase, mas ela desvia rapidamente e se arranja de uma fatia da pizza.  

— Ah, eu sabia que algum homem nessa residência tinha que ter um cérebro funcional. - Thalia diz, se aproximando acompanhada de um Luke bastante acanhado atrás dela.  

— Em minha defesa, você que me distraiu do meu dever quando disse que se eu dirigisse você ia fazer aquela coisa com o...  

— AE, AE. ENTENDI. - Thalia o interrompeu, colocando a mão na frente da boca dele – Seu cérebro é funcional, muito funcional. Agora pare de falar antes que eu mude de ideia. - O loiro sorriu, vitorioso. Ela semicerrou os olhos, mas estava segurando um sorriso. Os dois se aproximaram da mesa. 

— De qualquer forma, me desculpe pelo frango, Lee. Vacilo meu. - Luke diz.  

— Não tem problema, acontece. - Lee diz, se arranjando de uma fatia da pizza – De qualquer forma, parece que Percy salvou o dia. - Ele dá um sorriso não muito feliz ao dizer o último comentário e se senta em um dos pufes no canto da sala. Annabeth o observa sair e pensa em acompanhá-lo, mas quando olha para frente dá de cara com Percy a encarando. O moreno sorri e dá batidinhas discretas na cadeira ao lado dele, a garota reprime um sorriso. 

— Posso me sentar aqui? - A voz aveludada de Rachel os tira de sua conversa telepática. Percy olha para ela e então para Annabeth. 

— Am... Acho que Annabeth já ia... 

— Pode se sentar – A garota diz, entre dentes. O moreno franze as sobrancelhas na direção dela, completamente confuso. Annabeth não espera para ver o sorriso de comemoração dela e anda na direção de Lee. O garoto sorri ao vê-la chegar, isso a faz se sentir um pouco melhor.  

— Parece que a noite tomou um rumo diferente, ein? - A garota diz. Ela se senta num pufe ao lado dele.  

— Acho que sim, mas tenho que admitir que pizza é mais democrático. - Lee sorriu, a garota o acompanhou.  

— Existe sempre o dia de amanhã. Só... Recomendo não deixar Luke de guarda na próxima vez. - Annabeth ri e o garoto a acompanha. 

— Definitivamente nada de deixar alguém de guarda, garanto. - Os dois riem mais um pouco e então ficam em silêncio por um tempo. Lee encara sua fatia de pizza pouco tocada, parecendo hesitante em perguntar algo. - Escuta... Posso te perguntar uma coisa? - O tom sério a pega desprevenida. Annabeth assente, as sobrancelhas franzidas. - Tem alguma coisa rolando entre você e o Jackson? - A pergunta é tão direta e surpreendente que a garota quase se engasga com a própria saliva. Ela arruma a postura e olha em volta discretamente, se certificando de que ninguém havia escutado.  

— P-por que você perguntou isso? - Ela diz, nervosa. Lee suspira. 

— Vocês têm essa... Coisa. Ele te segue por aí como um cachorrinho, tentando chamar sua atenção. - Annabeth dá uma risada sincera. 

— Acho que não estamos falando da mesma pessoa.  

— Qual é, Annabeth? Eu tenho certeza de que se eu olhar ele vai estar encarando a gente nesse exato momento. - A loira engoliu em seco, sabia que ele estava certo. Tinha se dado conta de que Percy sempre fazia aquilo. Fizera com Luke quando o conheceu, com Ethan Nakamura na balada onde se encontraram e fazia agora com Lee. Ele dizia que não queria nada sério, que não se apaixonaria por ela, mas sempre estava por perto para garantir que ninguém mais se aproximasse. Marcando o território. Pensar naquilo a deixou com raiva, mas muita raiva. A garota umedeceu os lábios e olhou para o loiro, sorrindo. 

— Não tem absolutamente nada acontecendo entre mim e ele, Lee. - O garoto a olhou, observando cada canto de seu rosto. 

— É difícil acreditar nisso, tenho a impressão de que ele sempre consegue a sua atenção, de um jeito ou de outro. - Annabeth suspirou e se aproximou um pouco dele.  

— Lee, eu e ele apenas... Nos damos bem. - A loira o olhou nos olhos, passando segurança - Percy não é o tipo de cara que se compromete.  

— Isso eu sei, ele não é o tipo de cara pra você. - O garoto diz. Annabeth escolhe ignorar o desconforto que aquelas palavras a causam. - Sendo assim, eu espero que você não se importe se eu fizer isso. 

— Isso o q... - Lee selou os lábios com o dela antes que pudesse dizer mais alguma coisa. A garota sentiu como se o mundo tivesse ficado mudo por um segundo. Apenas ela e Lee estavam naquela sala. Ela, Lee e Percy. O beijo foi tão delicado que mal teve do que recuar, então apenas se manteve na mesma posição. Todos os amigos estavam distraídos em suas conversas, provavelmente ninguém os estava vendo. Exceto por ele. Ela conseguia sentir, mesmo de olhos fechados, o olhar penetrante de Percy sobre si. A presença era tão forte que por um segundo esqueceu de onde estava, tudo o que tinha certeza era de que aquele pequeno ato complicava as coisas, muito. Quando se separaram, foi como se aqueles segundos tivessem durado uma eternidade. Lee sorriu para ela, que forçou um sorriso simpático em sua direção.  

Queria olhar para o lado onde Percy estava assim que se separaram, mas não teve coragem. O coração batia tão rápido no peito que parecia ter corrido uma maratona. Será que ele estava com raiva? Triste? A antecipação a estava matando. Respirou fundo e juntando toda a sua coragem, virou o rosto discretamente.  

Mas Percy não estava mais lá.  

E Rachel também não.