Uma Era De Ordem E Honra escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 4
3. Existem trabalhos mais difíceis, mas ser um príncipe da minha família, exige mais do que o normal.




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05|03|1759 Residência dos Carlisle

Sorria, nunca mostre inferioridade, seja honrada, gentil bondosa, seja em tudo uma princesa, uma princesa Tudor-Habsburg.

Fazia dois meses que Elizabeth ouvia essa frase, mais especificamente a parte "seja uma princesa Tudor-Habsburg". Alguns dias depois de o casamento ser "acertado", Lady Louisa Hastings, a baronesa Hastings, esposa do 4° Barão Hastings de Hawthorn, apareceu na Sala de Visitas de sua casa, com a notícia de que havia sido enviada pela marquesa para ensinar Elizabeth tudo que ela precisava saber sobre: protocolo, precedência, história e costumes das cortes reais de todo o continente. Isso Elizabeth poderia aceitar, e até mesmo agradeceu.

Mas não o que veio depois, Elizabeth não iria agradecer. Logo depois que Lady Carlisle enviou as medidas de Elizabeth para a modista, ela soube que a princesa Amélia estava escolhendo como seria seu vestido, e não só isso, estava ensinando Elizabeth a se vestir como uma Tudor-Habsburg. E também havia Anne, que estava dando a ela mais aulas, a ensinado a ser uma princesa.

Eram muitas aulas, aulas que Elizabeth não desejava e que não tinha paciência para suportar. Vestimenta, história, protocolo, linhagem, Niedersieg, tudo era muito horrível e chato para ela. Elizabeth reconhecia que precisava saber de algo, mas não de tudo isso, era exaustivo.

E não apenas isso era exaustivo, mas também os comentários, esses eram horríveis. Quando o casamento foi anunciado, toda a Londres ficou em êxtase e incrédula. Em êxtase por ser um casamento real, um casamento desses não acontecia desde que a princesa Louisa se casou com o príncipe herdeiro da Dinamarca em 1743. Mas incrédula por Elizabeth ser apenas a filha de um conde, por Elizabeth ser Elizabeth, ela poderia ser muito bela, mas sempre iria ser apenas Lady Elizabeth Howard.

Em ambas a situações houveram muitas perguntas, muitos comentários e muitos risos. Tudo isso estava sendo desgastante, mas Elizabeth iria suportar com força, ela não tinha outra opção.

Mas esses dois meses não foram apenas de muita pressão, Elizabeth também teve alguma alegria, e uma delas foi poder ser apresentada ao príncipe de Gales a princesa viúva, e os irmãos do príncipe. Foi um privilégio, Elizabeth pôde conhecer realmente a pessoas que Alfred chamava de "melhores amigos". E ela pôde ver que tudo que Alfred havia falado era verdade.

Porém, no final tudo voltava a Elizabeth ser uma princesa. A ela estar em sua Sala de Visitas, com Lady Hastings, uma mulher baixa e de aparência normal, que não parecia ser a pessoa mais paciência, a ensinando sobre Niedersieg.

  — Königsstadt é um cidade não muito rica, que vive principalmente da agricultura e do comércio interno; Smaragdberg é uma rica cidade, conhecida por suas minas de pedras preciosas e pelo comércio delas; e Niedersieg, a capital, é uma cidade comercial, rica e um centro cultural, que além disso é conhecida pela sua produção de mármore. Niedersieg foi a primeira... Milady é realmente necessário aprender isso?— Elizabeth nunca iria para Niedersieg de qualquer maneira, não era preciso saber disso tudo.

  — Sim Lady Elizabeth, é necessário. E como eu havia falado seis vezes antes, a milady pode nunca ir a Niedersieg, mas Niedersieg virá até a milady, por meio de enviados e nobres.— Lady Hastings poderia não ser uma pessoa muito paciente, mas ela estava aguentando muito bem.

Elizabeth nunca foi a pessoa inteligente de sua família, para ela estava muito boa a simples posição de "a mais bela", e "a mais gentil". Elizabeth gostava disso. As aulas de Lady Hastings e de Anne não eram interessantes e Elizabeth não entendia o motivo delas, eram sem qualquer sentido.

  — Lady Hastings, eu...- Elizabeth poderia ter dado uma resposta, mas ela não pode. O mordomo da casa entrou na sala, e avisou a Elizabeth que sua mãe havia voltado de uma visita a baronesa Byron, sua cunhada. E agora Elizabeth tinha a oportunidade de dispensar Lady Hastings.— Eu agradeço. Mas milady, creio que tenhamos que nós despedir, minha mãe chegou.

   — Ainda não está na...

  — A milady não tinha que também dar aulas a princesa Amélia? Se demorar muito terá a possibilidade de se atrasar.- Lady Hastings não teve nenhuma reação, mas ela deveria ver que seria benéfico para as duas.

  — Está certo então milady. Mas antes de ir, tenho que avisar a que um Tudor-Habsburg não fala com os criados, com nenhum, nem governanta nem mordomo. Peço que não se esqueça disso.

Elizabeth já estava familiarizada com esse tipo de regra, era muito comum. Elizabeth mesmo apenas falava com suas criadas pessoais, a governanta e o mordomo, falar com esses era necessário para a casa continuar em bom funcionamento, mas com nenhum, isso já era algo quase incomum. Talvez fosse por isso que todos os Tudor-Habsburg tinham damas de companhia e cavalheiros.

  — Graças a Deus que a baronesa se foi. Que mulher horrível, inteligente, mas ainda assim horrível.— Assim que Lady Hastings saiu, a condessa entrou na sala, aliviada por não cruzar com a baronesa.— Ela não é como a antiga baronesa, que era desconfortável apenas por ser muito inteligente.

  — Não consigo imaginar como ela aguenta ensinar todos os filhos da marquesa.— Pelo que parecia afinal, ela, e a sogra dela antes, foram as primeiras professoras deles.

  — Ela faz isso por ser a sua função. Mas não reclame Elizabeth, é sua função aguentar isso. É uma grande pena, não criei minhas filhas para essa vida.— Elizabeth já estava acostumada com esses comentários de sua mãe, ela se casar com um príncipe ainda era algo muito triste.

  — Apenas cabe a mim aguentar. Como está tio Byron?— Elizabeth não desejava ouvir mais reclamações de sua mãe.

Depois de mais algum tempo conversando Lady Carlisle se retirou para seus outros afazeres. E chegou a hora de Elizabeth ir para Kensington. Ter agora aulas com Anne. Elizabeth sentia que passava a maior parte do seus dias em aulas, e as com Anne eram principalmente horríveis. Mas Elizabeth não poderia fazer nada, apenas ir.

                        *****

Todos os dias de Elizabeth eram a mesma coisa. Ela entrava na carruagem enviada pela marquesa, e a carruagem sempre seguia o mesma caminho, para o mesmo palácio, com as mesmas paisagens para Elizabeth apreciar, sendo a única diferença que tudo estava a ganhar uma aparência mais primaveril.

Fora isso, talvez a única coisa que estava sempre em mudança era o que Elizabeth estava sentindo durante a viagem. Poderia ser apreensão, ansiedade, tristeza, ou poderia ser como hoje: nada.

E depois de todos esses sentimentos diferenciais, Elizabeth sempre fazia o mesmo quando chegava em Kensington e deveria sair da carruagem: ela respirava fundo e se preparava.

Os Tudor-Habsburg não eram pessoas que tratavam ela de forma ruim, eles eram sempre muito gentis. Mas era as vezes bem visível uma superficialidade e uma gentileza forçada neles. Como se fosse algum tipo de preocupação e medo, talvez fosse esse o motivo de sempre deixarem bem claro que Elizabeth deveria sempre agir como uma princesa, uma princesa Tudor-Habsburg.

Mas se mostravam essa superficialidade com Elizabeth, ela faria o mesmo, mas de uma forma muito melhor, uma forma mais verdadeira, era isso que Elizabeth sabia fazer afinal. Ser bonita, gentil e doce sempre com um verniz de verdade, que poderia ser sincero ou não.

Como sempre, Elizabeth foi recebida no Apartamento da Marquesa e levada para a Sala Azul, e lá ela teve que esperar Anne por quase dez minutos. Isso no caso era incomum, uma diferença na vida, mas Anne apareceu, por fim.

  — Peço perdão, Lady Elizabeth, por a fazer esperar tanto, estávamos no jardim em uma aula muito interessante sobre ervas.- Qual poderia ser o sentido de uma princesa saber isso?— Mas creio que devemos voltar ao assunto que estávamos ontem. Que seria?

Elizabeth já estava farta de nomes, eram todos descendentes de John de Gaunt, França, Áustria, Espanha, Portugal e a Inglaterra, isso já era o suficiente para Elizabeth, ela não tinha muito o desejo de saber quem era o 1° duque de Avon.

  — Eu consegui decorar o nome dos mais importantes. É algo bem grande realmente, e muito cansativo. Não poderíamos falar de outro assunto?— E agora seria o momento do sorriso de Anne morrer.

  — Entendo que esse pode ser um assunto complicado e difícil de aprender, mas é necessário. Devemos aprender sobre nossa família e aprender a ter orgulho dela, essa é uma parte muito importante de ser uma princesa ou príncipe Tudor-Habsburg. Ter orgulho.— Com um sorriso falso e bondade na voz, Anne a respondeu.

  — Mas é uma linha que vem desde Edward III, e se enrola com quase toda a Europa.— Elizabeth já estava cansada de ouvir sobre essa grande e confusa linha que era a linhagem.

  — E vai ficar muito mais difícil com você, que é descendente de Edward I e Edward III.— Elizabeth tinha muito conhecimento disso.— Mas você está certa, Elizabeth, linhagem é algo muito complicado, vamos então para outra coisa muito importante para nossa família: a nobreza.

Poderia ter aido simplesmente uma repetição de toda a hierarquia aristocrática que Elizabeth já sabia, mas não foi. Geralmente o que dava muito mais importância a um nobre era a antiguidade de seu título, Elizabeth sempre soube que o Duque de Norfolk sempre seria mais importante do que o Duque de Dorset.

Mas os Tudor-Habsburg conseguiram fazer com que esse sistema se tornasse muito confuso, eles davam mais importância aos nobres que eram seus aliados, como se fosse um clã escocês.

  — Mas o que eu faria então se em um jantar estivessem o duque de Hamilton e o duque de Clifton?

 — O duque de Hamilton nunca estaria em um jantar de nossa família, os escoceses tem um problema conosco, mas caso aconteça dele, como também duque de Brandon, estar em um jantar, sempre se certifique de que aja alguém da família real também presente.— De certa forma isso era humilhante, não só o sistema dessa família, mas o fato de uma garota quem não tinha nem 15 anos estar ensinando Elizabeth a como agir em um jantar, Anne nunca nem mesmo esteve em um jantar formal, isso Elizabeth tinha certeza.– Poderia então agora me falar nossos amigos?

Seria uma tortura, mas Elizabeth estava disposta a falar, quanto mais rápido acabasse melhor.

  — Lady Elizabeth, não acho que isso seja necessário.— Mas antes de Elizabeth falar qualquer coisa, a marquesa surgiu na sala a interrompendo. Causando um incomum alarme em Anne.

  — Mamãe, a senhora deveria estar descansando! O que faz aqui em pé?

A marquesa lentamente veio até elas, sentando em um sofá a frente. Como sempre indiferente, fria e arrogante, mas ainda mostrando uma certa ternura a filha.

  — Eu já descansei Annie, estou descansando desde o almoço na verdade. Mas não agora, eu gostaria de conversar com Lady Elizabeth. Poderia nos deixar a sós Annie?— Da mesma forma rápida que Anne perguntou se sua mãe descansou, ela saiu da sala e deixou Elizabeth a mercê da marquesa.

Se também havia uma coisa que não havia mudado, era o medo que Elizabeth sentia da marquesa. A marquesa era claro uma mulher jovem e muito bonita, mas o olhar dela não era sempre agradável, primeiro pelos olhos de um tom azul gélido, e depois a expressão o modo como o olhar dela se tornava arrogante, indiferente, tudo ficava muito frio com ela por perto.

E esse era um desses momentos, olhar para marquesa estava sendo desconfortável, a expressão dela, o olhar dela não mostrava nada, mas poderia congelar todo o palácio. E Elizabeth não poderia desviar.

  — Há algum problema, Sua Alteza?

  — Há sim milady. Um problema com você na verdade.— Isso explicava o olhar dela.— Eu soube por Lady Hastings, e até mesmo por Annie e Amélia que a milady não dá muita importância ou atenção ao que elas dizem. Me diga, qual o motivo?

Que coisa horrível, por isso Elizabeth não esperava. A marquesa nem perguntou se era verdade.

  — Eu não sou uma pessoa muito estudiosa, minha senhora, aprender francês foi quase impossível.— E ele ainda não poderia ser declarado perfeito. Mas a marquesa continuou com o olhar dela, isso não foi o suficiente.

   — Entendo. Há algo a mais, algo que a milady deseja falar?

  — Não, minha senhora.— Mas Elizabeth não conseguiu esconder por muito tempo.— Eu apenas acho tudo isso sem importância, ninguém liga se eu sei ou não todos os galhos de minha família, o que eu visto, ou se conheço Niedersieg.

Elizabeth falou e simplesmente falou, ela não se sentia nada ruim por isso, mas havia nela a sensação de que a marquesa iria falar e a fazer pensar o contrário.

  — Lady Elizabeth, a milady sabe o que é ser uma princesa?— Mas que pergunta.

  — É ter status, riqueza, uma boa linhagem e se vestir bem.— Pelo menos era isso que Elizabeth conseguia perceber na marquesa e em suas filhas.— Há algo a mais?

  — Você está certa, Elizabeth, isso também significa ser uma princesa. Mas sim, há algo a mais. Existem princesas que não tem riqueza, e consequentemente também não tem as roupas que estão em voga. Mas elas também conseguem ser princesas.— Elizabeth realmente conseguia sentir que a marquesa a iria fazer se sentir mal.— Ser uma princesa, ser da realeza, significa agir com honra, ter abnegação, estar disposta a ser um símbolo e sempre se lembrar de seu lugar. Ser uma princesa de verdade está em harmonia com suas ações e seu modo de agir, se você não age com a honra de uma, você é uma piada, não tem respeito e será esquecida, ou lembrada por ser escandalosa.

Qual era o objetivo da marquesa? se era deixar Elizabeth com mais medo ainda, ela havia conseguido. Mas Elizabeth não iria deixar de perguntar:

  — Por que, minha senhora, está falando isso para mim?

  — Porque no mundo já existiu muitas princesas. Algumas agiram bem, outras não souberam agir. Eu não quero que a milady seja a segunda opção. Lady Elizabeth, suas aulas tem um objetivo, todas elas. As de Lady Hastings tem o objetivo de não a fazer passar vergonha; as de Annie são para a ensinar como agir e a ter orgulho e Amélia a está ajudando a se vestir como nós. Tudo isso, se bem usado pela milady, a transformará em uma boa princesa Tudor-Habsburg.

  — E se eu não usar isso? O que vai acontecer?— Elizabeth falava quase em desafio.

Agora os olhos da marquesa não ficaram apenas frios, mas também sombrios.

  — Você será destruída e esquecida.— Agora isso foi o suficiente para deixar Elizabeth com medo, ela não desejava ser esquecida, ela não queria deixar de ser quem era, mas seria melhor isso do que ser esquecida e mais ainda do que destruída.— Você entende agora?

  — Sim, minha marquesa. Eu irei me esforçar e ser uma princesa Tudor-Habsburg, bela, honrosa, abnegada e orgulhosa.

Finalmente a marquesa deu um sorriso, a única coisa quente nela. Deu até um alívio em Elizabeth.

  — Muito bem, e acho que sei onde a milady pode começar a mostrar isso.


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Notas finais do capítulo

Eu não sei o que eu fiz, mas só na última parte desse capítulo eu projetei uma Anne muito mais fria e arrogante do que em "A Mais Vitoriosa", talvez porque aqui eu mostrei ela do ponto de vista de outra pessoa. Mas mesmo assim, vai entender.