Era uma tarde ensolarada de outono, estava fresco e com um vento agradável. A sala estava tão silenciosa que era possível ouvir o vento bater na janela.

Akashi estava concentrado no jogo, mas ele não parava de observar você sempre que chegava a sua vez de jogar.

— O que você acha do Mayuzumi? -O garoto de cabelos carmesim quebra o silêncio.

— Ele tem números bons na parte física, consegue usar muito bem a finta e distrair os jogadores, seus passes são precisos e quando ele precisa arremessar, é certeiro. Diria que ele é um jogador completo. -Você conclui e Akashi sorri para você.

Você tentava analisar o capitão da Rakuzan, mas sempre que achava que sabia o suficiente sobre ele, o garoto a surpreendia. Nem você conseguia lê-lo e isso o tornava mais misterioso, você queria saber mais dele. Gostava de jogar shogi com ele, porque era a maneira de conhecê-lo melhor. Você sabia que o rapaz a estudava de uma forma que tentava descobrir até os seus pensamentos, mas no fundo você nao ligava, afinal você tentava o mesmo com ele.

Mas a verdade é que ele sempre estava a um passo na sua frente, e esse era outro motivo para ter se apaixonado. O capitão era extremamente inteligente e perspicaz, você sentia que poderia ouvir ele falar por horas sobre qualquer assunto, mas o garoto preferia ouvir você, era como uma melodia reconfortante para ele.

— A Winter Cup está se aproximando. Mas não iremos jogar os primeiros jogos. -Ele volta a observar o jogo.

— Como assim?

— Deixaremos que os jogadores reserva joguem de início. -Akashi explica enquanto movimenta outra peça e volta a olhá-la.

— É por isso que você está mandando o time reserva para os amistosos? -Você olha para o tabuleiro afim de encontrar uma maneira de fazer o jogo durar, ja que não falta muito para ser derrotada por Akashi novamente.

— Sim, nosso time reserva é bom, mas acho que podem melhorar. -Akashi nota a sua jogada e ri. -Você é muito boa com dados, mas acha que algum dia conseguira me vencer?

— Eu preciso vencer você? -Você sorri sem jeito. Se pudesse traria outro jogo para jogar com Akashi, você não é muito fã de shogi. Mas gosta de ficar na presença do capitão.

— Podemos tornar o jogo mais divertido. Eu sei que você não é uma entusiasta de Shogi.

— Como assim? -E novamente você sente que o capitão está lendo seus pensamentos. Até onde o olho do imperador vê? Até onde ele consegue ver o futuro?

— Se você me vencer, pode me pedir o que quiser. -Akashi da sua jogada final, vencendo o jogo. -Se eu vencer, eu posso pedir o que quiser. -Ele sorri ao levantar a peça “vencedora” do tabuleiro. -Essa partida não vale, é claro.

— Sinto que nos dois casos irei perder para você. -Ele virou para você com um sorriso afetuoso nos lábios. Droga, esse é o seu ponto fraco. Você se dá por vencida e aceita o desafio. Na verdade, você tem curiosidade em saber o real motivo do desafio. Primeiro que você nunca vence e segundo que tudo o que ele lhe pede você obedece. O que seria tão importante a ponto de ser necessário um desafio? Shogi estava começando a ficar interessante.

Vocês voltam a jogar e você tenta se dedicar para realmente vencer. Não acredita realmente que poderá vencê-lo, mas quer dar tudo de si. Porque quando escutar o pedido de desafio, quer ter a certeza de que fez de tudo para vencer.

Mas não adiantou, Akashi demorou um pouco mais do que o habitual para vencer, mas ainda assim o fez. Você suspira fundo se dando por vencida. Não tem nem o que reclamar.

— E então Akashi?

— Ja lhe pedi, que me chame pelo meu nome.

— Então esse é o seu pedido? -Você ri brincando com a situação.

— Não mesmo, me chamar pelo nome é uma ordem e não um pedido. -Ele a olha nos olhos enquanto se levanta e caminha em sua direção. -Meu pedido é... -Ele fala enquanto para do seu lado e se inclina ficando com o rosto na altura do seu. -Um beijo. -Você pisca algumas vezes para ver se escutou direito e ele repete um pouco impaciente. -Meu pedido é um beijo s/n. -Você engole em seco e sente seu coração sair pela boca. Será que ouviu certo? O que você deveria fazer? Akashi está ficando cada vez mais impaciente então você se inclina e deposita um beijo na bochecha do maior que fica surpreso com a sua resposta. Ele se indireita e sorri com a sua inocência, por enquanto parece ser o suficiente para ele.

~~

No dia seguinte haveria um amistoso na Rakuzan contra o colégio Seiho. Você já tinha passado todos os dados dos adversários para o seu time. E como Akashi havia dito a vitória foi iminente ficando 106 a 58 para Rakuzan.

—  Você vai hoje S/n-chan? -Kotaro pergunta animado, sendo o primeiro a sair da quadra.

Você estava sentada no banco ainda fazendo anotações em sua prancheta.

— A s/n não pode, ela está ocupada. -Você reconhece a voz do capitão vindo atrás do garoto loiro.

— Você não vai também, Sei-chan? -Reo pergunta enquanto passa a toalha em volta do pescoço. -Vamos em uma lanchonete aqui perto.

— Não, obrigado. A s/n coletou alguns dados de vocês que eu gostaria de ver hoje ainda. -Akashi responde terminado de beber sua água.

Todos os garotos foram para os vestiários e você continuou na quadra. Alguns alunos estavam se retirando da quadra após finalizarem a limpeza e você decide que é hora de ir também. Sabia que Akashi estaria lhe esperando na sua sala habitual, mas antes mesmo de se levantar o capitão retorna a quadra.

— Sabia que estaria aqui. -Ele diz se aproximando.

— Eu já estava indo para a sua sala. -Você vê Akashi recolhendo a bola que estava embaixo do banco onde você estava sentada. –Acho que eles esqueceram de guardar. -Você estende a mão para o capitão lhe passar a bola, mas ele apenas sorri.

— Se me vencer esta dispensada por hoje. -O garoto de cabelos carmesins gira a bola no dedo indicador.

— Essa é a sua aposta? -Você cruza os braços. –Se eu ganhar quero uma tarde livre e sair para comer com o time.

— Feito. -Você vê Akashi caminhando para a quadra e apenas o segue e percebe que ele não fez o pedido caso vença.

Você está na defesa e ele no ataque. Você acha que vai ser mais fácil tentar pará-lo do que tentar passar por ele e ainda fazer a cesta.

Akashi está quicando a bola enquanto a observa, ele está com aquele olhar brincalhão, ele está planejando alguma coisa. Fazia tempo que você não o via sorrir assim enquanto jogava basquete, é como se ele voltasse a se divertir com o esporte ou ele estava se divertindo com algo a mais?

Ele dribla a bola de uma mão para a outra e você tenta acompanhar, mas ele é mais rápido do que você pensa. Você tenta roubar a bola, mas ele passa para a outra mão pelas costas e volta a quicar a bola.

— Eu sei que você pode fazer melhor do que isso. -Ele comenta sorrindo.

— Você joga contra mim como se jogasse a final de um campeonato, não consigo te acompanhar.

Era fácil para ele falar, mas você realmente está tentando pará-lo. Você decide avançar para tentar roubar a bola mais uma vez, você acaba se aproximando demais. Ele driblou, mas acabou prevendo que aquilo resultaria em uma queda, e ele não queria que você, de jeito nenhum, se machucasse. Quando percebeu o erro, deixou que a bola continuasse a quicar sozinha pelo chão. E ela quicou perdendo a força lentamente, até mover-se para fora da quadra. Ele não se importou e você não notou, porque quando abriu os olhos, percebeu que está um pouco suspensa no ar. Sentiu o braço firme agarrando o seu corpo, te protegendo do tombo. Percebeu aqueles olhos em tons carmesins mirando o seu, tão de perto que você podia lê-lo de um jeito que ninguém mais pôde desde aquele momento.

Suas mãos trêmulas, seu rosto corado, seus gestos, te denunciaram. E ele leu você muito bem.

— S/n você está bem? -Você permanece em seus braços, perto o suficiente para sentir a respiração dele transpassando a sua.

— Sim... -Você se afasta mantendo uma distância segura, seu coração ainda está acelerado e sua mente está um turbilhão de pensamentos.

— Você está um pouco descuidada. -O capitão continua a te olhar atentamente.

— Eu venci. -Você anuncia após ter se acalmado e observar a bola perto do banco.

— Você chama isso de vitória? -O capitão volta com aquele sorriso brincalhão nos lábios.

— Você não? Eu consegui tirar a bola de você. Essa era a minha jogada secreta. -Você ri confiante.

— Está certo. -Ele analisa a situação. -Vamos então?

— Como assim?

— Você quer uma tarde livre e sair para lanchar com o pessoal né? No momento eu sou o pessoal. -O garoto já está se afastando para pegar a bolsa.

Você concorda e sorri ao caminhar até o banco para pegar a sua bolsa e sair para comer junto com o capitão da Rakuzan.