Através do corredor pintado de branco mortiço, as paredes mofadas exalavam o clima tétrico que pairava sobre tudo. A alquimista percorria-o a passos lentos e programados.

Por um momento, ela sentiu o chão sumir sobre os seus pés, nada do que aprendera durante os seus estudos na Real Academia Alquimista tinha ajudado a salvar as pessoas da Horda.

Durante a vitória das Almas de Rapina, sob o comando de um temível mantícora, Letícia começara a se questionar sobre qual o valor de um alquimista. O alquimista não era apenas um mago, mas também um cientista, buscando através de várias técnicas e métodos alcançar um processo de profunda transformação no homem.

Infelizmente, para alguns, sua utilidade pendia mais para o militarismo.

Como eu queria que você ainda estivesse aqui, meu irmão...

Quando a general-brigadeiro chegou à cela, os seus olhos perceberam algo completamente errado: as grades de metal haviam sumido. Era como se nunca tivessem estado lá. Ela ligou um minitelemago na sua orelha que servia como um ponto, e disse:

— Alerta geral, os prisioneiros fugiram da cela...

— Mas isso é improvável, general-brigadeiro Letícia. As forças dos indivíduos foram imobilizadas.

— Eu não estou vendo uma miragem, oficial, estou de frente para a situação. Tome providências, JÁ!

Ah, mais essa agora!

Ela voltou ao corredor. Às veias se tornaram salientes no seu rosto jovial e sonolento. O seu turno, ao todo, já tinha coberto vinte e quatro horas ininterruptas de serviço. Suas pálpebras não eram nada mais do que bolsões negros de sono. Mesmo assim, por um instinto guerreiro, suas atividades permaneciam totalmente ativas.

Como eles conseguiram escapar?

Por segurança, ela checou o seu bolso. A penca de chaves que só ela tinha acesso havia desaparecido. Letícia se lembrou da trombada de Rosicler, tinha sido naquela hora. A alquimista apertou os punhos, rangeu os dentes, estava furiosa.

Aquela garota vai pagar por isso!

Por dedução, ela previu aonde o grupo possivelmente teria ido, pois, para ela, eles não passavam de ladrões vulgares ou simpatizantes dos monstros.

Há passos rápidos, ela voltou para a sala do comando-geral da RFE. Para a sua surpresa, encontrou a jovem Rosicler Cochrane envolta em um casulo de goma. O comandante-geral Verdramungo estava suado e descabelado num canto.

Letícia não pôde compreender bem a situação. Mas o que não passou despercebido aos seus olhos foi que um filete de sangue que escorria do braço esquerdo do conde, justo a mão em que ele segurava uma joia vermelha e pulsante como um coração.