Um Reino de Monstros Vol. 2 escrita por Caliel Alves


Capítulo 10
Capítulo 2: O peso do chumbo é diferente do ouro! - Parte 5




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Após planar no céu, a criatura alada pousou sendo recebido por uma série de outras criaturas, cada uma delas mais ferozes que as outras. Grifos, esfinges, sílfides e sirenes se curvaram quando a tenente Cora caminhou por entre eles. Parte da sua plumagem havia queimado, e por isso, agora usava uma capa cinzenta.

Ela usou a Cura Divina antes de entrar pela porta. Era inconveniente se apresentar ao seu capitão caindo aos frangalhos. À energia de Enug percorreu o corpo da strix e regenerou a sua derme. Suas garras afiadas tocaram as portas duplas, mas parou de repente. As sombras de um par de asas enorme foram refletidas em suas costas.

— POO!

Seu ataque foi tão rápido que o outro teve tempo apenas de se afastar das garras de Cora.

— Porque tanto mau humor, hein, Cora?

— Tenente Kuromaru, não me amole!

— Jamais faria isso.

O interlocutor era um tengu, um ser de pele vermelha e cabelos prateados. Possuía um par de asas de corvo, negras como uma noite sem luar. Seu nariz era longo. Os olhos cavos, as pupilas eram dois vazios foscos.

Ele vestia uma calça escura com as pernas bem separadas. Os tornozelos eram amarrados com fitas de couro entrelaçadas. Os pés estavam calçados numa sandália de palha de arroz, com as garras afiadas para fora da sola.

Seu abdômen era envolvido num quimono sem mangas da mesma cor de suas asas. Na sua cintura, um cinto de couro espinhado continha uma chokuto com a guarda quadrada.

— Anda engraçadinho como sempre, cabelo de espantalho.

Ela entrou batendo a porta, o tenente a seguiu mantendo uma distância segura.

Os ombros dela estavam tocando as orelhas, sob a túnica rasgada. Kuromaru pôde notar que as penas dela estavam em muda, a sua pele era enrugada como as das bruxas. Ele sentiu-se enojado por ver aquilo. Ambos se dirigiram a passos rápidos para a sala do capitão Pazuzu.

Na cabeça de Cora só havia uma coisa: ódio intenso pelos humanos, principalmente os alquimistas. A strix abriu a porta, bufando, as penas soltavam do seu corpo.

Sentado num trono como se fosse um rei, o capitão era paparicado por várias sílfides.

— Saíam daqui suas vadias, poo!

Ao verem os olhos do monstro, as sílfides, que mais pareciam belas princesas com pares de asas, saíram voando pelas janelas mais próximas.

O mantícora largou o cálice de vinho no braço do dossel, e expirou profundamente. Sua voz soou gutural como um trovão, ou melhor, como um rugido se fez ouvir.

— CORA! Ruohruohruohruoh, não é à toa que você é a minha tenente favorita.

— É verdade, capitão, o senhor só tem...

— Cale-se, Kuromaru! Porque está tão furiosa, espantou até mesmo as minhas belas sílfides.

— A única serventia delas é desviar a sua atenção das suas responsabilidades...

— Ruoooooooooooooh! Basta, quanta insolência.

Os dois subordinados calaram-se e se puseram de joelhos. O capitão arremessou o cálice no salão, aonde antes era a sala do trono do Baronato de Alfonsim.

Pazuzu tinha um físico avantajado. A sua pele era da cor do bronze recém-saído da fornalha. Seu cabelo, costeleta e barba formavam uma juba dourada que emoldurava a sua face leonina. Duas enormes asas de morcego e uma cauda de escorpião concluíam a sua anatomia. O monstro bradou:

— Cada dia mais a ousadia de vocês aumentam.

Estando descalço, ele arrastou os seus pés enormes, as garras retráteis apareceram gotejando veneno. Ele esfregou as mãozorras nas calças, e as pôs na fivela do cinto, que nada mais era do que o crânio de uma criança.

— Se você tiver mais capacidade do que eu de liderar à Almas de Rapina, então me ataque. Vamos, não seja tímida.

Cora engoliu em seco. A cauda escorpioide descreveu um rápido movimento e parou antes que a strix fosse atingida na garganta.

Puxa, que burrice, Cora. Tá zoando a gente irritando o capitão assim?

O ferrão estava tão perto das narinas da tenente que era possível sentir o cheiro da morte.

— Perdoe-nos, capitão. Eu só gostaria de lembrar que quem o desafiou foi essa alma-penada aqui do lado...

Sem se mover do lugar, a strix aplicou um chute nas costelas do tengu, que saiu rolando até se chocar na parede no lado oposto. Cora falou de modo balbuciante:

— M-me p-perdoe, capitão Pazuzu.

Depois de soltar uma gargalhada triunfante, o mantícora voltou até o trono, e pôs as pernas num braço dele, e colocou a sua cabeça amparada no outro, ficando deitado. As asas salpicadas de sangue lhe davam um ar sombrio e bélico.

Cora sentiu todo o seu corpo se eriçar. Meneou a cabeça, devia se concentrar.

— Você se preocupa demais, demais mesmo. Olhe para mim, sou um capitão da Horda. Comando a Força Aérea de Zarastu, e tento não me preocupar demais com os problemas. Mas você parece gostar de problemas, não é?

— Não se trata disso, meu capitão. Uma missão nos foi dada, e o senhor por diversas vezes a procrastinou. É como se não quisesse subjugar os alquimistas...

— Acaso está se esquecendo do meu valor como guerreiro, sua coruja de olhos secos? Eu conquistei essa posição pelo direito do duelo.

O capitão das Almas de Rapina só detinha o direito de comandar se acabasse matando o antigo capitão. Era um dos regimentos da Horda com maior autonomia. Embora não passassem de um grupo anexado ao Batalhão Furioso sob o comando de Sirius, fora isso, eles tinham total controle de suas ações.

— “Estou procrastinando”?

O som daquela palavra soou estranho aos seus ouvidos.

— Oh, meu monstro de olhos esbugalhados, pense no grande prazer que teremos ao mutilar, estraçalhar e matar os alquimistas depois de lhes dar uma falsa esperança. A Pedra Filosofal foi destruída, e agora eles não poderão realizar nenhuma Panaceia.

— Eu compreendo mais do que ninguém as suas expectativas, meu capitão. Mas os seres humanos são ardilosos. Perdi muitos monstros para os constructos e artefactos alquimistas, e corremos o risco de o Monstronomicom ter chegado aqui em Alfonsim.

— Está exagerando. Esse livro é... uma lenda criada por comadres fofoqueiras de Flande. Inclusive, Nipi poderia ser mais útil matando logo todos aqueles flandinos.

Kuromaru se levantou. O seu longo nariz estava torto como um anzol. Após ele endireitá-lo, o tengu falou pausadamente:

— Se me permite, capitão, isso não é bem verdade. De acordo relatórios de dois guardas, uma pequena criatura foi vista nos bosques. Ela possuía as mesmas características descritas pelo nosso observador. Acredito que essa informação deve ser checada, sacou? Imagina se um “purifica-monstro” aparece por aqui e transforma as suas sílfides de olhos prateados em garotas humanas? Ah, que nojo... Bleagh!

Pazuzu sobressaltou-se, ele não admitia perdê-las.

Não, minhas belas sílfides não, unh-unh.

— O que sugerem?

— Bater primeiro e perguntar depois, meu capitão.

A strix deu um potente soco na barriga do tengu que se dobrou ao meio como uma folha de papel. Enquanto o monstro desfalecia, a tenente apresentou o seu plano de ataque.

— Alfonsim está dividida, não é? Com a sua chegada, depois de um cerco de dois anos, nós tomamos metade desse Baronato, agora está na hora de terminar a nossa missão. Devemos usar o Quadro Aeroespacial e a Infantaria juntos nessa batalha. Sei que o senhor odeia usá-los, mas é por uma boa causa. Os alquimistas também têm um exército bem equipado. Não seria bom lutar contra o inimigo com metade de nossas forças.

— Sim, é verdade... Tenente Cora. Tenente Kuromaru, eu condecoro ambos a comandantes-adjuntos das duas unidades, Quadro Aeroespacial ficará sob a tutela de Cora, enquanto a Infantaria ficará sob as ordens de Kuromaru.

— E quando começaremos o ataque, senhor?

Ambos os monstros perguntaram ao mesmo tempo, ansiosos pela batalha.

— Bem, daqui a uma semana, talvez. Eu preciso me preparar. Seria falta de educação não está apto para o combate. O que os monstros pensariam de mim?

A strix e o tengu caíram no chão com os olhos rolando de modo convulsionante, o que Pazuzu tinha de poderoso, tinha de vacilante também.


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