Um Reino de Monstros Vol. 2 escrita por Caliel Alves


Capítulo 2
Capítulo 1: A caixa misteriosa - Parte 1




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Rosicler caminhava pelo bosque, as copas das árvores eram bastante altas, e os troncos largos. Qualquer um poderia facilmente se perder ali, menos ela. Com o seu punhal, marcou uma seta nos troncos há cada dez metros, indicando uma rota para o pequeno acampamento que o trio montara.

Ah, que droga Rosicler, o que você está fazendo junto com esses zé-manés?

Irritada, chutou um montículo de folhas. Havia juntado uma boa quantidade de gravetos para a fogueira. Saragat, que liderava o grupo, pediu para que fizessem uma fogueira, estava escurecendo, precisariam estar aquecidos e afugentar os animais à noite. Assim tinha transcorrido o mês inteiro.

— Sinceramente, já estou cansada de bancar a “garota das selvas”. Quando eu chegar à Alfonsim, vou dar no pé, eu só...

Cric-crac-cric, o som crepitante e uma lufada de calor cortou o andamento do seu raciocínio. Ela girou a cabeça de um lado para o outro procurando o foco do incêndio. De repente, um brilho ofuscou os seus olhos. Uma enorme bola de fogo se projetava no céu.

— Ué! Mas o sol já estava se pondo?

Dois projéteis chamuscados se desprenderam em alta velocidade da redoma de chamas. Um deles caiu há apenas centenas de metros de onde Rosicler se encontrava, formando uma enorme cratera. O outro se dirigiu para Alfonsim.

— Puxa, será que eu não sou uma garota de sorte?

Ela jogou a lenha no chão e se dirigiu a passos rápidos para a cratera flamejante.

***

Tell usava o seu sabre como um facão abrindo uma clareira. Os arbustos pareciam provocar urticárias na pele dos rapazes.

— Rosicler! Nós estamos aqui, onde está você?

— É, sua babaca, nós estamos preocupados, quer dizer, o Tell ficou preocupado.

— Isso é maneira de procurar por um desaparecido?

— E quem lhe disse que eu faço questão de encontrá-la?

O garoto franziu o cenho. Ambos continuaram a andar pela floresta. Index seguia-os. De repente, o conjurador estacou em frente a uma árvore, o rapaz também parou curioso.

— Veja isso!

— O que foi?

O mago veio até o tronco e viu uma seta indicando a mesma direção em que eles iam.

— O que é isso?

— É um sinal de localização, seu tapado!

— Ai tá bom, não precisa brigar comigo não.

— O problema de andar assim às cegas e anoitecendo é o risco de encontrar os monstros.

O guardião saiu voando e pousou no galho em frente ao servo de Nalab.

— Os monstros não a atacaram.

— Por que diz isso, bolo-fofo?

— Não sinto a presença de nenhum deles aqui?

O encapuzado espalmou as mãos e estapeou o alado que se tornou fino como um papel.

— Porque não disse logo que possuía essa habilidade, seu inseto mal?

Fu-fu-fu, Index escorregou do galho e caiu no chão como um saco.

— Não adianta brigar com ele, Saragat, vamos!

Os dois continuaram. Mais e mais setas apareceram. O filho de Taran tentava olhar pelas frestas das copas se via a bola de fogo, mas elas impediam a sua visão.

Eles chegaram a certo ponto em que acharam os gravetos que Rosicler recolheu. O mascarado se ajoelhou e verificou meticulosamente como um verdadeiro perito. O guardião os sobrevoava com olhos esbugalhados. Tell não se aguentando, perguntou:

— E então, pra onde ela foi?

O embuçado se levantou preguiçosamente do chão e pôs o dedo em riste.

— Baseado na minha dedução...  Eu não faço a mínima ideia de onde aquela louca foi.

O Lisliboux e Index ficaram com as mandíbulas abertas por um longo período, enquanto o conjurador dava de ombros. O garoto expirou o ar e olhou ao redor, já escurecia. Ele pegou uma tora, colocou um pedaço de tecido na ponta e acendeu a tocha riscando uma pederneira no sabre. Saragat assoprou o fogo antes que o outro acendesse a tocha.

— Por que você fez isso?

— Não precisa acender uma tocha, eu usarei uma das minhas conjurações. Oh deusa das sombras eternas, olhai por meus olhos e dignifique minha caminhada, Visão Noturna.

Os olhos do encapuzado se tornaram completamente brancos e foscos, como se estivesse cego. Mas com aqueles olhos, ele conseguia identificar tudo a sua volta. Sua visão ficou tão aguçada que ele viu uma aranha capturar um grilo numa moita de capim atrás do mago-espadachim. Ele visualizou pegadas em direção leste de onde estava.

— Vamos, ela foi por aqui.

Os dois saíram correndo com a criatura alada tomando à dianteira. Tell embora confiasse na magia divina do conjurador, não estava conseguindo acompanhar o seu pique.

— Vem logo, tapado!

— Espera aí, eu já to indo.

Assim a marcha continuou. Como se tivesse acontecido um incêndio, havia uma grande esteira de plantas chamuscadas e árvores tombadas, culminando numa clareira em que havia algumas flamas consumindo a erva seca.

— Rosicler, Rosicler, onde está você?

— Venha comigo, eu já achei ela, garoto.

Os dois desceram a cratera. No centro, havia uma enorme urna metálica e cinzenta. Por toda a sua extensão, havia sinais hieroglíficos em alto-relevo, formando padrões esotéricos. Ao lado dela, Rosicler estava deitada e arfando. Tell correu para socorrê-la, Saragat também veio ajudar. Ela parecia respirar com muita dificuldade.

O Lisliboux colocou-a virada para cima e posicionou as mãos nas costelas dela.

— Cura Benedicta.

Embora executasse a magia de forma correta, ela não gerou os efeitos necessários, e a garota continuou a arfar com dificuldades, as mãos se contraiam.

— Sai daí seu paspalho! Onde já se viu curar intoxicação com fumaça através de Cura Benedicta? Ela só funciona com ferimentos e queimaduras.

O garoto foi afastado pela palma nervosa do servo de Nalab, que se ajoelhou perto da vítima e ergueu as mãos, fechou os olhos e concentrou-se.

— Deusa das maravilhas noturnas, eu rogo, a minha senhora, que conceda mais uma dádiva a este pobre servo, Cura Divina!

Rapidamente, as mãos de Saragat tocaram o corpo de Rosicler que, se contorceu. Da sua boca, nariz e ouvidos, a fumaça foi expelida.

Aos olhos do garoto, parecia que a jovem queimava por dentro. Tell observou como a fé dele era tão aparente aos demais, isso lhe dava mais segurança. Pois mesmo sendo o mais ranzinza, Saragat era muito solícito.

Index ficou admirado pelo conjurador ter salvado a vida da jovem tão diligentemente.

Quando terminou, o encapuzado coçou as mangas do seu traje e expirou o ar. O mascarado saltou para trás, Rosicler acordara olhando de um lado para o outro.

— Arrrrrrrrrrgh!

— Cadê, cadê, onde?

— O que menina?

O garoto também estava curioso. Rosicler pulou em cima da caixa e montou nela como se fosse um cavalo, alisando-a, beijando-a. O mascarado começou a resmungar:

— “Ah, obrigado Saragat por ter salvado minha”; “não, não, não foi nada”.

O mago-espadachim sorriu, a criatura voou em cima da urna, e quando ia pousar, levou um safanão. A garota sentia-se a dona do curioso objeto. Os outros dois se aproximaram. A jovem parecia admirada com o caixote metálico. O conjurador e o neto de Taala cruzaram os olhares.

— Ela quase morreu pra encontrar um caixão?

— Garotas, unfh! Elas são assim mesmo, Tell.

— Não falem como se eu não estivesse aqui.

— Saí logo daí de cima, sua tapada. Isto pode ser uma armadilha, pode conter explosivos, um monstro pode saltar daí...

Enquanto o conjurador listava os perigos do estranho esquife, seus outros dois companheiros estavam procurando uma maneira de abri-la. Plaft, o encapuzado estapeou o rosto e fez a mão escorrer até a ponta do nariz.

— Vocês ouviram o que eu falei?

— Desculpe, mas é que eu também fiquei curioso. Só você está enxergando bem no escuro, nos diga o que tem aqui nessa caixa.

— Eu enxergo no escuro, mas não através dos objetos, Tell. Além do mais, já é tarde, vamos dormir aqui. Amanhã tentamos abri-la. Mostrando-se perigosa, nós a enterramos.


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