Um Reino de Monstros Vol. 2 escrita por Caliel Alves


Capítulo 1
Prólogo: Fumaça & vapor




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Parte 1

O homem acionou os botões no painel de controle e ativou o telemago. Depois do alívio passageiro, ele berrou desesperado:

— Estamos sendo atacados, repito, estamos sendo atacados. A nossa esquadra não vai aguentar mais um ataque.

— Que esquadra, major?

— M-mas, mas eram três dirigíveis?

— Eram! No passado.

O artefacto constituído de três linhas horizontais chiou abruptamente. O militar mudou a frequência do telemago e comunicou-se com seu superior direto.

— Brigadeiro Mendes, nós não temos mais como nos defender do ataque da Horda. Alfonsim não teve tempo suficiente para conseguir o apoio necessário de Flande.

—...

— Senhor, está na escuta?

Boom, do lado de fora, os canhões do dirigível disparavam as suas balas.

— Senhor, nós devemos abortar a missão...?

— Negativo!

— Mas...

Não houve resposta por um tempo, o major que pilotava o dirigível manobrou o manche, e o aeróstato fez uma arriscada manobra nos céus se desviando de diversas criaturas aladas. Na cabine de pilotagem, ele se sentia incapaz.

Será que o brigadeiro Mendes enlouqueceu?

Um novo estouro foi ouvido. O telemago soltou um grito agonizante vindo da sala de máquinas, um grupo de monstros tinha invadido o dirigível.

— Major Bernardo, mande mais reforços...

Ele não quis acreditar que a missão estava por um fio. Bateu no manche e fez o dirigível descrever uma ousada manobra. Suava frio. O brigadeiro entrou em contato:

— Major, mostre um pouco do seu amadurecimento, se é que teve algum desde a saída da Real Academia Alquimista.

— Meu tempo de academia militar me ensinou muito, brigadeiro Mendes. O que a alquimia não me ensinou é como sair vivo de um ataque da Horda.

— Não se preocupe, teremos, argh!

— Uah! Brigadeiro? Brigadeiro Mendes, por favor, responda!

— Desculpe major Bernardo, Mendes não poderá falar mais, poo.

— Não, como você entrou aqui?

— Pela porta da frente.

O alquimista não estava mais falando com o inimigo pelo comunicador. Atrás de si, a porta se abrira. Um monstro de corpo emplumado e olhos esbugalhados entrou na cabine de pilotagem do dirigível.

A mão de Bernardo tremeu e escorreu para o coldre. A criatura fitou-o com as suas grandes pupilas amareladas de íris verticais.

— Há quanto tempo, major Bernardo, poo.

— N-não, não fale como se fôssemos amigos íntimos, s-sua...

— Que falta de educação, é assim que os alfonsinos tratam as damas?

A pistola do militar seguia os passos em levitação da criatura encurvada, as suas penas eram cinzentas. As asas eram conectadas aos braços e terminavam em mãos grotescas. Pernas amareladas como pés de aves completavam sua mirabolante anatomia. O monstro o fitou, e a voz rouca soou pela sala de pilotagem como se fosse uma idosa.

— Por que os alfonsinos querem sair assim tão rápido, poo? Vocês não são bons anfitriões, sabia? Quando hasteamos nossa bandeira no palácio do Baronato de Alfonsim, esperávamos um pouco mais de dignidade da parte de vocês.

— Quem são vocês para falar de dignidade, sua desgraçada!

— Não fale com tanto ódio assim, poo. Pense em quão seria bom se vocês tivessem assinado o termo de rendição com o nosso capitão. Mas agora não daremos chances a vocês, seus humanos cretinos.

Antes que o monstro pudesse atacá-lo, ele acionou uma alavanca no painel de controle. A criatura parou de repente ao ver o sorriso cínico dele no rosto.

— O que você fezzzzzzz?

— O que devia ter feito há muito tempo, eu lancei-a porta afora.

— NÃO!

Antes que os dois pudessem trocar os seus golpes, o dirigível implodiu por completo.

Parte 2

Saragat estava de frente para Tell, ambos estavam sentados com os joelhos dobrados. De olhos fechados, o mago-espadachim e o servo de Nalab meditavam. Index estava embrulhado na capa do garoto.

O conjurador tinha o cajado fincado no chão, bem atrás de si. O outro repetia o mesmo gesto com o seu sabre. Eles usavam as armas como encosto, para manter a postura bem ereta. Rosicler tinha saído em busca de gravetos para a fogueira.

— A magia, e a conjuração, ou magia divina como é mais conhecida, tem os mesmos efeitos, porém tem execuções diferenciadas.

— Meu avô me explicou sobre isso, só que eu...

— Cale a boca, ainda não terminei a minha explanação!

— Não precisa gritar, desculpe.

— Magia é quando provocamos fenômenos aplicando técnicas, utilizando como fonte nossa própria energia mágica. Nesta prática, o mago pode deixar de executar magias devido ao esgotamento energético do seu corpo. A conjuração tem como base a fé do usuário, através de rogos, orações e cânticos, o conjurador lança magias servindo de condutor para o seu deus; caso ele falseie na fé, ficará distante da sua divindade e impossibilitado de conjurar magias. Você compreende isso?

— Sim, e-eu, eu compreendo.

Saragat pediu para que o Lisliboux fizesse um exercício de respiração em três tempos: respirar por três segundos, segurar o ar por três segundos e expirá-lo por três segundos. Com isso ele usaria os músculos do diafragma, do tórax e controlaria os fluxos sanguíneos e respiratórios. O mascarado faria o mesmo.

— Tudo começa na respiração. Quando nascemos, o nosso despertar no mundo se dá através da respiração. Ao longo dos anos, perdemos essa...

Thump, o som cortou a explicação do encapuzado. Uma veia saltou no rosto dele.

— Rosicler, sua idiota!

— Não, Saragat, olhe!

Ele virou-se para trás, uma bola de fogo caia do céu como se fosse um sol, mas já estavam no crepúsculo. De repente, os dois se entreolharam e saíram correndo na mesma direção das chamas. Ambos gritaram ao mesmo tempo:

— ROSICLER!


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