A cabeça de Lilian girava. Ela ainda não conseguia acreditar que seus pés estavam lhe conduzindo até James. Dentro dela, um misto de medo e coragem brigavam para ver quem tomaria conta dos pensamentos da garota. E se tudo desse errado? E se Andrômeda estivesse certa? E se ela caísse, caísse de verdade, dentro de uma paixão louca e avassaladora e ele mudasse de ideia?

Tudo poderia acontecer. Tudo era incerto.

— Eu sei o que você está pensando, mas você está linda — disse Emmeline, ajeitando o cabelo da amiga.

Realmente estava. Lilian amava shorts vintage de cintura alta e blusinhas de poá, como a que Alice havia emprestado a ela.

Após mandar a mensagem para James, eles marcaram um encontro não programado para o fim daquela mesma tarde. Lilian não teria tempo de voltar para casa e se arrumar, então Marlene contou tudo à Emmeline que contou para Alice e elas, juntas, resolveram o problema da menina.

— Me desejem sorte — ela disse, dando uma última olhada em seu reflexo no espelho.

Ela estava nervosa. Não podia negar. Sempre teve medo do que poderia acontecer caso se envolvesse com alguém, mas, dessa vez, ela sabia que não adiantaria de nada. Mesmo como a sensação de que algo muito errado poderia acontecer, algo dentro dela a puxava diretamente para ele. Para Potter.

Então, Lilian se despediu das amigas e saiu da casa de Alice.

Ela encontrou James esperando por ela, do outro lado da rua. Ele vestia uma camisa branca e uma calça jeans. Tão simples e ao mesmo tempo tão elegante. Se colocassem os dois juntos, lado a lado, para tirar uma foto, Lilian tinha certeza de que ela sairia perfeita.

Ele foi atravessando a rua de um jeito meio rebelde, meio confiante que fez o coração de Lilian bater tão forte que ela teve vontade de sair correndo. Mas ela ficou. Não conseguiria ir muito longe mesmo.

E James parou em frente a ela, tão perto que dava para sentir a respiração dele exalando em seu rosto. Nesse momento, Lilian perguntou-se se James poderia ouvir os seus pensamentos ou como ela se sentia como uma casa feita de cartas naquele momento. Esperava que não.

James afastou-se um pouco e segurou a mão de Lilian. Bem devagar, foi levando a mão da garota até seus lábios e depositou ali um singelo beijo. Ela puxou a mão, sentindo seu coração bater ainda mais forte, e olhou-o nos olhos. Castanhos.

James sorriu. Ele tinha o tipo de sorriso que te faz querer tirar os pés do chão, dançar na chuva e beijar em parques de diversão. Ela já tinha visto o garoto sorrir, mas nunca tinha prestado atenção de verdade em cada detalhe do sorriso dele. Era encantador. Lilian viu fogos de artifício por toda a noite depois daquele sorriso. Ela veria fogos de artifício toda vez que ele sorrisse, desde então.

― Tudo bem? ― Ele finalmente perguntou.

― Sim ― ela respondeu, mordendo os lábios. ­― Para onde vamos?

― Feche os olhos ― foi sua resposta.

Ele sorriu de novo. Fez o coração de Lilian disparar. De novo. Ainda assim, e talvez por isso, ela fechou os olhos sem reclamar. Então, ele puxou a garota pela mão até sua moto. Os dois subiram nela e James cortou a cidade em uma velocidade alta demais para qualquer um.

― Pode abrir ― ele disse, ajudando-a a descer da moto, após alguns minutos.

― Potter! ― Lilian gritou ao abrir os olhos. ― A gente pode fazer isso? ― Ela perguntou, olhando em volta.

Lilian não podia acreditar no que via. Potter a levou para o clube da cidade. Eles estavam na parte da grama perto da piscina e tudo estava arrumado. Havia luzes e velas e comida. Tudo estava lindo. Perfeito. Até o céu estava colaborando. Lilian nunca vira tantas estrelas e uma lua tão cheia como naquela noite.

― Eu trabalho aqui durante a tarde ― ele respondeu, mostrando um molho de chaves: ― acesso ilimitado.

― Como assim você trabalha aqui? ― A garota perguntou, um pouco surpresa.

Potter soltou uma leve gargalhada.

― Nem todo mundo tem acesso ilimitado a dinheiro. ― Ele deu um leve aperto na bochecha da menina e, em seguida, segurou sua mão. ― Vamos?

Lilian queria responder que não tinha acesso ilimitado a dinheiro, mas preferiu ficar calada. Se fosse comparar sua realidade com a de Potter que estudava em um colégio do governo só para garotos e ainda tinha que trabalhar meio período no clube frequentado por ela e por seus amigos, bem, ela deveria ter acesso ilimitado ao dinheiro mesmo. Só esperava que isso não fosse um obstáculo entre os dois.

Ela seguiu James até o piquenique que ele havia organizado à beira da piscina. Ele havia trago até Coca-Cola e pequenas taças de vidro para os dois beberem.

― Imaginei que você não gostasse muito de beber ― ele comentou, abrindo o refrigerante.

― Obrigada.

Lilian colocou o cabelo atrás da orelha e aceitou a taça que James lhe oferecia. Enquanto bebericava a Coca gelada, ela percebeu que os olhos dele a observavam. Sentiu-se um pouco envergonhada e com o coração batendo ainda mais forte. Ela podia sentir que estava se apaixonando perdidamente por ele. Nunca imaginou que pudesse acontecer tão rápido.

― Você está linda, Lilian. ― Potter finalmente disse. Parecia que ele havia segurado aquele elogio desde o momento em que a vira pela primeira vez, pelo jeito como havia dito: com uma paixão e uma certeza profundas.

Lilian corou enquanto olhava para ele. Mais uma vez, ela desejou que ele não conseguisse ouvir o que ela estava pensando. Ou que não soubesse o que ela estava sentindo. Ou desejando naquele momento.

Ele sorriu novamente, talvez esperando deixá-la um pouco mais confortável. Tudo o que conseguiu fazer foi deixar Lilian com mais vontade ainda de beijá-lo embaixo daquele céu estrelado de uma cidade do interior.

Foi o que ela fez.

Lilian correu os dedos pelo cabelo preto penteado para trás de James. Olhou naqueles olhos quase escondidos pelos óculos redondos e que poderiam conquistar o mundo, tentou memorizar cada ponto de luz neles, e aproximou seu rosto do dele.

Apenas sentiu os lábios de James tocando os seus. Sua cabeça girou novamente e ela foi transportada para outro lugar, um lugar mágico onde só existiam finais felizes. Lilian desejou que aquele beijo durasse para sempre, mas nada é. O beijo e a noite acabaram antes mesmo que ela percebesse.

Quando deu por si, James estava em frente à sua casa e eles estavam se despedindo.

― Acho que é aqui que eu te deixo, Evans. ― Ele a ajudou a descer da moto e a levou até a porta, segurando em sua mão.

― Não vai pedir comida ou me levar para comer sushi? ― Ela perguntou, sem querer soltar a mão dele, balançando-a de um lado a outro.

― Então, dessa vez você não vai me expulsar?

― Eu não te expulsei ― ela respondeu, fingindo estar ofendida ―, você que me abandonou, Potter. Duas vezes, por sinal.

Ele sorriu mais uma vez. O mesmo sorriso que fazia Lilian ver fogos de artifício preenchendo o ar.

― Vou me certificar de nunca mais fazer isso, então, Evans.

James beijou o rosto de Lilian uma última vez e voltou para sua moto, e ela decidiu entrar logo em casa.

Suas pernas estavam bambas, ela sentia borboletas revirando o estômago e seu coração nunca batera tão rápido em toda sua vida. Ela estava definitivamente e completamente apaixonada por James. Por Potter. Como isso era possível? Provavelmente porque toda noite que passava com ele se tornava a melhor noite de sua vida.