Bad Decisions escrita por MayDearden


Capítulo 3
Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Essa Short fica que eu amei ter escrito recebeu a primeira recomendação.

Eu surtei quando vi!

Sério!?

Aninha Cris, MUITO obrigada por esse retorno, pelas suas palavras de carinho e incentivo. Fiquei muito emocionada em ver que as pessoas gostam de verdade das loucuras que saem da minha cabeça kkkkk E eu não me aguento até colocar pra fora (na escrita).
Obrigada mesmo!! Essa Parte 3 eu dedico totalmente a você, inclusive esse final eu só ia colocar no início da parte 4, então sinta-se presenteada!!!



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Pilotei a moto tão rápido até a QC que com certeza infringi muitas leis de trânsito avançando os sinais e excedendo a velocidade. A revelação de que Mia era minha filha me deixou atordoado. Eu precisava confrontar o meu pai por ele nunca ter me procurado para me contar sobre a existência dela.

Eu teria voltado no primeiro momento, eu teria largado todo o meu sonho para poder realizar um muito maior.

Não sabia que queria tanto ser pai até sentir aquela explosão dentro de mim. Era como se uma bomba tivesse acabado de estourar e todos os sentimentos virem junto. Amor, devoção, proteção, cuidado… Tudo junto. Eu já amava desesperadamente aquela pequena e eu a vi apenas duas vezes.

6 anos… E eu perdi tudo!

Perdi sua gestação, o primeiro chute na barriga, a primeira papinha, primeiro dentinho, primeiros passos… Primeiro dia de aula, apresentações na escola… Eu não estava lá.

Se eu tivesse ficado, eu e Felicity teríamos descoberto juntos a gravidez, teríamos nos mudado para Boston e comprado uma casa por lá. Eu teria feito a faculdade e dado o meu melhor para dar tudo de bom para minha filha.

Minha filha.

Eu era pai.

E a mulher da minha vida era a mãe.

Como eu pude deixá-la?

Na época os motivos pareciam tão certos e coerentes. Mas agora só parece um monte de merda. Merda que eu mesmo fiz.

Quando as portas do elevador se abriram eu voei para a sala do meu pai, ignorei os chamados da secretaria e abri a porta em um rompante. Ele analisava algo no computador e tomou um susto com a minha presença.

⁃ Como pode não me contar sabre ela? - gritei

Ele se levantou confuso e franziu o cenho me olhando, me analisou bem. Mas pareceu continuar sem entender, pois disse:

⁃ Faça sentido meu filho, o que aconteceu?

⁃ Mia - falei simplesmente e sua feição mudou

⁃ Felicity te contou? - perguntou respirando fundo e passando a mão no rosto, sinal claro de nervosismo

⁃ Nem precisou - bradei - Acharam que eu não saberia? Bastou passar dois minutos com ela que eu percebi as semelhanças e a idade. Eu tenho uma filha e você nunca me contou - apontei o dedo para ele com raiva - Eu perdi anos da vida dela e você nunca se deu o trabalho de me avisar!

⁃ Eu contei sim - falou

⁃ Pelo amor de Deus, pai - joguei os braços para cima - Nós não nos falamos desde que fui embora até ontem, como…

Ele abaixou a cabeça e respirou fundo, tão fundo que seu peito se inflou. Meu pai estava se controlando para falar algo que ele sabia que eu não ia gostar.

⁃ Na sua segunda luta - me olhou - Lembra que a sua segunda luta no primeiro campeonato profissional foi em Central City? - assenti - Eu fui até lá, Oliver - o olhei surpreso - Felicity estava com três meses de gestação, ela havia tentado falar com você, mas não conseguiu - por impulso, toquei a carta em meu bolso - Então, sem ela saber, fui até você. Assisti toda a sua luta e quando falei com um dos seguranças quem eu era, eles me direcionaram para uma festa particular que você estava dando no hotel. Você lembra? - assenti, eu lembrava que dei a festa, não lembrava o que tinha acontecido nela - Pois é, eu te abordei nessa festa. Você me tratou tão mal, e estava nitidamente drogado. Então eu pensei: “Felicity e o bebê não mereciam esse tipo de pessoa na vida delas” - abaixei a cabeça com vergonha - Você me expulsou de lá, Oliver. Seu nariz estava sujo de cocaína.

⁃ Pai, eu… - queria dizer que eu não fazia mais esse tipo de coisa, que aquela tinha sido a primeira e última vez. Que eu poderia ainda ser irresponsável com meus compromissos, mas eu não era usuário de drogas. Me deixei deslumbrar, mas depois lembrei dos meus princípios. Mas ele não me deixou terminar.

⁃ Eu vejo agora que não lembra, já que disse que não nos falamos desde o dia que foi embora. Mas eu não podia deixar aquele Oliver chegar perto da Felicity. Ela não merece.

⁃ Me desculpa - abaixei a cabeça

⁃ Felicity descobriu a gravidez e mesmo assim não desistiu, ela foi pra faculdade e Donna a ajudou muito. Eu fiz tudo o que eu pude pelas duas, ainda faço. - riu perdido em lembranças - Aquela garotinha é o meu maior orgulho, Thea que me desculpe. Mia vai mandar em tudo isso aqui, ela já manda. - me olhou intensamente - Se pretende assumir sua paternidade, só te peço uma coisa…

⁃ Qualquer coisa, pai

⁃ Não as magoe. Não magoe as minhas garotas - pediu sincero - Felicity e Thea não aguentariam mais uma decepção, e Mia é só uma criança.

O olhar de meu pai sobre mim era cheio de receio e decepção, e o meu sobre ele com certa era cheio de culpa e vergonha. Eu já havia falhado com Mia quando ela ainda nem havia nascido. Minhas decisões ruins me afastaram da única coisa boa que eu havia feito.

Era nítida a devoção que o meu pai sentia pela neta, seus olhos brilhavam toda vez que citava ela. Ele havia acompanhado desde sua gestação até agora, ele a havia protegido quando eu não estava lá para fazê-lo.

E agora ele me pedia para que eu magoasse seu bem mais precioso, que em questão de segundos habita virado o meu também.

⁃ Darei o meu melhor, pai - garanti - Prometo

Ele assentiu e deu a volta na mesa caminhando até mim. Papai me olhou nos olhos e depois me puxou para um abraço, retribui com força.

⁃ Eu confesso que esperei muito tempo por esse momento, meu filho - falou quando se afastou segurando meus ombros, sorri fraco - Eu sempre quis ver minha família completa.

⁃ Me desculpa por tudo, pai

⁃ O que importa é que estamos juntos novamente.

(…)

Depois de conversar um pouco mais com meu pai, ele pediu para que eu desse um tempo para Felicity se acostumar com a ideia de que eu estava aqui e queria ter contato com a Mia.

De início pareceu certo, ele prometeu ser o intermediário dessa situação, já que Felicity parecia estar com tanta raiva que não queria nem me ver. Segundo meu pai, ela disse: “Quem aquele canalha pensa que é para sumir quando quer e agora querer reivindicar minha filha”

Então cá estava eu, três dias depois, sentado no sofá olhando para o nada esperando alguma solução cair do céu.

Thea era outra que não queria olhar na minha cara, e com Roy não era diferente. Esse último havia ficado extremamente puto quando soube que eu queria meu lugar na vida da sobrinha dele.

Bom, nesses dias que eu fiquei enfurnado na mansão, fofoquei bastante com Raisa. Ela me contou que Thea e Roy haviam aberto uma boate, Verdant, e que a mesma ja tinha três filiais pelo mundo, a principal nos Glades, uma em Las Vegas e outra em Moscou. Fiquei surpreso em descobrir que eu já frequentei a filial de Moscou - após um campeonato mundial que havia sido lá - e nem sequer sabia que era da minha irmã. Raisa me contou também que Sara havia ficado noiva de Ray Palmer - que pelas fotos reconheci ser o homem que Felicity estava ao lado no velório de Tommy -, Raisa disse que Felicity apresentou Ray a Sara, e que Ray conheceu Felicity na faculdade. Sara estava resolvendo as últimas questões da morte de Tommy, a fim de tirar o peso das costas da irmã. Por isso não estava perto do noivo.

E três dias preso em casa me renderam muito assunto mesmo com Raisa, soube também que Felicity até tentou ter um relacionamento quando Mia tinha uns 4 anos, mas a menina provou ser minha filha mesmo e fez da vida do cara um inferno, fazendo com que a mãe terminasse o relacionamento e nunca mais tentasse outro. E Raisa contou de John Diggle, um dos meus melhores amigos - eu, ele e Tommy vivíamos grudados - havia entrado para o exército e ainda estava em serviço. Tentou uma dispensa, mas ela não saiu a tempo para o velório. John chegaria para a missa de sétimo dia. Seria mais um para querer dar na minha cara.

Slade não havia dado sinal de vida ainda, isso mostrava que ele tinha tudo sob controle. Mas que iria surtar quando soubesse que eu era pai

⁃ Felicity, nós devemos ir - Thea falou adentrando na sala de estar. Olhei para ela, que estava no celular alheia a minha presença - Eu sei, - suspirou - mas Laurel pediu. Não podemos negar, Tommy ia querer que não a deixássemos sozinha - riu de algo que Felicity disse - Sim!!! - disse animada - Ele ia querer que fizéssemos da vida dela um inferno com nossa presença - então ela virou na minha direção e me olhou tomando um susto - O ar aqui poluiu - me olhou sugestivamente e revirou os olhos com a resposta da amiga - Você tem que parar de sempre defender ele, ele é um babaca. Tchau. - e desligou o celular. Sorri ao ouvir que Felicity me defendia. - Tira esse sorrisinho da cara - acusou - Ela só fala que eu devo aproveitar que você está aqui, não sabemos o dia de amanhã.

⁃ E você não concorda com ela? - perguntei

⁃ Não - falou como se fosse a coisa mais óbvia do planeta - Você não ligou para isso, porque eu deveria?

⁃ Você está certa - concordei me levantando e me aproximando dela

⁃ Eu sei - levantou as sobrancelhas e cruzou os braços

⁃ Eu fui um babaca antes - me aproximei mais dela - Mas eu senti a sua falta, Speedy - revirou os olhos com o apelido - E eu não vou embora

⁃ Eu quero ver até quando - riu sem humor - Quando aquele seu empresário começar a gritar com você no telefone, você vai correndo igual a última vez. Mas você devia ir agora, antes que magoe minha sobrinha - deu as costas e saiu.

Conversar com a minha irmã ia ser mais difícil que eu pensava. Mas tudo que eu queria era um abraço dela.

Eu costumava embalar ela em mim quando as chuvas fortes vinham acompanhadas de trovões e raios. Thea morria de medo e corria para a minha cama. Eu a abraçava e dormíamos. Sentia falta disso, sentia falta de ser seu porto seguro. Mas se eu deixei de ser, a culpa era exclusivamente minha.

(…)

⁃ “O fenômeno dos rings, Oliver Queen, está de férias!” - um repórter dúzia na TV - “Ele encerrou a temporada em grande estilo e foi para uma ilha privada em Aruba” - mostrou fotos do que devia ser eu em uma praia. Cai na gargalhada, como Slade e Shado conseguiam isso? Um sósia perfeito pegando sol ao lado de flamingos.

⁃ Seu empresário é bom - papai entrou na sala se sentando ao meu lado no sofá

⁃ Eu não sei de onde ele tira essas pessoas - apontei para a TV que agora passava um vídeo do suposto eu mergulhando ao lado de uma modelo loira

⁃ Nunca agradeci a ele por ter cuidado tão bem de você - continuou olhando para a TV

⁃ Pai, você não deve nada a ninguém - suspirei desligando o aparelho

⁃ Eu sei que a culpa não foi dele de você ter se afastado, foi unicamente sua - assenti abaixando a cabeça - Mas ele cuido de você, filho - sorriu - Eu via as manchetes e entrevistas. Eu quero poder agradecê-lo.

⁃ Quem sabe um dia - falei e ele assentiu

⁃ Laurel está nos convidando para jantarmos em sua casa - falou me analisando

⁃ Acho melhor não…

⁃ Ela disse que você deveria ir, ela quer que você conheça as crianças - disse - Theo e Tyler são ótimos.

⁃ Tommy queria que eu os conhecesse - admiti - Mas eu nunca tive coragem

⁃ Ele me disse que falava com você uma vez ou outra - sorriu triste - Ele queria que fosse padrinho das crianças, mas você não veio, Ray ficou no lugar.

⁃ Eu faço tudo errado.

⁃ Você apenas tomou decisões ruins, filho, mas ainda dá tempo de consertar - assenti - Vamos nesse jantar - pediu - Todos estarão lá.

⁃ Felicity?

⁃ Concordou em ir caso você mantenha distância dela e da Mia, eu disse que você manteria.

Será que eu conseguiria estar no mesmo ambiente que a minha filha e a mulher que passei a vida inteira amando sem trocar nenhuma palavra com as duas?

Eu sabia a resposta, mas respondi o comentário.

⁃ Eu não o farei.

(…)

Vesti uma blusa e calça jeans preta, um tênis escuro e joguei minha jaqueta de couro pelo ombro. Estava frio naquela noite, era nítido o começo do inverno.

Desci as escadas animado pela expectativa de encontrar Mia e Felicity. Mesmo meu pai tendo me advertido, eu sabia que não ia me controlar. Acho que Robert também sabia.

Que cheguei no hall meu pai me esperava e disse que Thea já havia ido com Roy. Claro que sim, para aqueles dois era tóxico dividir comigo o mesmo cômodo, quem dirá o mesmo carro.

No trajeto para a mansão Merlyn, papai me contou como os pais de Felicity morreram. Depois de um ano em que ela havia assumido a empresa, eles tiraram uma viagem de férias e acabaram sofrendo um acidente de carro na Bulgária, Noah morreu na hora e Donna ficou mal no hospital por uns dias, até que teve uma parada cardíaca e não resistiu. Mia tinha 3 anos e Felicity ficou sozinha com uma empresa é uma filha. Mas ela tinha Roy - que mesmo sofrendo teve forças para amparar a irmã -, Thea, papai, Tommy, Laurel, Sara, Raisa…

Apesar de saber que ela teve toda uma rede de apoio, meu coração se apertou. Se apertou porque ela não tinha a mim. Era eu quem deveria estar ao lado dela, cuidando dela e de Mia, essa responsabilidade não era dos nossos amigos.

Era nítido a culpa em minha feição, e meu pai não fez questão de tirar de mim. Eu merecia.

Quando chegamos ao nosso destino, descemos da BMW dele e fomos até a porta de entrada. Uma empregada abriu e fomos direcionados a sala de estar. Thea e Roy estavam sentados no chão juntos com as crianças. Os gêmeos e Mia brincavam de montar blocos e minha irmã e cunhado apenas os olhavam abobalhados.

Felicity estava ao lado da maior janela da sala, com um copo de vindo na mão olhando o breu da noite. Ela estava linda com um vestido branco de manga longa que chegava a se fundir com a sua pele, ele parava na metade de suas coxas deixando à mostra o torneado delas - por um momento me peguei pensando em como seria tocar sua pele novamente… Levantar devagar aquele vestido, passando a língua em toda a extensão da sua… Aquela mulher estava ainda mais perfeita que antes.

⁃ Tá escorrendo uma baba, meu filho - meu pai falou alto passando por mim e chamando a atenção de todos para minha pessoa que ainda encarava Felicity como um predador. Quis enfiar minha cara em qualquer buraco.

Vi meu pai ignorar todos os outros e ir até Mia, que se jogou no colo do avô como se fosse a coisa mais gostosa do mundo. E talvez, para ela, fosse mesmo.

Continuei parado no lugar igual um retardado. Reparei Rebecca sentada no sofá ao lado de Malcon e não vi Laurel.

Olhei novamente para Felicity que me encarava como se eu fosse uma das pragas o Egito. Ótimo!

⁃ Boa noite! - falei e todos responderam em uníssono, menos Felicity. Que agora andava em direção ao meu pai para logo depois abraçá-lo.

Rebecca e Malcon caminharam na minha direção com sorrisos ternos, era nítido o sofrimento em suas feições. Tommy era amado demais por todos, era uma pessoa de luz. Com certeza estava fazendo falta demais, ainda mais com quem convivia com ele todos os dias. Eu já fui uma dessas pessoas, que viviam com ele todos os dias, por puro orgulho deixei de ser.

⁃ Eu sinto muito - os abracei

⁃ Sabemos que sim, querido - Rebecca sorriu fraquinho

⁃ Tommy ia gostar de saber que foi o motivo pelo qual apareceu aqui, Oliver - Malcon disse abraçando a esposa

⁃ Ele sabe - a voz de Laurel tomou conta do recinto, ela estava mais magra do que eu me lembrava e seu rosto estava tão abatido. Sua feição de sofrimento estava pior que a dos sogros. - É bom te ver de novo, Ollie - assenti segurando um choro e a abracei forte.

⁃ Eu sinto muito mesmo - sussurrei e ela assentiu

Eu sentia a energia de Tommy naquela sala, como se ele estivesse ali presente. Com as pessoas que ele mais amava cuidando de seus bens mais preciosos.

Ao longe percebi que papai estava emocionado, assim como os pais do meu falecido amigo. Roy abraçava a irmã que chorava, e Thea tentava distrair as crianças. Mas dava para perceber que Mia não era de se deixar enganar, ela logo percebeu o estado da mãe e correu para abraçá-la. Sem pensar duas vezes se soltou de Roy e tomou a filha em seus braços saindo da sala.

Laurel me apresentou as crianças, Tyler era extremamente tímido e Theo era “dado” demais, nitidamente puxou ao pai. Eles me mostraram seus brinquedos e disseram que o papai deles quem havia comprado.

Por mais que eu estivesse amando aquele momento, conhecendo os herdeiros de Tommy, minha mente sempre voava para onde Felicity deveria estar com Mia. Eu queria saber se ela já havia parado de chorar, de se culpar. Queria saber se ela já havia contado para minha filha que ela tinha um pai.

Sem pensar muito me ergui do chão e ameacei ir por onde elas tinham saído. Mas uma mão me impediu.

⁃ Eu não quero ser a pessoa que arruma briga - Roy começou - Mas eu não vou pensar duas vezes em começar uma se você for até elas - ameaçou

⁃ Eu tenho esse direito, Roy - falei calmo

⁃ Direito? - riu em puro deboche - Você desapareceu e volta quando bem entende falando de direito?

⁃ Roy… - Laurel repreendeu

⁃ Laurel, - ele disse - Sinto muito por essa cena - apontou para mim - Mas você sabe o que ele fez com ela - apontou para o caminho que Felicity tomou - Ela quase entrou em depressão, ela não comia, ela não saia da cama. Ele fez a minha irmã sofrer tanto que eu temi o pior.

⁃ Eu sei, Roy - Laurel suspirou - Mas agora não é hora - olhou para os meninos que nos olhavam assustados

⁃ Desculpa - disse sincero para a amiga e me olhou - Deixa elas em paz - e foi em direção por onde a irmã saiu

Respirei fundo e disse:

⁃ Com licença, irei ao banheiro - e segui na direção oposta a que Roy tomou.

Fui em direção a porta que eu conhecia muito bem, ficava embaixo da escada. Me tranquei lá e não sei quanto tempo fiquei.

As palavras de Roy ainda rodeavam a minha mente. E minha cabeça gritava com imagens de Felicity chorando, na cama, sem comer… E o pior de tudo: Grávida.

Entre todas as decisões que eu tomei na vida, eu tinha que ter feito a pior delas… Abandonar a mulher da minha vida. Porque não a levei junto comigo? Porque deixei as promessas de fama subirem a cabeça?

O motivo que me levou a isso parecia tão besta agora. A decisão de um adolescente imaturo, que pensou apenas no que sentiria se perdesse alguém que amava. Mas em nenhum momento pensei em como ela se sentiria com isso.

Felicity me amou demais e eu entendia todo o seu rancor. Eu entendia seu medo de eu magoasse nossa filha. Mas Mia era minha também e a necessidade de tê-la perto de mim só aumentava a cada minuto.

⁃ Querido - escutei Rebecca chamando e dando leves batidas na porta - O jantar será servido agora, estávamos esperando Sara e ela chegou.

⁃ Já estou indo - garanti

Passei uma água no rosto e olhei meu reflexo no espelho com certo desdém. Eu não estava me reconhecendo, a fisionomia era a mesa, mas os sentimentos… Esses estavam completamente embaralhados.

Tomei uma grande quantidade de ar e sai daquele banheiro. Caminhei com calma até a sala de jantar e todos já estavam lá, inclusive as crianças.

A mesa tinha catorze lugares, Malcon estava na ponta da mesa, Rebecca ao seu lado direito. E a seu lado esquerdo estava Tyler, na cadeira que Tommy sempre sentava, depois vinha Laurel e logo depois Theo - ambas as crianças em assentos infantis. Sara paparicava o sobrinho ao lado de seu noivo que me encarava como se eu tivesse duas cabeças. Papai estava perto de Rebecca, logo vinham Thea, Roy, Felicity e Mia. Não resisti e me sentei ao lado dela, que sobrou um lindo sorriso infantil ao perceber minha intenção.

Felicity respirou fundo com a minha aproximação e eu a olhei intensamente. Queria que ela soubesse que eu estava ali para exigir nada dela, ou pressionar nada. Queria que ela entendesse esse meu olhar.

⁃ Sara - cumprimentei - Ray

⁃ Oi, Ollie - a outra leite respondeu

⁃ Olá - Ray Palmer falou sem jeito, ele já deve ter escutado falar muito mau de mim

⁃ Achei que seus pais viriam - olhei para Laurel e ela sorriu fraco

⁃ Papai está de plantão na delegacia e minha mãe teve que voltar para Central City depois do… Você sabe - suspirou triste e eu assenti

Os pais das Lance haviam se separado quando éramos adolescentes, acho que uns 14 anos. As meninas não quiseram se mudar com a mãe para Central City. Então Quentin Lance ficou orgulhoso demais de suas meninas que preferiam ficar com ele. Laurel virou advogada e Sara uma policial como o pai.

O jantar foi servido e eu tentava a todo custo não encarar o par de olhos azuis que cintilavam não minha direção. Mia não havia parado de me encarar desde que eu tinha me sentado. Não ousei trocar nenhuma palavra com ela, não queria aborrecer a mãe.

O ceviche de entrada foi servido para os adultos e as crianças receberam um pãozinho amanteigado. Quando eu estava prestes a terminar de mastigar meu último pedaço de camarão, a voz infantil me chamou.

⁃ Oi - Mia disse quando percebeu que eu não falaria com ela

Meus olhos desceu para ela e eu me permiti encara-lá mais atentamente. Estava linda com um vestido branco e jaqueta rosa claro, na sua cabeça tinha um arco em formato de orelhas de gato também rosa.

⁃ Oi - falei sorriso para ela - Você está muito bonita

Eu era cientes dos olhares que recebíamos, mas não consegui me importar com isso. Tudo que importava estava ali na minha frente me encarando em expectativa.

⁃ Obrigada - mordeu o pão - Eu escolhi esse vestido branco porque a minha mãe também está usando um vestido branco - tagarelou e eu ri - Então se você achou o meu vestido bonito, também achou o da minha mãe, não é?

⁃ Mia - Felicity repreendeu e escutei risadas vindas das pessoas ao nosso redor, mas não ousei olhar, não ousei tirar os olhos das duas loiras ao meu lado.

⁃ Sua mãe está tão linda quanto você, pequena - falei e recebi um semicerrar de olhos de Felicity e um sorriso satisfeito de Mia

⁃ Sabe, é… Qual o seu nome mesmo? - perguntou franzindo o cenho

⁃ Oliver

⁃ Oliver de que?

⁃ Meu amor, - Felicity interveio - termine seus pães para o prato principal, sim?

⁃ Eu só estou querendo conhecer o amigo de todos vocês, mamãe - falou como se fosse o óbvio e mais uma vez todos riram, inclusive Felicity que mesmo nervosa com nossa interação, não conseguiu esconder a risada com a esperteza da filha.

⁃ Meu nome é Oliver Queen - disse e a garotinha me olhou surpresa

⁃ Queen? - agora foi a vez de Mia me encarar como se eu fosse um alienígena

⁃ Sim - falei

⁃ Vovô! - chamou meu pai

⁃ Oi, amorzinho

⁃ Não sabia que existiam mais de nós por aí

⁃ Mia, por favor, coma, depois você conversa mais com o Oliver - Felicity me olhou em súplica dessa vez.

⁃ Mas, mamãe…

⁃ Sua mãe tem razão, está na hora de comer - apontei para seu prato praticamente intacto - Depois eu prometo que podemos conversar mais

⁃ Você promete? - perguntou com os olhos brilhando

⁃ Prometo - lhe assegurei

(…)

⁃ Robert, - Malcon chamou papai - Rebecca e eu queremos lhe mostrar uma nova fusão que Tommy estava negociando, queremos sua opinião - e assim os três sumiram em direção ao escritório.

Após o jantar voltamos para a sala de estar, Vanessa, governanta dos Merlyn, nos serviu um café e biscoitos para as crianças. Felicity e os outros haviam embarcado em uma conversa sobre algo que não prestei atenção, e meu pai e os pais de Tommy começaram a falar sobre negócios. E eu? Bom. Eu fiquei sentado na poltrona encarando cada movimento que minha filha dava. Prestando atenção em seus gestos, caretas, risadas… Obsercei também os gêmeos, eles eram tão parecidos com Tommy que assustava.

⁃ Vovó só quer saber de trabalhos - Tyler falou olhando para Mia

⁃ O meu também - ela deu de ombros como se fosse algo normal - Um dia vamos herdar esses trabalhos - disse com orgulho e eu ri

⁃ O que é herdar? - Theo franziu o cenho

⁃ Pergunta pra sua mãe - a menina respondeu apontando para Laurel e os pequenos foram correndo até ela. Mia observou o caminho feito pelos meninos e depois veio saltitante até mim. Ela me encarou como se me estudasse e por fim disse: - Posso sentar aí? - apontou para o meu lado da poltrona de dois lugares

⁃ Claro que sim - sorri. Mia tinha esse poder sobre mim, me fazer sorrir a todo tempo.

⁃ Posso te perguntar uma coisa? - franziu o cenho e eu assenti - Por que seu nome é igual o meu?

⁃ Mas nossos nomes não são iguais, pequena. - garanti

⁃ São sim - disse como se fosse óbvio - Queen. - prendi minha respiração por um tempo, na verdade eu me senti sufocado. Ela tinha o meu sobrenome, se ela tinha o meu sobrenome, tinha também o meu nome em sua certidão de nascimento. Meu pai registrou Mia como minha e nem fez questão de me obrigar a saber sobre a menina. Eu tinha esse direito. De participar da vida dela. Eu teria largado tudo por aqueles olhos azuis vibrantes iguais os da mãe dela. - Você é filho do meu avô?

⁃ Querida, por que não vai chamar o seu avô pra tia Thea? - minha irmã interferiu quando viu que eu não falei nada

Mia fez cara feia, mas fez o a tia pediu. Saiu saltitando por onde o avô tinha ido. Poucos segundos depois os gêmeos foram correndo atrás dela.

Por impulso eu levantei e fui até Felicity lhe segurando pelo braço, levemente, é claro. Mas meu ato a assustou, que me olhou de olhos arregalados.

Ao encarar aquela imensidão azul, eu perdi totalmente a fala. Era tão parecido com os olhos da filha, olhos aquele que me quebravam, me desarmavam.

⁃ Me solta, Oliver - ela falou puxando o braço

⁃ Você ficou maluco? - Roy bradou se aproximando

⁃ Não se mete - falei ríspido para ele que cresceu na minha direção

⁃ Quem você pensa que é? - ele quase gritou

⁃ Eu sou o pai dela - gritei de volta ao mesmo tempo em que Felicity falava:

⁃ Já chega!

⁃ Não, Felicity - Roy rosnou - Ele não tem direito algum…

⁃ Chega! - dessa vez Laurel se exaltou e nos calamos a olhando - Eu sei que o clima não tem estado bom, mas tudo que eu não preciso é isso - seus olhos encheram de lágrimas - Meu marido morreu - chorou e Sara correu para abraçá-la - Ele morreu - era agonizante vê-la naquele estado, era agonizante pensar que Tommy não estava mais entre nós - Para de discutir com seu irmão por um erro do passado - olhou para Thea que se encolheu - Ele está aqui, e vivo - olhou para Felicity - Eu sei seus motivos, mas não deixe que Mia cresça sem o pai dela, ela tem um pai e ele está aqui e vivo - se soltou da irmã e limpou suas lágrimas - Meus filhos não tem mais pai, ele morreu. Não foi uma escolha, isso foi tirado deles. Não tire isso dela, Lissy.

⁃ Laurel, eu sinto muito - Felicity falou chorando também.

Eu sabia pelo que ela queria dizer que sentia muito. Era nítido a culpa que ela sentia pelos meninos não estarem com o pai.

⁃ Não - Laurel a abraçou forte - A culpa não é sua, chega. Tommy não ia querer que você sofresse com isso - se separou da amiga e a olhou nos olhos - Ele fez o que tinha que ser feito. Eu me orgulho dele, deveria se orgulhar também - Felicity assentiu limpando as lágrimas. Eu quis abraçá-la naquele momento. Acalenta-lá, mostrar que estava tudo bem e que ela não tinha culpa de nada. Existe a hora de viver e a hora de morrer, e a dela ainda não havia chegado. - Eu queria esse momento - Laurel continuou e olhou para cada um de nós - Está falando John e Lyla, mas nós somos os únicos, que daqui a um tempo se lembrará de Tommy. - chorou novamente - No futuro, apenas a gente se lembrará da pessoa incrível que meu marido foi e nós não podemos nos odiar.

Eu, Felicity, Thea, Roy, Sara e Ray ficamos sem palavras para o que Laurel havia acabado de dizer. Não tínhamos palavras porque sabíamos que ela tinha razão. A vida era um sopro e amanhã tudo podia acabar.

Eu não sei o que Mia pensa sobre sua figura paterna. Mas eu estava disposto a ser presente em sua vida.

(…)

Depois das falas de Laurel as meninas foram com ela para o quarto. Ela estava bem agitada pela falta do marido. Laurel e Tommy sempre foram unha carne. Se estava difícil para mim acostumar com a ausência do meu amigo, imagine para sua esposa.

Felicity pediu que Roy levasse Mia para casa, alegando que só iria embora quando a amiga estivesse mais calma. Assim ele o fez e Thea ficou para ir embora junto comigo e com o papai.

Robert ainda estava preso no escritório com os Merlyn, e eu, sem a companhia das crianças, me senti deslocado.

Ray Palmer havia ficado na sala de estar comigo após Roy ir embora com Mia - essa última correu até mim e me deu um forte abraço de despedida que deixou o meu coração extremamente quente e feliz -, Ray hora ou outra me encarava feio. Era nítido que ele não gostava de mim. Então avisei que ia dar uma volta no jardim e sai.

O jardim da mansão Merlyn continuava o mesmo desde que o havia visto pela última vez. Cada canteiro milimetricamente pensado, as moitas em formatos de pinho, a casinha na árvore e o balanço de dois lugares embaixo dela. Decidi me sentar, e deixei a nostalgia da infância vir com tudo. Aquele balanço costumava ser a minha nave espacial e a de Tommy, antes tinha apenas um lugar, o outro fora colocado justamente para que eu brincasse com ele. E lá em casa tinha um igual, de dois lugares. A casa na árvore costumava ser nossa base espacial. Só queria poder voltar naquele tempo por um momento, e abraçar Tommy novamente. Pedir perdão. Doía saber que nunca mais podia pedir perdão a ele.

⁃ Ele sabe, Oliver, ele sempre soube - Felicity apareceu e eu me assustei - Me desculpe pelo susto.

⁃ Tudo bem - falei - Quem sempre soube? - perguntei sem entender

⁃ Tommy - falou se sentando no outro balanço - Eu te conheço, ou melhor, achava que conhecia - se balançou - Pelo seu olhar, você deve estar se culpando por não ter vindo antes, por não ter visto ele uma última vez.

⁃ Então não é só achismo - me balancei também e ela parou me olhando confusa - Que você acha que me conhece, - expliquei - Não é achismo, você está certa. - ela assentiu e continuou me olhando

Antes de voltar pra cá, as vezes, eu me pegava pensando em como seria se eu encontrasse Felicity de novo. Se brigaríamos, se seríamos atraídos um pelo outro como antigamente… Nada aconteceu como imaginei. Era um território tão desconhecido que me deixava receoso.

⁃ Eu também acho que Laurel está certa - falou depois de um tempo em silêncio - A Mia tem o direito de conhecer o pai dela - parei bruscamente o balanço e a olhei - Então se você ainda quiser…

⁃ É claro que eu quero - falei em um rompante me levantando - Mas é claro que sim

Ela levantou também e eu dei um passo involuntário em sua direção.

⁃ Ela ainda não sabe sobre você - disse - Direi amanhã, tudo bem?

⁃ E se ela não gostar? - perguntei um pouco aflito e Felicity riu

Felicity riu mesmo, uma risada gostava que me fez lembrar de anos atrás quando ela dava esse tipo de risada apenas quando estava comigo. Anos que eu não a escutava e nem sabia que estava com tava saudade assim que um riso.

⁃ Ela vai te amar, Oliver - meneou a cabeça - Ela já ama, só fala em você desde que te viu na capela. Foi embora hoje indignada por saber que você tem que o mesmo sobrenome que ela, e que ela não tirou isso a limpo - tagarelou - Mas eu sei que vou não gostou de saber que ela é registrada como uma Queen, saiba que isso foi ideia do seu pai, eu nem queria e …

⁃ Felicity…

⁃ Thea também insistiu e…

⁃ F e l i c i t y - ela parou e me olhou corando

⁃ Desculpa - riu de novo e eu a acompanhei

⁃ Eu gosto - falei e ela corou ainda mais desviando os olhos de mim

Eu ia dizer que não me importava por Mia ter meu sobrenome, não havia porque se importar. Ela era mesmo uma Queen, minha pequena Queen. E que eu não via a hora de tê-la me chamando de papai para todos os cantos. Mas fui interrompido por papai me chamando para ir embora.

⁃ Já terminei, filho - a voz de Robert ecoou pelo jardim - Ah, Felicity - meu pai abriu um sorriso cheio de segundas intenções quando a avistou perto de mim

⁃ Robert - ela fez careta e ele riu ainda mais

⁃ Ao menos não caíram nos tapas.

⁃ Seu filho é campeão mundial, eu não teria chance. - ela falou apontando para mim

⁃ Não teria mesmo - garanti a olhando e ela corou

Ótimo! Se ela corou é porque sentia algum efeito sobre minhas palavras. Certo? Felicity não estava tão imune a mim assim.

⁃ Querida, Thea disse que Roy foi com a minha princesinha. Você quer uma carona?

⁃ Não precisa, Robert, eu pego um Uber - falou balançando o celular que eu nem reparei que ela segurava

⁃ Essa hora? - fiz cara feia e ela ergueu a sobrancelha

⁃ Oliver tem razão - obrigado, pai - É perigoso, eu não vou deixar a mãe da minha neta andar sozinha essa hora por aí dentro do carro de um desconhecido.

⁃ Meu pai tem razão - cruzei os braços

⁃ Eu sei direitinho quem a Mia puxou - olhou para mim e depois para o meu pai e saiu marchando e bufando contrariada.

Eu e meu pai trocamos um “soquinho” em cumplicidade e caminhamos por onde ela saiu reclamando.

(…)

O caminho até a casa da Felicity não foi silencioso, ela e Thea tagarelaram o caminho inteiro sobre o aniversário de 7 anos de Mia que seria em quatro meses. A pequena queria o tema da Disney. Então a mãe achava melhor todos viajarem com ela para a Disney, já a tia queria trazer a Disney para a mansão Queen. Meu pai foi o caminho inteiro rindo, como se aquele tipo de discussão fosse normal, e eu me senti um pouco deslocado e triste. Triste pensando em todas as outras discussões sobre o aniversário da minha filha eu não presenciei. 6. 6 aniversários sem nem saber de sua existência.

Me surpreendi quando o carro parou em frente à um prédio perto do centro. Os pais de Felicity tinha uma pequena mansão no mesmo bairro que a minha casa e a de Tommy.

⁃ Achei que morava na casa dos seus pais. - a curiosidade foi mais forte

⁃ Está fechada, não consegui morar lá depois que meus pais morreram - Felicity falou abrindo a porta do carro e descendo - Só eu e Mia em uma casa tão grande, não era pra mim… Então comprei esse apartamento que é perto da escola da Mia e da Smoak Tech - deu de ombros

⁃ Você não precisa dar explicações pra ele - Thea bufou do banco de trás

⁃ Thea, pare de agir como se tivesse 5 anos - Felicity revirou os olhos e meu pai riu - Boa noite, gente - ele se despediu e se demorou um pouco me encarando, retribui e quando lhe lancei um sorriso ela meneou com a cabeça e saiu.

Papai esperou ela entrar no prédio para dar a partida no carro.

⁃ Ela já está se encantando de novo - Thea bufou do banco de trás e eu me agitei por dentro.

Eu sabia do que ela estava falando.

(…)

POV especial Felicity

Fui dormir naquela noite com as palavras de Laurel em minha cabeça. Ela estava estritamente certa. A vida era curta demais para que eu privasse de Mia a convivência com o pai. E ele estava lá, e estava vivo. Laurel tinha razão.

Os pequenos Tyler e Theo não tinha mais seu pai com eles, eu e Roy não tínhamos mais nosso pai conosco. Eu não podia deixar minha filha crescer sem saber de Oliver, apesar de tudo que ele tinha me feito. Eu não podia.

Descobri que estava grávida de Mia três semanas depois do que seria nosso casamento. Naquela época eu não tinha forças pra levantar da minha cama, eu não tinha vontade de sair de casa. Eu só queria deixar de existir, mas saber que eu carregava uma vida dentro de mim, mudou tudo. Eu tirei forças do amor que eu passei a sentir por aquele bebê e reagi. Eu ainda continuei chorando todas as noites durante a cinco meses de gestação, mas durante o dia eu lutava para que eu pudesse ser a melhor mãe possível.

Eu fui pra faculdade, me formei e se não fosse pelos meus pais, Roy e pelos Queen me ajudando com uma bebê recém nascida, eu não sei o que seria de mim hoje.

Depois que meus pais morreram eu me vi perdida com uma criança para cuidar e uma empresa para administrar, mas, mas uma vez Roy e os Queen mostraram que sempre estavam comigo. E além deles eu tinha meus amigos… John, Lyla, Sara, Ray, Laurel e Tommy…

Ah, o Tommy…

Era tão difícil e doloroso pensar que ele havia nos deixado para sempre, que eu nunca mais ouviria seus concelhos, suas piadas e provocações. Pensar que Mia nunca chegaria a conhecer 100% o padrinho que ela tanto amava, e que Theo e Tyler não teriam que figura paterna ao seu lado, Tommy era um pai maravilhoso.

A culpa ainda me corroía. Era para eu estar morta, e pensar nisso me assusta. O que seria da minha filha se eu tivesse morrido no lugar do meu amigo? Eu tinha sido a escolha do assaltante para ser refém, porém Tommy tinha que se temer, tinha que querer ser o herói e praticamente implorar pra trocar de lugar comigo.

“Ela é uma ninguém” - ele falou para o assaltante - “Eu valho muito, sou Thomas Merlyn, CEO da Merlyn Global, eu valho mais”

Isso foi o suficiente para ele trocar eu por Tommy, eu não devia ter deixado. Eu devia ter falado quem eu era, CEO de onde e ex-noiva de um Queen, devia ter falado que eu valia muito também - em questão de dinheiro. Mas não, eu me calei e rezei para que aquilo acabasse logo. E Tommy foi tentar desarmar o filho da puta, acabou levando um tiro em cheio e fatal. Se eu tivesse ficado como refém, eu nunca teria reagido. Talvez Tommy ainda estivesse vivo.

Não teríamos como saber.

Mas aquele “e se” me corroía.

Não ter Tommy conosco me corroía.

Ter Oliver de voltar de corroía.

Eu me odiava por reagir tanto a ele, odiava por não conseguir me controlar e querer voar em seus braços, agora mais musculosos que antes, odiava por ainda sentir algo além de ódio. Eu devia odiar ele, e não a mim. Por que era tão difícil?

Ele é a personificação de tudo que eu sofri a anos atrás.

E agora cá estava eu, procurando palavras para contar pra minha filha que o pai pelo qual ela nunca perguntou, estava aqui.

(…)

Sai da empresa na hora do almoço e deixei Dinah avisada que eu não voltaria na parte da tarde. Eu tiraria esse período para conversar com Mia e ajudá-la em seja qual fosse a sua reação.

Eu não queria que ela pensasse que havia sido rejeitada, afinal, Oliver nem sabia de sua existência para rejeitá-la.

Estacionei na porta da escola do meu anjinho e sai do carro. Cumprimentei duas mães que eu conhecia e esperei minha filha aparecer.

⁃ Mamãe!

Mia veio em um rompante e se jogou em meus braços.

⁃ Meu amor! - enchei sua bochecha se beijos

⁃ Para com isso, mãe - se afastou - As pessoa vão ver.

⁃ E qual o problema? - perguntei sem entender

⁃ Ah, mamãe - resmungou e saiu andando - Meus amigos vai ver.

Ótimo! Eu estava criando um monstro!

Levei Mia para o nosso restaurante favorito de toda Starling City, era de especialidade italiana e tinha espaço com brinquedos e monitores. Ela amava, apesar de eu não confiar muito em deixar desconhecidos cuidando dela, frentavamos tanto aquele lugar que eles até a conheciam.

⁃ Eu posso brincar depois de comer? - perguntou e depois encheu a boca de lasanha de brócolis e queijo - Isso tá tão bom.

⁃ Está, não é? - sorri e ela assentiu

Havíamos pedido duas lasanhas de brócolis com queijo - uma pra cada - e uma porção de batata frita que Mia era apaixonada.

⁃ Mas, eu vou poder brincar?

⁃ Primerio a mamãe queira conversar com você - falei e ela me olhou suspeita

⁃ Eu não fiz nada, mamãe - se defendeu e eu ri

⁃ Eu sei, anjinho - acariciei seus cabelos - É sobre o seu pai

Ela me olhou de cenho franzido - feição essa que a deixava a cada do pai dela - e inclinou a cabeça.

⁃ Eu pensei que você nunca ia querer falar sobre ele - disse e eu fiquei sem ar com a sua esperteza

Como uma criança de seis anos - quase sete - podia ser tão perceptiva com os acontecimentos ao seu redor?

⁃ Eu não quero - fui sincera - Mas não é justo com você - olhei bem para ela, queria que ela entendesse - Você tem o direito de conhecer o seu pai, mas só se você quiser, meu amor, você não é obrigada - uma parte de mim queria que ela dissesse “eu não quero” - Porque se você não quiser, está tudo bem. Tudo vai continuar como é.

⁃ Eu não sei, mãe - encheu a boca de lasanha de novo, mastigou e engoliu - O meu pai parece ser bem legal. - a olhei boquiaberta. - O filho do meu avô, o Oliver. - continuei a encarando igual uma idiota - Eu percebi. Ele parece comigo e pra ser meu pai tem que ser filho do meu avô, e ele tem o nome Queen. E está nos porta retratos, mamãe. Eu percebi, você entende, não é ?

⁃ É… - eu ainda estava sem palavras - Como? - suspirei - Tudo bem - não surta, Felicity, não surta! - Sim - afirmei - Nos conhecemos quando éramos muito jovens, muito mesmo - ela assentiu - Mas o importante é que você saiba que ele não te abandonou. Tá bom? - seguei sua mãozinha desejando ter o poder de lhe guardar em um potinho - Ele nem sabia que eu estava grávida quando foi embora.

⁃ É - ela disse - Ele parecia bem surpreso em me ver. Devíamos convidar ele para jantar, talvez ajude ele com essa novidade.

⁃ Mia… Você tem quantos anos? 15? - perguntei abismada e ela riu - Você tem certeza?

⁃ Sim, mamãe - e comeu mais lasanha

⁃ Você me surpreende, sabia? - ela riu orgulhosa de si mesma - Você está bem com toda essa informação, anjinho?

⁃ Estou - disse e me abraçou - Posso ir brincar agora? - assenti e ela foi

Eu tive a sorte grande em ter essa menina como filha. Por mais que as vezes ela pareça uma adulta mais madura que eu. Enquando eu surtava para contar que Oliver era seu pai, ela já estava com as informações prontas apenas esperando uma confirmação.

Mia era literalmente sobrinha de Thea.

(…)

POV Oliver

Naquela manhã eu acordei cedo, cedo demais. Cheguei a conclusão que eu precisava treinar, se não, eu ia sair da base de peso da minha categoria com tanta coisa que Raisa me dava para comer.

Preparei um pré-treino na cozinha e fui para a academia que tinha no subsolo da mansão, ao lado da garagem. Ela estava mais moderna, com certeza Roy usava. Subi na esteira para fazer a minha cardio, conectei meu celular no bluetooth da mesma e comecei meu exercício. Não sei quanto tempo fiquei perdido na batida de Red Hot Chili Peppers quando senti meu celular tocando. Olhei no visor da esteira, Slade.

⁃ Bom dia - atendi

⁃ Acordado essa hora, garoto? - brincou - Starling City está te fazendo bem.

⁃ Muito engraçado - falei com a voz ofegante sem parar a corrida - O que foi?

⁃ Vazou uma foto sua entacionando sua moto em frente à uma empresa - suspirou - Smoak Tech. Você não vê suas redes sociais?

⁃ Minhas férias em Aruba deixa que eu olhe - fiz careta - Invente uma história, Slade. Eu não quero esses sanguessugas em cima dessas pessoas, já basta a atenção que elas já chamam.

⁃ Shado quer que você tire fotos na piscina e poste essas fotos com a localização de um resort que te mandarei por mensagem, esse resort já tem orientações estritas de repostar e dizer que é uma honra te receber por lá.

⁃ Como vocês conseguem essas coisas? - ri

⁃ Nunca duvide do poder da minha esposa, meu amigo.

Shado e Slade faziam um dupla e tanto. Ela não era apenas a minha assessora, mas eu era quem dava mais trabalho pra ela com toda certeza.

⁃ Mas eu não vou ficar preso em casa - assegurei

⁃ O que vai te fazer ir na rua e ficar exposto, Queen? - perguntou sem paciência

⁃ Eu tenho uma filha - falei por sim e escutei ele se engasgar. Desliguei a estreita, desci dela e colocou o telefone na orelha - Slade?

⁃ É de alguma fã? Oliver podemos pedir um teste de DND, não confirme nada antes de fazer um teste de DNA nesse bebê - surtou

⁃ Slade! - chamei - Não é de uma fã, Felicity com toda certeza não é minha fã - ri sem humor

⁃ Felicity? A sua ex-noiva?

⁃ Sim - suspirei - Cheguei aqui e dei de cara com uma criança de seis anos. Eu perdi seis anos da vida da minha filha, Slade.

Isso era o que mais me devastava, que eu não estive com Mia em todos os seus momentos. Desde a hora de dormir até aniversários. E eu sabia que ninguém tinha culpa nisso, além de mim. Era o que tornava tudo mais frustrante.

⁃ Garoto… - ficou em silêncio por uns segundos, achei que a ligação tinha caído

⁃ Slade, você ainda tá aí?

⁃ Tô, garoto, eu tô - fez silêncio - Só que… Uau! Oliver Queen pai

⁃ Acha que eu vou ser bom isso? - perguntei sincero, Slade era um pai excepcional, queria conseguir ser metade do que ele era.

⁃ Não, não, não vai não - falou, me desesperei por um momento - Acho que vai ser um pai ótimo!

⁃ Obrigado!

⁃ Sempre que precisar, garoto - dava pra sentir a animação em sua voz - Estou doido para conhecer a pequena Queen.

⁃ Ela é incrível - falei abobado

⁃ Com certeza é - nos despedimos e desligamos

(…)

Estava igual um idiota tirando selfies na beira da piscina como Slade havia orientado quando meu celular começou a vibrar com mensagens chegando.

N° Desconhecido: Mia sabe. Ela está te chamando para jantar essa noite. Surpreenda ela.

Apenas uma pessoa me mandaria esse tipo de mensagem… Felicity.

Todo o meu interior se agitou com aquela mensagem. Mia sabia. Sabia que eu era seu pai, sabia que eu não havia a abandonado… E melhor ainda, ela não havia me rejeitado. Mia queria me ver, queria me encontrar como seu pai e não apenas como amigo da sua mãe ou algo do tipo.

Corri para dentro de casa querendo contar a boa nova para a Raisa. Queria que ela me contasse mais sobre os gostos de Mia. Mas ao virar o corredor para a cozinha, dou um encontrão com Thea que resmunga.

⁃ Aí, Ollie - acaricia o ombro que havia batido em meu braço. - Quer dizer… Oliver.

⁃ Tudo bem, Speedy, pode me chamar de Ollie quando ninguém estiver olhando, vai ser nosso segredo.

⁃ Eu… Eu… - ficou vermelha, não sei se de raiva ou se ficou encabulada

⁃ Missão de paz - levantei minhas mãos em rendição - Queria a sua ajuda para algo, ia pedir a Raisa, mas acho que você é perfeita para essa tarefa

⁃ O que você quer, Oliver? - cruzou os braços - Eu já deixei bem claro que não quero contato com você e…

⁃ Mia sabe que sou o pai dela - cortei a deixando em choque de olhos arregalados - E Mia me chamou para jantar e eu queria levar um presente para ela.

Minha irmã largou sua cara turrona e me olhou com brilho nos olhos quando entendeu onde eu queira chegar. Thea sempre fora assim, amava compras e dar presentes aos outros. Ela sempre dava os melhores e mais exagerados presentes para todos. Eu sabia que estava falando com a pessoa certa.

Thea descruzou os braços e colocou as duas mãos na cintura.

⁃ Você quer que eu te ajude com um presente pra Miazinha? - perguntou

⁃ Sim - respondi - Sei que não sou a sua pessoa preferida no mundo - ela fez careta com a minha dedução - Mas me ajude a surpreender ela. Sei lá! Ela deve ter tudo, mas tem algo que ela queira nesse exato momento e ainda não tem?

⁃ Ollie - ela colocou uma mão em meu ombro - Tudo que ela mais queria ela acabou de ganhar - me olhou nos olhos - Você. Um pai. Apenas não a decepcione, por favor - deu pra ver um brilho diferente em seus olhos, ela sabia como era ser decepcionada por mim. - Ela nunca demonstrou para a mãe, mas sempre me perguntava porque o pai não era presente, eu sempre desconversava - sorriu fraco com a lembrança - Mia não é burra, ela sabia que eu era irmã do pai dela, mesmo ninguém contando.

⁃ Thea, - segurei sua mão que estava em meu ombro - Eu não vou magoar ela - assegurei - E eu prometo que nunca mais vou te decepcionar, nunca mais vou te abandonar - a puxei para os meus braços e a senti petrificar quando a abracei - Senti falta de te abraçar.

Ficamos alguns segundos nessa posição, Thea estática e eu a abraçando, eu estava pronto para seus gritos e empurrões. Mas me surpreendi ao sentir seus braços magrelos me rondando e a minha blusa ser molhada por lágrimas.

Apertei ainda mais minha irmã contra mim.

⁃ Eu senti a sua falta - confessou em choro - Não me abandona mais

⁃ Nunca mais

(…)

Acabou que minha irmã me contou que Mia queria muito um cachorrinho, disse que Felicity não tinha tempo de lidar com um bichinho no momento e estava esperando a filha ficar um pouco mais velha para assim a própria cuidar de seu pet.

Então eu já tinha em mente o presente que Mia iria ganhar e o melhor de tudo era que o canino poderia residir na mansão, lá tinha gente suficiente para cuidar dele e eu sabia que Mia estava sempre por lá.

Sai do PetShop rezando para que Felicity não me matasse.

Optei por uma Golden Retriever fêmea de 3 meses que já estava treinada. Ela sabia exatamente onde fazer suas necessidades e a obedecer alguns comandos. Estava com todas as vacinas em dia. Comprei casinha, tapete higiênico, ração para mais de um mês, brinquedos e uma coleira com identificação.

Dirigi contente para até o apartamento de Felicity.

Quando cheguei o porteiro, que já parecia esperar por mim, me guiou até o elevador e me disse o andar. Nesse prédio, cada andar era um apartamento.

Eu estava nervoso, era uma sensação estranha de uma expectativa enorme. Semelhante ao dia em que eu estava indo pedir Felicity em namoro para seu pai. Eu queria ser aceito, queria ter sua aprovação e admiração. E era esse sentimento que eu tinha em relação a Mia. Eu queria que ela me aceitasse como seu pai, que tivesse orgulho de mim mesmo tendo abandonado sua mãe a anos atrás.

Ajeitei a caixa com a cachorrinha dentro e a olhei antes de tampar.

⁃ Vai ser rapidinho - falei com pena da cachorra que ficou quietinha dentro da caixa com um laço rosa do lado de fora.

Toquei a campainha e rapidamente a porta foi aberta.

⁃ Oi - a voz infantil e tímida tomou conta do recinto

⁃ Oi, bonequinha - me abaixei para ficar na sua altura - Sua mãe já deve ter te falado que é perigoso abrir a porta sem antes checar quem é

⁃ Ela disse - sorriu tímida - Mas eu estava ansiosa para ver você

Aquela pequena frase me fez ser o homem mais feliz do mundo ao perceber que aquela menina ali na minha frente era minha. Minha filha. Eu jamais poderia imaginar que a vida fosse me agraciar com tamanho presente, não depois de todas as merdas que fiz, não depois de ter feito a mãe dela sofrer tanto.

⁃ Mia, eu já falei para você não abrir a porta sem checar quem… - Felicity apareceu atrás a da filha, impecável em um vestido florido que ia até a metade de suas coxas - É você - falou ao me ver

⁃ Oi - disse olhando-a e ela sorriu, retribui

⁃ Entra - falou colocando a mão na maçaneta - Mia o deixe entrar - olhou para a filha parada no meio do caminho

⁃ Não sem antes ele dizer o que tem aí nessa caixa - apontou para a caixa e a cachorrinha pareceu entender, pois se remexeu.

⁃ Um presente - falei

⁃ Não precisava, Oliver - a mãe disse me olhando feio

⁃ Então ele pode entrar! - Mia disse animada olhando para a caixa e me deixando entrar

⁃ Mia! - Felicity repreendeu a filha fechando a porta

Fiquei um pouco impressionado com a beleza e espaço do apartamento, ele era grande e aconchegante. As paredes em tijolos antigos, área aberta para o segundo andar. Simples e confortável, a cara de Felicity, nada luxuoso ou exagerado. As janelas enormes davam uma linda visão da cidade, durante o dia deveria ficar todo iluminado com a luz do sol. Olhei mais alguns detalhes até que o “baque” veio na minha mente.

⁃ Esse é o apartamento? - perguntei sem me controlar, ela andava até a mesa posta e estagnou girando devagar para me olhar

⁃ É - disse e saiu andando para a mesa terminando de ajeitar

Havíamos ganhado um apartamento de presente de casamento de nossos pais. Robert, Donna e Noah haviam escolhido o melhor prédio de Starling City, perto de ambas as empresas e com ótimas escolas nas redondezas. Mesmo que ambos quisessem que morássemos em suas respectivas mansões, eles sabiam que eu e Felicity nunca fomos apegamos a esse tipo de coisa. O simples e prático funcionava para nós dois e era simples e prático um apartamento perto do trabalho e do comércio, e pensando no futuro, um apartamento perto de escolas. Eu havia pisado naquele apartamento uma vez a anos atrás, ele ainda estava em construção. Eles haviam comprado na planta.

Por mais que tivesse sido maravilhoso crescer na mansão, ter por onde correr e se esconder. Eu tenho certeza que Mia tinha esse tipo de infância - pelo que todos da mansão Queen diziam. A casinha da árvore havia sido reformada, o balanço de pneu trocado por um novo, o lago no fim da propriedade estava sempre limpo, para quando Mia quisesse pular nele e se refrescar no verão. Ela tinha uma ótima infância, mesmo morando em um apartamento. Mia vivia a vida que eu e Felicity havíamos planejado para nossos filhos anos atrás, os filhos que teríamos depois da faculdade. Nos dias de semana obrigações e aos fim de semana diversão na casa dos avós.

⁃ O que tem na caixa? - Mia sussurrou me tirando de meus devaneios

Sorri e caminhei até a sala, depositei a caixa no centro da mesma e me sentei ao lado.

⁃ Eu queria te dar um presente - comecei - Não sabia o que dar, até que sua tia Thea me disse sobre uma coisa que você queria muito

Ela me olhou de cenho franzido e pareceu ponderar sobre seus quereres. Aquela feição a deixava tão parecida com a mãe quando estava confusa.

⁃ Eu sempre quis um pai - falou inocente e aquilo mexeu comigo, ela sempre quis um pai e eu estava solto por aí. Sem saber de sua existência - Mas agora eu já tenho, então eu não sei o que pode ser.

⁃ Eu espero que a sua mãe não me mate - ri e vi que Felicity se aproximou com a minha fala

Tirei a tampa da caixa e a cachorrinha voou para fora, ela pulou no colo de Mia como se adivinhasse que aquela era sua nova parceria de travessuras.

A garotinha arregalou os olhos de surpresa e agarrou a cadelinha como se sua vida dependesse daquilo.

⁃ Eu não acredito nisso - Felicity falou com as mãos na cintura, tentando disfarçar o riso e se fingindo de brava - Isso tem dedo de Thea, não tem? - se abaixou no chão junto de mim e Mia

⁃ Ela disse que Mia queria muito - disse acariciando o pelo dourado

⁃ Obrigada, Oliver - tomei um susto quando o corpinho de Mia se chocou aí meu. A agarrei com força, era mágica aquela sensação. Os bracinhos pequenos envoltos em meu pescoço, a alegria dela, o sorriso. Eu amava tanto aquela menina, e eu nem havia percebido o momento em que comecei a amá-la tão fortemente.

Era minha ali em meus braços, eu sempre faria de tudo para que nada lhe acontecesse.

⁃ Ela tem um nome - Felicity perguntou erguendo a cachorra em seu colo - Já prevejo muito xixi pela casa

⁃ Mamãe, eu vou cuidar dela - Mia garantiu

⁃ O nome dela é Mandy - falei - Ela já veio com esse nome, pois já e adestrada - olhei para Felicity que fez careta devido ao comentário do xixi, eu ri - Ela sabe exatamente onde deve fazer xixi, e ela pode ficar na mansão, se for atrapalhar a rotina de vocês.

⁃ Mamãe - Mia olhou em súplica para a mãe, um pedido silencioso

A mãe por outro lado tinha Mandy aninhada em seu colo enquanto fazia carinho em toda a extensão do seu corpinho. Felicity já estava tão encanta pela cachorra que com certeza não aceitaria que a mesma fosse para a mansão.

⁃ Ela pode ficar, Mia - disse sem tirar os olhos de Mandy

⁃ Eba! - a baixinha gritou se levantando e pulando pela sala, tão parecida com Thea nesse momento, a cachorra latiu e começou a correr em volta.

Felicity olhava maravilhada para a filha, com certeza o meu semblante era idêntico ao dela. Mas por um momento nossos olhares se encontraram, porém seu olhar não mudou. Dessa vez ela olhava maravilhada para mim, e todo o meu interior se derreteu com aquele olhar.

(…)

⁃ Mia, come tudo - Felicity falou encarando feio a filha que mais olhava pra Mandy do que comia

Mandy por sua vez estava deitada aconchegada em sua caminha rosa claro. Eu havia descido e buscado todos os itens da cachorra no carro. Felicity arrumou tudo em um cantinho da sala e colocou o tapete higiênico na área de serviço, mostramos para Mandy onde ela deveria fazer suas necessidades e ela pareceu entender muito bem, pois assim que explicamos para ela, ela foi direto lá e fez seu xixi.

Logo após Felicity serviu o jantar, ela disse que Mia havia escolhido o cardápio. Macarrão com queijo, bife e batata frita. Especialidade da casa, segundo Mia. Já que a mesma confessou que a mãe não era muito boa na cozinha, mas eu já esperava por isso. Felicity sempre foi um desastre nos assuntos culinários.

⁃ Oliver - a pequena falou - Você não vai ficar chateado comigo, não é?

⁃ Porque? - perguntei sem entender

⁃ Ainda não me sinto a vontade de te chamar de papai - falou sincera e eu assenti querendo rir, as vezes ela parecia uma adolescente falando

Eu não esperava que Mia me chamasse de pai da noite para o dia, sabia que deveria conquistar sua confiança, mostrar que eu estava ali para ela e sempre estaria. Queria que ela me chamasse de pai porque ela queria e nao porque se sentia obrigada. E se ela nunca se sentisse a vontade para isso, eu entenderia e a amaria independente de qualquer coisa.

⁃ Mia - Felicity repreendeu

⁃ É verdade, mãe

⁃ Tudo bem, Felicity - sorri a tranquilizando - Mia não tem intimidade comigo para isso, e não quero que ela se sinta obrigada a nada - olhei para a pequena - Eu não vou ficar chateado com você, nunca - a assegurei e ela sorriu satisfeita

⁃ As vezes parece que ela tem quinze anos - Felicity falou comendo umas batatas

⁃ Não sei quem ela puxou, não é mesmo - a olhou significativo e ela riu

⁃ Eu não era assim

⁃ Era pior

⁃ Quando vocês me fizeram?

⁃ Mia! - Felicity e eu falamos juntos e a garotinha riu

(…)

Mia fez questão que eu cuidasse dela na hora de dormir. Ela dispensou a mãe dizendo que eu precisava aprender a cuidar de uma criança, e que eu só aprenderia fazendo.

Por um lado ela tinha total razão.

Por outro, eu estava perdido enquanto ela me mostrava sua infinidade de pijamas pedindo para que eu escolhesse um para ela. Acabou que eu escolhi um conjunto azul com vários planetas e ela foi se trocar. Me sentei no chão do se quanto com medo de sentar na cama e quebrar. O quarto era tão delicado e cheio de mimos, tenho certeza que aquilo havia sido obra da minha irmã. Tinha uma pequena cômoda do outro lado do quarto com fotos, me levantei e fui observar. Eram momentos de Mia e alguns aniversários. Tinha uma foto de Felicity na maternidade com uma pequena trouxinha rosa nos braços, o cabelo dela ainda estava escuro e presos em um coque, ela olhava encantada para a bebê - um aperto tomou conta de mim, era para eu estar ali com elas -, as outras fotos eram de Mia sozinha, uma bebê gordinha de bochechas rosadas, Mia com meu pai, com Donna e Noah, com Roy e Thea, com os gêmeos e Laurel e Tommy… Todas as pessoas importantes na vida dela e eu não estava ali.

⁃ Podemos colocar uma foto nossa aí, Oliver - ela disse saindo do banheiro e se sentando na caminha - Podemos tirar amanhã na casa do vovô

⁃ Você gostaria de ter uma foto minha no seu quarto? - perguntei com um misto de emoção tomando conta de mim

Ela deitou na cama e se cobriu, desliguei a luz do quarto e liguei o abajur, ajeitei o cobertor em sua volta enquanto ela falava:

⁃ Mas é claro que sim - sorriu - Você é meu pai, eu quero ter fotos com você - e me abraçou me pegando de surpresa

⁃ Tiraremos muitas fotos então, bonequinha - beijei sua testa - Escovou os dentes? - ela assentiu - Ótimo!

⁃ Eu sempre quis saber como é ser colocada para dormir pelo meu pai - se aconchegou não cama - Amanhã você me busca na escola?

⁃ Eu sempre quis saber como seria a sensação de colocar minha filha paga dormir - acariciei seus cabelos dourados e ela fechou os olhos - E eu te busco sim.

⁃ Você gostou? - perguntou sonolenta

⁃ Do que?

⁃ Da sensação de me colocar para dormir?

⁃ É a melhor da minha vida - beijei seus cabelos e continuei com a carinho, só sai do quarto quando tive certeza que ela dormia. Mas não sem antes babar pela filha que eu tinha, parecia um anjo dormindo.

Desci as escadas devagar e encontrei Felicity sentada do sofá, descalça, com uma taça de vinho na mão e Mandy deitada em seu colo. Ela gostou do presente tanto quanto Mia.

Mandy ao notar minha presença se ergueu e começou a balançar seu rabinho, Felicity percebeu e me encarou.

⁃ Demorou - disse se ajeitando

⁃ Ela dormiu rápido, mas eu fiquei admirado com a visão que é Mia dormir - falei me aproximando dela devagar.

⁃ Eu sei como é isso - bebericou o vinho e me encarou, um silêncio tomou conta da sala.

Mesmo com a pouca iluminação eu podia ver o brilho dos olhos dela, nós nos encarávamos descaradamente e nenhum dos dois tinha coragem de dizer ou fazer nada.

Como ela podia ser tão linda? Seus cabelos loiros soltos em ondas pelos seus ombros, a boca rosada que agora era mordida levemente, seu busto subindo e descendo pela respiração acelerada. Isso mostrava que ela estava nervosa, tão nervosa quando eu.

O clima tinha mudado, tinha uma tensão… Mas não uma tensão de ódio.

Eu queria ficar, eu queria tomá-la em meus braços e beijar ela como se minha vida dependesse disso. Queria agarra-la a mim e fazê-la minha como antes.

Preferi me despedir, ao invés de ficar mais tempo ali e cometer uma loucura.

⁃ Então eu vou indo - falei por fim - Obrigado pelo jantar, Felicity

Ela se levantou, virou a taça toda de uma vez e depois depositou a mesma no braço do sofá, para vir andando na minha direção.

⁃ Oliver - parou na minha frente, a poucos centímetros de distância. Meu nome saiu de sua boca em uma forma completamente erótica. Me segurei para não agarrar ela e jogá-la ali mesmo no sofá - Oliver, eu quero te pedir um coisa.

⁃ Qualquer coisa - olhei para os lábios

⁃ Eu… - ela desviou os olhos dos meus e olhou para minha boca também, eu sentia nossas respirações descompassadas - Eu queria te pedir pra não fazer com a Mia o que fez comigo - assumiu um semblante triste, mas sem deixar de lado o nervosismo aparente.

⁃ Eu não vou abandonar ela, Felicity - prometi convicto - Eu não vou - levei minhas mãos ao seu cabelo, coloquei uma mecha para atrás de sua orelha - Eu não pretendo ir para lugar nenhum - falei me aproximando mais dela - E se eu for, eu tenho pra onde voltar - sussurrei sentindo sua respiração tão perto de mim. Eu sentia ela trêmula, eu me sentia trêmulo. Como se um ninho de borboletas existisse dentro de mim. - Felicity… - comecei baixinho mas fui interrompido por seus lábios atacando os meus.

O beijo começou com um encostar de lábios, por mais que ela tenha tomado a iniciativa, eu fiquei com medo de aprofundar. Com medo se sua reação.

Sentir o toque de seus lábios me levou a 7 anos atrás, eu lembrava com exatidão da última vez que havia a beijado. Foi na noite antes do casamento, com certeza naquela noite concebemos Mia, eu estava tão confuso se me casava com ela ou se seguia meu sonho. Fui um tolo ao achar que o meu sonho não incluía ela. Ela era meu sonho, mas eu demorei demais pra perceber isso.

Eu me afoguei em medos, em receios, e fugi.

Mas agora, agora eu podia fazer tudo diferente e lutar pelo seu perdão.

Pedi passagem com a língua e ela concedeu. Ela passou os braços em volta do meu pescoço e eu agarrei sua cintura com força, a apertando contra mim.

Começou calmo, mas evoluiu e um fogo conhecido, fogo que só ela acendia em mim, tomou conta de todo o meu corpo. Sem perceber aprofundei o beijo com força e comecei a acariciar toda a extensão de suas curvas. Ela soltava pequenos gemidos em meio ao beijo e se pressionava contra meu corpo. Era nítida a ereção, e ela se esfregando nela não ajudava em nada.

Quando o beijo consumiu todo o ar de nossos pulmões, eu desci os lábios para o seu pescoço e beijei sua mandíbula, mordiscando, apertando sua cintura e o final de sua bunda.

⁃ Oliver - gemeu quando descei meus lábios paga o busto - Oliver, é melhor pararmos

E então eu parei e a olhei, esperava que o arrependimento e o surto tomasse conta dela. Mas isso não veio, ela apenas riu e disse:

⁃ Bebi muito vinho - sorriu ficando encabulada

⁃ Você sempre ficou linda com está com vergonha - acariciei sua bochecha e ela segurou minha mão fechando os olhos - Eu senti a sua falta

⁃ Eu sempre estive aqui - me olhou - Você nunca quis saber como eu estava, como todos nós estávamos

⁃ Eu fui um idiota - falei - Mas eu não vou mais ir embora, eu não poderia. Não quando as mulheres da minha vida estão aqui nessa cidade.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Felicity com vinho no sistema fazendo o que todas nós gostaríamos de fazer… kkkkkkk

Disse no outro capítulo que seriam 4 partes, pois bem, decidi fazer uma espécie de “Epílogo”, mas vou colocar como parte 5. Que aí fica bonitinho.

Comentem muito pra que eu possa postar a parte 4, gente!

Dica: Tudo que é bom dura pouco! O que vocês acham que vem por aí? O que vocês acham que vai acontecer? AMO ler as teorias de vocês.



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