Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 17
Capítulo 17




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806879/chapter/17

Uma semana se passou depois que Lizzy tentou ajudar Bingley e Jane. Ela recebeu visitas de Georgiana, e uma de Darcy, que veio conversar com ela rapidamente, apenas perguntando se ela estava bem. Lizzy começava a acreditar que ficaria presa no século XVIII para todo sempre e isso a assustava, mas ao mesmo tempo, precisar se despedir dos Gardiner, das crianças e dos Darcy não pareciam que seria algo fácil. Criou um laço com eles. Um vínculo que nunca seria esquecido, se ela conseguisse voltar para casa.

Ela ainda se perguntava onde estava Alexander e se ele estava bem. Perguntava-se sobre sua irmã e seus amigos. Será que eles ainda estavam a procurando? Será que Jane, sua irmã, estava triste e desconsolada? Ela esperava que não. Mas, às vezes a angustia por estar longe de casa a fazia escrever. Ela tinha conseguido papel e tinteiro com o senhor Gardiner e passou a escrever, para aliviar a saudades. E estava fazendo isso, em uma tarde de domingo. Sua folga merecida. Ela estava de baixo da copa de uma árvore, em um dia claro de verão, agradável, com um toque cálido de uma brisa que tocava seu rosto e seus cabelos soltos. Ali, naquele quintal, estava protegida do mundo e apenas mergulhada em suas próprias palavras.

Ouviu as risadas das crianças, que jogavam críquete. Jonathan, Mary, e mais duas crianças da vizinhança se divertiam com o taco e a bola, às vezes, acertando muito longe dos aros fixados no chão. Às vezes, Lizzy precisava separar os irmãos, que começavam a brigar, devido à competitividade do jogo. E mesmo sendo a folga dela, ela não conseguia ficar parada e não fazer nada. Era quase como se fosse da família.

Depois de conseguir acalmar as crianças, ela finalmente sentou encostada no tronco da árvore. Fechou os olhos, ainda ouvindo as crianças, atenta aos barulhos, do taco batendo contra bola, os gritos de comemoração, até que escutou passos próximos a ela.

— Senhorita Elizabeth – era a voz aveludada de um homem. Era envolvente. Como ele pronunciara seu nome fez o seu corpo inteiro se arrepiar.

Ela abriu os olhos, vendo Darcy, diante dela. Com um casaco azul marinho, colete branco, um lenço amarrado pelo pescoço, calça bege e botas de montaria negra. Ele estava perfeitamente vestido. E muito bonito.

— Senhor Darcy – ela disse, sorrindo – Que bom ver o senhor. Eu não imaginava que viria hoje. Se soubesse, teria lhe recebido na sala.

Ele sorriu. E seu sorriso a deixou sem folego. Por que aquele homem tinha que ser tão bonito? Por todos os santos.

— Não era necessário. Eu não queria incomoda-la em sua tarde de folga. Apenas entrei e a senhora Gardiner me disse que a senhorita estava aqui. E parece muito bem em sob sua sombra – Ele olhou para árvore alta, com os braços cruzados atrás das costas – Está muito calor hoje, não está?

— Sim, muito – ela concordou, escondendo um pouco os pés por baixo do vestido, afinal, estava descalça. Não queria que ele visse seus pés – Eu daria tudo para tomar um sorvete – ela disse, em suspiro, fechando os olhos, lembrando-se de como era fácil conseguir um. Infelizmente, ela teria que ir mais perto de Mayfair para conseguir. E a casa dos Gardiner era afastada daquele bairro. Estavam em um bairro de classe média que não tinha comércio tão próximo.

— Eu poderia leva-la, senhorita – ele se dispôs.

— Ora, não precisa fazer isso – Lizzy recusou – O senhor não precisa se incomodar comigo.

— Eu insisto – ele disse afável – Afinal, vim fazer uma visita de cortesia, pela nossa amizade. E também lhe convidar para o teatro. Será na semana que vem. Georgiana insistiu que deveríamos convida-la pessoalmente. Mas, o que é interessante, ela não veio comigo. Alegou estar com dor de cabeça.

Lizzy riu por dentro. Georgiana estava tentando uni-los, mas Lizzy não iria cair naquela armadilha.

— Hum, sério? Que pena – Lizzy disse, fingida – Bom, então eu aceito sim e leve meus cumprimentos a sua irmã. Espero que ela melhore logo.

— Eu direi a ela – Darcy assentiu – E agora, gostaria de tomar seu sorvete? Eu adoraria leva-la.

— Hum...eu...o senhor poderia aguardar um instante? – ele assentiu.

Ela se levantou com todo cuidado, mas foi impossível não ver os pés por debaixo da barra da saia de cor branca. Que no momento, estava um pouco suja pela terra. Darcy teve o vislumbre dos pés de Lizzy e ficou ruborizado. Ao mesmo tempo, pensamentos impróprios percorrem sua mente. E notou que as unhas dela estavam em uma cor vermelha. Nunca vira o pé de nenhuma senhorita, mas o de Lizzy o fez pensar tantas coisas que precisou se virar. Ele não queria que ela visse a reação dele. Estava sendo um homem libertino ao pensar em Lizzy em termos que nunca deveria se pensar em uma dama. Pensou em beijar seus pés, e toca-los. Pensou em Lizzy em sua cama e poder tocar seus cabelos castanhos com seus dedos. Sentir seu cheiro e seus lábios sobre os dela. Ele respirou profundamente, tentando reorganizar seus pensamentos.

— Eu já volto senhor Darcy – ela disse, com entusiasmo, entrando na casa correndo.

Ele mesmo se apoiou na árvore, tentando se controlar. Nunca faltou com respeito com nenhuma dama. Nem pensou em nenhuma dela de forma imprópria. Nunca teve uma relação séria com ninguém e nunca quis ir a bordeis, como seus conhecidos. Ele já teve algumas relações com viúvas, mas não passara de algo rápido, pois ele mesmo temia cair nas artimanhas delas, para ser a senhora Darcy. E por isso, fazia muito tempo que não estava com uma mulher, por isso, a reação imediata do seu corpo a Lizzy. Aquela mulher iria enlouquecê-lo. E infelizmente, ela não saia dos seus pensamentos. Quando Georgiana insistiu em convidar Lizzy pessoalmente para o teatro, Darcy não pensou duas vezes. Ele queria vê-la de novo, mesmo que fosse uma visita curta. E agradeceu por sua irmã ter lhe dado àquela ideia e por não estar ali. Queria um tempo a sós com Lizzy. Desejava conhece-la melhor e alguns instantes roubados com ela.

Logo Lizzy estava pronta para o passeio. Vestia outro vestido de musselina, de cor azul claro, dessa vez, o que ele havia dado de presente a ela. Adorou o fato de vê-la vestida com algo que ele lhe dera, mesmo que ele dissesse que era um presente de Georgiana. Era algo satisfatório e o deixava com desejo de vê-la despedida. Queria tirar cada peça que compunha aquele vestido. E precisou desviar o olhar para a janela. Teria isso em breve. Faria Lizzy ficar com ele e depois, descobriria o local onde ela residia. Não se importava mais com suas origens, nem mesmo se seus familiares iriam repudia-la. Ele somente precisava conquista-la. Ela seria sua senhora Darcy.

— O senhor está muito quieto – Lizzy disse, tirando ele dos seus devaneios.

— Me perdoe – ele pediu – A senhorita gostaria de conversar sobre algum tema?

— Hum...deixe-me ver...- ela colocou a mão no queixo e ele notou que ela estava sem luvas. Suas mãos eram delicadas e havia um anel no anelar, com uma pedra azul. Darcy nunca havia notado aquele anel e começou a se perguntar se algum cavalheiro havia lhe dado. E isso o deixou com ciúme – Vamos falar sobre o tempo? – ela brincou, rindo – Ah, já sei, me conte como está o senhor Bingley?

— Eu não sei Bingley não falou comigo, desde o fatídico dia em que ele pediu a senhorita Jane em casamento – Darcy respondeu, com pesar e ainda não desviou os olhos das mãos de Lizzy, que repousavam sobre o colo. Era um anel de prata. Poderia ser um anel de noivado. E isso o deixou com medo.

— Eu sinto muito – Lizzy se desculpou. Sua alegria se transformou rapidamente em tristeza – Eu deveria ter previsto que isso poderia acontecer.

— A senhorita fez isso nas melhores das intenções, senhorita. Infelizmente, meu amigo não teve a chance de recuperar o tempo perdido. Ele está em Netherfiled, agora. Ele não me disse que estava indo para lá. Pergunte-me se ele vai tentar cortejar a senhorita Jane.

Os olhos de Lizzy reluziram.

— Talvez, talvez ele tenha ido por isso, Darcy! – ela parecia animada e se esqueceu do decoro. Mas, isso não importava para Darcy, que gostava de vê-la tão efusiva. Era estranho, pois durante anos ele fora ensinado a ver uma dama como uma mulher recatada, que apenas falava de forma comedida. E sempre estranhou o fato de ver pessoas falando pelos cotovelos, ou até mesmo, falando sem ser convidada a isso. Por isso, não gostou do seu tempo em Netherfield. O condado de Hertfordshire era um local tão simplório, com pessoas sem etiqueta ou educação. E isso o deixou horrorizado. E Lizzy seria classificada como aquelas pessoas do campo, sem nenhuma graça e instrução, apesar de falar tão eloquentemente. Contudo, se ela não fosse efusiva e com impetuosa, talvez, ele não tivesse gostado tanto dela.

— Talvez, senhorita Elizabeth. Mas, são apenas conjecturas. Ele pode ter ido para lá apenas para ficar longe da cidade – Darcy argumentou, olhando atentamente para Lizzy. O anel ainda o incomodava – Senhorita, se me permite perguntar, esse anel em seu dedo anelar é de noivado?

Lizzy olhou para as mãos e sorriu. Isso deixou Darcy ainda mais inseguro. Quem seria o cavalheiro que propôs a ela em tão pouco tempo? Será que ela já usava e ele não tinha percebido?

— O senhor nunca me viu usando? – ela perguntou.

— Não senhorita – ele negou.

— Eu sempre gostei de anel com apenas uma pedra cravejada - ela respondeu – E meu pai me deu de presente.

— Entendo – ele respondeu, respirando com mais calma dessa vez.

— Vê? É uma zircônia – ela tirou o anel e entregou para Darcy. Ele o pegou e o analisou – Não é uma pedra cara. Com oito dessas, eu poderia comprar um anel de topázio.

— E qual pedra é sua preferida, senhorita?

— Hum, eu amo safiras, topázios. Sempre no tom azul. Uma pena tudo ter ficou na minha casa – ela disse, desanimada.

Isso deu uma ideia a Darcy, que ele iria colocar em prática. Depois daquela conversa, eles desceram da carruagem, no Gunter’s. Lizzy estava tão feliz, que não se cabia em felicidade. Ela não parava de agradecer Darcy por aquela gentileza.

— É um prazer ajuda-la – ele disse, sentindo-se estranhamente reconfortado de receber agradecimentos dela.

Caminharam até o Hyde Park e o local estava cheio, com famílias fazendo piquenique e crianças correndo no gramado. Carruagem passavam e cavalheiros montados a cavalo iam e vinham.

Darcy, mais preocupado em perceber a dama que acompanhava, notava como o rosto dela era bonito, oval e delicado. Suas sobrancelhas eram escuras, mas finas, deixando seu rosto com feições leves. Lizzy não era uma beleza clássica. Ela tinha um ar diferente, com seu olhar determinado e por vezes, afiado. Não tinha uma expressão coquete, nem procurava olha-lo com doçura. Ela era natural e estava sempre sorrindo verdadeiramente. Ele estava se vendo completamente a mercê dela.

Enquanto caminhavam pelo parque, Lizzy contou um pouco sobre sua vida, antes deles se conhecerem.

— Jane quase nunca está comigo. Ela vive perto da universidade, então fica difícil de nos ver – Darcy, queria perguntar se ela morava em Oxford, ou Cambridge, onde existiam universidades – E ela ama tanto os estudos dela, que me esquece. Quando ela começa a falar de um animal ferido e como eles são maltratados quando chegam para ela, em seu estágio da faculdade, ela simplesmente parece virar uma fera. Sabe? Ela ama demais os animais.

— Ela cuida de animais feridos? – Darcy perguntou, sem entender muito o que Lizzy disse, afinal uma mulher não frequentaria a universidade. Mas, fazia sentido ter alguém que cuidasse dos animais. Existia criadores de cavalos que tratavam seus animais e faziam os partos. E com os outros animais de fazenda era assim. Alguém cuidava deles – Vocês tem uma fazenda, Lizzy?

Ela piscou algumas vezes e parecia desconfortável.

— Se não deseja falar sobre isso, tudo bem – ele tentou tranquiliza-la – Eu somente não entendo como sua irmã pode cuidar de animais. Normalmente que possuiu uma fazenda, trata dos animais, do gado e dos cavalos.

— Ah sim – Lizzy respondeu – Ah olha, lá, que linda flor.

Ela deu as costas para ele e caminhou até um canteiro do parque onde tinhas flores coloridas. Ele se agachou e tirou uma de cor roxa, colocando atrás da orelha dela. Era um gesto simples, mas que para ele tinha muitos significados. Lizzy ruborizou diante do gesto, mas não desviou o olhar. Ela o fitava sem o menor pudor e ele fazia o mesmo. As pessoas ao redor deviam estar analisando os dois, mas Darcy não se importava mais com as aparências, não naquele instante.

— É amor-perfeito – ele disse – E a senhorita está bela assim. Deveria fazer uma tiara de flores, pois a beleza bucólica lhe acentua a própria beleza natural.

Lizzy o fitou com um sorriso.

— O senhor é muito bom com as palavras – ela o elogiou – E nunca ouvi um elogio como esse na vida.

— E funcionou? Eu consegui...er...- ele estava sem graça. Lizzy era tão diferente das outras jovens. Ele nunca flertou com nenhuma delas, mas já viu Bingley agir daquela maneira, ou Richard. Todos elogiavam a beleza dessas damas, mas Darcy fazia isso pela primeira vez e sentia o rosto queimar de vergonha.

— Está funcionando muito bem, senhor Darcy – ela lhe deu um sorriso de lado e deu as costas para ele – Vamos caminhar perto do lago?

— Sim, senhorita – ele concordou, a acompanhado de perto.

Ele puxou o braço dela, para que ficasse enganchado no seu. Deveria ter pensado em uma acompanhante, mas era tarde demais. E ao mesmo tempo, deixou que todos em Londres vissem sua decisão de corteja-la. Iriam falar sobre eles, fariam conjecturas. Mas, ele não estava se importado com isso.

A tarde infelizmente havia terminado e Darcy teve que deixa-la na casa dos Gardiner.

— Até logo, senhor Darcy – ela se despediu, descendo da carruagem, sem deixar ele abri-la – Nos vemos no teatro.

Ela bateu a porta da carruagem e ele escutou batidas. A carruagem voltar a andar e Darcy riu consigo mesmo. Aquela jovem era peculiar. Ela nem ao menos se deixava ser tratada como uma dama. Ele quem deveria deixa-la na porta, ele quem deveria abrir a porta da carruagem para ela. Mas, Lizzy era incomum e ele se via cada vez mais envolvido por ela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.