Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 16
Capítulo 16




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806879/chapter/16

Chegar à casa dos Gardiner parecia um longo caminho. Bingley estava em expectativa, esperando para rever sua amada. Antecipava o momento de poder olhar nos seus olhos e dizer a ela que a amava. E esperava ouvir de volta o mesmo sentimento. Mas, se ela não sentisse o mesmo, ele iria propor mesmo assim. Afinal, era melhor ela estar casada com ele do que com seu primo Collins. Pois, ele sabia que poderia cuidar dela e protege-la.

Lizzy segurava a mão de Georgiana, muito ansiosa. Ela queria muito que tudo desse certo. Temia somente de pensar em Jane rejeitando Bingley. Se isso acontecesse, ela não se perdoaria por fazê-lo sofrer. Quando chegaram à casa dos Gardiner, Lizzy foi a primeira a desembarcar, sem esperar por ajuda. Ela entrou pelo portão e bateu na porta. A senhora Gardiner a recebeu, confusa.

— Elizabeth, não precisa bater para entrar, querida – ela disse, mas logo viu as pessoas que vinham atrás dela – Ah, se soubesse que teríamos visita, eu teria colocar mais pratos a mesa do jantar.

Lizzy notou que ela estava constrangida com isso.

— Me desculpe senhora Gardiner. O senhor Bingley apenas veio visitar sua sobrinha Jane – ela explicou.

— Boa tarde, senhora Gardiner – Ele aproximou da entrada da casa, retirando o chapéu e fazendo uma reverência – Desculpe-nos por vir incomoda-la.

— Não é nenhum incomodo senhor Bingley – ela disse um pouco mais animada – Por favor, queiram entrar.

Ela deu passagem e os guiou para a sala de estar. Prometeu que traria Jane para conversar. Bingley não conseguiu ficar sentado. Estava andando de um lado para o outro.

— Nós vamos sair, assim que ela entrar – Lizzy instruiu – O senhor Bingley precisa ficar a sós com ela.

— Obrigado, senhorita – ele agradeceu, parando de andar e colocando as mãos dentro do casaco.

Sua expressão era temorosa. Ele estava pálido e ansioso. Logo Jane entrou na sala e se assustou ao ver Bingley ali, parado, esperando por ela. Jane abriu e fechou a boca, sem saber o que dizer. Estava pasma.

— Senhorita Jane – Lizzy tomou a palavra – Acredito que o senhor Bingley tem muito que dizer a senhorita. Nós vamos deixa-los a sós.

— Não! – Jane pediu, exasperada – Quero dizer, o que o senhor Bingley tiver que dizer que seja na presença de todos.

— Jane...- Bingley disse, com um tom sofrido e se aproximou dela, tomando suas mãos – Por favor, me deixe falar com você...eu passei um ano inteiro em martírio. Eu a amo tanto...

Jane o encarou descrente. Lizzy olhou para Darcy e Georgiana, tentando pedir a eles para saírem da sala. E foi o que os três fizeram, aguardando no corredor.

— Como pode dizer que me ama, Charles? – ela acusou se afastando do toque dele – Passei um ano inteiro, sofrendo por sua partida. O senhor nem ao pior enviou uma carta – O olhar dela era sofrido. Ela respirou profundamente – Mas, tudo bem. O senhor não iria se casar com uma jovem de classe inferior a sua e eu entendo.

— Não, não é isso, Jane...- ele tentou se explicar – Eu acreditei que você não sentia nada por mim...acreditei que não me amasse...

— Como pode duvidar Charles? Por que não perguntou a mim? Eu passei dias com você, com sua família. Eu somente tinha olhos para você – Jane disse, com indignação – Acredito que o senhor deve ter ouvido alguém lhe dizendo que eu não sentia nada pelo senhor, mas eu sentia sim. Eu o amava muito.

Isso reacendeu as esperanças de Bingley. Ele tomou as mãos dela novamente.

— Ainda me ama, Jane? Diga que me ama.

— Eu nunca deixei de ama-lo – ela respondeu, com olhos aguados – Mas, infelizmente é tarde, Charles. Eu já empenhei minha palavra a outro homem. Irei me casar dentro de um mês.

— Você não precisa – Em tom exasperado. Mas ela o encarava de forma irredutível. Nada iria mudar a ideia dela – Você pode se casar comigo, Jane. Eu poderei cuidar de você e da sua família. Não se case com outro, por favor.

Ele levou uma mão ao rosto dela e beijou sua face, sentindo o gosto das suas lágrimas. Ela o encarava de forma sofrida, mas não perdera mais a calma. Ela estava contendo todos seus sentimentos.

— Não podemos Charles. Infelizmente, já tomei minha decisão. É melhor assim – ela argumentou. Ele a encarou sem entender – Você precisa de uma mulher a sua altura. Caroline nunca iria nos aceitar, nem seus amigos...

— Pouco me importa Caroline e meus amigos! – ele a interrompeu, em agonia – Eu quero você, Jane. Sempre quis, no momento que dancei com você em Meryton, eu sabia que estaria perdido. Meu coração é seu, Jane.

Jane negou com a cabeça, tentando se afastar dele, mas Bingley a tomou nos braços, abraçando-a. Ela não conseguiu resistir e abraçou de volta.

— Não podemos Charles. Compreenda isso – ela disse, com a voz embargada – Já é tarde para nós dois.

— Não diga isso, meu amor. Por favor, não desista de nós.

Ela se desvencilhou dos braços dele, o encarando decidida.

— Infelizmente, o senhor quem desistiu de nós, quando cortou os laços comigo – ela disse, limpando as lágrimas com as costas da mão – O senhor selou nosso destino. E eu não posso mais voltar com a minha palavra dada ao meu primo. Irei me casar com ele.

— Não, Jane! – ele implorou.

Jane negou com a cabeça.

— Adeus, senhor Bingley – ela disse com pesar e saiu da sala de estar, deixando o cavalheiro em uma situação miserável.

Jane passou por Lizzy, sem olha-la. Lizzy sentiu que fizera o errado em interferir. Mas, por que Jane não desejava estar com o amor da sua vida? Por que se martirizava tanto? Era algo que Lizzy não compreendia. Ela sabia que era por questão de honra e dever, mas Jane estava sendo radical demais.

Darcy, Georgiana e Bingley foram embora em seguida. Lizzy tentou se desculpar com Bingley, mas ele apenas disse que tudo ficaria bem, que não havia necessidade de desculpas. Ao menos, ele teve o desfecho do que ele precisava ter com Jane. E ele agradeceu Lizzy por isso, antes de embarcar na carruagem.

— Eu sinto muito – ela disse, com a voz embargada – Não queria ver o senhor sofrer.

— Está tudo bem, senhorita – ele disse, limpando as lagrimas – Acredito que eu tenha errado ao ouvir a opinião dos outros. Infelizmente, esse é meu castigo agora. Ver outro homem casando com a mulher que amo.

Lizzy mordeu os lábios, contendo as lagrimas. Ele se despediu dela, com um aceno, entrando na carruagem. Georgiana a abraçou, tentando consola-la e fez um pedido impossível.

— Por favor, volte conosco – ela pediu.

— Oh Georgie – Lizzy desabou nos braços dela, chorando.

Darcy observava tudo, tentando pensar no que fazer. Ele não queria ver Lizzy chorar. Isso parecia partir seu coração. Mas, ficou de lado, deixando que Georgiana a consolasse. Ele estava sem reação e não sabia se deveria abraça-la também. Seria impróprio.

— Você voltaria conosco? – Georgiana insistiu, se afastando dela, apenas para olha-la nos olhos.

Lizzy procurou o olhar de Darcy. Ele apenas assentiu. E parecia triste.

— Eu não devo querida – Lizzy voltou o olhar para ela. Georgiana a encarava com decepção – Me perdoe, mas meu lugar por enquanto é aqui, até que eu volte para casa, Georgie. Será melhor para vocês.

— Sabe que não é incomodo algum ficar conosco – Darcy tomou a palavra.

— Vocês sabem que não posso – Lizzy tentou argumentar – Agora vão para casa. Nos veremos outro dia.

Os irmãos Darcy apenas assentiram e embarcaram na carruagem com Bingley. O caminho de volta foi silencioso e triste.

Lizzy voltou para dentro da casa e jantou com os Gardiner. A senhora Gardiner questionou o motivo para Jane ter chorado e se recusar a sair do próprio quarto. Lizzy explicou o ocorrido e a tia de Jane balançou a cabeça.

— Ela deveria não tentar se martirizar pela família, nem pelo senhor Collins – ela disse, o que surpreendeu Lizzy.

— Ora, deixe que ela faça como deseja querida. – o senhor Gardiner disse – Afinal, ela não quer manchar a própria reputação recusando Collins, agora que o aceitou.

— Mas, ela tem um pedido de casamento por amor, querido – a senhora Gardiner argumentou – E nada mais justo do que estar com o homem que ama. E o senhor Collins ira fatiga-la. Será um casamento infeliz.

Lizzy se absteve de falar qualquer coisa sobre o assunto.

— Eu vou falar com ela, senhora – Lizzy se propôs – Afinal, fui eu que disse ao senhor Bingley que ela estava aqui.

— Faça isso, querida. Tente fazer minha sobrinha entender que não se deve desperdiçar a felicidade. E um casamento tão bom como esse.

Lizzy se levantou e saiu da sala de jantar, indo em direção aos quartos no segundo andar da casa. Bateu na porta do quarto de Jane e espero uma resposta.

— Entre – Jane convidou.

Lizzy abriu a porta, ficando na soleira, esperando alguma reação da jovem dama. Ela a encarou com os olhos inchados, sentada na cama, com um livro aberto no colo. Apenas as chamas da vela sobre a mesinha de cabeceira iluminava o ambiente.

— Vim falar com a senhorita. Permite-me entrar? – Lizzy perguntou, educada.

Jane assentiu. Lizzy fechou a porta atrás de si e se aproximou da cama, sentado ao lado de Jane.

— Me desculpe por trazer tanto sofrimento à senhorita – Lizzy começou.

— Tenho certeza de que não fez por mal, senhorita – Jane disse, com a voz baixa – Mas, deveria ter falado comigo primeiro. Ver Charles novamente foi algo doloroso para minha alma.

— Eu sinto muito – Lizzy pediu – Eu apenas queria ajuda-lo e ajudar você. Afinal, vocês se amam.

— Senhorita Elizabeth, existem coisas mais importantes que o amor. Para mim o dever e honra são muito importantes. E se eu empenhei minha palavra, não posso voltar atrás. E...- ela parou de falar, parecendo pensar – Estou muito decepcionada com Charles. Se ele realmente me amasse, não teria escutado ninguém, apenas seu coração. Um homem que não ter firmeza em suas decisões não está preparado para um casamento.

Lizzy não tinha como argumentar contra aquilo.

— E o que fara agora, senhorita Jane? – Lizzy perguntou.

— Eu voltarei amanhã para casa. Não consigo ficar aqui, sabendo que Charles está tão perto...preciso da minha família agora.

— Eu sinto tanto – Lizzy disse, pegando a mão de Jane sobre a cama. Jane parecia receosa, mas permitiu o contato físico – Eu não queria faze-la sofrer. Gostei tanto de conhecer a senhorita.

— Eu também – Jane respondeu sincera – A senhorita é vivaz. Um contraste de mim mesma.

— Bom, eu me considero também reservada. Não tão vivaz – Lizzy disse.

— Pode até ser, senhorita. Mas, a forma como lidou com meus sobrinhos, interagindo com eles de forma tão viva, correndo com eles, brincando...não é tão severa como uma governanta. E nem tão fechada.

— Oh, é verdade – Lizzy concordou, pois com crianças, ela se soltava – Eles são adoráveis e é impossível não entrar em alguma brincadeira com eles.

— Pois, é isso que falo. A senhorita não se importa com as delimitações. A senhorita me interpelou com um assunto tão pessoal, pensando no bem estar de um amigo, também. Agiu de uma forma que eu nunca agiria. E tudo porque queria a felicidade de alguém. E acho que isso eu nunca faria. Eu tenho medo de ser mal interpretada, medo de magoar alguém, medo de me magoar. Eu não sei....sinceramente...pensei comigo que poderia aceitar Charles de novo...mas, seria tão errado romper meu compromissos com Collins.

— Deveria tentar fazer isso, Jane. Pense no quanto vai ser infeliz – Lizzy argumentou, ainda segurando a mão de Jane.

— Não posso...Eu preciso pensar. Por isso, vou voltar para casa – Jane disse, com a voz triste.

— Será uma pena não ter sua companhia – Lizzy disse sincera. Afinal, fizera uma amiga.

— Poderia nos visitar. Será bem vinda em minha casa – Jane disse dessa vez, demonstrando entusiasmo – Minha família vai ficar surpresa por não sermos parentes. Vão gostar da senhorita, também. Eu tenho certeza.

Depois daquela conversa, Jane e Lizzy se despediram. No dia seguinte, Jane partiu para Hertfordshire. Lizzy não conseguia entender o motivo para aquela jovem ser tão teimosa, mas esperava que ela fosse feliz. Duas horas depois, Bingley apareceu na casa dos Gardiner. Quando soube que Jane foi para casa, ele saiu de lá, de forma intempestiva, sem se despedir de Lizzy. Com certeza, ela pensou, ele deve estar indo atrás de Jane. E torço por ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.