Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 18
Capítulo 18




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Lizzy pelas quinquagésima vez, ou talvez mais, se perguntava como ir embora daquele lugar. Sentia falta da sua escova de dente. Algo tão simples e eficaz. Ela odiava aquela escova com cerdas de pelo de porco. Aquilo realmente machucava suas gengivas. E o único modo de escova-los era com hortelã amassada com pilão. E era melhor do que nada, mas nem assim ela conseguia conter a irritação.

Por não ter algum modo de sair daquele lugar, passou a se acostumar com aquela rotina de higiene precária. Era a única maneira que tinha para não enlouquecer. Ela aproveitou que as crianças já estavam dormindo, pois eles não paravam um segundo, demandando sua atenção e preparou um banho para ela. Munida de óleo de cozinha, óleo de lavanda, ela fez uma mistura, para passar nos seus cabelos. Ela acrescentou também folhas de laranjeira a água do banho, que foram esquentada gentilmente pelos criados e então, ela mergulhou na banheira. Com o cabelo já lavado com o sabonete, ela aplicou o óleo e deixou-o todo melecado, em um coque. Era o único tratamento de beleza que tinha no momento, a sua disposição. Então, pensou sobre a tarde de domingo que tivera com Darcy. No dia seguinte, ela se encontraria com ele e Georgiana no teatro. E pensar nisso deixou-a animada. Ela gostava da presença de Darcy, apesar de não saber se ele realmente a apreciava. Às vezes, ele sorria, às vezes, estava sério, contemplativo. Ela não conseguia decifra-lo e começou a sentir o coração de apertar. Por que estava se importando com aquilo, afinal? Seu lugar não era ali, entre eles. E jamais um homem como o senhor Darcy casaria com ela. Era certo que ele se casou no livro Orgulho e Preconceito com uma dama muito abaixo dele socialmente, mas Lizzy não podia nem ser classificada assim, afinal, nem família ela tinha naquele lugar. Então, seria realmente um completo desastre se ela ficasse com ele.

Dentro da banheira, ela sentia os aromas agradáveis da laranjeira e relaxava totalmente. Poderia ficar assim o dia inteiro. Então, nem percebeu que tinha dormido sentada na banheira. Então, escutou uma voz aveludada, perto do seu ouvido:

— Elizabeth, quando você vai sair dessa banheira e deitar nada comigo?

Ela sentiu todo seu corpo se acender. Era Darcy, mas como? Como ele poderia estar ali. Ela abriu os olhos e podia ver ele, parado ao lado da sua banheira, agachado, com um daqueles sorrisos de tirar o folego.

— Da...Darcy? – ela gaguejou.

— Sim, sou eu – ele respondeu – Quem achou que fosse?

— Eu não...como entrou aqui? – ela perguntou.

— Eu esperei por você, mas precisei entrar e ver como estava – ele disse, levando uma mão ao rosto dela – Eu a amo ardentemente, Lizzie. Você é a mulher da minha vida.

Ele aproximou os lábios do seu, beijando-os e ela sentiu que estava queimando por dentro. Então, ela sentiu como se estivesse caindo e estremeceu. Piscou os olhos, olhou para os lados, mas não havia ninguém com ela. Estava sozinha no quarto.

— Foi tudo um sonho? – ela perguntou a si mesma, frustrada.

Era comum ter aquele tipo de sonho. Mas, ela não imaginava ter com Darcy. Bufou irritada, sentindo que a água estava muito fria, para ficar lá. Devia ter dormido por muito tempo. Então, lavou os cabelos, retirando o excesso do óleo e saiu da banheira. Secou-se com a toalha e enrolou na cabeça. Passou parte da noite acordada, pois os cabelos não secaram como queria. Mas, fez o que Lucia a ensinou, colocando vários tecidos enrolados nas mechas dos cabelos, para deixa-los encaracolados.

No dia seguinte, estava expectante para o teatro. Não sabia se era pela expectativa de fazer algo novo, ou por poder ver Darcy. Sonhar com ele deve ter mexido no seu subconsciente. Ela pensou que deveria estar carente, também. Fazia muito tempo que não tinha um namorado. Quando estava próximo do horário de se arrumar, precisou insistir com as crianças que deveria se aprontar, mas eles não deixavam.

— Fica com a gente – Mary pediu, com olhos dengosos – A senhorita prometeu que iria ler para nós.

— Mary, eu vou ler para vocês, mas não hoje. Eu vou ao teatro – ela tentou explicar.

— Nos leva junto? – Jonathan perguntou, olhando-a com seus olhos castanhos e infantis – Papai e mamãe sempre vão e nos deixam em casa.

— Hoje não vou poder leva-los, mas vou pedir para o senhor Darcy nos levar outra vez – ela não sabia o que estava prometendo, pois não sabia se crianças iam ao teatro. Provavelmente, não.

As duas crianças ficaram tristes, mas não protestaram. Lizzy havia prometido trazer doces a eles, mas não sabia onde iria comprar. Teria que perguntar a Georgiana ou a senhora Gardiner onde poderia encontrar alguma loja que vendesse doces. Lizzy se perguntava se já existiam chicletes ou balas. Até mesmo seu amado chocolate. Mas, com certeza, ela pensou consigo mesma, seriam doces diferentes do que ela conhecia em seu tempo. Por isso, teve uma ideia, antes de sair para o teatro. Foi até a cozinha e conversou com a cozinheira, a senhora Smith. Ela era amável e gentil. Lizzy havia pedido para a senhora Smith fazer balas de caramelo. Pelo menos, como Lizzy sabia que seria muito fácil de fazer. Era só ter açúcar e colocar dentro de uma panela. Deixar sobre o fogo a panela e esperar que o açúcar derrete-se. Ela ensinou à senhora Smith, que acreditou ser algo engenhoso e inovador. Ela ofereceu às crianças as balas de açúcar derretido, depois que estavam prontas e elas ficaram maravilhadas pelo gosto. O senhor e a senhora Gardiner também provaram e ficaram maravilhados pelo conhecimento que Lizzy tinha.

— Se me permite perguntar, onde aprendeu isso, senhora Elizabeth? - a senhora Smith perguntou.

— Um dia estava com muita vontade de comer doce e resolvi derreter o açúcar, afinal se faz isso para obter a calda do pudim - a explicação de Lizzy deixou a senhora Smith mais confusa.

Então, Lizzy passou a explicar como era feito o pudim, o que deixou a senhora Smith avida em aprender a fazer a sobremesa. Mas, sem leite condensado, não seria possível. Lizzy perguntou se já existia, mas realmente, não era daquele tempo. O que deixo Lizzy desanimada. Ela não fazia ideia de como poderia fabricar leite condensado, que só existiria dali cem anos, mais ou menos. Lizzy sabia que era possível fazer pudim com outros ingredientes e tentaria encontrar algo parecido em alguma confeitaria. Esperava que já existissem confeitarias.

Logo, Darcy e Georgiana chegaram a casa dos Gardiner e Lizzy entrou na carruagem, encontrando os irmãos Darcy de bom humor. Darcy não sorria, mas sua expressão era mais leve. E olhar para ele a fez lembrar-se do sonho estranho que teve na banheira, no dia anterior. Ela ficou com as faces afogueadas e desviou o olhar para a janela. Georgiana, com seus modos efusivos, tentou entabular uma conversa com Lizzy, o que era algo bem vindo, pois ela não suportava a vergonha de ter sonhado com Darcy de uma forma tão imprópria.

Os três entraram no teatro, Lizzy sabia que o local era o Royal Opera House, na Covent Garden. Que naquele tempo ainda levava o nome de Theatre Royal. Lizzy estava encantada de entrar novamente naquele teatro com fachada estilo os templos gregos, com quatro pilastras na parte frontal. O anfiteatro era majestoso, em tons vermelhos e dourados. Darcy havia conseguido um camarote para eles, reservado, na parte superior do anfiteatro e dali poderia ser ver as poltronas vermelhas na plateia, abaixo dos camarotes e já estava quase lotado de pessoas. Lizzy notou, ao entrar no teatro que as damas usavam joias e roupas requintadas, muito diferentes do que ela optou para si mesma. Ela não tinha nenhuma joia, exceto pelo anel que havia ganhado do seu pai. E seu vestido era simples, em tom turquesa. Ao menos seus cachos estavam emoldurando seu rosto e ela havia obtido ajuda para fazer o penteado com um à criada da casa dos Gardiner.

No camarote, Lizzy não esperava encontrar Caroline Bingley. Ela cumprimentou Lizzy de forma educada, mas Caroline não tirava os olhos de Lizzy. Ela estava elegantemente vestida com um vestido de tom verde esmeralda, com colar, brincos e pulseiras de diamante. Ela era uma visão encantadora para todos os cavalheiros presentes, contudo, o único cavalheiro que ela gostaria de ter a atenção era Darcy. Contudo, ele nunca a olhou com outros olhos, a não ser com sua educação polida, sem revelar interesse por ela. O que a deixou irritada era ver Lizzy sentada ao lado de Georgiana e dele, sem roupas adequadas para o teatro e ter a atenção dos dois irmãos Darcy, como se ela fosse importante. Ela parecia uma plebeia, que deveria estar sentada com o povo, na parte inferior do anfiteatro.

A peça começou logo em seguida a chegada de Darcy e seus convidados. Lizzy estava um pouco perdida sobre qual peça seria, mas logo reconheceu que era Otelo, de Shakespeare. Enquanto Lizzy assistia mais uma vez aquela peça, mas encantada pelo talento dos atores, Darcy ao seu lado perguntou se ela estava entendendo o que se passava no palco. E se pôs a explicar a situação da tragédia daquela peça. Lizzy escutava atentamente, mas estava muito mais interessada na voz aveludada dele, próxima ao seu ouvido. E nesse momento, ela sentiu sua mão enluvada tocar a dela. A sensação do seu toque a deixou com uma espécie de febre. Ela sentiu-se quente por dentro, como se tivesse chamas internas e se perguntou se ali estava tão quente assim. Mas, a quem ela poderia estar enganando, afinal? Darcy lhe deixava com os sentimentos a flor da pele e isso começou a ficar mais intenso, desde que ele a convidou para tomar um sorvete. Um simples sorvete. Ela se sentia tão tola em estar realmente desejando aquele homem, que ela nunca poderia ter pelo fato de que assim que soubesse como cumprir sua missão, iria voltar para casa. Decidiria que ficaria em seu tempo. Não faria como a viajante que Alexander menciona a ela. Aquela viajante, de nome Sofia preferiu ficar no século XIX, ao invés de voltar para seu próprio tempo. Lizzy jamais escolheria isso. Ela preferia voltar para casa, onde havia todas as facilidades do seu tempo. Contudo, ao pensar nisso, seu peito se apertou. Ela nunca mais veria Darcy ou Georgiana. E isso a deixou com o estomago embrulhado.

Quando o primeiro ato se encerrou, Lizzy pediu licença para sair do camarote. Precisava de ar e esticar as pernas. Ela seguiu em direção ao saguão do teatro, descendo as escadarias, que tinha um lustre pendido no teto, deixando tudo mais elegante. Tochas iluminavam o local, também, além do lustre. Lizzy observou a quantidade de pessoas que iam e vinham naquele local. Era uma profusão de cores de vestidos de damas, de joias. Os cavalheiros não ficavam atrás, com suas vestes que não eram somente negras, mas de tom azul, verde, entre outros. Foi então que notou no final da escada um cavalheiro parado na entrada no teatro, com um chapéu fedora sobre a cabeça e vestes em tom prateado. Ao menos, era condizente ao tempo em que estavam. Se alguém se deparasse com ele, o acharia excêntrico. Ainda mais pela bengala. Ele lançou um sorriso para Lizzy, que estava prestes a brigar com ele. Alexander a tirava do sério, mas ele era um homem simpático, apesar das suas intenções estranhas de tentar ajuda-la. Afinal, quem era ele para ditar o destino dela?

Lizzy se aproximou apressou para se aproximar dele. Ele fez uma reverência a ela, qual ela imitou. Ela encarou os olhos que pareciam prata liquida e começou a se perguntar se ele era um ser humano normal ou um ser místico.

— Senhorita Elizabeth, que prazer em revê-la – ele a cumprimentou, de forma cortes.

— Igualmente, senhor – ela respondeu – Podemos conversar?

— Uma conversa breve, com toda certeza – Alexander disse, olhando para os lados – Vamos até a parte de fora do teatro?

Lizzy assentiu e eles saíram do teatro, ficando na calçada. As carruagens passavam pela rua de pedra. Algumas pessoas entravam no teatro, passando por eles. A rua estava iluminada por postes de lâmpadas a gás. Covent Garden era viva e movimentada, como sempre fora no tempo de Lizzy.

— Alexander, eu gostaria de saber quando é que minha tortura vai acabar – ela tomou a palavra, em voz baixa.

Ele a encarou com um sorrisinho malicioso e bateu com a bengala no chão. Lizzy notou que seus sapatos eram oxford, de tom marrom, lustrosos.

— Bom, bom – ele disse, batendo com uma mão enluvada no queixo, como se estivesse pensando. E isso a enervou – Deixe-me ver...você está quase perto de cumprir sua missão, mas falta um pouco da sua parte. E logo verá o motivo. Espero que você não recuse o pedido do senhor Darcy. Ele é um cavalheiro que não se faz mais, sabe?

Lizzy revirou os olhos. Mais uma vez, Alexander não lhe dava as respostas que ela queria.

— Alexander, estou sem paciência. Minha irmã deve estar preocupada comigo, meus amigos devem estar...e Boris...o meu Deus, Boris! O que você fez com ele? – ela perguntou entredentes.

— Nada, eu disse que o levaria de volta – Alexander respondeu, se afastando um pouco dela na calçada. Ela o vigiou, com os olhos estreitos – Não me olhe assim, esse é meu trabalho. Preciso deixar tudo em seu devido lugar. O seu cachorro não pertence a essa época, somente você. Você na verdade pertence tanto há esse século quanto ao século XXI.

— Preferia ter continuado onde estava antes de conhecer você – ela disse, em tom amargo.

— Percebera que não havia nada para você lá, Lizzie, eu lhe garanto. Se abrir um pouco seus olhos, percebera que você pertence a esse tempo. Já percebeu que nada no seu tempo lhe agradava?- Lizzy não respondeu, mas Alexander tocava em um ponto que era verdadeiro – E já percebeu que nenhum homem lhe fez completa do outro lado? Gostaria de passar a vida toda sem encontrar o sentido para si mesma?

Lizzy não queria escutar aquilo. Não estava para preparada para ouvir isso.

— Lizzie, eu sei que você esta pensando: que eu sou um idiota...O que mais: que me acho um Deus, mas na verdade, eu somente estou fazendo meu trabalho. Eu ajudo a controlar o tempo e suas anomalias. Eu encontro o que deve ser mudado e final feliz para cada ser nesse mundo, assim como outros que tem o mesmo papel que o meu – Ela não conseguia entender como ele poderia ler seus pensamentos, mas realmente, era tudo que ela pensou sobre ele – Confie em mim, eu jamais iria deixa-la em uma situação difícil sem ajuda. E não interferi na sua vida, para lhe causar dano. Então, vou lhe dar o celular novamente – Ele tirou o aparelho no bolso interno do seu casaco prateado e estendeu para ela o celular. Lizzy pegou o objeto, com receio e olhou para a tela preta. Fazia tanto tempo que não via um em sua frente – Irei enviar mensagem, quando você tiver perto de cumprir sua jornada. E ao final da jornada, você recebera outra, confirmando isso. E logo você estará em casa novamente. Na sua verdadeira casa.

Ele sorriu para ela e retirou o chapéu, como se estivesse a cumprimentando. Colocou de volta sobre a cabeça e disse:

— Volte logo para o teatro. Seu cavalheiro branco vai sair em alguns instantes. Guarde o celular e não deixe ninguém ver.

Antes que ela pudesse protestar, ele lhe deu as costas e caminhou para longe dela. Ela apertou o objeto retangular sobre a palma, sentindo que finalmente teria um meio de voltar para casa. Queria agradece-lo, mas ao mesmo tempo, sentiu que ele falou a verdade para ela, quanto ao vazio que sentia no seu próprio tempo, como se não tivesse qualquer proposito para sua vida, a não ser trabalhar. Então, ela escutou a voz de Darcy.

— Senhorita?

Lizzy se virou, assustada. Alexander havia dito que seu cavalheiro branco iria aparecer em alguns instantes. Ele seria Darcy? Era bobagem. Alexander devia estar brincando com ela, como sempre.

— Senhor Darcy – ela disse.

— Por que está sozinha aqui, senhorita? Deveria entrar. Não é seguro para a senhorita – ele disse, com uma voz solene e a encarou preocupado.

— Ah, me desculpe. Eu precisava de ar e fiquei tempo demais aqui – ela se explicou, se aproximando dele, para entrar no teatro.

Ele puxou-a pelo cotovelo a levando de volta para o camarote. Lá ainda estavam Caroline e Georgiana. Com acréscimo demais uma convidado. O coronel Richard Fitzwilliam.

— Boa noite senhorita Elizabeth – ele cumprimentou, fazendo uma reverência – Permita-me dizer que a senhorita está muito bonita essa noite.

— Obrigada – Lizzy agradeceu, corando e se sentou ao lado de Georgiana.

Darcy sentou-se ao seu lado e permaneceu quieto, enquanto que Georgiana e Richard conversavam sobre a peça. O segundo ato não havia se iniciado ainda. Caroline estava aborrecida por não conseguir atenção de Darcy e Lizzy estava tentando colocar o celular dentro da sua bolsinha de crochê, mas parecia algo impossível, pelo tamanho do objeto. Ela desistiu e deixou sobre o colo. Nem sabia o que diria se alguém visse o celular e perguntasse o que era. Talvez, dissesse que era um espelho.

— A senhorita está bem? – Georgiana perguntou – Ficamos preocupados quando não voltou. Darcy estava impaciente.

Lizzy olhou de soslaio para ele, que estava com um olhar sério, voltado para o palco, que tinha as cortinas vermelhas cerradas. Ele não demonstrou nada quando sua irmã havia dito sobre a impaciência dele. Lizzy fingiu não ouvir essa parte, também. Não queria criar falsas expectativas e nem daria esperanças a ninguém ali.

— Eu estava precisando de ar, mas acho que demorei muito – Lizzy comentou.

— A senhorita deveria tomar cuidado ao sair sozinha – Georgiana comentou em voz baixa – Há pessoas muito mal intencionadas nessa região de Londres. Assaltantes são bem comuns por aqui.

— Senhorita Georgiana, isso não é uma conversa para uma dama – Caroline ralhou, de forma irritante.

— Me desculpe senhorita Caroline – ela pediu.

Lizzy queria protestar e dizer que Georgiana não devia qualquer desculpa àquela megera, mas se absteve. Afinal, só causaria mais problemas se dissesse algo. Já notava que Caroline não gostava dela e talvez, criasse uma inimiga, o que não facilitaria para ela o tempo que ainda teria de passar no século XVIII. A peça se iniciou mais uma vez, mas Lizzy não prestava a atenção na tragédia do mouro de Veneza. Ela estava mais preocupada com sua própria tragédia, que parecia não ter fim. E se preocupava se tudo terminaria mal para ela.

Fora um alívio quando a peça terminou, pois ela desejava pensar ainda sobre o que Alexander havia lhe dito e não estava se sentindo bem na companhia de Caroline Bingley, nem do coronel Fiztwilliam. Ela embarcou na carruagem com os Darcy, se despedindo de todos. Contudo, Richard fora junto com eles na carruagem. Darcy e Richard conversavam, enquanto Lizzy olhava pela janela, pensativa. A primeira parada foi na residência dos Darcy, o que Lizzy não compreendeu. Richard e Georgiana desceram juntos. Antes, Georgiana deu um abraço em Lizzy, o que a deixou comovida. A jovem era doce e amável. Algo que faria falta para Lizzy, quando ela fosse embora.

Depois que a carruagem ficou em movimento, Lizzy perguntou o motivo para não ter parado primeiro em na casa dos Gardiner.

— Eu queria conversar a sós com a senhorita – Darcy respondeu.

— Ah, sim – Lizzy disse, com a voz tremula. Não conseguia entender o motivo do seu nervosismo, mas estava esperando algo daquela conversa. Algo que ela ainda não entendia o que era.

— Senhorita Elizabeth – Darcy começou a falar de forma séria - Eu quero que saiba que tenho muito apresso pela senhorita. Seu modo de ser me cativou e a forma como recusou meu pedido de casamento, apenas para salvar sua reputação me deixou um pouco perplexo. Veja bem, eu nunca fui recusado em toda minha vida. Na verdade, nunca pedi nenhuma dama em casamento, mas muitas famílias desejaram ter uma conexão com a família Darcy. Mas, eu não tinha a intenção de me casar. Talvez, depois que minha irmã se casasse e apenas para cumprir meu dever, para gerar herdeiros. Mas, sua recusa me fez enxergar melhor à senhorita – Enquanto Lizzy escutava o monólogo de Darcy, ela começou a entender onde aquela conversa iria findar e não estava gostando daquilo, ainda mais pelo tom pratico e monótono daquele discurso, o qual ela não estava fazendo parte – E devo lhe dizer que a senhorita me surpreendeu. Não é como outras jovens em tempo de casamento. Não é frívola, mas tem uma mente aguçada. Muito inteligente, de fato. Apesar de não saber se a senhorita tem qualquer fortuna, nem uma família que a recomende, mesmo assim, eu desejo me unir à senhorita. E venho notado que a senhorita não é indiferente a mim – Quando ele disse isso, ela queria protestar, mas ele não deu tempo a ela: - Então, quero lhe fazer o pedido, de forma correta dessa vez, pelos motivos certos. Quer se casar comigo?

Ouvir o pedido que ela sabia que ele faria a deixou atônita. Ela sabia que ouvira aquilo no final daquele discurso monótono. Não havia paixão, o que a deixou decepcionada. Ela esperava que se algum dia casasse que fosse por estar apaixonada pelo seu marido. Mas, não havia nada disso ali. Ela sentia atração por Darcy, isso era um fato consumado. Apesar disso, não sentia que o amava. Não desgostava dele, mas faltava algo. Faltava paixão. E ali, dentro daquela carruagem, ela teria que decidir se iria rechaça-lo mais uma vez, ou lhe daria uma chance. Contudo, ela não via uma chance para os dois. Não, ela não poderia ficar no século XVIII, nem mais um minuto. Então, ela respondeu de maneira educada:

— Senhor Darcy, eu estou muito lisonjeada pelo seu pedido, mas como senhor mesmo disse, eu não tenho nenhuma família que possa me recomendar ou fortuna. E isso deve ser muito importante para o senhor – ela tentou controlar sua ironia, mas foi impossível. Contudo, não poderia julga-lo. Era isso que se pensava naquele tempo, que o nome e a fortuna eram tudo – Mas, devo recusar seu pedido. E deixe-me explicar meus motivos.

— Por favor, me deixe entender, então – ele pediu, com a voz um pouco alterada.

— O senhor é um homem interessante, não posso negar – ela começou – Mas, isso não é o suficiente para nos unir em matrimonio. Algo que é irreversível e que nos manterá unidos até a morte. Não posso levar levianamente seu pedido, pois no futuro, o senhor ira se arrepender por escolher-me como sua esposa. Será ridicularizado pelos seus pares e sabe disso. Eu não tenho conexões com nenhuma família importante, nem dinheiro, como o senhor bem sabe. E, além disso, minha intenção não é ficar aqui. Eu quero voltar em breve para casa.

— Suas justificativas não me convencem senhorita – ele interrompeu, com um tom humorado.

Era algo que Lizzy não esperava ouvir. Uma nota de humor em sua voz.

— E poderia me explicar o porquê, senhor? – ela perguntou, cruzando os braços sobre o peito.

— Primeiramente, suas justificativas quanto a sua fortuna e nome não me impedem de querer desposa-la. Eu lhe disse que apesar disso, eu a desejo como esposa. E se não deixei claro, reforço isso. Eu a desejo como minha esposa. Até mesmo Georgiana aprova nosso enlace. Quanto aos restantes dos meus familiares, eu não me importo com a opinião dele. E segundo, sua vontade de ir para casa poderá ser atendida. Eu lhe disse que a ajudarei.

— Bom, o senhor tem um ponto – ela disse, surpresa pela veemência que ele defendia seu ponto de vista. Mas, havia algo que faltava naquele pedido de casamento. A vontade dela de permanecer naquele lugar e os sentimentos que ela tinha por ele e ele por ela – Mas, o senhor não me deixou terminar de explicar os motivos para minha recusa.

— Continue – ele incentivou.

— Há no senhor qualquer sentimento além da admiração pela minha pessoa? – ela perguntou.

— Eu...eu estimo muito, senhorita. Gosto da senhorita – ele respondeu, com um mais baixo.

— E acredita que sentir isso é o suficiente para se ter uma relação tão séria como essa? – ela alfinetou.

— É muito mais do que muitos casamentos já tiveram, senhorita. Na verdade, é uma benção poder escolher com que se deseja casar e admirar seu parceiro para toda vida – ele explicou, sem se abalar.

— Mas, é o amor, senhor Darcy? Onde está o amor? Onde está a renúncia? Onde esta aquele sentimento que nos arrebata?

A provocação dela gerou silêncio. E Lizzy se sentiu decepcionada. Ela não sabia o que esperava ao dizer aquilo.

— Bom – ela tomou a palavra novamente – Já vejo que não podemos nos unir em matrimonio, senhor Darcy. Por isso, não, eu não desejo casar com o senhor. Espero que encontre sua felicidade.

E para sorte dela, a carruagem parou de repente. Ela abriu a porta e desembarcou da carruagem, sem dizer mais nada a ele, nem ao menos esperar uma replica. Ela fechou a porta e avisou ao cocheiro para deixar o senhor Darcy na casa dele. Viu o veículo se afastar e respirou profusamente. E então, sentiu seu corpo tremer pela adrenalina que sentiu ao discutir com Darcy. Não era uma discussão acalorada, mas era uma defesa de ponto de vista dispares. Uma jovem que acreditava que uma união deveria ser pautada no amor e um jovem que acreditava que as uniões deveriam ser feitas pelo interesse econômico e de status, mas que ao mesmo tempo, demonstrou que poderia se unir a alguém que admirava, ao menos. Então, seus pensamentos se tornaram frenéticas. Não seria Darcy um cavalheiro que tinha problemas para expressar o que sentia? E que ele recusar se casar com alguém de status elevado era seu maior ato de renuncia as suas próprias convicções? Além do fato de que ele a salvou, sem ao menos conhecê-la, mesmo sabendo que ela poderia ser perigosa para ele e para sua irmã. Será que não estava sendo dura demais com ele? Mas, não posso me casar com ele, ela pensou. Eu não sou desse tempo. Nem o amo e nem ele me ama. Decidida que ao menos tentaria manter a amizade de Darcy, ela entrou na casa dos Gardiner, com o coração dolorido, carregando o celular no bolso, sentindo que não fizera o certo ao recusar Darcy.


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