O Bailarino escrita por Mayara Silva


Capítulo 12
Confissão - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Boa leituraa ♡ ♡ ♡



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Ruínas dos alforriados – 11:42 hrs

 

Sofia pôs o pé, calçado em um lindo sapatinho semitransparente de salto baixo, sobre um pedaço de grama ensebado de lodo e deslizou até fazer espacate.

 

— Aai!

 

Thomas rapidamente se virou para ajudar sua amada. Segurou suas duas mãos e a ajudou a se levantar. Sofia esfregou as pernas uma na outra.

 

— Eca, eca! Agora todos os meus babados estão sujos com essa coisa nojenta!

 

— Isso é lodo.

 

— E quem te perguntou, senhor sabe-tudo de floresta?! Ai, que nojo!

 

— Choveu pela manhã, a mata tá cheia de lodo, Sofia! Você tem certeza que quer continuar? Vai sujar o seu vestido todo.

 

— Minha irmã é mais importante que isso, você sabe…

 

— Então não reclame se encontrar algum sapinho ou lodo por aí, porque estamos apenas no início do matagal.

 

Sofia suspirou e relaxou os ombros, desanimada com aquelas palavras. Thomas sentiu-se um pouco culpado, não queria tirar as suas forças diante de tal resgate, mas não acreditava que estavam tomando uma atitude prudente. Ele esperava despertá-la antes que as coisas piorassem.

 

— Me perdoe, Sofia. É que… se fosse um adulto a cavalo, isso daria certo, entende? Nós dois não podemos fazer muito.

 

— É a minha irmã, Thomas.

 

— Eu sei… Eu não vou te deixar entrar naquele lugar sozinha, eu vou com você. Eu só… Tenha cuidado, tudo bem?

 

Ela assentiu.

 

— Obrigada.

 

O garoto sorriu e continuou a segurar sua mão. Ela não o recusou, entrelaçou o braço ao dele e seguiu os seus passos com cuidado. Thomas normalmente se sentiria atordoado de paixão, mas a situação periclitante do momento não o permitia entrar nesses pensamentos sonhadores. Ele queria deixar a amada feliz e, sobretudo, encontrar a amiga desaparecida.

 

— Uma pena que veio com esse vestido florido. Ele é muito bonito, e você o deixa mais bonito ainda.

 

Sofia não pôde deixar de ruborizar com o comentário, embora tenha segurado o sorriso e mantido uma expressão séria.

 

— Bobo, isso não é hora para elogios.

 

— Desculpe…

 

Ele murmurou, com um sorriso travesso no rosto. Com o silêncio do momento, Sofia tornou a pensar sobre o que Thomas havia dito, sobre o seu vestido florido, e então lembrou-se do que tinha dito aos seus pais ainda naquele dia. Levou a mão aos cabelos e tirou de seus fios morenos a rosa que havia ganhado do bailarino, sentiu seu coração apertar ao se lembrar que revelou o segredo de sua irmã para os pais, mas não podia negar que, dentre todos os suspeitos, aquele era o principal.

 

— Thomas…

 

Ele a contemplou.

 

— O quê?

 

— Essa… rosa…

 

Ela a girou pelo caule algumas vezes até se deparar com uma das pétalas um pouco descamadas. No canto externo havia um tom de rosa intenso e avermelhado.

 

— Espera aí…

 

Ele murmurou dessa vez, também percebendo a falha. Segurou a rosa da garota e passou a roçar a unha pelo pequeno detalhe até todo o disfarce vir abaixo e revelar uma rosa vermelha sob a camada de uma tinta de tons claros. Então, Sofia percebeu que aquele era o mesmo tipo de rosa entregue também para Anelise, no dia do baile…

 

— Sofia, olhe!

 

… e era, também, o mesmo tipo de rosa que jazia pelos canteiros encontrados naquela selva.

 

— Estamos perto… eu acho.

 

— Vamos.

 

Seguiram em frente até enfim encontrarem um piso rudimentar de concreto. Logo à frente haviam construções antigas e abandonadas. Sofia sentiu um arrepio, estava com medo, mas nada a impediria de continuar agora, pois estava perto de pôr um fim às suas perguntas.

 

x ----- x

 

Casebre dos Jackson, ruínas – 12:10 hrs

 

A essa hora, o sol já surgia entre as nuvens e aquecia as plantinhas encharcadas. Anelise e o bailarino estavam nos jardins daquele casebre velho e abandonado, e ela surpreendeu-se ao descobrir como esse lugar parecia tão bem cuidado por dentro quanto era desleixado por fora. Logo no início do quintal havia um lindo caminho de pedras rodeado por flores e rosas de todos os tipos. O homem caminhou pelo seu "santuário" e levou a moça até um de seus canteiros de mais orgulho.

 

— São tão lindas… Que tipo de rosas são essas?

 

— Essas são autênticas Dianeae, aquelas ali são Janethys, as outras, logo atrás, são Kathiriniens. Mas as minhas preferidas são essas…

 

Ele removeu a rosa murcha dos cabelos ruivos da garota, sem a sua permissão, e a trocou por outra daquele canteiro, perfumada, cheia de vida. Anelise tentou segurar o seu sorriso bobo, mas não conseguiu esconder suas bochechas rosadas.

 

Heleanea. São aveludadas, são vermelhas e têm um aroma suave e adocicado. E o melhor: todos os seus espinhos foram podados. Eram também as preferidas de uma garotinha de cabelos rebeldes.

 

Ela gargalhou.

 

— E esses nomes científicos? São apenas uma estranha coincidência?

 

— As rosas são minhas, as nomeio como quero. Não acha justo?

 

Ela sorriu, e Michael, observando aquela reação tão genuína, não pôde deixar de retribuir.

 

— É justo — disse-lhe, mas logo virou o rosto em direção ao casebre. — Hum… que cheiro gostoso é esse?

 

— Ah… Venha, já deve estar pronto.

 

Ele seguiu em frente e deixou que a garota o acompanhasse. Assim que deixaram os sapatos de lado, o homem seguiu até o fogão à lenha, na cozinha, e buscou uma colher de madeira para mexer o caldo colorido que preparara.

 

— Oh…  você não tem fogão a gás?

 

— São as coisas da minha mãe e ela detesta essas modernidades, mas garanto que a qualidade é a mesma.

 

A garota sorriu e, ainda curiosa, se acomodou à singela mesinha que havia ali.

 

— Então você cozinha? Mamãe costuma me dizer que isso é a tarefa da mulher.

 

— Minha mãe também pensava assim, mas agora ela precisa descansar e minhas irmãs foram viver suas vidas. Eu não tenho mulher, então… — ele levou a colher à boca e saboreou — era aprender ou morrer de fome. O que acha que eu deveria ter feito?

 

— Acho que não há nada que impeça um homem de aprender a cozinhar.

 

Ela respondeu, enquanto apoiava o rosto nos braços e não tirava o olhar do adulto. Embora não pudesse ver muito bem suas expressões, conseguiu capturar o seu sorriso aquiescente.

 

— Você ainda é você.

 

Disse-lhe, e aquelas palavras fizeram a ruiva refletir. O silêncio tomou conta do ambiente, tornando a cozinha o lugar perfeito para divagar em pensamentos. Ela desviou seus olhinhos para o nada e tentou mais uma vez relembrar o seu passado com aquele homem, sem sucesso. Ele, por outro lado, notou a sua solitude. Nada escapava de seus olhos escuros, e, enquanto temperava a comida, admirava a pequena Anelise, daria tudo para ler a sua mente.

 

— Michael…

 

Ela murmurou, o que acabou o despertando, também, dos próprios pensamentos.

 

— Diga.

 

— A música que você cantou… Quem escreveu?

 

Ele manteve um silêncio momentâneo.

 

— Eu.

 

A ruiva suspirou.

 

— Eu senti… uma coisa estranha, quando ouvi. Era como se essa música estivesse lá... no meu passado.

 

Michael engoliu seco. Ele sabia que havia o risco desse sentimento surgir, mas o seu coração já não conseguia vê-la chorar novamente, a necessidade de cessar suas lágrimas foi mais forte.

 

— Helena…

 

Ele lentamente se virou para ela. Anelise lhe deu o dobro de atenção, manteve o silêncio e aguardou por suas palavras. Ele parecia querer lhe dizer algo importante, mas o olhar concentrado que fez em direção à porta dizia que o assunto teria que ficar para depois.

 

— Você precisa voltar para casa.

 

Logo, todo o peso adormecido da irresponsabilidade caiu na consciência da garota.

Ela se levantou rapidamente.

 

— Meus pais!! Pastel!! Você precisa me dizer pra onde eu devo seguir! Não sei ir daqui para a cidade!

 

O moreno arqueou a sobrancelha ao ouvir aquele termo curioso. Discretamente sorriu, sem dizer o motivo, e buscou apagar o fogo do fogão à lenha antes de ajudar a ruiva a encontrar o caminho de volta para casa.

 

— Eu não poderei ir, preciso me preparar para o trabalho. Siga os canteiros de Heleanea, e você chegará no início da floresta.

 

Ela torceu o narizinho, incrédula.

 

— Você não vai me acompanhar?!

 

— Não preciso. Antes mesmo que ache o primeiro canteiro, alguém encontrará você. Já estão à sua procura.

 

— O quê? Como você sabe?

 

Ele estampou um sorriso enigmático.

 

— Você é uma de Marlborough. Você é valiosa. Estou apenas dando um palpite certeiro. Agora vá, você não pode perder mais tempo aqui.

 

Ela suspirou e assentiu. Antes de se despedir, foi até o homem e inesperadamente o abraçou. Michael não esperava pelo abraço, mas o aceitou de bom grado, entrelaçou os braços no corpo frágil da garota e levou os lábios à sua fronte, dando-lhe um suave beijinho.

 

— Não odeie os seus pais.

 

Ele sussurrou. Anelise, em silêncio, apenas moveu a cabeça em concordância.

 

— Os aceite. Eles são os seus pais e te amam.

 

— Eu nunca me senti amada.

 

Respondeu incisivamente, sentiu que precisava esclarecer aquele ponto de uma vez por todas. Michael não a deixou escapar de seus braços, a acolheu em todo seu amor, como na primeira vez que a viu.

 

Ela tornou a murmurar.

 

— Nunca… exceto por Sofia.

 

Ele sorriu.

 

— Eu também amo você.

 

Dito isso, ele lentamente se afastou e deixou que ela seguisse o seu destino. Anelise não queria partir, mas sabia que precisava ir, mesmo que seu coração estivesse sufocado pelas revelações que, agora, tinha conhecimento. Ela buscou não divagar muito em sua despedida, virou-se e não olhou mais para trás, partiu rumo aos canteiros de rosas vermelhas.

 

E, antes que encontrasse o primeiro grupo de rosas, reconheceu a voz reclamona da sua irmãzinha.

 

— Ah, Thomas! Pra mim, estamos perdidos!

 

— Não estamos, juro que é por aqui!

 

Os olhos se encheram de lágrimas.

Anelise seguiu as vozes, olhou por todos os cantos, mas o garoto a encontrou primeiro.

 

— Anelise!!

 

— Irmãzona!!

 

A ruiva não proferiu mais uma palavra, correu e correu até encontrar os braços da morena. Thomas freou os sentimentos eufóricos quando notou estar prestes a abraçar as meninas, todavia, sabia que era o momento delas. Deu alguns passos para trás e deixou que as duas matassem a saudade e o medo.

 

E, naquele momento, o dia ensolarado tornou-se tempo nublado.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:

— Eu o amo, mas ele não quer nada comigo. Está tudo bem, essas coisas acontecem.

— Não, não acontecem.

Revidou o conde, buscando manter a compostura. Tinha a dialética branda, por costume, mas todo o estresse do sumiço de sua filha havia mudado o seu temperamento. Aquela situação aparentemente mudou um pouco de cada um.

[...]

— [...] esse homem já está ciente, mandamos um postal para ele. Por mínimo que tenha sido o contato entre vocês dois, a ele, concederemos o seu dote.

Ela os encarou com espanto.

— O quê??!!



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