O Bailarino escrita por Mayara Silva


Capítulo 11
Confissão - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Boa leituraa OuO



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Ruas de Londres – 11:06 hrs

 

Em um tenebroso contexto como aquele, o dia estranhamente amanheceu ensolarado. O céu ainda cobria-se de nuvens inconvenientes que emergiam do desconhecido em uma pífia tentativa de preencher tamanha extensão gloriosa e azul, mas, ainda que diante dessa situação, não foram capazes de obliterar os formosos raios solares que há meses escondiam-se em sua solidão e castigavam a Londres com sua ausência.

 

Em tal clima atípico, Sofia caminhava pelas ruas movimentadas pela primeira vez, sozinha, tentando a todo custo ajudar sua família com as buscas de alguma forma. Queria se sentir útil, queria ser útil, mas não sabia o que uma moça tão resguardada como ela podia fazer. Sentia-se de mãos atadas.

 

— Como é que Anelise falava? "Ah, pastel!" — suspirou e relaxou os ombros, sentindo-se desanimada, enquanto seu olhar buscava o vazio no chão de concreto. — Sinto sua falta, irm… Thomas?

 

A menina despertou de seus devaneios quando seus olhinhos esverdeados alcançaram o rapaz. Tudo estava estranho, estranho demais. Ele não a notou se aproximar, parecia perdido em devaneios e Sofia sabia que isso nunca acontecia. Thomas era como um poeta do Romantismo, e ela, sua musa inalcançável.

 

Lentamente se aproximou. Ele estava olhando para o nada, descansando em um banco de madeira na pequena praça local.

 

— Thomas?

 

O menino despertou, piscou os olhos algumas vezes e, enfim, realizou que a menina estava ali.

 

— Sofia?!

 

O tom, diferentemente do amoroso e piegas esperado, soou assustado e reprimido.

 

— Você tá esquisito.

 

— "Esquisito" nada! Esquisita é você!

 

Ele se afastou bruscamente, levou as mãos aos bolsos e seguiu por um caminho qualquer. A raiva, por um instante, subiu para os miolos da menina confusa, até que ela pôs-se a pensar um pouco. Thomas estava estranho, isso era óbvio, e algo lhe dizia que o sumiço de sua irmã estava envolvido.

 

— Thomas, por acaso você não sabe de nada do paradeiro da Anelise?

 

— Quê?! E por que justo eu, oras?! Não sou grudado na sua irmã.

 

— Hum… Isso é suspeito.

 

— Suspeito por quê? Não fiz nada!

 

— É que a gente ainda não espalhou a notícia pela cidade. Você devia estar surpreso por saber isso.

 

Ela havia o encurralado.

Thomas ia contra-argumentar, mas nenhuma palavra ousou sair de sua boca. Ele suspirou, já vencido.

 

— Olha, eu realmente não tenho a ver com isso…

 

— Mas sabe de alguma coisa, não sabe? Ah, seu imbecil! Se eu conto pro meu pai…

 

— Não, não conte! Eu estou dizendo a verdade! Sua irmã é doida! Ela chegou a mim, alegando que precisava ir até a antiga comunidade de escravos que fica…

 

— ONDE??

 

A garota agarrou o menino pelo colarinho. Thomas arregalou os olhos, não esperava uma abordagem tão enérgica dela, ou, ao menos, não desejava que fosse naquelas circunstâncias.

 

— A comunidade! A que fica pros lados da floresta…

 

Sofia suspirou e o soltou logo em seguida. Ponderou, deu uma olhada em si própria, definitivamente não estava pronta para se embrenhar no mato, tinha saltinhos semitransparentes e um vestido de bordas rastejantes, mas aquilo pouco importava se tinha a pista para o paradeiro da irmã. Pela primeira vez, não se sentiu recuada.

 

— Vamos até lá.

 

— Não devíamos ir atrás dos adultos?

 

— Pela rainha, Thomas! Nós somos os adultos! Logo iremos casar, ter filhos!

 

— Iremos??

 

O garoto enrubesceu, estupefato. Sofia prontamente revirou os olhos, não costumava entender os meninos tão depressa, mas Thomas Garth era uma de suas raríssimas exceções.

 

— Não finja que não entendeu! Agora vamos logo!

 

Ela o puxou apenas para se sentir, em uma vez excepcional, a "líder do bando". Thomas ainda era o seu guia, uma vez que ela não conhecia nada da própria cidade em que vivia. Seguiram em direção ao antigo refúgio dos feridos e marginalizados, aqueles que não eram bem-vindos em uma terra que não escolheram coabitar. Assim que viu as primeiras folhagens secas de uma estação incomum, Sofia sentiu seu sangue congelar. Estava fugindo pela primeira vez do protocolo dos seus pais, mas, sobre isso, sua consciência estava leve — apesar da adrenalina em suas veias — pois Anelise precisava de ajuda, e ela própria precisava buscar a sua redenção.

 

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Ela estava encantada com o quarto pequenino, as paredes cor de salmão, as pequenas florzinhas a decorar o papel, os espelhos rodeando o ambiente e uma pequena janela branca permitindo que os raios de sol iluminassem tudo o que tocava.

 

Não deveria estar ali, mas foi dali que ouviu uma melodia adorável e graciosa, algo que lhe despertou a curiosidade, a vontade do saber. Caminhou em passos cuidadosos, na pontinha dos pés, até enfim se deparar com mais alguém naquele lugar bonito.

Era ele. O mesmo estranho que a trouxe. Estava de costas, vestia preto — completo e justo ao corpo —, olhando bem, era magro, muito, e tinha pernas bastante flexíveis. A menina se aproximou, aproveitou que ele não a percebeu e começou a observar os seus passos.

Sem palavras, tomada apenas pela melodia doce daquela orquestra na velha vitrola inventada há pouco tempo, tentou segurar as barras improvisadas de madeira — mas muito bem trabalhadas —, porém não teve sucesso. Correu para pegar algum suporte, e ele enfim a notou. A menina buscou alguns livros, já estava familiarizada com os cômodos daquela pequena casa, e logo retornou. Ele tornou a dançar, fingindo não saber de nada.

 

Então, ele enfim entendeu as suas intenções.

 

Ao seu lado, sobre sua pilha de livros acerca da mitologia grega, a pequena ruiva segurava as barras com afinco e copiava os seus trejeitos, mesmo que desajeitadamente. Os passos trocados, as perninhas pouco flexíveis, os braços em posições diferentes, e, mesmo assim, parecia gostar daquilo. O rapaz sorriu, continuou a dançar, e dançaram por uma tarde inteira.

 

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Casebre dos Jackson, ruínas – 07:56 hrs

 

Quando despertou, a primeira coisa que viu foi uma belíssima bandeja de café da manhã ao lado de sua cama. Ademais, não se lembrava sequer de ter ido para a cama. Tudo o que vinha à sua memória eram lágrimas, rancor e recusa, e cansaço repentino. Adormeceu que nem viu.

 

— Uau…

 

Murmurou, em seguida se serviu com um pãozinho e um café, muito bons por sinal. Se estava envenenado ou não, se devia confiar naquele dançarino estranho ou não, agora pouco importava para ela. Calçou-se e buscou um toalete para lavar o rosto.

 

Ouviu uma melodia.

 

Uma que conhecia bem. Dos grandes espetáculos, das elites, das artes grandiosas. O segundo ato de O Lago dos Cisnes, o momento da aparição mais emblemática do mago Rothbart. Anelise adorava essa parte, era a sua preferida. Caminhou cuidadosamente pelos corredores, seguindo cada uma daquelas notas, até se deparar com um quartinho entreaberto. Espreitou e, então, sentiu uma estranha sensação de déjà vu ao observar todo aquele ambiente ao clarear do dia. As paredes estavam descascando, mas ainda preservavam uma beleza singela e acolhedora do salmão e das pequenas florzinhas, o piso era de madeira clara e polida, a janelinha branca ainda estava ali, tudo era estranhamente familiar.

 

Embora a melodia de Tchaikovsky estivesse tocando, o bailarino, que não a notou bisbilhotando, estava apenas aquecendo o seu corpo com os cinco passos básicos e tradicionais. Já não vestia mais os seus opulentos trajes em preto, mas sim uma camisa branca de mangas longas, meia-calça simples e os cabelos presos sob um rabo de cavalo baixo e desgrenhado.

 

Anelise passeou com o olhar pelos seus pormenores. Bailarinos costumavam possuir o corpo esculpido, as pernas sobretudo, e ela não podia evitar admirar cada detalhe, mas, para além da paixão que naturalmente nutria por ele — ou assim acreditava —, alguma coisa dentro de seu coração lutava para inibir aquele desejo. O que era, não sabia. Talvez medo do primeiro amor, talvez autoproteção exacerbada, talvez…

 

— Bom dia.

 

Sua voz o estagnou.

Ele lentamente virou o rosto em sua direção e Anelise pôde perceber suas palmas agarradas às barras com afinco. Ela engoliu seco.

 

— Eu… não queria interromper.

 

O bailarino soltou um suspiro muito discreto e se deslocou para o canto da sala, pondo um fim à melodia que entoava.

 

— Eu só… eu queria me desculpar por ontem.

 

Ela complementou. O homem, ainda sem olhar em seus olhos, deslocou para outro ponto da sala e fingiu estar ocupado.

 

— Está perdoada.

 

Ela suspirou. Era um fraco começo, mas suficiente.

 

— Eu… queria entender algumas coisas…

 

Também tornou a passear pelo ambiente. O bailarino a observava meticulosamente, e disfarçava com maestria quando ela virava os olhinhos azuis em sua direção. Anelise agora observava o pouco que havia ali da história do rapaz: alguns recortes de jornais que estavam longe de ser sobre sua pessoa, mas sobre os grandes espetáculos em que participou e as grandes casas onde se apresentou, lugares de exímio prestígio.

 

— Digo… Se você não foi aceito na academia britânica, como conseguiu se consagrar?

 

— Eu tentei de novo.

 

Rápido e incisivo. Anelise não resistiu a tentar olhar em seus olhos mais uma vez, em um rápido virar de cabeça, porém contemplou apenas as suas costas.

 

— Eu treinei dia e noite, dia e noite, e, quando já estava mudado, eu voltei com outro nome.

 

Continuou. A ruiva arqueou a sobrancelha ao ouvir a palavra "mudado".

 

— Como você era? O que fez isso em você?

 

Ele suspirou e enfim a encarou.

 

— Não sou como você, Helena. Eu não tenho sua cor, eu não tenho identidade. Sou doente. Eu danço entre as castas sociais, entre o luxo e a miséria, entre o gozo e a repulsa.

 

Anelise parecia confusa com suas palavras, mas ele fez questão de se fazer entender depressa.

 

— É algo incurável. A minha pele escura desbota até revelar um tom alvo. Você… você costumava dizer… que eu tinha todas as cores do mundo.

 

Repentinamente o seu olhar azul se iluminou. Aquela frase — aquelas palavras — fazia parte de uma memória desbloqueada, algo que ela certamente vivenciou e, só então, notou que ele dizia a verdade.

Todavia, o bailarino ficou de sentinela, aquilo era uma palavra-chave e ele decerto buscaria evitar.

 

— Sou neto de escravos. Eu jamais poderia dançar em uma academia como essa… mas eu dancei. Eles não podem me negar, porque já estão necessitados de mim, e faço o que suas crias não podem, proporciono o que suas crias não dão.

 

— Isso é prepotente, não?

 

Ele enfim fixou o olhar no dela, e Anelise sentiu todo o peso dos seus olhos negros.

 

— São os fatos, e, ainda que negados, não deixam de existir.

 

Ela suspirou.

 

— Quantos anos você tem?

 

O homem estagnou por alguns instantes. Era uma pergunta inesperada, simplória e independente do assunto anterior. Ele franziu delicadamente o cenho.

 

— Dizem que é falta de educação perguntar isso a uma mulher, não a um homem.

 

Complementou ela, com um sorriso travesso no rosto. Ele sorriu, embora muito se esforçasse para disfarçar.

 

— Tenho trinta e oito.

 

— Uau…

 

A ruiva arqueou as sobrancelhas. Ao ver sua reação, o homem evidenciou o sorriso antes encoberto.

 

— Espero não parecer tão velho quanto a minha idade.

 

— Quantos anos eu tinha quando… você me encontrou?

 

Ele discretamente mordeu os lábios em ansiedade. Custou a responder, mas o fez, ela merecia saber.

 

— Você tinha entre três e quatro anos. O que mais quer saber?

 

— Muitas, muitas coisas. Você me deve respostas, eu preciso dessas respostas!

 

Ela cerrou os punhos, essa era a pergunta que precisava para confrontá-lo.

 

— Quem foi o meu pai? Por que ele morreu? O que você fez comigo quando me encontrou? Por que eu não consigo me lembrar completamente de você?

 

Ao proferir a última pergunta, ela repentinamente se calou. O bailarino arqueou a sobrancelha.

 

— … Por quê? Por que eu sei que você estava lá, mas… eu não consigo me lembrar de você?

 

— Claro que consegue. Minha mãe me disse que você se lembrou…

 

— Mas não totalmente. Eu não lembro do seu rosto, da sua pele, nem dos nossos momentos juntos…

 

— Eu mudei…

 

— Não me ludibrie!! Eu jamais me esqueceria de alguém como você! Isso… isso é impossível! Você cuidou de mim, não foi?

 

Ele suspirou.

 

— Foi. Helena…

 

— Não me chame de Helena…

 

— O seu nome é Helena.

 

— O meu nome é Anelise!

 

— Escute! Seu pai era um homem mau! Eu vi, com meus próprios olhos, o que ele fazia com você! Coisas que nenhuma criança no mundo merecia passar — ele levou as duas mãos para próximo do peito. — Eu me compadeci de você! Eu cuidei até onde foi possível. Eu não podia te adotar, pensariam que a sequestrei! Então… eu te dei… Eu não queria te dar, Helena…

 

Aquelas palavras paralisaram quaisquer outras perguntas que ansiavam por sair da boca dela. Anelise, agora, havia se calado bruscamente. O bailarino levou as duas mãos ao rosto e rapidamente limpou as lágrimas já preparadas para deslizar por suas bochechas, impedindo que a ruiva visse qualquer ponto de sua fraqueza. Falar sobre aquelas coisas era tão difícil para ele quanto era ouvir para ela.

 

— Os Marlborough…

 

— Eu busquei um casal rico, sem filhos. Eu… eu queria que tivesse uma vida boa, sem necessidades. Eu não queria que passasse pela mesma miséria que a minha — ele lentamente deslizou as mãos pelos próprios braços até que uma tocasse a outra. — Você era e ainda é muito bonita, eu sabia que não te recusariam. Eu deixei você dormindo, na porta de uma das casas deles… e então…

 

Ele arfou, tentou disfarçar os sinais, mas aquele suspiro profundo fez a garota perceber o quanto aquele assunto o afetava. Ele jogou os cachos para a frente e escondeu o lado direito do rosto.

 

— Me desculpe…

 

— Você cuidou de mim…

 

Ela lentamente desviou o olhar para o chão e percebeu, pelas gotas próximas de seus pés, que também havia chorado. Pela primeira vez, sentiu-se sincera e profundamente conectada com ele.

 

— Por isso fugiu… quando me beijou.

 

— Não me lembre disso.

 

Ele involuntariamente passou os dedos pelos próprios lábios. O cenho franzido em melancolia mostrava como aquela situação o incomodava.

 

— Não é assim que eu vejo você, Helena. Eu jamais te beijaria se soubesse… Eu te amei como se fosse minha filha.

 

Ouvir aquelas palavras havia a machucado mais que as outras partes da história. Passou uma noite inteira chorando pela mentira de seus pais, mas não encontrou palavras para descrever o que sentiu ao ouvir que o homem dos seus desejos mais carnais a via como sua filha, sobretudo porque não se lembrava de nada, e o que tinha em sua memória não lhe valia nada, ele nutria aquele sentimento em completa solidão.

 

— Eu te amo.

 

Confessou-lhe, mas ele não reagiu.

Ela continuou.

 

— Eu nunca te verei como um pai.

 

— Não peço que me veja assim, mas eu não me perdoaria se ignorasse tudo o que passei ao seu lado.

 

— Mas eu não me lembro de nada! Não é justo comigo! Tudo o que eu tenho do nosso passado são feixes de memória colapsados! Lembranças distorcidas que não me significam nada!

 

Ele tornou a chorar silenciosamente e dessa vez não disfarçou. Não era bonito para um homem chorar na frente de uma dama, mas Michael nunca havia conseguido se adaptar completamente à sociedade. Ele muito tentou por todos esses anos, todavia, sabia que sempre seria diferente. Ele tinha sentimentos muito profundos e incontroláveis que necessitava exprimir através da dança ou através do seu coração.

 

— Me perdoe…

 

Sussurrou mais uma vez, Anelise já não sabia mais por que motivo ele tanto pedia desculpas. Sua visão turvou, as lágrimas inundaram os seus olhos. Ela os limpou rapidamente, mas outras vinham logo em seguida, e assim percebeu que não as conseguiria controlar. Ajoelhou-se, deixou toda a saia de seu vestido espalhar-se pelo solo, levou as mãos ao rosto e chorou.

 

Mas então…

 

"Você viu a minha infância?"

 

… ele entoou.

 

Se ouvir a sua voz pela primeira vez havia arrepiado toda a alma da jovem garota, ouvi-lo cantar era ainda mais aterrador. Sua voz melódica era diferente de tudo que já ouviu um dia, cada nota daquela lhe trazia sensações inexplicáveis, sensações que a torturavam dilaceradamente por dentro, pois não conseguia exprimir o que sentia e o que aquele homem fazia consigo.

 

Lentamente levantou o rosto para contemplá-lo e suas lágrimas cessaram por um instante, respeitando aquele momento.

 

"Estou procurando pelo mundo de onde venho

Porque eu estive buscando

Nos Achados e Perdidos do meu coração"

 

Ele se calou. Embora tivesse se permitido chorar o que precisava, já não sentia mais o frio em suas bochechas. Evitou o olhar dela, e, então, um trovão pôde ser ouvido lá fora. Uma chuva havia se iniciado. Ambos ignoraram completamente aquela reação exagerada da natureza e, tal como as gotas de chuva que refrescavam a mata virgem do refúgio abandonado, Michael se permitiu soltar mais uma daquelas lágrimas ressentidas, solitária, única, que deslizou até o seu fim no chão.

 

"Ninguém me entende…"

 

Ele se ajoelhou, a imitando. Levou as mãos às próprias coxas, deixou que os cabelos cacheados ocultassem a sua face. Anelise manteve o olhar nele, os olhos azuis cintilavam com o que viu, já não chorava mais. Michael enfim levantou o rosto e retribuiu aquele olhar cheio de sentimentos.

 

— Não chore. Não… fique com raiva de mim.

 

Sussurrou. Anelise lentamente se aproximou para ouvi-lo melhor, mas ele cessou qualquer outra reação sua quando alcançou o seu rosto e levou uma mão à sua bochecha, limpando os rastros frios das lágrimas que ficaram ali. Seu polegar deslizou carinhosamente pela maçã da face dela, enquanto seus olhos negros contemplavam-lhe os azuis.

 

— Não quero te perder mais uma vez…

 

Ela suspirou. Em um movimento sutil, se aproximou. Michael recuou, tinha medo, mas cedeu quando sentiu os lábios da garota tocarem a sua bochecha em um beijo inocente.

 

— Se não me quer como sua mulher… me terá como sua amiga.

 

Sussurrou em resposta. Sem dizer mais nenhuma palavra, ele a abraçou, e ela o retribuiu.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:

— Thomas…

Ele a contemplou.

— O quê?

— Essa… rosa…

Ela a girou pelo caule algumas vezes até se deparar com uma das pétalas um pouco descamadas. No canto externo havia um tom de rosa intenso e avermelhado.

— Espera aí…

Ele murmurou dessa vez, também percebendo a falha. Segurou a rosa da garota e passou a roçar a unha pelo pequeno detalhe até todo o disfarce vir abaixo e revelar uma rosa vermelha sob a camada de uma tinta de tons claros. Então, Sofia percebeu que aquele era o mesmo tipo de rosa entregue também para Anelise, no dia do baile…

— Sofia, olhe!

… e era, também, o mesmo tipo de rosa que jazia pelos canteiros encontrados naquela selva.

— Estamos perto… eu acho.



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