O Bailarino escrita por Mayara Silva


Capítulo 10
Processo de Cura


Notas iniciais do capítulo

Boa leituraa ♡ ♡ ♡ a coisa tá só esquentando OuO



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Eu tinha sonhos. Eram sonhos inocentes, infantis, de poder ajudar a minha comunidade através dos prestígios dos nossos talentos. Meus irmãos eram músicos, eram os meus heróis, eram batalhadores e eram quem eu queria ser um dia. Compartilhamos dos mesmos sonhos, mas o meu pai não concordou. Os levou para longe de mim, me deixou com minhas duas irmãs e minha mãe. Nós nunca mais os vimos, nem a ele, nem aos meus irmãos. Eu era, agora, o único homem da casa.

 

Um menino vazio de sonhos inocentes, que custou-lhe anos da vida para que conseguisse escolher um outro rumo a tomar. Anos… para que percebesse que, quando a idade chegasse, seria o provedor mais forte. O homem que manteria a casa, o único que teria acesso aos serviços braçais, o membro que abdicaria dos próprios sonhos para realizar os de quem ama, como minha mãe fez por nós.

Porém, aos meus onze anos, as minhas irmãs escolheram o balé como lazer educacional após o trabalho. Eu prometi a mim mesmo nunca mais usar a minha voz, mas eu sabia que precisava externar aquilo que havia dentro de mim, aquela faísca que nunca se apagou. Eu precisava colocá-la para fora, e eu resolvi apostar na dança. Eu não queria tornar isso em diversão, mas em profissão.

 

Todos nós trabalhamos arduamente para que desse certo. Minha mãe muito tentou me convencer a voltar para a música, mas o meu destino já estava traçado. Segui, com as minhas irmãs, para a única escola de balé clássico em nossa comunidade, e fui o único aluno homem.

 

Foi um caminho difícil, mas necessário. Afinal, esse era o meu processo de cura.

 

Salão de espelhos, Londres (memórias de Michael) – 17:05 hrs

 

— Meninas, dispensadas! Nos vemos amanhã à tarde! Se agasalhem!

 

Era um fim de tarde tenebrosamente frio. Nós somos um povo forte, não costumávamos faltar a nenhuma atividade em decorrência de algum temporal hostil, mas poucos alunos compareciam naquela época. Mesmo minhas irmãs preferiram retornar para casa após o trabalho, e eu continuei perseguindo essa coisa que vivia em meu coração e não me deixava largar as armas.

 

— Michael, pare com isso, a aula terminou.

 

Disse Diana, minha professora. Já tinha plenos vinte e quatro anos, e estava no lado esquerdo da sala, separado das meninas para que pudesse adaptar os passos ao meu gênero e ao meu corpo. Segurei as barras com as duas mãos e gradativamente pausei os alongamentos. Senti o seu olhar recair em mim, logo abaixei o rosto e esperei sua repreensão.

Mas ela não parecia chateada. Senti quando tocou o meu queixo, lentamente elevou o meu rosto, olhou em meus olhos e, então, vi um fraco sorriso se formar em seus lábios.

 

— Eu vejo como você tem se dedicado muito. Abri a escola hoje apenas por sua causa, nós não temos aquecedores muito eficientes e é difícil dançar no frio. Você ignora todas essas coisas para estar aqui. Você é maior que essa escola, sei que compreende isso.

 

Eu não disse uma palavra, mas ela me conhecia, sabia quando eu concordava com suas falas. Abaixei o olhar mais uma vez e cocei o dorso da mão esquerda. Nesse momento, ela notou as minhas manchas.

 

— Michael… de novo, isso…

 

Suspirou, em seguida me puxou tranquilamente para um canto onde pudemos sentar e conversar melhor. Eu mantive o olhar longe do dela, acreditando que isso me afastaria de indagações, mas Diana, até então, era a única a conseguir me acessar sem que eu fizesse algo contra.

Vi quando os seus dedos delicados passearam pelas minhas manchas horríveis, sem nenhum receio de contágio. Passei alguns anos da minha vida acreditando que a minha doença era uma maldição imunda e contagiante, e que me afastar das pessoas era a melhor forma de protegê-las, porém ela mudou todo o meu jeito de ver as coisas.

 

— Olhe isso… Sua pele está áspera. Tem passado arsênico mais uma vez? Michael, você não irá viver por muito tempo se continuar usando esse medicamento. Suas manchas brancas parecem maiores, não acelere mais isso, deixe que corra naturalmente.

 

Bruscamente me afastei. Percebi que ela se assustou com o meu movimento, mas bastava daquilo, eu não queria ouvir sobre minha doença, já era difícil o bastante conviver com ela em todos os momentos do dia.

Acredito que, naquele momento, ela percebeu como aquilo me machucava, pois não tocou mais no assunto.

 

— Eu quero apenas que fique bem, porque você é grande. Tem alguma coisa dentro de você que te faz ser grande. E… um dia, eu quero ver isso, entendeu? Quero ver outras pessoas reconhecerem isso em você.

 

Ela acariciou o meu rosto, passou o polegar pela minha maçã e, neste momento, não pude conter uma lágrima solitária. Aquelas palavras me lembravam do quanto eu estava perseguindo um sonho que não era meu, que me foi imposto, um sonho que me escravizou pelo resto da minha vida. E doía tanto… porque, por mais que vociferasse por esse sonho, eu sabia que ali não era mais eu, era outro, o meu verdadeiro eu havia partido com o meu pai e os meus irmãos para sempre.

 

Levei as mãos ao rosto e chorei em silêncio. Senti quando os seus braços delicados aconchegaram-me em um abraço terno, e, então, ela tornou a falar.

 

— Eu não sei o que é isso que você persegue, mas essa escola não é suficiente para você, Michael. Eu preciso te dizer uma coisa… e eu quero que pense bem se é isso mesmo que você quer.

 

Quando ouvi o seu tom de voz mudar, lentamente me afastei para olhá-la nos olhos com convicção. Aquilo me surpreendeu, simplesmente não fazia ideia do que ela me diria e confesso que fiquei nervoso, mas contive-me e esperei por suas palavras.

 

— Não há escola de balé clássico para negros, não há apresentação de balé clássico para negros, mas você não irá evoluir muito se continuar aqui. Portanto… — ela mordeu os lábios. Parecia nervosa, mas decidida — eu irei te conseguir um teste na Academia Real Britânica de Balé Clássico.

 

Estarreci. O que ela estava me propondo era muito além do que meus pensamentos poderiam alcançar. Burlar regras, mostrar meu talento, ser aceito por meus algozes. Era jovem demais para perceber até que ponto aquela audácia dilaceraria minha identidade, mas era muito mais simples burlar o sistema a destruí-lo.

 

Não havia escolha para mim. Eu queria aquilo.

 

— Você tem traços faciais delicados, eu sei que conseguirá conviver no meio deles. Sua pele… — seu polegar deslizou pelo meu rosto — ela será um problema, porque não é negra, nem branca, mas te vestiremos com trajes cobertos, cobriremos com tinta facial… Vai dar certo, você só precisa mostrar o seu dom. Se for excelente, eles não poderão te expulsar, mesmo que descubram as suas raízes. Diga-me… — disse, olhando em meus olhos — quer esse desafio? Você quer mesmo dançar?

 

Aquela pergunta me fez questionar a indubitabilidade das minhas ambições. Não… aquilo não era o meu sonho, não começou como meu sonho, mas poderia se tornar. Eu não podia deixar a amargura do meu coração destruir os esforços que minha família depositou em mim, eu não podia, também, perder a minha mãe e as minhas irmãs…

 

… Então, aceitei.

 

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Academia Real de Balé, Londres – 13:55 hrs

 

— Michael entrará em cinco minutos. Estejam prontos!

 

— Certo, senhor!

 

Disse Diana, que estava me ajudando na preparação. Estávamos em uma sala minúscula e desconfortável, e ela estava finalizando a minha maquiagem. Seus dedos discretamente deslizavam pela minha pele, instigando-me a fechar os olhos e imaginar como eu deveria estar agora.

 

— Você sempre foi tão bonito, Michael… Eu não fiz muita coisa, apenas cobri as suas manchas escuras.

 

A minha pele, ela quis dizer. Todavia, já estavam quase tomadas por completo pelo lúgubre esbranquiçado. Aquela cor que não era a minha, um dia, tornar-se-ia, e isso muito me feria.

 

— Se é isso mesmo que você quer, vá lá, faça o que você sempre fez na escola.

 

Ia fazer melhor.

 

Assim que fui chamado, me retirei sem me despedir. O medo, por alguns instantes, desapareceu do meu coração quando me revelei das cortinas e me vi diante de um extenso e extasiante salão com cadeiras a espargir por todo o ambiente, belas e douradas cadeiras de forros vermelhos escarlate, vazias, esperando por um convidado. No centro, dois homens e uma mulher a me observar. Era deles a aprovação que expurgaria minha alma dos pecados que cometi com minha família.

 

— Dancem.

 

Estarreci. Finalmente olhei para os lados e vi que haviam outros dois dançarinos, faríamos um teste em conjunto. Suspirei, era o ato três de Don Quixote, uma coreografia tradicional. Não era uma apresentação em conjunto, era um número solo, mas faríamos os mesmos passos em harmonia. Não entendi por que motivo tomaram aquela decisão, mas hoje eu entendo: o trabalho em equipe, o nervosismo e o peso dos palcos, um deles eliminaria o primeiro concorrente. Eu admito que dançar com mais dois homens me desestabilizou, porque eu nunca havia entrado em contato com outro bailarino antes, mas o palco não me amedrontava, as luzes não me amedrontavam, o que realmente me enchia de medo era ter que confiar naqueles rapazes.

 

E, nesse dia, entendi que trabalho melhor sozinho.

 

— Está errado…

 

Não, não estava.

Ouvi alguns sussurros, eles estavam tentando me desconcentrar. O tal jogo sujo do "tudo ou nada". Eu era novo… novo demais para entender como funcionavam as grandes competições. Concentrei em meus pés, estava para fazer um double tour em arabesque, era complicado para a experiência que tinha na época, mas sabia que, se eu me concentrasse, eu conseguiria.

 

— Você não é branco.

 

Estava para dar o meu salto, mas ouvir aquele comentário foi a minha ruína.

Embora o palco fosse distante o suficiente da minúscula plateia que me observava, alto como foi, tive medo de que tivessem ouvido. Não, ninguém ouviria aquilo, mas eu ouvi e foi suficiente para que eu pousasse de mau jeito e acertasse o meu rosto no chão.

 

— Meu Deus! Michael!!

 

Tudo que ouvi foi a voz da minha professora ecoando em meu campo de audição. As luzes, por alguns segundos, tornaram-se turvas, do meu nariz escorria um líquido vermelho, minhas pernas tremeram por alguns instantes.

 

— Ele está bem?

 

Indagou um daqueles homens. Alguém me estendeu a mão e eu agarrei sem me importar. Ele segurou-me pelo cotovelo, sussurrou próximo a mim.

 

— Seu cabelo é crespo. Você acha que vai enganar alguém? Eles estão te vendo de longe, mas, quando chegarem perto…

 

— Michael!!

 

Diana pôs-se diante de nós. Aquele homem me soltou e eu me mantive de pé, ainda atordoado. Aquelas palavras não me foram importantes no momento, apenas senti a seriedade delas quando saí do palco e percebi que nunca mais seria chamado novamente.

 

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Ruínas dos alforriados, Londres (retorno ao presente) – 22:02 hrs

 

O quarto parecia um pouco mais apertado, as paredes estreitaram-se, o vento que vinha da janela não surtia efeito. Anelise estava estática, ouvindo cada palavra do desabafo daquele homem. Depois de ouvi-lo tanto falar, seu cérebro conseguiu processar aquela voz de notas adocicadas e presença misteriosa. Agora, o que a impressionava não era o som que saía de sua boca, mas as palavras que entoava.

 

Ainda de costas, uma das mãos a pressionar a luva negra, a outra — nua — a tentar se esconder, e o olhar baixo e vazio, o bailarino continuou a falar em seu próprio tempo até que tudo que estivesse em seu coração abrandasse.

 

— Eu chorei muito… quando entendi o que aquele homem me disse. Eu sabia que nunca pisaria naquele lugar mais uma vez… ou, ao menos, era nisso que acreditava. Então…

 

Ele suspirou.

 

— Quis provar que estavam enganados. Não importam minhas raízes, eu sabia dançar. Eu conhecia as minhas capacidades. Eu treinei todas as tardes e noites, eu dancei até os meus pés sangrarem e os meus dedos se partirem. Eu confesso que… senti algum conforto naquela dor.

 

Após aquelas palavras, sentiu um misto de alívio e vergonha. Agora, Anelise conhecia tudo de mais profundo sobre sua pessoa. Ele suplicava, em seu coração, para que ela ainda fosse a menina que um dia fez parte de sua vida.

Enfim virou-se para ela, olhou-a nos olhos.

 

— Foi nesse contexto que te conheci. Antes dos ensaios, eu trabalhava recolhendo galhos de madeira apodrecidos de porta em porta, quando me deparei com o seu pai.

 

— O meu pai? Você o conhecia… antes de se tornar bailarino?

 

Ele manteve o olhar no dela, e aquilo, por um instante, a deixou desconfortavelmente arrepiada.

 

— Não estou falando do senhor de Marlborough. Estou falando do seu pai. O seu genitor.

 

— Mas…

 

A ruiva estagnou. Por um segundo, as palavras daquele homem não pareciam ter sentido algum. Pelo andar da carruagem e pelas lembranças enérgicas que invadiam o seu inconsciente, sabia que o bailarino tinha feito parte de sua infância, mas as conclusões que tomou iam por caminhos completamente diferentes: ele a sequestrou? Ela estava perdida quando ele a encontrou? Ele a resgatou de algum malfeitor? Qualquer coisa, qualquer coisa, menos aquilo, menos aquela conclusão.

Sentiu uma solitária gota quente percorrer pela bochecha e encontrar seu destino no chão daquela sala velha. De repente, tudo o que vivenciou passou por sua cabeça como um conto de fadas. Indagou para si própria se era real: se tudo o que viveu, as pessoas que conheceu, o amor que recebeu, se tudo aquilo era verdadeiro. Se a resposta era sim, indagou, também, por que motivo escolheram mentir por tanto tempo.

 

— Está me dizendo que…

 

Ela murmurou, contudo não conseguiu completar, sua voz tendeu a falhar gradativamente.

 

— Não desconfiava? Nem passou por seus pensamentos? Você é Anelise agora… entretanto, nem sempre foi.

 

Seu olhar caiu mais uma vez ao chão. Anelise detestava aquelas pausas, ele estava divagando demais. Cerrou os punhos e mordeu os lábios, tentando segurar as lágrimas rebeldes.

 

— Me diga logo!! Como você me conhece?! Quem é esse homem que você diz ser meu pai?! Quem é Helena??!

 

— Você. Você é Helena. Seu pai era um comerciante rico e sem escrúpulos. Ele foi vítima da própria maldade. 

 

— Mentiroso…

 

— Estou dizendo a verdade.

 

— Mentiroso!!

 

Sem prévio aviso, saiu daquela sala em passos apressados. Não foi impedida pelo homem, estava livre para percorrer por qualquer ponto daquele lugar, todavia, as lágrimas a turvar sua visão e os sentimentos partidos a impediram de tomar a melhor das decisões. Entrou em algum canto daquela casa velha e desabou em pranto. No fundo de seu coração, sabia que ele dizia a verdade, mas este mesmo coração seu não queria acreditar naquilo.

 

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Quarto do casal, Casa dos Marlborough – 06:37 hrs

 

Os de Marlborough acordaram, naquela manhã, com batidas desesperadas na porta. Para os despertar com tamanho espanto, era certamente uma emergência.

 

— O que foi?! Senhora Everglow, o que está fazendo a essa hora do dia?!

 

— Anelise não está em casa!! Não está em canto algum!!

 

Aquilo levou embora todo o cansaço do homem.

 

— Vá para o salão, lhe verei lá.

 

Após se despedir, correu para chamar a mulher. Era de praxe que Anelise saísse por aí escondido, eles tinham conhecimento do difícil costume dela, mas sair a uma hora daquelas estava fora do comum. Puseram uma roupa e foram se encontrar com Everglow, todavia, condessa Matilda preferiu se antecipar e ver como a sua pequena Sofia estava. Herder segurou sua mão.

 

— Matilda, Everglow quer nos falar sobre Anelise!

 

— Eu sei, querido, eu sei! Por favor, me deixe ver nossa filha, eu preciso ver nossa filha!

 

— Sofia está bem, está dormindo! Anelise também é nossa filha, Matilda!

 

Aquela frase a paralisou por alguns instantes. Logo após, lentas e repentinas lágrimas inundaram os seus olhos e escoaram por suas bochechas. Herder suspirou, aborrecido.

 

— Vamos entender o que aconteceu. Sofia terá que saber, uma hora ou outra, então iremos vê-la de qualquer forma. Deixe-a descansar.

 

— Está certo…

 

Murmurou, a voz trêmula. Seguiram em direção ao salão, onde a senhora Everglow os aguardava. Contou-lhes que não via Anelise desde quando saiu para passear, tarde passada, e não voltou mais. Pensou que tivesse voltado, que estivesse dormindo, mas somente teve certeza de seu sumiço quando entrou em seu quarto para despertá-la, abriu as cortinas e não contemplou sua trivial reação matinal.

 

— Havia tintas por todo lugar, conde Herder! Ela realmente saiu com um quadro branco, acho que estava desenhando.

 

— Isso não diz muito. Ela pode ter saído para comprar mais tintas, ela gosta de fazer as coisas sozinha.

 

— Ou ido ao artesão, ela adora os papos daquele maluco. Pode ter pedido alguma dica ou opinião.

 

Everglow ponderou.

 

— Patrão, e se questionarmos a pequena Sofia? Anelise conta tudo para ela.

 

Naquele momento, Matilda olhou para seu marido com um ar de superioridade que normalmente disfarçava. Herder suspirou e aquiesceu.

 

— Vamos, então.

 

Sem mais indagações, foram ao quarto da menina. As perguntas já estavam pré formuladas na mente de cada adulto, entretanto, ao chegarem à porta, perceberam como isso seria uma missão delicada.

 

Sofia estava lá, já desperta, abraçada aos seus travesseiros de pluma…

… chorando.

 

— Sofia…

 

Matilda correu ao seu encontro. A menina rapidamente limpou as lágrimas, embora soubesse que não conseguiria disfarçar o seu rostinho avermelhado.

 

— Eu… já sei… de tudo.

 

— Você ouviu?

 

Herder se aproximou, enquanto a senhora Everglow mantinha-se próxima à porta. Matilda levou a mão ao rosto de sua amada filha e, ajudando a enxugar suas lágrimas, buscou lhe dar coragem em meio aos gestos. Sofia suspirou e soluçou.

 

— Filha… Você sabe de alguma coisa que não sabemos?

 

Sofia mordeu os lábios.

 

— Eu não sei pra onde ela foi. Eu só sei que… eu só sei… que ela tá apaixonada.

 

Os adultos se entreolharam, abismados.

 

— Por quem?!

 

— Sofia… Você sabe quem é o rapaz?

 

Indagou a condessa, tentando tirar alguma informação por meio da complacência. A menina escolheu o silêncio, tinha medo de quebrar a confiança que sua irmã depositou em si, ainda que resultasse em salvá-la de algum problema maior. Matilda olhou em seus olhos.

 

— Anelise precisa de nós, Sofia. Ela não voltou para dormir, passou a noite fora de casa… Ela precisa de nós. Você sabe disso, não sabe, meu amor?

 

Sofia relaxou os ombros e tornou a chorar.

 

— Ela tá apaixonada… pelo bailarino.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:

— Thomas?

O menino despertou, piscou os olhos algumas vezes e, enfim, realizou que a menina estava ali.

— Sofia?!

[...]

— Thomas, por acaso você não sabe de nada do paradeiro da Anelise?

[...]

— Olha, eu realmente não tenho a ver com isso…

— Mas sabe de alguma coisa, não sabe? Ah, seu imbecil! Se eu conto pro meu pai…

— Não, não conte! Eu estou dizendo a verdade! Sua irmã é doida! Ela chegou a mim, alegando que precisava ir até a antiga comunidade de escravos que fica…

— ONDE??

A garota agarrou o menino pelo colarinho. Thomas arregalou os olhos, não esperava uma abordagem tão enérgica dela, ou, ao menos, não desejava que fosse naquelas circunstâncias.

— A comunidade! A que fica pros lados da floresta…

[...] [...]

— Quem foi o meu pai? Por que ele morreu? O que você fez comigo quando me encontrou? Por que eu não consigo me lembrar completamente de você?

Ao proferir a última pergunta, ela repentinamente se calou. O bailarino arqueou a sobrancelha.

— … Por quê? Por que eu sei que você estava lá, mas… eu não consigo me lembrar de você?

— Claro que consegue. Minha mãe me disse que você se lembrou…

— Mas não totalmente. Eu não lembro do seu rosto, da sua pele, nem dos nossos momentos juntos…



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