A Deusa da Morte escrita por Aline Lupin


Capítulo 10
Parte I de II – Parte X




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30 minutos antes de William chegar ao apartamento 402

 

Ele não sabia o que esperar quando tentou notou que a porta estava entreaberta. Seus sentidos ativaram no momento em que sentiu algo estranho. Ele verificou se estava com a sua pistola, no bolso interno do sobretudo e respirou um pouco mais aliviado. Se alguém estivesse dentro do seu apartamento, não sairia vivo, isso ele iria garantir. Ele abriu a porta lentamente, com a arma colada no corpo e pode ver lady Ashbourne, de costas, olhando para a janela. Ele suspirou e ao mesmo tempo ficou com raiva de ser somente ela em sua sala e não um ladrão.

— Lady Ashbourne - ele diz, com a voz soturna - Posso saber a que devo sua visita? Aliás, como conseguiu abrir a porta?

Ele fecha a porta atrás de si e tranca. Ela se virou, com um sorriso malicioso em seus lábios. Seus cabelos negros estavam arrumados com uma trança lateral e um parte do cabelo solta, caindo sobre suas costas. Seu vestido azul turquesa lhe conferia mais nobreza, acentuando seus traços aristocráticos.

— Eu pedi a chave com o porteiro - ela responde, com a voz suave. Lady Ashbourne se aproxima, colocando as mãos sobre o peito dele - Mas, por que esse rosto tão sério? Eu achei que ficaria feliz em me ver.

Ele queria matá-la por ter entrado daquela forma e ainda mais por ter invadido sua privacidade. Tentava há dias se desvencilhar dela. Sabia que seu marido estava colocando um detetive atrás dele e já havia percebido que era seguido constantemente, aonde fosse.

— Cassandra, eu não quero ser indelicado - ele diz, de forma calma, mas séria, afastando-a de perto dele. Ela franziu o cenho e fez um biquinho, mas isso não o comoveu. Queria se livrar dela e faria isso - Eu não quero receber suas visitas dessa forma. E o que tivemos já acabou...se me der licença - ele apontou para a porta - Poderia ir embora? Tenho muito o que fazer - e ele precisava. Ele precisava estar sozinho e entender seus próprios sonhos e pensamentos.

Ela suspirou, irritada. Apertou os punhos, contra o corpo e viu a pistola em sua mão. Ficou tensa, dando um passo atrás.

— Por que está armado, Harris? - ela pergunta, com insegurança - Eu somente vim lhe ver...e dizer que meu marido anda muito agressivo, mas eu não imaginava que...

Harris colocou a arma de volta no bolso do sobretudo.

— Isso não era para você, sua tola - ele diz, lhe oferecendo um sorriso, que não chegava aos seus olhos - Eu apenas pensei que tinham invadido o meu apartamento.

Ela soltou a respiração, mais calma.

— Ah, se é só isso...bem, eu acredito que você deva se proteger mesmo, Harris - ela aconselha, sentando-se no sofá de cor creme - E eu também vim lhe ver e dizer que vou me mudar para França. Irei ficar com minha mãe, pois Ashbourne tem se tornado insuportável.

Harris sentiu que não queria conversar sobre isso nem com ela. Estava estafado do seu lado fútil e tolo. Mas, era um cavaleiro e se sentou na poltrona a sua frente. Colocou a mão sobre o queixo, a ouvindo reclamar sobre o quanto seu marido a fazia se sentir péssima, incompetente e que não havia lhe gerado um herdeiro. Ele estava cansado, mas alerta. Ouvia a sem o menor interesse. Harris era dessa maneira com qualquer pessoa, somente com ela se sentia vivo, a moça do baile. Aquela que o encantou com sua música e seu violino. Não sabia o motivo de estar tão obcecado por ela. A via em seu sonho, sempre sorrindo, em um campo aberto, cheio de flores e sentia o desejo de tê-la em seus braços. Queria a para si e não sabia o que lhe movia, o que era aquele desejo. E também tinha outros sonhos, se via tentando tê-la a força, mas jamais faria tal coisa. Ele sempre teve a mulher que quisesse, todas se atiravam aos seus pés, implorando sua atenção. Não se submeteria a um papel desse. Não iria de modo algum tratar ela daquela forma. Sua conquista seria diferente. Ele faria com que ela o desejasse. Garantiria isso. Saiu dos seus devaneios, quando escutou passos do lado de fora do apartamento. Sentiu-se em perigo mais uma vez.

— E eu não sei mais o que fazer, Harris...estou tão perdida, eu não sei...

— Fique quieta - ele diz, fazendo um sinal com a mão.

— Mas...por que está sendo tão grosso? - ela reclama - Eu estou expondo meus sentimentos é assim que me trata?

Ele não lhe deu atenção, escutava alguém na porta, tentando abri-la.

— Fique em silêncio, Cassie, por Deus - ele sussurra - Alguém está tentando arrombar o apartamento.

Ele se levanta, de forma ágil. Depois de anos, lutando esgrima, boxe e sendo perseguindo constantemente por maridos irritados, querendo sua cabeça, ele sabia quando estava em perigo. Ele sacou a arma, apontando para a porta. Se alguém entrasse, iria levar um tiro, ele não iria sair daquela situação sem lutar.

— Mas, o que, como, oh meu Deus! - lady Ashbourne exclama - O que pensa que está fazendo?

— Apenas me certificando que quem estiver do outro lado tenha cravada uma bala em sua cabeça - ele explica. Olha para ela de canto - Vá para o quarto, agora!

Ela assente, tremula e corre para o quarto. Ele espera pacientemente a pessoa que estava do outro lado abrir a porta. E ela se abre. Ele não dá tempo de reação e atire. O tiro pega no ombro do indivíduo com um chapéu em uma máscara sobre a cabeça. O mesmo exclama de dor. Outro entra em seguida, com o mesmo disfarce e parte para cima de Harris, agarrando a arma. Na briga pela posse da arma, Harris atira para cima, quebrando gesso do teto. O homem era mais forte que ele e consegue agarrar a arma, soltando-a no chão e o acerta um gancho de direita. Harris fica atordoado, sentindo sua boca amortecida e o gosto de ferro na boca. Ele sorri, sentindo uma fúria assassina e parte para cima do agressor, acertando um chute no estomago dele. O mesmo cai para trás, sentado.

— Filho da puta! –o homem vocifera - Eu vou matar você!

— Pode vir - Harris entra em posição de luta, sem ao menos se importar.

O homem se levanta, com dificuldade e corre em direção a Harris, derrubando o mesmo no processo. E o dois rolam pelo sofra. O homem saca uma faca e tenta acertar Harris, mas não consegue, apenas rasgando o estofado. Harris agarra o pulso do seu agressor, quase o quebrando no processo e o homem larga a faca no chão.

— Eu vou acabar com você, seu aristocrata de merda - ruge o homem, irritado por não conseguir ter vantagem sobre um homem magro e esguio.

Harris apenas gargalha, mais afastado do seu agressor.

— Espero que consiga, pois se não, eu farei você pagar por cruzar meu caminho - ele ameaça.

O homem, irritado, parte para cima de Harris e agarra o pescoço dele, apertando com força. Ele tenta se soltar, acertando uma joelhada na virilha do homem mascarado. Sua máscara era branca e cobria todo o rosto. O homem geme de dor, e solta Harris. O mesmo aproveita para inverter a posição, agredindo o homem com socos em seu abdômen estomago. Harris pensou consigo mesmo que deviam ser assassinos contratados para lhe dar um fim e sabia quem poderia ser. Maldito Ashbourne, pensou ele. Não consegue desacordar o mascarado, pois não teve tempo suficiente. Escuta o barulho de um tiro e sente seu peito arder. Sangue escorre de seu peito e ele coloca a mão, vendo o vermelho manchar seus dedos. Ri, sem entender e se ajoelha.

— Seu idiota, não era para atirar - diz o homem que a pouco tomava uma surra de Harris. Sua máscara havia caído e Harris podia ver o rosto do homem. Ele tinha cabelos negros e olhos pretos, sem barba. Parecia alguém comum e despercebido pela multidão, se estivesse em uma.

— Eu precisei - diz o ajudante, colocando a mão em seu ombro. Sentia braço ferver pelo tiro - Ele iria ter uma vantagem sobre nós. E não era isso que o chefe queria, mata-lo.

— Não assim, seu imbecil - ralha o outro, olhando para Harris, que gemia, encolhido no chão - Vamos, temos que ir embora, antes que chamem a polícia.

O homem ferido assente.

— Antes, já que estamos na casa de um aristocrata, vamos levar alguma coisa - pensou melhor o outro - Vamos saquear tudo.

E é isso que fazem, enquanto Harris solta palavrões.

— Vocês são uns desgraçados. Por que não me matam de uma vez...isso dói como o inferno - ele diz.

— Cale a boca - diz o homem que mascarado, que não está ferido - Vou matar você se continuar a reclamar. Ande rápido com isso, Flint.

— Já vou e não fale meu nome, seu idiota - Flint diz, entrando pelo corredor - Aqui, tem um quarto aqui. Venha ver, deve ter um cofre por aqui...

— Nós temos que ir, droga! Antes que alguém chame a polícia - diz o outro, indo atrás do capanga.

Eles adentram o quarto e veem o local sintuoso, com uma grande cama de dossel, estantes de livros, um tapete persa, uma lareira, uma poltrona virada para a mesma e eles notam que havia alguém sentada nela, encolhida.

— Merda, mil vezes merda - diz o homem mascarado - Quem é você?

Lady Ashbourne morde os lábios, sentindo as lágrimas escorrerem. Harris que estava na sala tentando se arrastar para o quarto, grita:

— Não toquem nela, seus desgraçados!

Mas, não tem tempo, ele tenta se arrastar. Apesar de não gostar de lady Ashbourne, não lhe desejava mal. Ele se arrasta pelo corredor, em uma tentativa frustrada de chegar ao seu quarto. Mas, ele escuta o som do tiro. Ele sente sua garganta arder e as lágrimas teimosas tentavam escapar de seus olhos.

— Vamos, vamos embora Flint - diz o homem mascarado, passando por Harris, carregando uma joia de diamantes entre as mãos. Eles não se importam com o homem estirado no chão, apenas com dinheiro que fariam com aquela joia. Eles sabem que falharam na missão e vão precisar sumir, pois não cumpriram com o plano. Deixam Harris, agonizando de dor no chão e preocupado com Cassandra. Ele se arrasta e consegue chegar ao quarto. Ele não consegue ver o que foi feito dela.

— Cassie - ele chama - Cassie, querida...

Chama inúmeras vezes e apaga, em deitado sobre o tapete. Uma pequena poça de sangue se forma por baixo dele.


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