A Deusa da Morte escrita por Aline Lupin


Capítulo 9
Capítulo 9




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Emily olhava aquele casaco preto, com corte elegante, com comprimento até o joelho, abotoaduras de flor de lis nos punhos, em tom dourado, ou ouro, ela não saberia dizer. Estava em cima da sua cama de dossel. Ela fitava e pensava em como devolver aquilo, antes que sua mãe percebesse aquela peça de roupa, antes que seu noivo também soubesse. Mikael não era de grande ajuda nesse quesito, ele se recusava a ajuda-la com aquela questão. Mas, conversando com ele e ao mesmo tempo atormentando, conseguiu que ele enviasse um bilhete para William, perguntando se ele conhecia um cavaleiro chamado Tristan Harris. O mesmo respondeu em um dia, dizendo que havia sim um rapaz que vivia em um dos apartamentos mais caros, para cavaleiros solteiros, em Mayfair. Ela ficou nervosa, só de pensar que teria que ir até lá, lhe devolver o casaco e passar perto da casa dos sogros e também, de Adam. Mas, ela não conseguia mais pensar em uma alternativa. Ela até mesmo pensou em colocar fogo naquela roupa, contudo, descartou esse pensamento, pois seria injusto com Tristan. Ele poderia ser estranho e misterioso. E a assustou por saber onde ela morava. E apesar de tudo isso, havia o fato de ele ter cuidado dela naquela carruagem. Ele merecia uma consideração, era isso que pensava.

Ela prendeu os cabelos em um coque, colocou seu chapéu de passeio de palha, com fitas azuis decorando e pegou o casaco. Colocou em uma bolsa de alça, de cor azul com estampa de flores e colocou o casaco, mesmo sabendo que poderia amassa-lo. Estava indecisa em sair para ir até a casa de Tristan. Já possuía o endereço, mas não sabia se era o correto ir até a casa de um homem solteiro, entregar um casaco. Mas, apesar de relutar, saiu do quarto. Desceu as escadas e encontrou com Mikael, Richard e William no patamar. Ela estancou, ao vê-los.

— Que bom vê-la, senhorita Emily. Está de saída? – perguntou William – Recebeu meu recado?

— Olá, senhor William, senhor Richard. Mikael – ela cumprimentou - Ah, sim recebi. Eu agradeço senhor William – ela responde, se sentindo nervosa.

Richard estuda seu semblante e olha para William, desconfiado. Queria saber o que continha no bilhete. Não era de bom tom uma moça solteira trocar cartas ou bilhetes com cavaleiros.

— E está de saída? Nós podemos acompanha-la? – sugeriu Richard, querendo saber para onde ela iria.

— Bem...eu – ela tenta dizer.

— Nós não iriamos até o teatro? – perguntou Mikael, interrompendo a irmão. O único interesse de Mikael aquela tarde era chegar ao teatro, ensaiar e poder ver Amélia.

— Sim, sim. Mas, seria bom acompanhar Emily – William responde, para o deleite de Richard, que queria ficar mais perto dela – E com certeza posso ajuda-la.

— Ajudar? – perguntou Mikael e Richard.

— Ah, sim. Um assunto particular da senhorita Emily – William desconversa e estende o braço – Vamos, senhorita Emily?

Emily não sabia se aquela oferta era para ajuda-la, ou atrapalha-la. Mas, não estava podendo escolher. Ela enganchou no braço de William e os dois saíram na frente. Entraram na carruagem de aluguel, que Richard havia fretado e partiram para Mayfair, conforme William orientou. Emily ficou ao lado de William e ela pode conversar com ele em tom baixo.

— Senhor William, está tentando me ajudar quanto ao casaco? – ela perguntou, um pouco mais próximo do ouvido dele.

— Sim, sim. Eu sei vou ajuda-la a sair deste apuro, senhorita. Tenho uma irmã e se acontecesse o mesmo com ela, eu penso que gostaria que ajudassem. Pode ser que o senhor Harris tenha tentando ser cortes, mas não confio muito nele – William explica, em tom baixo.

Richard tenta ouvir a conversa, mas eles falavam muito baixo.

— Sobre o que estão conversando? – pergunta.

— Ah, nada demais, meu caro – William desconversa – São tolices, apenas.

Emily troca um olhar agradecido com William. Ele sempre a ajudava, no que precisava. E William a via como uma irmã mais nova, a qual ele deveria proteger. E saber que ela cruzou com Tristan não era nada bom. Se ela soubesse de fato quem ele era, ficaria horrorizada. E se alguém tivesse testemunhado os Tristan e Emily juntos, não seria bom para sua reputação. Ainda imperava naquele tempo ideias patriarcais e uma dama devia zelar pela sua reputação ou todos pensariam o pior dela. E como ele sabia, ela estava prestes a casar e não seria bom para ela se soubessem do seu encontro com aquele cavaleiro.

A carruagem sacolejava e William dominava o ambiente com suas histórias sobre a sociedade. Ele sabia cada pessoa que havia chegado a Londres, conhecia muitos aristocratas e sabia qual era o melhor cavalo que poderia se apostar no Tattersall. Por ser terceiro filho de um marques, ele tinha seus privilégios e contatos, mas William era um rapaz tranquilo que apenas dedicava sua vida a música e arte.

— E qual cavalo você gostaria de apostar esse mês, William? – perguntou Richard.

— Um puro sangue, árabe. E por mais que odeie admitir, é o cavalo de Harris – ele respondeu – O melhor, eu diria. Esse cavalo é imbatível.

— Eu duvido muito, Will – comentou Mikael – Lorde Cavendish trouxe o seu cavalo para correr esse ano. Fazia anos que ele não vinha para temporada. Ele tem os melhores cavalos.

— Pois eu aposto mil libras que o cavalo de Harris irá ganhar, sem sombra de duvida – William diz, convicto.

— Iremos oficializar essa aposta no White’s? – perguntou Richard – Eu não gostaria de apostar e perder, William. Sabe que não gosto de perder dinheiro.

— Pode confiar em mim, eu sei do que estou falando. Todos os anos esse cavalo venceu, eu sei que será igual esse ano. Os outros que estão para correr nem chegam perto – William garante – Mikael, irá participar da aposta?

Emily olhou feio para seu irmão. Ele não poderia ver, mas sente que não é o correto a se fazer, pela situação em que estão vivendo.

— Não, eu agradeço – Mikael diz, se sentindo um pouco humilhado.

Após aquela conversa, William teve o bom senso de mudar de assunto. Quando se tratava de questões financeiras, ele sabia que Emily e Mikael se sentiam desconfortáveis.

E quando a carruagem chegou a casa de Tristan, William pediu para que aguardassem e desceu com Emily.

— Senhorita Emily - ele diz - Deixe que eu leve o casaco de Harris. Poderia passa-lo?

Emily assente, abrindo sua bolsa e entregando o casaco a William.

— Fique aqui, eu volto em um instante - ele pede.

William sobe as escadas do prédio elegante e adentra o local. Ele sobe de elevador até o quarto andar e bate na porta 402. Ninguém atende. Ele bate mais algumas vezes, se sentindo impaciente. Ele queria resolver isso o mais rápido possível para poder voltar, sem gerar qualquer boato sobre por estar ali e sobre Emily. Estar na presença de Harris era um problema. Eles se conheceram na faculdade, em Oxford. Cursaram direito, mas eram amantes da música. No fim, nenhum dos dois se tornou advogado ou trabalhou no serviço público. Eram amigos e montaram um grupo de orquestra. E se tornaram famosos por isso. Contudo, Harris se tornou arrogante, mudou totalmente sua personalidade. Tratava o próprio irmão caçula com desdém e desrespeito. Ele havia mudado muito.

William tenta abrir a porta, depois de tentar inúmeras vezes bater e consegue. O que ele vê o deixa estarrecido. O apartamento estava devastado. As poltronas rasgadas, vários objetos pessoas espalhados pelo chão, roupas masculinas e o que o deixou perturbado foi rastro de sangue no chão.


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