A Mais Vitoriosa escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 16
Capítulo XV.




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Meu filho Frederik, aqui na Holanda estamos respirando um ar de preocupação e perigo. Com os malditos franceses na Holanda Austríaca, eles estão a um passo da nossa República, seu primo está muito mais preocupado ainda, mas ele também vê isso como uma oportunidade, talvez com essa ameaça ele seja declarado Stadtholder, e peço a Deus que ele seja mais inteligente que o pai e declare esse título hereditário...
Essa preocupação não estava fazendo nada bem a seu pai, ele a muito tempo está doente como você sabe, e não sabemos o que fazer, Henriette diz que devemos ir morar com ela, mas só irei ser um problema quando for viúva, o que sei que iria ser um dia, não vou dar a seu pai o gosto de ser viúvo, mas não se preocupe, tenho uma saúde perfeita para morrer, e quando ficar viúva, não irei viver com você, a menos que você fique viúvo antes de seu pai morrer...

Com amor
Sua mãe.

13|10|1745 Castelo de Ocenia, Cornwall.

Mais de um ano havia se passado desde o casamento das irmãs de Anne, fazia cinco anos que eles estavam casados, fazia quase cinco anos que o continente estava em guerra, o filho mais velho deles tinha quatro anos, e a mais nova, Anne, tinha um. Mas também a mais de um ano, os franceses estavam atacando a Holanda Austríaca, muito perto de sua Holanda.

Frederik apenas esperava o dia em que ele iria acordar com a notícia de que a República Holandesa havia sido invadida pelos franceses, e nada ele poderia fazer. Nada estavam fazendo agora. Frederik sabia que seu primo desejava ajudar, mas ele não era Stadtholder, ele não governava aquele lugar, apenas algumas províncias.

  – Um grupo de inúteis Anne, é isso que é seu povo.- Frederik se cansava de não os ver fazendo algo, mas Maria Theresa eles ajudaram, agora seu marido era imperador do Santo Império, e isso a fazia Santa Imperatriz, além de agora ela ter novamente quase todos os seus antigos territórios.– Ingratos.

  – Qual povo meu você fala Frederik? Eu tenho dois... Acho que não gostei de meu cabelo assim, pareço Catherine com meu cabelo preso. Lady Shaftesbury a milady poderia desfazer?

  – Desfazer? Todos os cachos?

  – Acho que a milady poderia apenas separar dois canhos laterais. Como sempre.

Frederik odiava isso, era assim todos os dias. Todos os dias ele tinha que vir até o quarto de Anne e ver se havia alguma notícia para ele de seu primo, algo sobre a Holanda. A duquesa de Newcastle dizia que se enganava e por isso não separava a correspondência para ele, mas ela era esposa do duque de Newcastle, ela claramente sabia a diferença, e Anne sempre tinha o prazer de ler tudo.

  – Eu falo dos seus dois povos.

  – Não é culpa minha que a Áustria e a Inglaterra tem coisas de mais importância do que salvar a Holanda Austríaca, lembre-se que não é nem a sua Holanda que corre perigo mas a de Maria Theresa.- Maria Theresa parecia uma praga, estava em todos os lugares e na boca de todos, ninguém falava da imperatriz da Rússia que derrubou um primo.

  – Creio que é então de sua Inglaterra, e seu ódio pelos alemães.- Essa inconformidade entre a Grã-Bretanha e Hanover, os dois domínios do rei britânico, fazia muito ruim a sua casa.

  – Então peça para seu primo fazer algo. Ou melhor, peça que os Estados Gerais façam algo.

Frederik não iria discutir com Anne, ele quase nunca vencia, seja por falta de razão, ou por cansaço.

  – Acho que vou voltar...

  – Não Frederik, fique aqui mais um pouco. Precisamos conversar.- Mas ele já estava quase saindo, e Lady Shaftesbury ainda não havia terminado.

Mas Frederik obedeceu, e observou Lady Shaftesbury acabar com o cabelo, o empoar, e depois colocar os grampos com pérolas. Um processo muito demorado no momento. Um homem tinha apenas que colocar uma peruca, e se ele a desejasse empoar, um criado iria fazer isso. Mas Frederik se cansou ainda mais quando Lady Shaftesbury perguntou qual colar Anne iria querer usar.

  – Já chega Lady Shaftesbury, Anne sabe colocar um simples colar.- A condessa olhou para sua marquesa, e Anne simplesmente assentiu e depois saiu.– Que demora Anne.

Anne deu de ombros e pegou um simples colar de pérola, antes de pegar um broche em forma de rosa e colocar no meio de seu vestido.

  – Você acha que eu tenho seios o suficiente para usar um broche?- Como?

  – Esse era o assunto importante?- Frederik esperava isso de qualquer uma, mas não de Anne.

  – Claro que não! Apenas quero ficar aparentavel para a recepção mais tarde. Os Gales vão vir.- Isso explicava muito bem.

  – Anne eu acho que seus seios são perfeitos para você.- Não que isso de alguma forma importasse ao usar um broche.– Mas você desejava falar algo, que não fosse isso?

 – Ah sim, estou muito preocupada Frederik. Creio que esteja acontecendo algo nesse país, e não sabemos o que é.

Mas ela não era informada pelo duque de Newcastle e pelo rei de tudo o que acontecia? Todos os tratados diplomáticos, as guerras, as perdas, as notícias dos condados, as eleições gerais.

  – E você pensa assim por quê?

 – A duquesa está muito calada e distraída. Faz dias em que eu disse que ela deveria separar tudo que é meu, do que é seu, e ela nunca assim faz.- Então a duquesa estava misturando por desejo próprio? Frederik não gostava disso.

 – Mas o que poderia estar acontecendo aqui, uma invasão? Outro levante católico e irlandês? Uma segunda Gloriosa Revolução talvez.

  – Não brinque com isso Frederik. O povo britânico é o mais estranho dos povos, aqui quem governa são os descontentes, foram pessoas como essas que criaram o parlamento. Não se pode duvidar de nada aqui.

Frederik estava disposto a ouvir. A reputação britânica de cortar a cabeça de seu rei chegou em todos os lugares do continente, e nem depois de quase cem anos havia sido esquecida.

  – Qualquer coisa que esteja acontecendo, um dia vamos descobrir. Creio que irei me arrumar agora.- Ele também tinha o direito de ficar aparentavel para os outros. Mas Anne o estava segurando, apertando sua mão na verdade.– Anne eu...

Anne não o soltou, na verdade ela se aproximou e beijou rapidamente. Antes de se aproximar de seu ouvido e sussurrar:

  – Nunca me deixe sozinha, entendeu?- Ele nunca poderia fazer uma coisa dessas, ele não queria.– Agora vá, posso não ter o marido mais bonito, mas tenho o mais aparentavel.

Era muito engraçado Anne, e ele também. Depois de uma discussão ou desacordo era sempre assim, um beijo, um sussurro e palavras gentis, e tudo depois era esquecido. Mas Frederik não iria se esquecer que Anne era muito preocupada, talvez até demais.

                         *****

  – Por que procurar belezas no continente, quando as maiores belezas estão aqui na nossa frente?- O príncipe de Gales sabia muito bem como agradar as mulheres.

Na verdade, todos os que Anne convidou para Ocenia sabiam agradar, principalmente Anne. Alguns deles eram falsos, mentirosos e não estavam falando com sinceridade, mas Anne iriam mentir se dissesse que não gostava das palavras deles.

  – Até mesmo minhas damas, meu príncipe?

  – Toda mulher ficar bela quando está perto de minha senhora, assim como deu sua mãe com sua beleza eterna.- A certeza do príncipe era impressionante, deveria ser assim que ele conseguia suas amantes.

  – Meu senhor está então falando que minhas damas não são belas?- Todos na sala riram com a resposta de Anne, até mesmo a príncesa Gales, o flerte no príncipe não havia feito efeito.

Mas o príncipe não parecia estar disposto a se dar por vencido.

  – Está bem então minha senhora... a Áustria tem Maria Theresa, a Rússia Elizaveta, mas nós, a Grã-Bretanha, temos Anne... a que nós traz a vitória.- Essa sim foi bem formada, Anne gostava do som disso, ser igual a duas imperatrizes

 – Eu me sinto honrada... Mas segundo nosso bom duque de St. Martin, Maria Theresa é uma Jezabel que destrói o bom povo protestante, Elizaveta uma Atalia que derrubara os de direito. Então eu, com minhas muitas 30 mil libras tiradas do governo, sou o que então? Uma Safira? Uma Maria Madalena?

  – Minha linda Anne, St. Martin é um homem com palavras que não devem ser levadas em consideração.- As palavras de Frederik, que antes estava calado, foram seguidas por risos, embora Anne pensasse que as vezes era difícil pensar assim.

  – Nosso duque as vezes se esquece das ações de sua duquesa, assim como de sua bela nora, a marquesa de Clarke.- As palavras da marquesa viúva foram então as últimas sobre o incômodo duque.

Tudo logo voltou as coisas costumeiras, conversas sobre propriedades, joias, a guerra no continente, política, e o novo imperador do Santo Império. O imperador antigo havia morrido no exílio, e uma nova eleição havia sido feita, e quem ganhou foi o marido de Maria Theresa, como co-governate dos domínios dela, embora todos soubessem que era Maria Theresa que governava.

E quando Anne pensava nesse assunto, ela se orgulhava muito. Francis seria imperador porque o rumo da guerra se tornou favorável a Maria Theresa. E Anne poderia dizer que, em parte, foi graças a ela. Suas ações, suas amizades com pessoas poderosas, até mesmo seu modo de se arrumar, tudo foi para ajudar Maria Theresa. E deu resultados, tanto que o próprio rei em 43 liderou forças britânicas em favor de Maria Theresa no continente.

  – Minha marquesa a duquesa de Newcastle deseja falar com a senhora.- Com o aviso de Lady Avon, Anne despertou de seus pensamentos e seguiu a duquesa até um lugar mais calmo.

Anne não pode ver a expressão da duquesa, assim como também não imaginava o que ela desejava, mas o bom seria que não fosse nada de grande importância.

  – Minha marquesa eu peço que a senhora me perdoe por tomar seu tempo, mas eu gostaria de dizer a minha senhora que terei que voltar a Londres imediatamente.

 – Voltar a Londres? Mas está escuro, é perigoso viajar assim.

 – Eu sei disso. Mas Thomas me enviou uma mensagem dizendo para voltar sem demora. Eu não imagino o motivo, mas espero que não seja por algo ruim.- Anne também esperava que fossem assim. Mas pensando bem, pelo modo como a duquesa estava agindo, pelo desânimo que ela estava mostrando, Anne tinha suas dúvidas se a duquesa não sabia.

  – Está certo então. Se foi uma ordem do duque eu não posso fazer nada.- Não apenas pelo fato de ele ser o marido dela, mas também pelo fato de ele ser irmão do primeiro-ministro, e agir em conjunto com ele.– Mas eu vou pedir que leve por favor guardas, só Deus sabe quem pode estar nas estradas.

  – Eu agradeço minha marquesa.- A duquesa então se despediu, mas antes de sair ela se lembrou de algo mais.– Thomas me pediu também para entregar essa carta para minha senhora.

Depois de entregar a carta a duquesa saiu, deixando Anne não só com uma carta, mas também com dúvidas. Não era muito costumeiro o duque de Newcastle enviar cartas a Anne. Mas por mais que estivesse curiosa, Anne teria que aguardar até todos irem embora.

E isso não demorou muito a acontecer. E logo não restava mais ninguém em na sala, ou tinham ido embora, ou havia se retirado para seus aposentos no castelo. Até mesmo Frederik já havia se retirado, deixando apenas Anne e a marquesa viúva.

  – É sempre tão prazeroso fazer essas festas longe de Londres. Há menos pessoas para convidar e todos são mais agradáveis.‐ Embora Anne concordasse com sua mãe, sua atenção estava realmente na carta, e a marquesa viúva percebeu isso.– Anne você está lendo? Não é hora para isso.

  – É do duque de Newcastle, então é importante.- Anne então finalmente começou a ler a carta, mesmo que sua mãe continuasse a falar.

  –... Eu espero então que seja muito importante. Como já falei antes, não é bom dormir com preocupações...‐ Anne já não estava mais ouvindo sua mãe, nesse momento ela estava assustada.– O que a carta diz Anne? Anne?

  – Mamãe vá chamar Frederik para mim... Agora.‐ A marquesa viúva não pareceu entender bem, mas ela obedeceu e foi.

Nesse momento, Anne realmente precisava de Frederik, e também do seu conhecimento. O duque havia enviado notícias alarmantes sobre uma revolta que havia se iniciado na Escócia a pouco tempo.

Não demorou muito e a marquesa viúva retornou com Frederik, embora para Anne o tempo que passou foi uma eternidade.

  – Por que tanta demora?

  – Minha filha querida, não encontrei seu marido no quarto, então foi procurar ele em outro lugar. Mas você não deve reclamar, não me foi dito o tamanho da urgência da situação.

  – Eu estava no berçário. Me foi dito que a pequena Anne estava chorando, então fui ver, já que sei muito bem que você não gosta de ouvir crianças chorando.- Anne preferiu então se esquecer do assunto.– Mas nos diga então Anne, qual o problema?

Anne apenas mostrou e entregou a carta para sua mãe e Frederik, não havia nela coragem para dizer o que estava escrito. Era fácil dizer que o príncipe jacobita Charles havia invadido a Escócia e começado uma rebelião, mas o que se seguiu não era fácil de dizer.

  – Os rebeldes então continuam a aumentar e estão próximos a Edimburgo.- Anne as vezes desejava ser como sua mãe e não parecer surpresa com nada.– É apenas isso?

  – Mamãe é uma rebelião! Devemos ter cautela, o duque diz que não devemos nos preocupar, mas eles estão perto de Edimburgo.

 – Minha Anne. Há rebeliões e invasões nesse lugar desde o começo dos tempos. Não devemos nos preocupar, o duque disse assim. Lembre-se que temos muito mais poder que os rebeldes escoceses. Não é mesmo Frederik?

Nesse momento Frederik que estava até o momento calado teve finalmente o momento de falar, e a opinião dele, Anne desejava acima de tudo saber.

  – Sua mãe está certa Anne, é muito difícil que a rebelião tenha continuidade.‐ Era um alívio então ouvir isso.– Mas se eles chegarem a Edimburgo, devemos tomar cuidado. É uma rebelião, e elas são perigosas. Devemos então continuar aqui onde em todo o caso é mais seguro.

Não serviu muito de ajuda. Na verdade o medo começou a aumentar. E talvez fosse visível.

  – Não se preocupe Anne. Não vai durar muito, e mesmo que dure, temos muitos homens para nos proteger.

  – Sua mãe está certa Anne. No momento não se preocupe, essas rebeliões são facilmente reprimidas.- Anne então esperava que assim fosse. Havia muito a se perder: vidas, riquezas, status... e o marido.


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Notas finais do capítulo

Mas uma aula de história: Em 1745 se iniciou na Escócia a última tentativa real dos pretendentes jacobitas tomarem o trono britânico. Mas o que é um pretendente jacobita? Para entender se deve voltar a lei que eu disse que excluia os meus Tudor-Habsburg de herdar o trono. Durante a Gloriosa Revolução no final do século 17, os protestantes William e Mary foram declarados reis, depois de William depor James II, o rei católico, que era seu sogro, depois deles morrerem a irmã mais nova de Mary, Anne, se tornou rainha, mas ela não tinha filhos vivos, e todos os seus parentes mais próximos eram católicos. Então para não voltarem a ter um rei católico, talvez da mesma família de James II, o parlamento fez uma lei que proibia católicos de serem reis da Inglaterra, assim como o casamento de um rei ou príncipe inglês com um católico. Com isso a Eleitora de Hanover, Sophia e os descendentes dela, incluindo a atual família real britânica, que eram descendentes de James I, foram declarados herdeiros, excluindo todos os católicos na frente. Por causa disso, os descendentes de James II, e depois os descendentes dos outros pretendentes católicos excluídos por muito tempo se declararam reis da Grã-Bretanha por direito, e algumas vezes tentaram tomar a coroa a força. Hoje ainda existem os pretendentes jacobitas, e seu títular é o pretendente do extinto trono bávaro, mas nem mesmo eles se importam muito com essa pretensão.



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