A Música Que Nos Une escrita por Aline Lupin


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui de novo depois de pouco tempo? Estou animada com a repercussão dessa história e feliz que estão lendo. =D



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Que Deus a ajudasse. Ela acordou com uma dor de cabeça infernal e com os olhos cobertos de areia. Como iria enfrentar Henry aquela manhã? Teria que ignorá-lo e fazer seu trabalho. Poderia estar quebrada, destruída e se sentindo miserável. Mas, se ele pensava que ela não faria seu trabalho, ele estava muito enganado. Ele não iria vê-la chorar ou perder a compostura.

Por mais que ela quisesse afundar a cabeça nos travesseiros e dormir para sempre. A realidade era dura e cruel com aqueles que se deixavam levar pela apatia. E ela não tinha esse luxo. Não era filha de um aristocrata. E com certeza fora banida da sua família, que era muito respeitada, mesmo sendo de um ramo afastado, dentro da aristocracia. Seu pai era um primo de segundo grau de um barão. Nada muito relevante. Ela nunca iria para Londres debutar, quer dizer, somente se o Barão de Berwick quisesse ser tão bondoso com eles. O que não era, pois eles nunca se conheceram. Se ela estivesse ainda em Yorkshire, ela teria se casado com um filho de um fazendeiro, ou um de criador de ovelhas. E nunca passaria fome, nem frio, nem vergonha. Não seria arruinada e passaria a vida de uma forma morna, sem graça e sem expectativa de aventuras.

Bom, não parecia tão ruim, ela pensou, enquanto arrumava os cabelos em um coque severo, em frente ao espelho do quarto de Nancy. Pelo menos ela vira o mundo ao lado de Thomas. E era quase livre agora. Se pudesse ter sucesso com seu livro, poderia alugar uma casinha de campo em Sussex. Poderia viver como uma solteirona respeitável e contratar uma dama de companhia. E continuar a escrever. E nunca mais veria Henry, nem Erik. Seu coração se apertou. Ela não queria de fato se afastar. Se pudesse ser amiga de Henry. Claro que poderia. Ela faria esse esforço. Por que não tentar?

— Anne, seu cabelo está branco – apontou Nancy, a fitando com curiosidade – Você é tão jovem.

Ela parecia pesarosa. Anne se aproximou do espelho e pode ver os cabelos loiros. Era uma listra agora. Teria que pintá-los de novo.

— Não é cabelo branco Nancy – ela explicou – Eu apenas escureço meus cabelos.

Nancy a ficou com a boca aberta.

— Mas, por quê? – ela perguntou. E era claro que ela perguntaria. Ela tinha cabelos tão claros quantos os de Anne. E eram muito bonitos.

— Porque meus cabelos são loiros e chamativos. E se eu quero ser levada a sério, preciso parecer mais severa – ela respondeu, como se isso fosse óbvio – Quem iria contratar uma governanta bonita, Nancy?

A criada assentiu, parecendo entender.

— Realmente quase ninguém. As matronas ficariam enciumadas e os patrões iriam tentar coisas que não devem...- ela mordeu os lábios – Foi tão difícil para mim conseguir um lugar para trabalhar. Eu trabalhava para uma viscondessa e ela me odiava. Sempre me criticava, mas era porque seu marido sempre tentava alguma coisa comigo. Foi horrível Anne – ela disse, com dor nos olhos. Anne segurou a mão da jovem – E fui resgatada pelo Sr. Collins. Ele é tão bom com todos. Tão gentil. É difícil vê-lo se irritar ou gritar conosco. Ele é justo e nunca nos tratou com indiferença.

Anne sentiu um aperto no coração e remorso. Henry era bom e isso era visível nos rostos dos criados. Todos estavam satisfeitos e trabalhavam com afinco. Era difícil ter um senhor que fosse tão justo e benevolente. Ela não teria acredito se não conhecesse Henry. Tinha que conversar com ele. Mostrar que seria sua amiga. Era isso. Só precisava mostrar certo distanciamento e que não toleraria ser sua amante.

— Ele parece ser um homem muito bom – ela comentou, soltando a mão de Nancy, que limpava os olhos com o dorso da outra mão livre. Era uma jovem frágil e emocional.

— Sim, ele é – ela concordou.

— Nancy, você...você quer ir comigo ao boticário? Para comprar minha tinta? – perguntou.

Ela queria uma amiga. Sentia falta de Sara. E Nancy parecia ter a mesma idade que ela. Poderiam ser amigas, enquanto ela estivesse ali.

— Sim, é claro – Nancy disse, entusiasmada – Mas, tem certeza? Seus cabelos devem ser tão bonitos ao natural. Agora que você está aqui, não precisa se esconder. Você parece tão mais velha. Tem vinte e cinco?

Anne tentou não ficar ofendida, mas sabia que sua intenção era parecer severa.

— Não, mas se eu contar, você promete não dizer para ninguém?

Nancy parecia se sentir ofendida.

— É claro que não, Anne. Quem pensa que sou? Não sou mexeriqueira – ela disse, com o queixo erguido.

Anne riu.

— Ok. Bom, eu tenho quase dezenove anos. Vou fazer aniversario em outubro – ela confessou.

Nancy arregalou os olhos.

— Mas, como? Você é tão jovem. Meu Deus, eu tenho quase vinte e um – ela disse e parecia assustada.

— Bem, é uma longa história, Nancy. Mas, promete que vai manter segredo? – perguntou, receosa de que todos soubessem.

— Você vai poder me contar no caminho do boticário, Anne. E prometo, nunca vou contar para ninguém.

Anne desceu para tomar café, feliz, ao lado de Nancy. As duas entraram na cozinha, conversando em voz alta e Anne se assustou ao ver Henry a mesa, com Erik, a Sra. Hackney, a Srta. Stone e a Sra. Campbell. O Sr. Jones saiu da cozinha, acenando para elas.

— Bom dia – ela disse, com a voz tremula.

— Bom dia – Nancy disse, radiante.

— Bom dia – Todos retribuíram.

Nancy se sentou ao lado de Erik e apenas sobrou o espaço ao lado de Henry. Anne hesitou. Ele levantou o olhar e parecia cansado. Mas, ele ergueu o queixo em desafio. Que Deus a ajudasse. Aquele homem iria ser sua morte. Ela se sentou ao lado dele, sentindo o ar ser comprimido em seus pulmões.

— Erik, bom dia. Que bom vê-lo – ela disse, voltando a atenção para o menino, ao seu lado.

— Bom...dia... – ele disse, com a boca cheia de bolo.

— Não fale de boca cheia, Erik – repreendeu a Sra. Hackney.

— Sim...se...nho..ra – ele resmungou.

Todos acabaram rindo, até Anne, mas ainda estava nervosa. Não conseguia pensar. Uma xicara de chá foi entregue a ela. Henry havia passado, com um sorriso amistoso. Mas seus olhos azuis metálicos transmitiam um brilho de desafio.

Anne pegou a xicara e olhou para o líquido ambarino. Henry aproximou os lábios do ouvido dela, fazendo-a estremecer.

— Não tem veneno, eu juro – ele disse, tom jocoso – Tome, é chá de camomila. Vai deixá-la calma.

— Eu não estou nervosa – ela disse, entredentes.

— Pois, eu discordo. Pobrezinha, as suas mãos estão tremendo – ele provocou – E estou realmente ansioso para vê-la mais tarde e acalmá-la

— Você...nem pense...

— Sr. Collins, podemos partir? – perguntou o Sr. Jones, entrando na cozinha e interrompendo a conversa deles – O senhor disse que sua reunião era cedo. E preciso evitar o tráfego das carruagens, até Westminster.

Henry tocou a mão de Anne por baixo da mesa, a fazendo estremecer. Se levantou logo em seguida, sorrindo amplamente.

— Bom, eu devo ir, minhas senhoras. Uma esplendida manhã a todas. E ao pequeno Erik. Se comporte – ele olhou sério para o menino, que assentiu – Até breve, senhorita Anne.

Seu olhar parecia dizer que ela deveria estar ali quando ele voltasse. Parecia que ele desejava conversar e era algo que ela não queria fazer. Ele saiu e ela ainda se sentia nervosa. Tomou o chá e realmente tinha um efeito calmante. Tentou comer, mas os bolinhos e o arenque tinham gosto de serragem. Se ocupou em cuidar de Erik pela manhã, ensinando-o a tocar o piano e fazendo ele recitar frases longas. Ele parecia ir bem, mas se alguém passava no corredor ele murchava.

— Erik, estamos quase lá. Você está conseguindo – ela disse, com um sorriso de encorajamento.

— Mas...eu não... sei falar – ele gaguejou, com irritação – Fico...nã...o...sei...

Ele parecia muito contrariado e triste. Ela se agachou em frente a ele.

— Querido, não se preocupe. Você vai conseguir falar corretamente. Eu sei que você consegue.

Ele assentiu, alegre. Estufou o peito e repetiu a frase que ela tinha escrito na lousa. Anne havia feito da sala de estar sua sala de aula. Colocou uma lousa, perto da janela e escreveu frases para Erik. Além de ensinar o básico de geografia, matemática e língua inglesa e francesa. Ele parecia avido em aprender, mas entendia muito pouco ainda. Ela não iria desistir dele. Tentava fazê-lo ler, o que era exaustivo para o jovem. Ele dormia em cima dos livros com frequência, mas ela não poderia desistir dele. Ele tinha muito pela frente e ela seria responsável por sua mudança.

Henry confiou nela. Então, ela iria dar seu melhor.

— Erik, você sabe dizer quantos anos tem? – ela perguntou, depois que ele se cansou do exercício de falar uma frase sem gaguejar.

Ele parecia pensar.

— Sete – ele respondeu, confiante.

— Mesmo? – ela insistiu.

— Sim...mã...mãe...di...disse...pra...m...mim – ele gaguejou – Ela...me...di...zia...sem...pre...eu...sin...to...fal.ta..ta... – ele suspirou, com os olhos marejados.

Anne assentiu e pegou a mãozinha dele.

— Querido, onde está sua mãe? O que aconteceu com você? – ela perguntou, mesmo sabendo que isso poderia deixá-lo nervoso.

— Nã...o...se...sei – ele respondeu, apreensivo – Me...man...dou...em...bo...ra...ho...mem...ma...mal...ia...me...pe...gar...

Ele se calou, fechando os olhos. Uma lagrima solitária rolou em seu rosto. Anne o abraçou, acalentando.

— Queria ser sua mãe, Erik. Eu sei que não posso. Mas, queria ser. E prometo que vamos encontrá-la. Está bem?

Ele assentiu.

— Vo...cê...é...boa – ele disse, se afastando – Nã...o...po...posso...voltar...ho...mem...vai...te...ma...chu...car...

— Não vai. Henry vai estar conosco. Ele vai nos proteger – ela garantiu.

Anne percebeu que havia dito o nome de batismo dele, mas não se importou. Erik não iria julgá-la por ter tanta intimidade com Henry. Era só uma criança e não entendia das convenções sociais.

Erik continuava agitado, negando com a cabeça, como se tivesse em perigo. Anne resolveu mudar de assunto, voltando para sua aula. Iria conversar com Henry depois. Precisavam encontrar a mãe do menino. Ela devia estar em desespero por ter perdido o filho. O homem que devia ter feito isso com Erik devia estar a ameaçando. E isso se não tivesse a matado.

Ela sentiu seu estomago embrulhar. Não poderia contar isso a Erik. Não queria vê-lo mal. Talvez, devem esquecer aquilo. Ela poderia ser sua mãe. Mas, era bobagem. Nunca poderia ser. Henry iria cuidar do garoto, no final das contas. E em breve Anne iria embora.  Não teria mais serventia, quando Erik fosse maior. Ele iria para Eton, com certeza, quando fizesse dez anos. E depois a Oxford ou Cambridge, com dezoito anos. E Anne seria esquecida para sempre. Isso apertou seu coração.

***

— Tem certeza de que vai pintar seus cabelos? – perguntou Nancy, enquanto as duas se afastavam do boticário.

— Sim, eu preciso Nancy. Lembra? Seriedade – ela reforçou.

— Ó, eu ainda queria ver seus cabelos claros – Nancy disse, com entusiasmo – A senhorita tem um rosto tão bonito.

Anne riu. Nancy era jovial e sempre com palavras meigas.

— Um dia, quem sabe. Agora, vamos voltar, antes que Erik faça uma travessura daquelas.

— É melhor mesmo. A Sra. Hackney vai açoitá-lo – Nancy disse, em tom jocoso.

— Eu não duvido – concordou Anne, rindo.

As duas voltaram de carruagem. Anne conheceu mais a história de Nancy. Seu sobrenome era Fay. Ela era de origem francesa e sua mãe morreu no parto, deixando-a aos cuidados de uma tia, que era lavadeira, em Manchester. Ela fora criada pela tia e seu ofício desde então era ser uma criada.

— Fay. Uma fada – Anne comentou, dentro da carruagem – Nancy, você parece uma fada mesmo.

Nancy riu, corando.

— Não sou. Mas, uma vez um cavalariço disse isso – ela corou ainda mais – George era tão bonito. Uma pena que morreu.

— Eu sinto muito – Anne disse, mortificada.

— Está tudo bem. Já faz tempo – Os olhos de Nancy estavam fixos na janela – Eu notei que o Sr. Collins tem um apreço pela senhorita.

Anne se engasgou.

— Ele é amável, apenas isso. É com todos – desconversou.

— Ah, ele é. Mas, eu vi como ele a olha. Parece devoto a senhorita – Nancy disse, com os olhos maliciosos – Imagine, Anne, você casada com ele? Posso ser sua criada pessoal?

— Como disse? – ela exclamou, pasma – Nancy, isso nunca vai acontecer. Ele é um senhor e eu sou uma governanta. Que ideia absurda.

Ela riu, sem humor. Nancy a fitou com os olhos brilhantes. Parecia vislumbrar um futuro melhor. Algo que Anne não poderia nem vislumbrar. O mundo real era causticante e cruel com pessoas como elas. Não havia casamentos brilhantes. Apenas anos de servidão.

— Ah, mas eu não acho – Nancy tentou argumentar - O irmão dele, Jasper, o visconde de Bedford , se casou com uma cantora de ópera. A mãe dele quase teve um infarte. Foi uma vergonha. O nome deles foi a lama. Mas, lorde Bedford pouco se importou. O visconde Klyne resolveu tudo. O homem é um libertino, mas desenterrou o passado da esposa do primo. Havia um parente distante. Alguém da nobreza. Um marques, eu não tenho certeza. Logo todos começaram a respeitar a viscondessa.

— E como você sabe tudo isso, Nancy? – perguntou Anne, preocupada com o tanto de informação que a garota tinha acesso.

— Fofoca, Anne. Criados sabem tudo. Pode perguntar a eles. É assim que os boatos se espalham – ela disse, dando de ombros.

— Você não faz isso, faz? – perguntou, receosa.

— Claro que não – ela negou, ofendida – Já disse que não sou mexeriqueira.

Anne assentiu, mas não estava confiando muito nisso, pensou, contendo um sorriso. Nancy era uma graça, afinal de contas.

Elas desembarcaram em frente à casa de Henry e entraram. E ela congelou. Klyne estava na entrada, conversando com Henry. Erik estava ao lado deles.

— Veja só, quem chegou – Henry disse, com um sorriso – Venha aqui, senhorita Anne. Minha governanta é incrível, Robert. Veja o que ela conseguiu fazer com Erik. Parece um cavalheiro.

Klyne a fitou de cima abaixo, com um olhar inescrutável.

— Eu vejo – ele assentiu – Um ótimo trabalho, senhorita Anne – ele disse, parecendo enfatizar o nome dela.

Anne ficou desconsertada e com o coração acelerado. Nancy havia saído misteriosamente, a deixando sozinha para enfrentar o visconde e Henry. Ela temia que Klyne desse com a língua nos dentes.

— Obrigada – ela disse, fazendo uma reverência – Com licença, milorde, Sr. Collins.

Ela se afastou, sentindo que não deveria, mas não poderia aguentar mais um segundo ao escrutínio de Klyne. Levou consigo Erik, que parecia alheio a tudo.

— Vamos comigo para o jardim, querido? – ela convidou, puxando-o pelo braço, sem esperar resposta.

Ele tropeçou nos próprios pés, saindo da casa pela porta dos fundos com ela.

— Ai! – ele exclamou, puxando-a.

— Desculpe Erik – ela pediu, sentando-se no banco, perto da árvore – Eu...

Ele deu de ombros e correu pelo jardim, pulando em algumas poças pelo caminho, na grama. Anne não ralhou com ele. Não queria pensar. E para seu azar, Klyne saiu para fumar seu charuto.

Ele se deparou com ela e não deixou se sorrir, ferino.

— Eu não posso acreditar na minha sorte de vê-la hoje – ele disse, em tom jocoso e olhou Erik –Erik, veja o que seu tio trouxe.

Ele entregou ao menino um saco de papel e o menino abriu, avido. Ele tirou uma bala e sorriu. Entrou correndo para a casa, pela porta da cozinha.

— Você...- ela queria protestar. Gritar com ele por ter feito isso – Não deveria dar essas coisas a ele. Não pode comprá-lo.

Ela queria gritar, mas não podia. Queria esganá-lo, mas seria enforcada se fizesse isso. Ele acenou o charuto, com um sorriso presunçoso.

— Claro que posso. Legalmente ele é meu primo, pois é filho de Henry. Mas, gosto de pensar nele como se fosse um sobrinho – ele disse, soltando baforadas de fumaça com seu charuto. Ela deu um passo atrás – Me perdoe – ele se afastou dela um pouco, mas não tirou os olhos dela. Era como se Anne fosse sua presa – Não sei o motivo para tanta raiva de mim, Anne querida. O que lhe fiz? Só a ajudei. Acho que estou sendo mal interpretado.

Anne segurou a língua. Ela não poderia demonstrar medo a ele. Ele parecia não entender o quanto era importante estar ali e que ela não queria que ele falasse sobre o caso deles a Henry. Não agora. Não quando tinha a confiança dele. Ele a olharia como uma mera meretriz, uma rameira. E ela não poderia suportar.

— É claro que pode – ela disse, tom baixo e irritado, com as mãos cruzadas para trás com força. Seu corpo inteiro se rebelava contra sua vontade de permanecer calma. Estava tremendo por dentro diante de Klyne. Ele a fitou com um sorriso cínico, tragando mais o charuto – E não tem nada especial na sua visita ao Sr. Collins...nada...?

Ela se calou. Não deveria falar tanto. Ele a fitou com um brilho diferente no olhar.

— Eu acredito que seja uma visita social, apenas, Anne – ele respondeu, analisando-a com um olhar calculado – Está com medo de algo? Está com medo de mim, Anne?

— Eu...é claro que não – ela negou, com uma risada sem humor – Por que eu teria?

Ele suspirou. Parecia cansado.

— Tem medo de que eu conte algo sobre nós? – ele perguntou, lentamente.

— Eu gostaria que ficasse entre nós esse segredo – ela respondeu, tentando manter a voz firme.

Ele assentiu, pensativo. Mais uma baforada foi soltada no ar.

— E se eu não quiser, o que acontece? – ele provocou.

Era o que ela temia. Pense, Anne, pense.

— Er...eu...você sabe que se contar, isso poderá me prejudicar, não sabe? – ela não deveria ter dito isso. Estava dando poder demais a ele, mas queria apelar para sua consciência – Não tem remorso do que pode acontecer comigo?

— Não – ele negou – Nem um pouco. Pois, eu sempre irei em seu auxílio. Já disse que não estará desamparada. Eu cuidarei de você.

Ela engoliu seco, sentindo que estava perdendo aquela discussão. Ele parecia ter tudo sobre seu controle.

— Sabe que não quero isso. Eu não quero dever mais a você do que já estou – ela disse, entredentes – Só me deixe em paz. Maldição!

Ele arregalou os olhos e um sorriso se formou em seus lábios. Mas, seus olhos demonstravam um mágoa profunda. O que a desconsertou.

— Não acredito...Anne Williams está praguejando – ele riu, com ironia – Quem diria que uma boca tão linda pudesse dizer algo tão feio. É isso que torna você tão única. É algo tão raro ver uma mulher ser tão transparente. Uma dama nunca diria isso e elas são enfadonhas.

Anne revirou os olhos.

— Robert, não sei o que quer me bajulando. E não sei o motivo dessa perseguição. Por que está me provocando? – ela perguntou, sentindo o sangue ferver em suas veias.

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Quem disse que é uma perseguição? – ele perguntou, se aproximando mais dela. Seu olhar era intenso e irritado – Eu realmente estou ofendido de pensar o pior de mim.

— Não tente se fazer de bom samaritano Robert. Você parou no parque, apenas para demonstrar que mande em mim!

— Eu apenas estava preocupado. Por Deus, Anne. Eu realmente a quero. Mas, não sou um perseguidor – ele disse, em tom baixo e lento. Sua voz continha ira – Eu disse que a quero, mas de boa vontade. Mas, já percebeu que estaremos sempre nos cruzando? Eu sou primo de Henry, se não lembra. E estarei muitas vezes aqui, ao redor. E estou ansioso para que você precise de mim. Pois, eu preciso de você.

Ela engoliu seco, se sentindo confusa e estranha. Deu um passo atrás e escutou a voz de Henry da porta.

— Robert, eu queria falar sobre sua mãe. E...- ele saiu porta a fora, e olhou a cena com o cenho franzido – Está tudo bem?

Anne sentiu o ar escapar. Klyne se virou para ele. Ela não conseguia ver sua expressão. Por favor, por favor, que ele não diga nada. Por favor.

— Está sim. A senhorita Anne estava me falando sobre os progressos de Erik. Ele está muito diferente. Ele nem falava – Klyne respondeu, com um tom polido – Mas, o que tem minha mãe, Henry? Podemos falar em seu escritório.

Anne escutou o tom dele falhar. E pela primeira vez, ela sentiu simpatia por ele. Parecia ter um coração. Não, Anne, foco. Ele é cruel e manipulador.  E sem coração.

— É claro – Henry concordou e fitou Anne, analisando o rosto dela, com um vinco na testa – Senhorita Anne, espero que possamos conversar mais tarde.

— É claro senhor – ela concordou, tentando manter a voz calma e firme.

Klyne e Henry voltaram para dentro da casa pela porta dos fundos. Anne suspirou aliviada, mas sentia que todo seu corpo estava tremulo. E com a respiração entrecortada. O que ele faria se Klyne contasse tudo sobre os dois?


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