A Teoria Dos Corpos escrita por LittleR


Capítulo 8
Sujeito e Predicado


Notas iniciais do capítulo

Memórias de um garoto que escolheu a fúria
Boa leitura!



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VIII. Sujeito e Predicado

 

Eu salto da mira de outro prego que Kugisaki atira em mim.

— Para de ficar pulando igual um grilo pra todo lado — ela reclama. — Não era você que queria que eu te matasse?

Eu lanço para ela um sorriso zombador.

— Você não é capaz de me matar. Você é fraca.

Kugisaki range os dentes, olhos queimando. Como eu pensei, é fácil irritá-la.

— Tá passando tempo demais com aquele idiota do sensei Gojou.

Eu gargalho alto, segurando minha própria barriga, que começa a doer depois de um tempo. A abundância dos verbos de minha colega sempre me surpreende. Kugisaki estala a língua.

— Desculpe, desculpe. — Enxugo uma lágrima no canto do olho. — Não, você não é fraca. Isso foi eu sendo a grande mentirosa que sou. Na verdade, você é bem forte, o que pode ser um problema pro meu plano.

Kugisaki arfa.

— Você ficou tagarela de repente.

— Já que você está adorando nossa conversa, eu vou contar porque é um problema não lidar com você apropriadamente. — Salto para desviar de outro prego lançado em minha direção. Ele passa raspando minha bochecha e colide com o chão atrás de mim, formando uma cratera. — Sabe, nenhum dano feito a qualquer das minhas duplicatas pode afetar meu corpo principal. Exceto por você. É aquele seu golpe que ecoa no invocador original da técnica através de uma ligação, como era mesmo.. er… rev… reverberação?

— Ressonância, idiota.

Eu estalo os dedos.

— Isso. Ressonância. O que significa que infelizmente, levar um golpe daquele seu feitiço vai machucar meu corpo principal que está lutando com Itadori e aí vai me deixar fraca o suficiente pra que ele me nocauteie e a cortina seja desfeita sem a necessidade de me matar. — Balanço a cabeça. — Não. Não, isso não pode acontecer. Sabe, Nobara, eu realmente quero que você ou Fushiguro me matem, mas isso não será possível. Vocês simplesmente estão preparando o terreno pra outra pessoa, então… me desculpe.

Eu me movo novamente como uma lufada de vento. Estou diante dela no tempo de uma respiração. Kugisaki leva um susto, mas se prepara para martelar minha cabeça até transformá-la em geleca. Eu, porém, sou mais rápida. Coloco minhas mãos aos lados de seu rosto e digo:

— Essa é uma habilidade que desenvolvi nesta geração. Se eu quiser, consigo colocar uma pessoa em transe, apagar, manipular sua memória e criar ilusões mentais. — Os olhos de Nobara se arregalam quando sorrio. — Técnica Amaldiçoada Hereditária: Sonho Lúcido.

Eu enfio minha energia amaldiçoada dentro da cabeça de Nobara. Dou para ela um lindo sonho, onde nós estamos em algum campo nas margens do rio, eu, ela, Yuuji e Megumi, fazendo um piquenique e falando bobagens. Onde passamos o dia inteiro batendo perna no shopping, fazendo Yuuji carregar nossas compras ou onde ela me leva àquela padaria que a amiga dela gostava.

Onde eu nunca os traí, onde tudo deu tudo certo pra todos.

Eu a seguro delicadamente quando ela cai no sono. Como todo o amor do mundo, a coloco no chão. Ela parece tranquila.

Quando, algum dia, Nobara finalmente fechar os olhos para seu descanso eterno, eu espero que ela tenha sonhos felizes como esses.

 

Itadori arfa diante de mim, exaurido e ferido, cheio de sangue.

Eu já perdi a conta de quantas vezes o esmurrei. E mesmo assim, eu pareço mais acabada que ele.

Ele é como um muro, não importa o quanto eu golpeie, ele não vai cair e eu só vou machucar a mão.

— O trem — ele diz, as palavras saindo engolidas pela respiração descompassada. — Foi uma dessas coisas que fez isso? Um desses seus clones ficou nos trilhos enquanto eu achava ter salvado você e amassou o trem daquele jeito, não é?

— Você vai me magoar se continuar me chamando de “coisa” — declaro, então nós três ecoamos. — Eu sou todas e todas são eu.

Eu me movo diante dele numa falha tentativa de chutar sua cabeça, mas ele me recebe com a guarda alta. Protege o rosto com um braço e me empurra de volta para trás. Eu caio de pé.

— Querido, você não precisa ter medo de me morder, sabe — ronrono, como um gato. — Eu aguento.

Itadori mantém os olhos ferozes em mim, enquanto limpa a poeira de sua boca.

— Eu adoraria ouvir isso de você, em qualquer outra situação — dispara, rancoroso, como se fosse uma criança e eu tivesse roubado todos os doces dele. — Se fosse você mesma falando. Mas não é. É a maldição falando, é a maldição distorcendo você.

(7. Metáfora. Retórica. Vício de comparação. Figura de Linguagem.)

Eu arregalo os olhos, meu coração subitamente disparando. Oxitocina, dopamina e serotonina. Todas as reações químicas que esse rapaz provoca em mim.

Pisco para a onda reverberante de vento que revoa quando ele se move. Meus cabelos estalam para o golpe poderoso, a oscilação de energia insana que vem no punho dele, movendo-se como uma fera na direção do meu rosto.

O golpe não me acerta.

A onda de choque quebra as pedras atrás de mim, mas o punho de Itadori passa pelo lado da minha bochecha, a energia amaldiçoada dele se desfazendo no ar, e não me causa mal algum.

Ele está diante de mim, perto demais, o braço rígido se estendendo acima do meu pescoço, o punho ainda fechado de ódio.

Ele me odeia. Eu vejo a raiva em seu olhar, o desespero, a culpa, tudo misturado. Minhas células imploram por ele.

— Você não está nem tentando — cuspo. Então o agarro pelo colarinho e o trago ainda mais perto.

Eu o beijo.

Eu o beijo com força, com raiva, com medo, rápida, desesperada, mergulho meus lábios nos deles e quero mordê-lo, quero quebrá-lo, quero envolvê-lo, quero ele sob mim, quero vê-lo estremecer, quero o rosto dele corado, quero seus gemidos, quero seus movimentos, quero suas mãos, eu quero tudo o que eu puder dele.

Quero que ele me mate aqui e agora, para que eu não tenha que conviver com tudo o que fiz.

Itadori me empurra com urgência. Sua expressão é de horror e nojo.

Bem, acho que é o mesmo rosto que eu faria se de repente Sukuna me beijasse. Para ele, eu sou um monstro que tomou o corpo de sua amiga e tudo que ele quer de mim é que eu vá embora.

Ele não sabe de nada, esse menino.

Eu rio alto para a inocência dele. Rio como se fosse a melhor piada do mundo, rio tanto que minha barriga dói, para disfarçar como meu coração dói, como tudo dói até o limite da loucura.

— Você sabe o que fiz com seus amigos? — pergunto, zombando. — Se soubesse, não estaria sendo tão mole. Como vai reagir se eu disser a você que Nobara Kugisaki morreu quietamente, afundando em um lindo sonho que eu dei pra ela?

— Está mentindo.

— Fushiguro não morreu tão tranquilamente, mas morreu lutando. Como o feiticeiro que é, é claro. Eu aplaudo eles. Morreram realmente tentando salvar aquelas pessoas.

— VOCÊ ESTÁ MENTINDO! — ele grita, sua voz se erguendo como uma onda alucinante de poder.

Ele é a imagem da fúria. Seu rosto se contorce e é difícil encontrar aquele menino doce de antes.

— Pare de mentir com essa boca, com esse rosto que não é seu! — exclama, e soa como uma ordem. — Veja o que está tentando fazer consigo mesma. Essa não é você.

Meus olhos ardem. Minha boca treme.

— Por quê? Porque só você é permitido aceitar a própria morte, Itadori? Só você pode se sacrificar pelo bem maior? Só você tem o direito de decidir como vai morrer?

Itadori agarra meus braços bruscamente. Mesmo irritado, ele é quase gentil demais.

— Eu não decidi morrer. Eu não sou um salvador da humanidade, ou algo assim, eu não sou egocêntrico a esse nível. Eu nem sei mais porque eu ainda faço essas coisas, tudo no que eu acreditava foi posto a prova e destruído. Se eu devo matar, se eu não devo matar, se eu devo ter uma morte digna ou não, e o que diabos é uma morte digna? Eu não sei mais nem isso. Eu não sei mais nada. Eu simplesmente continuo fazendo o que eu posso com o que eu tenho, tentando não machucar as pessoas de quem gosto e não perder mais ninguém.

Eu cambaleio. Era exatamente isso que eu estava evitando todo esse tempo. A reflexão. Pensar no que estou fazendo. Eu cambaleio e fecho os olhos, com raiva de mim mesma por ser tão fraca. As lágrimas rolam pelo meu rosto e molham meu cinismo, minhas risadas maquiavélicas e meu autodesprezo.

Cubro o rosto com as mãos e choro até que meu peito convulsione e os braços dele estejam ao meu redor, e sua testa contra minha cabeça.

— Volte — ele sussurra. — Por favor, volte pra nós.

Meu braço transpassa o peito de Itadori, estraçalha os ossos de suas costelas, minhas garras se afundam em seu pulmão. Seu sangue é lindo e quente, vermelho, humano.

Itadori não sabe o que aconteceu. Ele pisca, imóvel, ainda digerindo o fato de que eu acabei de feri-lo mortalmente.

— Itadori — sussurro de volta. — Eu amo você.

Eu o empurro para longe de mim. Seu corpo voa através do campo, até desabar no chão com uma cratera e uma nuvem de poeira. Ele cai guinchando, meio sem saber como se mover. Não consegue respirar, porque eu dilacerei seu pulmão esquerdo.

— Itadori Yuuji, o garoto que só consegue sentir alegria ou raiva. Bem, vamos ver até onde sua raiva vai. Eu e meus clones não podemos executar a mesma técnica ao mesmo tempo, mas agora que minha outra eu já matou Fushiguro, ela pode liberar meu trunfo. — Posiciono as mãos. Minha energia amaldiçoada revoa como uma besta enjaulada. — Expansão de Domínio: Árvore Genealógica dos Condenados.

Um bosque amaldiçoado de árvores brancas nos envolve. Não tem nem começo nem fim. Atrás de mim, uma enorme ameixeira branca estende galhos pútridos. Nessa bolha de energia amaldiçoada, eu prendi Itadori.

Ela se manifesta em tudo.

Meu domínio inato não está ainda completo, mas é bom o suficiente para fazer o que quero. Dentro dele, eu consigo manifestar todas as minhas técnicas de uma única vez e com um desempenho melhor.

Num canto do bosque, jaz o corpo de Kugisaki Nobara. Seu cadáver parece tranquilo, quase feliz. No peito, um buraco que eu abri com a mesma mão que abri aquele no peito de Itadori.

Ao vê-la, os olhos dele se afundam em um abismo mais profundo e mais escuro do que o meu. O brilho morre em seus olhos. Seu rosto vira um misto de emoções.

Ele tenta se arrastar até ela, está fraco demais. Não consegue respirar. Tenta balbuciar algo, mas suas palavras desaparecem quando ele encontra o corpo de Fushiguro.

Os olhos de Megumi Fushiguro ainda estão arregalados, olham para o nada, a boca entreaberta em uma sentença cadavérica. Ele está me amaldiçoando. Mesmo na morte, ele me amaldiçoará, porque é isso que eu mereço.

— O qu… — Itadori começa. — O que você fez?! O QUE VOCÊ FEZ?!

Eu gargalho, uma risada maléfica, longe de misericórdia.

— “Você não pode me machucar” — repito as palavras dele entre uma risada e outra. — Que piada!

É como um desastre natural quando ele salta até mim. Há tanta força em seu pulo que racha a energia amaldiçoada de meu campo onde ele se apoia. Ele me agarra pelo pescoço, não sei como ainda tem força para fazê-lo, e me empurra contra o chão.

Minha cabeça estala, meu sangue se espalhando pela terra branca do meu domínio, onde meu grande amor me mantém presa pelo pescoço.

A testa de Itadori colide contra a minha violentamente, uma, duas, três vezes, ding, dong, vindo para você. Eu sinto como se meu cérebro fosse estourar contra as paredes do meu crânio e escorrer como geleia pelo meu nariz.

Sangue entra nos meus globos oculares, e eu vejo tudo vermelho.

Ding, dong, chegando pra pegar você.

Itadori para depois do que parece uma eternidade. Eu permaneço estraçalhada no chão.

Quando ele me olha, o sangue que goteja de sua testa e de seus olhos se mistura com o meu, há tanta dor em seu rosto que eu poderia apalpá-la se quisesse.

— Por que fez isso? — ele balbucia, a voz falhando.

Eu tento falar, mas meu cérebro parece ter esquecido como dar ordens. Ao invés disso, eu simplesmente o chuto de cima de mim. Um chute que vem fraco, mas que o faz cambalear para longe.

Eu me levanto, desnorteada, Itadori me acerta um soco que racha minhas costelas. Eu vou parar longe com o impacto, saio voando até colidir com o tronco da grande ameixeira no centro de meu domínio.

Itadori está diante de mim em um instante. Não demora e seu punho está enterrado em meu estômago. Não bastasse sua força descomunal, a energia amaldiçoada que vem depois do golpe empurra meus ossos para fora do corpo, em todas as direções.

— Kokkussen! — ele grita, raivoso.

E me acerta outro soco no rosto. O mesmo tipo de clarão negro de antes que vem como um tsunami.

— Kokkussen!

Ele me acerta de novo. E de novo. E de novo. E de novo.

Minha mente se torna um grande clarão branco. Abafa todos os sons ao redor, o som do meu sangue esguichando, dos golpes em sequência, das árvores.

Das árvores de ameixeira balançando na primavera.

Olho à distância enquanto sou destruída em milhões de pedaços e vejo minha irmã de pé, me olhando de volta. Ela tem os mesmos cabelos escuros que eu, os mesmo olhos incisivos, ela só não tem a mesma imaturidade, a mesma raiva jovem, a mesma tendência a ser cruel.

— O que está fazendo? — ela me pergunta, soando triste.

— Não me faça essa pergunta a essa altura do campeonato.

Ela se aproxima de mim.

— Quando eu tirei minha vida, foi pra que você vivesse. Foi pra que pudesse ter seus filhos, envelhecer e morrer cercada de pessoas que a amam.

Eu sorrio para ela, olhos cheios de lágrimas, rosto quente.

— E agora eu vou morrer jovem e sozinha. Parabéns, irmã, seu plano foi por água a baixo.

— Eu não tenho mais salvação, mas você ainda tem.

Eu balanço a cabeça.

— Guarde uma cadeira pra mim no pós-vida, mana. Eu estarei indo o mais breve possível, aí poderemos comer omeletes.

Itadori para de golpear quando eu paro de me mover. Inerte, eu escorrego do tronco da ameixeira e caio sentada às suas raízes. Minha cabeça pende para o lado, meus braços sem movimentos.

Itadori recua alguns passos.

— Desculpe — ele sussurra. — Me desculpe. — As lágrimas se misturam ao sangue que escorre de seu rosto e goteja de seu queixo. — Me desculpe. Me desculpe. Me desculpe. Me desculpe.

Eu tusso, mas soa mais como uma risada. Os olhos de Itadori se arregalam.

— Eu aprendi isso há cerca de cem anos, quando uma de minhas hospedeiras se envolveu com um idiota do clã Kamo. — As palavras saem como navalhas por minha garganta estilhaçada. — Ele era um babaca que gostava de ser violento com ela, então tive que matá-lo, mas pelo menos serviu pra que eu descobrisse um novo truque.

Eu levanto a cabeça. Percebo que meus cabelos estão agora parcialmente negros, que foi provavelmente o que fez Itadori parar, mas não posso me importar com isso, então continuo:

— Desde que seja uma técnica herdada através do sangue, por uma determinada quantidade de tempo, eu consigo copiar as técnicas de um feiticeiro jujutsu que esteja dentro do meu domínio. E sabe onde é que eu coloquei o corpo de um Zen'in? — Eu gargalho, insanidade movendo meu corpo. Junto as mãos, entrelaçando os polegares para formar asas. — Nue!

Nue voa da minha sombra e ataca Itadori. Ele cambaleia, desnorteado, sem lutar, e aguenta com os dentes trincados as descargas elétricas que o shikigami lhe desfere. Eu repito o processo, uma, duas, três vezes.

Até Itadori cair de bruços, inconsciente, no chão. Ele se foi. Não tem nada mais que possa fazer.

Eu recolho meu domínio e nos trago de volta para o campo ao lado dos trilhos do trem. Meus cabelos agora estão completamente negros, a mancha deixando meu corpo e me trazendo de volta.

As ilusões de Kugisaki e Fushiguro mortos também se desfazem com o domínio e restam agora apenas seus corpos adormecidos, que eu só fui capaz de trazer para cá porque minhas duplicatas e eu compartilhamos a mesma técnica de barreira. Meus clones também desaparecem.

Minha maldição se recolhe, fraca demais, para dentro de mim. Só minha parte humana ainda permanece de pé.

Eu me aproximo de Itadori para ver em que estado ele está. Seguro delicadamente sua cabeça para não causar mais estrago do que já causei e antes que eu perceba, sua mão atravessa meu peito.

Meu rosto congela. Todo meu corpo congela, minhas costelas destroçadas onde seu punho se afunda para dentro de meu interior. Suas garras envolvem meu coração.

Minha boca treme, os músculos da minha face se contorcendo pela dor pungente.

Sukuna ergue o rosto e seu riso é a coisa mais afiada que eu eu já vi, distorce a face de Itadori de tal forma que quase parece um crime. Sua risada soa como uma lâmina sendo arrastada contra metal.

— Eu disse, sua pirralha estúpida — cantarola, a voz saindo fina de excitação. — Que eu mataria você na primeira oportunidade.

Ele arranca meu coração de meu peito. Arranca qualquer esperança, por menor que seja, de que eu vou viver mais um dia.

Minhas artérias vazam, sangue escorrendo em abundância de minha boca. Eu caio para trás, olhos no céu acima de nós, na lua alta me olhando, fina como um sorriso que zomba de mim.

Um resfolegar de Itadori é provavelmente o que me faz desviar o olhar dela. Ele voltou, está acima de mim, suas lágrimas pingando, o rosto apavorado. 

— Não… — Seus braços rodeiam meu corpo e me puxam para seu colo. Meu coração ainda está em sua mão. Ele parece ao mesmo tempo descrente e desesperado. — Não, Midori… Me desculpe, eu não… Não vá, por favor, fique comigo…

Ele larga meu coração. Suas mãos com meu sangue se erguem para afagar meu rosto, tirar os cabelos que grudam na minha testa.

Meus lábios se abrem, não conseguem expelir um único pronome. Ah, e eu queria dizer algo para ele, tento levantar a mão para tocar seu rosto, mas minhas forças acabam na metade do caminho.

Meu braço desaba ao meu lado.

Os sinos do trem badalam na minha cabeça, ding dong, ding dong, está na hora.

(8. Metáfora. Onomatopeia. Hipérbole. Prosopopeia. Figuras de Linguagem).

Eu vou embora sem um verbo sequer para me consolar.

Para trás, deixo meus arrependimentos, minhas regras gramaticais e o grande amor da minha vida, segurando meu corpo enquanto desmorona.

 

"você sussurra

eu te amo

o que significa é

não quero que me abandone"

(outros jeitos de usar a boca, pg 92 — Rupi Kaur)


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Notas finais do capítulo

É isso. Espero que tenham gostado. Até mais!



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