Folklore escrita por Gorky


Capítulo 8
Confissões de uma adolescente em crise


Notas iniciais do capítulo

oie! primeiro capítulo da segunda fase da história. espero que gostem ♥



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capítulo 8

― O que você está fazendo? 

― Criando uma versão nova de mim mesma. 

Elena Gilbert arregalou os olhos, assistindo a irmã gêmea descolorir o próprio cabelo. No fim das contas, Emília não foi completamente bem-sucedida. Precisou ir ao salão de beleza mais próximo, acompanhada de Jenna, para ajustar a sua dita “grande transformação”. 

Quando voltou para casa e se olhou no espelho, ela mal se reconheceu. Mas não viu isso como algo negativo. Essa era a sua intenção: ser outra pessoa, deixar aquela menina deprimida e frágil para trás. Morta como Victoria Donovan. 



Na manhã posterior, Tyler, como o prometido, estacionou o seu carro preto em frente à residência dos Gilbert, aguardando a namorada passar pela varanda e correr até ele. Você pintou o cabelo, nossa, ele observou maravilhado quando a Gilbert entrou no veículo. É, eu fiquei cansada de mim mesma. Os dois conversaram um pouco enquanto Tyler dirigia (não sobre o cabelo de Emília), os olhos do Lockwood focados na rua. Tyler falou sobre o novo treinador do time, ela disse que precisava começar a estudar para a prova de espanhol daquela semana. De repente, uma ideia acendeu-se na sua mente. 

― Quer sair pra um encontro hoje? No Grill. 

― Um o quê?

― Você me ouviu. Faz tempo que a gente não tem um encontro. Aí, a gente pode conversar, estudar pra minha prova e fazer o dever de casa. Tudo ao mesmo tempo. O que acha? 

Ele respondeu “é, pode ser”. Emília não se incomodou. Ela sorriu e estabeleceu a hora do encontro. 

Na escola, ela recebeu alguns olhares curiosos pelos corredores e salas de aula. A professora de História fez um comentário lisonjeiro que irritou Emília. Corinne soltou um “uau” e perguntou se tinha acontecido alguma coisa grave. Sara a elogiou e disse que “você não é mais a irmã gêmea da Elena, você é a minha irmã gêmea agora”. A boca de Angie abriu-se em um “o” num primeiro instante. Caroline praticamente não a reconheceu e elas nem se falaram. Emília notou que ela estava um pouco (ou muito) desatenta. 

No refeitório, ela avistou Matt Donovan de pé na fila. Sua mente voou diretamente para Vicki. Para o cadáver dela. Sentiu como se uma mão invisível apertasse o seu peito ― uma sensação meio positiva, ela se chocou ao constatar. Melhor do que o vazio dos dias anteriores. 

Havia um cartaz colado na porta do banheiro feminino, avisando sobre a “Noite das Profissões”. 

― Você vai nisso? ― ela questionou Corinne. 

― Não sei, talvez. 

Após o fim da última aula, Emília apressou-se para ir embora. Procurou por Jeremy no gramado da escola, já que combinou com ele de manhã que os dois voltariam para casa juntos. De longe, pôde ver Stefan, que havia praticamente sumido nos últimos dias, conversando com Elena perto de um dos inúmeros bancos vermelhos que ficavam naquela área. 

Ela não ousou se aproximar. 



Enquanto Emília se preparava para o seu encontro, Jenna e Jeremy saíram pela porta da frente. Antes disso, Jenna gritou que eles iriam ao supermercado. Emília ora verificava as horas no celular, ora passava maquiagem. Não entendia a sua animação, nem por que estava se esforçando tanto para ficar bonita. Era o Grill, um bar/lanchonete que existia desde antes de Emília nascer e que ela frequentava desde criança. E ela e Tyler só iam estudar. Só isso. Imediatamente, a Gilbert foi afogada por sentimentos intrometidos de tristeza e culpa, que não deixaram qualquer espaço para a euforia anterior. 

O que estava acontecendo? Por que ela estava agindo como se não soubesse literalmente da existência de vampiros? Por que ela estava agindo como se não tivesse visto o corpo de uma garota que ela conhecia há anos? Por que ela mentiu para a polícia? Por que ela não pediu para ter as suas memórias apagadas? Por que ela não contou para ninguém? Por que ela não estava apavorada? Por que por que por que por que.

Emília precisou retocar a maquiagem antes de sair de casa. 



Tyler já estava sentado em uma mesa do canto quando Emília adentrou o Grill. Ela se aproximou, um sorriso forçado no rosto, e o cumprimentou. Senta aí, ele disse, apontando para o banco à sua frente. Emília ajeitou a sua mochila ao seu lado no banco, e em seguida a abriu. Pegou lápis, caneta e o seu livro de espanhol. 

― O que você trouxe? ― ela perguntou, indicando com o olhar a mochila fechada de Tyler. 

― O dever de casa ― ele falou como se fosse uma resposta óbvia. 

― Ótimo, então vamos começar logo. 

A verdade era que Emília não necessitava de fato estudar por muito tempo para a prova de espanhol. Ela era uma das melhores alunas da turma da sra. Sandoval, possuindo um nível mediano de pronúncia e avançado de escrita. Tyler sabia disso, mas ainda assim não comentou nada no carro e nem depois, o que surpreendeu um pouco Emília. Ela supôs que ele queria passar algumas horas com ela tanto quanto ela queria passar com ele. Com qualquer pessoa que não acreditasse em vampiros e não desse a mínima para Stefan Salvatore, na realidade. Além disso, ela queria se desculpar pela maneira como vinha agindo desde a festa do Dia das Bruxas. 

Passados alguns minutos, Tyler a cutucou e a mandou olhar para trás. Jenna e Jeremy estavam acomodados em uma mesa distante, mais ao centro do Grill. Assim que os dois viram Emília, eles acenaram. Ela acenou de volta e sorriu. Presumiu que eles haviam passado em casa antes para deixar as compras, ou então as compras ficaram no carro. Emília cogitou ir lá para conversar, mas por fim decidiu continuar no banco. Em dada hora, Tyler perguntou se ela estava bem. 

― Sim. Por que essa pergunta do nada? ― ela indagou com impaciência. 

― É que, hum, eu não falei nada antes, mas você anda meio estranha. Da última vez…

― Eu estou ótima, Ty. Eu só estava meio ocupada com a escola nesses últimos dias. Não precisa se preocupar. 

― Mas eu me preocupo, eu sou o seu namorado!

― Tá bom, mas não precisa. Se preocupar ― ela afirmou com mais impetuosidade do que pretendia. Depois disso, eles ficaram em silêncio, cada um preocupado com o seu próprio dever. Mas permaneceu uma atmosfera de desconforto e coisas não ditas tão sufocante que Emília acabou cedendo e, enfim, se despedindo rapidamente do namorado de maneira fria. Eu vou embora com a minha tia e o Jeremy, ela falou, guardando suas coisas dentro da mochila. 

Você deveria ser o meu melhor amigo, Ty. O que está acontecendo?

Um homem alto e mais velho, trajando uma camisa azul-escura e calça preta, alcançou a mesa de Jenna e Jeremy primeiro que Emília. Ele claramente não trabalhava no Grill e definitivamente não era um conhecido da Gilbert. Em um dos seus dedos da mão, um anel grande e familiar brilhava. Emília parou no lugar, observando e escutando a rápida conversa que se desenrolou. As informações que ela captou foram as seguintes: o nome dele era Alaric Saltzman; ele era um novo professor de alguma matéria na escola, embora não fosse professor de Emília (e possivelmente um forasteiro na cidade também, como o Stefan); ele passou algum trabalho para Jeremy; ele parecia interessado em Jenna. E ela nele. 

Emília inconscientemente se aproximou mais da mesa, forçando a tia e o irmão a reconhecerem sua presença: 

― Ah, oi, loirinha ― Jeremy provocou. Ela piscou, demorando alguns segundos para assimilar a situação. 

― Oi, eminho ― ela devolveu, sem jeito. 

― Esse é o sr. Saltzman, o professor novo de História ― Jeremy apresentou, matando a sua curiosidade sem saber. 

― Prazer ― Emília apertou a mão de Alaric, abrindo um sorriso tímido. Ele era atraente, ela tinha de admitir. ― Então, vocês querem ir embora comigo? Eu já terminei o que tinha que fazer ― ela disse para Jenna e Jeremy, apertando seus dedos contra as alças da mochila apoiada nas suas costas. Havia dois pratos vazios e dois copos de Coca-Cola quase no fim em cima da mesa. 

― Hum, tudo bem ― Jeremy deu de ombros e levantou-se do banco. ― Eu tenho que ir agora mesmo, pra começar minha pesquisa. 

Alaric se despediu com um “foi bom falar com vocês” e afastou-se dos três. Jenna o seguiu com os olhos. 

― Você vem, tia Jenna? ― Jeremy perguntou. 

― Depois ― ela sussurrou, ainda concentrada em Alaric. Então, ela se virou para os sobrinhos e indagou com certa urgência: ― Vocês podem ir andando, não podem? 

― Claro ― Jeremy respondeu. Jenna olhou para Emília e ela assentiu. 

― Eu não vou demorar. Prometo. 

Jeremy e Emília caminharam lado a lado, ambos em um silêncio levemente desconfortável. Já do lado de fora do Grill, Jeremy enfim disse: 

― Você e o Tyler brigaram?

― Não ― ela disse sem nenhuma emoção. ― Então, aquele é o professor que vai substituir o treinador Tanner?

― Sim, é ele. 

― Então eu acho que vou voltar pra turma do Tanner. Que o coitadinho descanse em paz!

― Meu Deus ― Jeremy riu. ― Você já tem uma concorrente bem forte. 

― Pois é, ela superou o cara feio da televisão muito rápido. O que aconteceu com ele, aliás? Se mandou do nada mesmo? 

― Aparentemente, sim ― Jeremy afirmou com desinteresse. Se Emília pudesse apostar, ela apostaria que o irmão nem lembrava o nome do “cara da televisão”. 

― Eu acho que foi a melhor coisa que ele poderia ter feito pra tia Jenna ― Emília opinou. ― Ei, quer comprar alguma coisa no caminho?

― Tipo o quê?

― Uma pizza. Que tal? ― o rosto de Jeremy se iluminou com a sugestão, e Emília sorriu. ― Eu trouxe dinheiro pra comprar alguma coisa do Grill, mas eu meio que esqueci de usar, então… o que acha? 

― Eu nunca recusaria pizza. 

Jeremy e Emília passaram na pizzaria que eles estavam mais familiarizados ― a pizzaria da família Callegari ― e pediram uma pizza de frango. Esperaram alguns minutos na recepção, calados, fitando o chão. As pessoas entravam e saíam, o céu já estava escuro. Emília se perguntou o que a irmã estava fazendo. Ela poderia estar com Stefan, beijando-o dentro daquela casa assombrada. Ou poderia estar em casa, assistindo algum desenho. Elena ainda gostava de desenhos infantis, ela relembrou com carinho. 

A coluna de Emília começou a doer. 

― Posso te perguntar uma coisa? ― Jeremy se virou para a irmã. 

― É sobre o Tyler? 

― Sim. 

― Então não. Eu não quero falar sobre ele. 

― Se estiver acontecendo alguma coisa…

― Não tem nada acontecendo ― Emília revirou os olhos. ― Eu sei que você odeia ele e acha que só ele pode estar errado, mas sou eu. Eu sou o problema. As coisas mudaram muito entre eu e ele desde a morte da mamãe e do papai, e eu não sei se elas vão voltar a ser como eram antes. Principalmente agora. Ah, deixa pra lá. Vamos mudar de assunto ― Jeremy assentiu, incerto. ― Me fala sobre o seu trabalho de História. Eu ouvi o que você falou pro professor bonitão no Grill. 

― Ah, esse trabalho. É que minha nota com o sr. Tanner estava bem baixa e o sr. Saltzman vai me ajudar a me recuperar. Ele quer que eu faça um trabalho sobre a cidade. 

― Como assim?

― Sobre o passado de Mystic Falls. É meio que um tema livre, eu posso escolher qualquer tópico sobre o passado da cidade. A tia Jenna falou pra eu olhar as coisas do papai. 

― Saquei. 

Depois que eles pegaram a pizza, andaram calmamente e silenciosamente para casa. 

― Porra! ― Jeremy exclamou repentinamente, assustando Emília. 

― Que foi? 

― Amanhã é aniversário da vovó. 

Emília o tranquilizou e disse que eles poderiam ligar para a sra. Sommers de manhã, antes de saírem para a escola. Jeremy concordou e eles continuaram o caminho. Enquanto passavam pela casa dos Feldstein, uma figura conhecida correu por eles. Ela não parou para encará-los, mas Emília a reconheceu com facilidade. Bonnie Bennett. Jeremy, por outro lado, não prestou muita atenção nela. 

Os dois subiram os degraus da varanda, Emília atrás do irmão, uma vez que ela segurava a sacola com a pizza. 

― Abre aí ― ela pediu. ― Vê se está destrancada.

Jeremy girou a maçaneta e empurrou a porta da frente. Neste exato instante, Emília foi surpreendida por um grito tão agudo que ela, por pouco, não deixou a pizza cair. Jeremy perguntou o que estava acontecendo e Elena respondeu que nada. Emília olhou ao redor. Todas as luzes estavam apagadas, com exceção da luz da cozinha. E Elena não estava sozinha. Ao seu lado, próxima à escada, Caroline encarava os Gilbert como se estivesse com uma arma apontada para a própria cabeça. 

Jeremy traduziu o pensamento de Emília e reclamou do escuro, prosseguindo para ligar a luz da sala. O coração de Emília saltitava. Ainda em choque, ela foi até a cozinha e deixou a pizza em cima da mesa. As mãos, trêmulas. 

― A gente trouxe pizza ― ela avisou o óbvio, virando-se para Elena e Caroline, ambas estáticas na mesma posição. ― Oi, Care. 

Caroline engoliu em seco. Franziu as sobrancelhas por alguns segundos, enfim parecendo ver a mudança no visual de Emília, o que trouxe uma certa satisfação à Gilbert. 

― Eu acho melhor eu ir embora ― a Forbes afirmou, apressando-se para ir embora. Emília revirou os olhos. 

Jeremy subiu as escadas. 

― O que foi, Lena? ― Emília indagou para a irmã gêmea, que permanecia com um semblante de surpresa e preocupação. 

― Nada. 

Emília assistiu a irmã pegar o telefone fixo e discar algum número. Ela largou a sua mochila no chão da cozinha, já se sentindo muito dolorida. 

― Oi. É a Bonnie ― ela falava baixo, mas suas palavras eram perfeitamente compreensíveis para Emília. Talvez de propósito, talvez não. ― A Emily possuiu o corpo dela. Ela disse uma coisa. Disse: “Eu não vou deixar ele ter o colar. Precisa ser destruído.” E aí ela só foi embora. Ah, eu não sei. A Igreja dos Fell, no antigo cemitério. Foi pra lá que ela levava a Bonnie nos sonhos. Nós temos que ajudá-la, Stefan. 

Stefan. O coração de Emília errou uma batida. Elena, no entanto, não olhou para a irmã. Ela simplesmente abriu a porta da frente e saiu. Dois minutos depois, Jeremy desceu as escadas. 

― Pra onde a Elena foi?

― Falar com a Caroline ― ela respondeu rapidamente. ― Vamos começar a comer logo. A gente reserva um pedaço pra Lena e pra tia Jenna. 

Emília abriu a embalagem com a pizza e procurou por pratos e refrigerante. Ela trombou com Jeremy em um dado momento. Seu desconcerto era visível. Jeremy perguntou se ela estava bem e Emília assentiu. E então, a porta da frente foi aberta mais uma vez; por Jenna, acompanhada de Alaric Saltzman. Olha ela aí, Jeremy falou. Emília acenou de longe, por educação. Jenna e Alaric se despediram, mas Emília mal os escutou. 

Ela comeu em silêncio, pensando em tudo o que vinha ocorrendo. Jenna e Jeremy notaram que tinha algo de errado, mas felizmente não a interrogaram. Elena voltou para casa com Bonnie, porém elas falaram que não estavam com fome e Jeremy comemorou, dizendo que ia comer a parte de Elena. 

Quando Emília deitou a cabeça no travesseiro, ela conseguiu se lembrar por que o anel de Alaric era tão familiar. 



De manhã, Jenna, Emília, Elena e Jeremy se revezaram no telefone para desejar feliz aniversário para Hope Sommers. Jeremy foi o último. Enquanto ele falava com a avó no andar de cima, Emília desceu os degraus, já preparada para a escola. Minutos mais cedo, Elena disse que poderia levar Emília e Jeremy no seu carro. Faz tempo que a gente não faz isso, ela afirmou com doçura. Emília se sentiu obrigada a concordar. Após a morte de Miranda e Grayson, Elena passou semanas sem entrar dentro de um carro; seja o de Bonnie, seja o de Jenna, seja o seu próprio. Emília jurou que a irmã demoraria anos até conseguir fazê-lo novamente, mas Elena, como de habitual, superou as suas expectativas e deixou um gosto agridoce na boca de Emília. 

― E você e o Stefan? ― Jenna perguntou para Elena, que abotoava o seu casaco. ― Me atualiza. 

Emília prendeu a respiração. 

― Ele sabe o que eu sinto e o que eu acho, e eu sei o que ele acha também, mas não importa. Ele vai embora, de verdade ― Elena destrancou a porta da frente, abrindo o caminho para Jenna e Emília. 

― Pra onde ele vai? ― Jenna continuou. Emília fez o possível para fingir que não se interessava pelo que Elena falava. 

― Eu parei de fazer perguntas. As respostas me dão medo.

Antes de sair, Elena gritou para Jeremy que ela estaria esperando por ele no carro. 

Jenna, então, revelou que Logan Fell havia retornado para Mystic Falls e aparentemente a primeira pessoa que ele procurou foi ela. Relaxa, eu não deixei ele passar pela porta da frente, Jenna clarificou. Emília não respondeu nada. 

Dentro do carro, Elena questionou se havia algo errado, mas Emília negou. Você está quieta demais hoje, Elena explicou. Emília repetiu três vezes que estava bem, porém Elena não parecia convencida e continuou questionando-a. A saída para Emília foi mudar de assunto do nada:

― Tá tudo bem com a Caroline? ― ela interrompeu Elena. 

― Hum ― ela engoliu em seco ―, sim, sim. Tudo bem. Não foi nada, sério. Ontem, a Bonnie… ela está bem. 

― A Bonnie ou a Caroline?

― As duas. 

― Que bom. 

Jeremy entrou no carro, então Elena não fez mais perguntas. 



Na escola, havia cartazes por todos os cantos anunciando a “Noite das Profissões”. Corinne a abraçou assim que a viu. As duas ficaram batendo papo enquanto caminhavam, esperando o primeiro sino da manhã soar. Emília parou para retirar o livro da primeira aula de dentro do seu armário, e aí ela avistou Tyler. Um pouco mais à distância, encostado em uma parede, discutindo tranquilamente com Chad Hogan. Emília conhecia Chad das aulas de álgebra e inglês, além das inúmeras festas organizadas por Tyler que ele compareceu juntamente à namorada, Dana Mulligan. 

― Escuta, Montana, eu tenho que falar com o Tyler agora, pra me desculpar por ontem. A gente se encontra mais tarde, pode ser? 

― Pode, claro. Boa sorte.

Emília respirou fundo e, cautelosamente, aproximou-se do Lockwood. Os olhos escuros dele repousaram nela com calma; nenhuma raiva ou ressentimento detectados. Ela deu um sorriso constrangido e Chad se despediu e afastou-se com agilidade. 

― Oi. Me desculpa por ontem, eu juro que sou uma mulher nova hoje ― não foi o seu melhor pedido de desculpas, mas Emília não havia realmente elaborado um. E não achou que precisasse; a cena que ela fez no Grill definitivamente nem constava na lista de seus piores momentos. Ainda assim, ela sentia-se envergonhada. 

― Tudo bem, vamos esquecer aquilo ― ele disse, deixando-a puxá-lo para um abraço apertado. 

Os dois, então, conversaram como se nada tivesse acontecido. Sobre a prova de espanhol de Emília, sobre a Noite das Profissões, sobre Harry Potter… quando Emília já estava quase esquecendo as dúvidas que tivera em relação ao namoro dos dois, ela presenciou uma situação no mínimo inesperada: Caroline Forbes e Matt Donovan rindo juntos, agindo como velhos amigos, como um casal. 

Tyler fingiu não perceber o incômodo da namorada. 

Na aula de biologia, ela não fez rodeios e questionou o seu parceiro, Adrian (que também era amigo de longa data de Matt), de cara:

― Ei, Adrian. 

― E aí? 

― Você falou com o Matt recentemente? Matt Donovan. 

― Hum, claro. Por quê?

― Você sabe alguma coisa sobre ele e a Caroline Forbes? 

― Não. 

― Nada? Ele não te falou nada sobre ela? 

― Não, nada. 

No intervalo, ela viu Bonnie Bennett, aparentemente bem, com a irmã. Emília se perguntou se Bonnie sabia o segredo de Stefan Salvatore. Com certeza sabe. Infelizmente, ao contrário dela e Caroline, Emília e Bonnie jamais foram próximas de forma nenhuma, então Emília não se sentia no direito de interrogá-la sobre nada. Você não quer se envolver nisso você não quer se envolver nisso você não quer se envolver nisso.

A PROMESSA DO SEU FUTURO, um cartaz no lado de fora da escola dizia. E ali, perto de um dos bancos vermelhos, estava Stefan, de novo, com Elena. De novo. 

Emília não ousou se aproximar. 



Jeremy e Emília voltaram para casa a pé, sem Elena por perto. Quando chegaram, os dois ficaram na sala, cada um acomodado em um sofá. Jenna ficou transitando pelos cômodos, reclamando sobre a faculdade. Emília cochilou por alguns minutos. Sonhou com uma floresta vazia, galhos quebrados, dálias florescendo, pássaros cantando, insetos correndo sob os seus pés, árvores longas, uma menina. A menina entrelaçou os dedos dela nos de Emília, e a guiou para outro caminho. Emília, mesmo nunca tendo a visto antes, confiava nela. Por quê? Ela acordou num susto. Jeremy desenhava algum monstro no seu bloco, concentrado. Nem olhou para ela. 

― Ei, o que você acha? ― ele mostrou o desenho para Jenna. 

― Assustador. 

― Eu achei um diário velho nas coisas do papai. Johnathan Gilbert, da época da Guerra Civil. Parece um circo de horrores. Ele escreveu sobre demônios e gente sendo estraçalhada. 

― É, ele era um escritor, como as suas irmãs ― Jenna piscou para Emília. ― Histórias curtas, contos de terror. 

― Ele escrevia ficção? Eu achei que ele era só um lunático ou um bêbado. 

― Ele era um Gilbert, então, era um pouquinho dos dois. E você, Mila? Tem desenhado também?

― Infelizmente, não ― ela resmungou. Ergueu-se do sofá e subiu os degraus da escada, rumo ao seu quarto. Adentrou o seu banheiro, despiu-se e ligou o chuveiro. Depois, ainda de toalha, ela pegou o seu celular e buscou o contato de Tyler. Alô?, ele disse primeiro. Oi, e aí? Tá bem? Sim, de boa. Que bom. Você vai mesmo hoje nessa noite aí de profissões ou sei lá? Vou. Tá, então a gente se encontra aí. Tudo bem. Escuta, você sabe o que tá acontecendo entre o Matt e a Caroline? Quê? É que hoje foi bem bizarro, né? Essa coisa deles, bem engraçado. Eles são amigos agora? Eles estão saindo. Ah. Tudo bem, que coisa. A gente se vê na escola, então. Tchau. Hum, tchau. 

Ela se vestiu e foi até o irmão, ainda na sala. 

― Ei, Jeremo. Quer ir nessa Noite das Profissões comigo? 



Elena chegara em casa quando o irmão tomava banho. Emília contou para onde eles estavam indo e Elena disse que ela também queria ir e que poderia levá-los no carro dela. Tudo bem, ótimo, Emília afirmou. Ela quase perguntou aonde a irmã estava, mas se parou a tempo. Lembrou-se do que Elena falara horas mais cedo: Eu parei de fazer perguntas. As respostas me dão medo. 

― Você vem também, tia Jenna?

― Ah, claro, por que não?

No colégio, assim que botou os pés para fora do carro, Emília se separou dos irmãos e da tia. 

Jornalismo, escrita criativa, medicina, direito, história, design gráfico, design de moda, arquitetura, psicologia, economia, ciência da computação, biologia, biomedicina, engenharia, relações públicas… 

Desde o primeiro instante, sentiu-se estranha e deslocada por estar ali. Isso porque, enquanto perambulava pelos corredores da escola, observando atentamente todos os cursos e profissões selecionadas para aquela noite, Emília percebeu uma coisa estarrecedora: ela não tinha planos para o futuro. Ela não tinha um curso dos sonhos ou uma profissão dos sonhos. Gostava de desenhar e escrever (principalmente de desenhar), mas nunca pensou de fato em fazer disso uma carreira. Emília vasculhou as suas memórias, procurando por alguma conversa significativa que tenha tido com os pais sobre esse assunto, mas não achou nada. Miranda e Grayson sempre estiveram ocupados demais impedindo a filha mais velha de morrer. A própria Emília não achava que chegaria tão longe. 

― Você sabe que o Tyler desenha? ― Jeremy a abordou de repente, quando ela havia se cansado de ver as bancas e estava encostada em uma parede. 

― Sei. Antes da gente começar a namorar, era sobre isso que ele puxava assunto comigo. Às vezes, a gente desenhava junto ― mas a gente não faz mais isso, ela não complementou, subitamente entristecida. ― Tá surpreso? 

― Um pouco. 

― Por quê? Você viu ele? 

― Vi, mas eu não sei pra onde ele foi. 

Emília, então, partiu em uma busca pelo namorado. Avistou Elena, Matt, Sara, Angie, Adrian, Bonnie, Jenna… Stefan e Logan Fell. Conversando um com o outro. E Caroline. Mesmo julgando ser uma péssima ideia, Emília andou em direção à Forbes, cumprimentando-a com um sorriso. 

― Care. 

― Oi ― ela sorriu de volta, completamente distante da Caroline da noite anterior. ― Você mudou o seu cabelo. 

― É, mudei. E você mudou de namorado. 

― Quê?

― Essa não foi muito boa, me perdoa ― Emília riu. ― Eu estava falando do Matt. Eu fiquei sabendo que vocês estão saindo. 

― O que isso tem de mais? ― ela cruzou os braços. 

― Nada, eu tô só comentando. 

― Você namora o Tyler há anos e eu nunca fiquei fazendo comentários sarcásticos sobre vocês. Qual o problema se eu sair com o Matt?

― Nenhum, eu não tô reclamando! ― Caroline revirou os olhos. ― Eu estava brincando, pelo amor de Deus. 

― Tá bom, Mila ― ela se afastou a passos largos. 

Emília respirou fundo. Seu coração batia com frenesi, suas mãos suavam, e sua respiração falhava. Ela correu para o banheiro feminino e imediatamente se trancou em um cubículo. Por que eu estou agindo assim por que eu só não calei minha boca por que eu não consigo parar de falar por que eu estou sendo tão difícil com todo mundo com a Caroline com o Tyler com a Elena com todo mundo droga tem vampiros nessa porra de cidade e eu estou tendo crise de ciúmes eu tenho namorado esqueceu meu Deus por que eu não consigo parar? 

Ela não soube dizer quanto tempo levou para se recompor. No entanto, quando saiu do banheiro, ela descobriu por Sara que havia acontecido uma briga entre Jeremy e Tyler, e que o prefeito Lockwood, também o pai de Tyler, levara os dois para fora. Ah, não. Já esperava se deparar com o irmão sangrando, amparado por Jenna e Elena, e Tyler discutindo com Matt e preparando-se para se desculpar. Imaginar essa cena lhe trouxe uma pequena dose de alívio. Porque aí ela sentiria que não foi a única que se equivocou feio. Sem dúvidas, uma das melhores partes de namorar uma pessoa errática como Tyler. 

Mas, não. Jeremy estava inteiro no estacionamento, sem Jenna, sem Elena, sem Matt, sem Tyler, sem o prefeito. 

― O que aconteceu entre você e o Tyler? Cadê ele?

― Me deu um soco na cara e foi embora. 

― Quê? Sério? ― ela quase não escondeu a decepção. Jeremy, porém, não percebeu. ― E o pai dele? 

― Ele é mesmo um imbecil, como você disse. Quer ir embora agora?

― Nossa, quero. Vamos procurar a tia Jenna e a Lena.

Não foi difícil encontrar Jenna. Ela já saía da escola, com a mesma linha de pensamento dos sobrinhos. Eu falei com o Logan agorinha. Continua o mesmo babaca, é claro. Vamos embora logo, ela disse, também decepcionada. Mas e a Elena?, Jeremy perguntou. Ela já foi embora, junto com o Stefan. Acho que não vai voltar pra casa tão cedo. Agora a gente vai ter que ir andando. 

― E tudo bem por você? ― Emília franziu as sobrancelhas. ― Ela ir com o Stefan. 

― Eu deixei a Vicki Donovan dormir na nossa casa por dias. Seria injusto impor regras mais rígidas à sua irmã. Ela sabe se cuidar. 

Emília não tinha a mesma convicção. 

Elena não voltou para casa naquela noite. 


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