Folklore escrita por Gorky


Capítulo 5
Ponto de virada


Notas iniciais do capítulo

oie!
eu ia postar esse capítulo só em março, mas como eu tô de bom humor hoje (e porque esse capítulo é bem curtinho), então aqui está de presente ♥



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 capítulo cinco

Emília dormiu por horas e horas. Acordou ao meio-dia, com a cabeça estourando. Precisou tomar banho e Dorflex. Pôs um vestido azul-escuro com mangas que cobriam todo o antebraço. Jenna não dormiu em casa e não apareceu para o café da manhã. Elena também não estava em casa, mas Emília não sabia o motivo. Ela questionou Jeremy, e ele deu de ombros e respondeu: ela deve estar com o Stefan, sei lá. É, deve ser isso, ela disse. Então, sua preocupação com Elena dissipou-se assim que ela se lembrou de Caroline.

Alcançou o telefone fixo e discou o número da residência dos Forbes. Liz, a xerife e mãe de Caroline, atendeu. Ah, Emília, você, ela exclamou com surpresa. Pois é, eu tava querendo falar com a sua filha, esclareceu, encostando os cotovelos no balcão. Jeremy devorava uma panqueca. Espera um pouco, Liz pediu. Emília ouviu certa movimentação no fundo, e então Caroline entrou na linha. Oi, murmurou. Ah, oi, você tá bem? Sim, tô bem, por quê? É que, ontem, no lava a jato, você começou a agir de um jeito estranho. Tipo, você saiu e foi pra uma casa que eu nunca vi antes e você entrou lá do nada, Emília revelou, a voz baixa. Não queria que Jeremy escutasse, mas ele estava perto. Para o seu alívio, seu irmão parecia mais concentrado na comida do seu prato. Eu não sei do que você tá falando, Caroline respondeu depois de um tempo em silêncio. Tá brincando com a minha cara? Por que eu faria isso? Você tava lá, Caroline. Você entrou na casa e nem olhou pra mim! Mila, se isso for uma pegadinha... Não é uma pegadinha! Tá bom, mas eu não me lembro disso e tô cheia de coisa pra fazer hoje. Depois a gente conversa.

E então ela desligou.

Emília ficou estática, o telefone na mão, uma expressão vazia no rosto. Ela sabia que era real, que havia realmente visto Caroline agindo de uma maneira suspeita. Mas a própria Caroline não tinha recordações sobre e, pelo menos até o momento, soou sincera para Emília. Mas que diabos... Tudo bem?, Jeremy a resgatou de seus pensamentos. Sim, sim. Tudo bem.

Ela passou as próximas horas no seu quarto, fazendo dever de casa. Queria terminar logo para passar o restante do dia e todo o domingo desocupada. Após um tempo com a casa completamente muda, ela pôde escutar movimentação no andar de baixo: alguém batendo na porta de entrada, alguém abrindo ― Jeremy, com certeza ―, sussurros, silêncio, a porta se abrindo e fechando de novo, e então barulhos mais altos. Havia mais de duas pessoas na sala. As palavras eram indistinguíveis. Emília enfim se cansou, largou o lápis na escrivaninha e desceu para ver o que estava acontecendo.

Na metade da sala de estar com a tevê, ela se deparou com uma cena inesperada: Vicki, Matt e Jeremy de pé, e então Jeremy falou algo e tentou se aproximar de Vicki, mas ela o empurrou com uma força impressionante e o irmão de Emília caiu no chão, as costas batendo em um dos sofás.

― Jer, você tá bem? ― Matt apressou-se até o amigo. Nenhum dos três notou a presença de Emília, mesmo ela estando perto de Vicki.

― É, eu tô bem, tô bem! ― Jeremy respondeu com agressividade.

― Que droga, Vicki ― Matt disse, e então ele olhou para Emília. E Vicki seguiu o olhar do irmão. E por fim Jeremy. Mas, bem neste instante, a porta foi aberta abruptamente por Elena. Stefan andava atrás dela.

― O que tá acontecendo? ― Elena indagou, com uma pressa que assustou Emília. Alguma coisa estava errada.

― Ela tá muito doida ― Matt apontou para a irmã mais velha. Os olhos de Vicki se encheram de lágrimas.

― Elena, pra trás ― Stefan avisou, colocando-se na frente de Vicki. Emília não queria, mas sentiu pena dela. ― Vicki, olha pra mim ― Stefan pôs sua mão na bochecha de Vicki. Se alguém visse de longe, pensaria que se tratava de um momento romântico. ― Se concentra. Você vai ficar bem. Tudo vai ficar bem ― ele agia como se soubesse de algo que mais ninguém naquela sala sabia. De repente, Emília entendeu por que não confiava em Stefan. ― Gente, leva ela pra cama e fecha a cortina. Ela vai ficar bem. Vamos lá.

Jeremy já estava de pé novamente. Ele e Matt não questionaram Stefan; simplesmente foram até Vicki e a conduziram para o andar de cima. Emília os seguiu, curiosa para entender toda aquela situação. Elena e Stefan, contudo, permaneceram na cozinha.

Vicki não abriu a boca durante o caminho para o quarto de Jeremy. Ela não tentou fugir, não discutiu, não pareceu nem insatisfeita (se bem que Emília não fazia a menor ideia do que ela estava sentindo, baseando na sua expressão vaga). Matt adentrou o quarto com Vicki, enquanto Jeremy ficou na soleira, por insistência de Emília.

― O que tá acontecendo? ― Emília sussurrou, com medo de provocar a fúria de Vicki.

― Ela chegou aqui do nada e disse que tava com fome. Sei lá, eu acho que ela usou alguma coisa muito forte.

― Por que ela te empurrou daquele jeito?

― Não sei, apareceu no noticiário que acharam corpos no cemitério que a gente tava ontem e ela surtou.

― Como assim? Acharam corpos humanos?

― É.

― De quem?

― Ainda não identificaram.

Jeremy, então, deixou Emília com os seus pensamentos. Ela encostou na parede e cruzou os braços, lembrando-se do funeral dos pais. A sua tia estava lá, os seus avós, Corinne, Bonnie, Liz, Caroline, Tyler, Carol, até a porra do prefeito Lockwood... ela odiou a quantidade de pessoas naquele funeral; pessoas que nem conheciam os seus pais direito, que só queriam fingir que se importavam, só queriam sentir que eram boas pessoas. Ela brigou feio com Tyler no cemitério, e depois do funeral, ela começou a odiar a si mesma por ter feito aquela cena. Ela sabia que Elena a odiava também. Sua garganta começou a arder, como se tivesse algo entalado ali.

Sai daqui Emília antes que você chore.

Ela respirou fundo e prosseguiu em descer as escadas, mas parou involuntariamente em um dos últimos degraus ao ouvir as vozes de Stefan e Elena:

― Ela só tem algumas horas ― Stefan falou.

― Ela tá lá em cima com eles agora ― Elena soava como se estivesse prestes a chorar.

― Tudo bem, ela ainda não sabe o que tá acontecendo.

― E quando vai saber?

― Agora, ela não se lembra de nada. Parte dela ainda é humana, mas aos poucos, com o avanço da transição, as lembranças vão começar a voltar e aí ela vai saber que precisa fazer uma escolha.

― A mesma escolha que você fez?

Elena se afastou de Stefan. Emília não pensou rápido e engoliu em seco ao sentir os olhos da irmã sobre si.

― Emília ― Elena arregalou os olhos. Quase não a chamava assim. ― Há quanto tempo tá aí?

― Eu, hum, acabei de chegar, descer as escadas. Tava falando com o Matt e o Jeremy.

Elena ergueu um pouco mais o olhar e Emília se virou. Vicki passou por ela com brutalidade, sem nem se desculpar. Matt veio logo atrás, gritando o nome da irmã. Elena esqueceu o seu susto, mas Emília, não. Ela aproveitou a confusão que se deu em seguida, após Vicki escapar para sabe-se-lá-onde, e correu para longe. Sabia para onde ir.

Nem Carol nem Richard abriram a porta, e sim Tyler. Emília suspirou de alívio.

― Posso entrar? ― pediu, mais desesperada do que queria deixar transparecer.

Tyler deixou. Emília respirava com dificuldade; ela respondeu as perguntas do namorado de maneira atrapalhada, deixando implicitamente claro que alguma coisa ruim tinha acontecido na sua casa. Tyler estava acostumado com aquilo, então não a questionou por muito tempo. Os dois subiram para o quarto dele e começaram a se beijar.

Emília fez o possível para se distrair, mas as palavras de Elena e Stefan continuaram tatuadas na sua mente. 


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