Folklore escrita por Gorky


Capítulo 4
Aconteceu naquela tarde




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805534/chapter/4

 

capítulo quatro

Quatro dias se passaram desde a confusão no dia do jogo ― que acabou nem ocorrendo por conta da morte do treinador. A febre de Emília passara na segunda, mas ela continuou sentindo-se enjoada, o que a levou apenas a beliscar qualquer comida que lhe oferecessem. Todos os dias, o clima parecia mais frio do que de fato estava, e sua cabeça doía toda tarde desde então. Ainda bem que ela estava acostumada e sempre tinha aspirina no banheiro.

Na terça, ela e Tyler conversaram na escola. Ele revelou todos os detalhes sobre o seu relacionamento com Vicki (até os mais desagradáveis) e confessou ter provocado Jeremy sobre isso no sábado, mas jurou que nada mais aconteceu entre os dois desde que ele e Emília voltaram. Eu não vou mais mexer com o seu irmão, eu prometo. Emília balançou a cabeça e disse que estava tudo bem. Bom, não está tudo bem, mas... eu vou acreditar na sua promessa. E me promete também que não vai mais falar no nome dessa menina.

― Eu prometo.

Entretanto, apesar de ter tirado essa promessa da boca de Tyler, ela não pôde fazer o mesmo com Jeremy. Ainda pior: o seu irmãozinho estava (aparentemente) namorando com Vicki. Por esses quatro dias, Emília flagrou a irmã de Matt na sua casa. Infelizmente, ela não podia expulsá-la. Você prometeu que apoiaria ele com qualquer menina Emília lembra disso merda por que eu prometi isso?

Ela não viu Stefan Salvatore desde sábado, e Elena não o viu desde domingo. Emília perguntou na quarta se os dois tinham terminado, mas Elena negou. Antes disso, na segunda, Elena lhe contou o que houve no almoço dos fundadores: Caroline levou Damon Salvatore como o seu par, ela já estava agindo de maneira estranha há dias, e durante a festa, Elena descobriu marcas vermelhas no corpo de Caroline. Depois, ela encontrou Caroline no jardim da mansão dos Lockwood, aos prantos, sem conseguir falar o que Damon lhe fizera. Ao saber disso, Emília enfim reuniu coragem para falar com a Forbes.

― A Elena me contou sobre o seu namorado, o irmão do Stefan.

― Ex-namorado ― Caroline a corrigiu. Ela guardou o seu livro de História dentro do seu armário e em seguida o fechou.

― Eu sei que a gente não conversa faz tempo, principalmente por minha culpa, mas eu... você não mereceu o que aconteceu com você ― Emília se sentiu uma idiota; ela pensou em calar a boca, mas continuou falando: ― Se você quiser conversar, eu tô aqui. Nós somos amigas, não somos?

― Não sei. Somos?

Caroline a deixou ali, mas quando já estava escuro, ela foi até a casa dos Gilbert e conversou melhor com Emília. Ela ficou para o jantar e antes de ir, deu um abraço apertado em Emília. Foi tão bom ficar com você.

Jenna também tinha algumas novidades na sua vida. O seu namorado da época da escola, Logan Fell, havia voltado para a cidade há alguns dias e, pelo o que Emília soube, as faíscas entre os dois reapareceram na festa dos fundadores. Não acredito que você namorou com o cara do noticiário, Emília brincou. Qual o problema?

― Ele é bem feinho, tia Jenna.

― É, eu sei.

 

― Ei, vocês duas. Sabem o que tá acontecendo lá em cima?

Emília passava manteiga num pão francês quando a irmã apareceu na cozinha naquela manhã de quinta-feira, já arrumada para a escola. Ela sussurrou um "infelizmente" para a pergunta de Elena e Jenna assentiu. A tia dos três Gilbert anotava em um papel a lista de compras do mês.

― E vocês não se importam? ― Elena deixou a sua jaqueta verde em cima da mesa de jantar. Ela passou por trás de Emília e pegou uma caneca em uma das prateleiras.

Emília deu de ombros e andou até a geladeira.

― Eu acho que ele podia ser mais esperto ― Jenna respondeu, brincando com a caneta em sua mão. ― Fazer um esforço pra esconder ela na hora de entrar e sair. Ah, e só pra avisar vocês duas, eu não vou jantar em casa hoje.

Depois de colocar leite em um copo e apanhar seu prato com o pão, Emília sentou-se na cadeira ao lado da de Jenna, enquanto a irmã despejava cereal na caneca.

― Então você vai mesmo sair com o Logan! ― Elena comemorou. Emília franziu a testa e virou-se para a tia.

― O cara feio do noticiário?

― Mila... ― Elena a repreendeu com o olhar e Emília revirou os olhos em resposta.

― Eu só vou aparecer pra torturar ele ― Jenna afirmou. ― Alguma notícia do Stefan?

― Não depois que ele deixou aquele recado super específico na segunda: "Oi... Elena, hum, eu... hum, eu preciso fazer uma coisa, hum, eu, hum, explico em alguns dias".

― Você não ligou pra ele? ― Jenna perguntou, com bom humor.

― Não. E nem vou ― Elena abriu a geladeira e pegou o mesmo leite que a irmã pegara minutos antes.

― E tá tudo bem pra você? ― Jenna continuou. Emília não pensou em se intrometer, só quis escutar.

Depois de espalhar leite pelo cereal, Elena largou a caixa no balcão, com mais raiva que Emília esperava.

― Não, eu não tô bem com nada disso. Mas também não vou ficar chorando. Eu ia escrever no meu diário agorinha e aí pensei: "O que vou escrever?". Sinceramente, eu não vou ser uma dessas meninas idiotas que param toda a vida por causa de um cara. Eu vou ficar bem sem ele.

Emília não admitiria em voz alta, mas ela admirou a atitude da irmã naquele momento.

 

Mais tarde, na escola, ela foi abordada por Caroline Forbes quando estava guardando alguns livros dentro do seu armário:

― Emília ― Caroline parecia deslumbrante como sempre. A Gilbert reparou no seu sapato cor-de-rosa com salto. ― Você vai aparecer amanhã? ― ela mostrou o pequeno cartaz que carregava nos braços: letras coloridas e caprichadas LAVA A JATO DAS GATAS, com horário, local e data.

― Isso não é bem a minha cara.

― Eu acho muito a sua cara ― Caroline rebateu com rapidez. Emília riu baixo de escárnio. ― Ah, vai. Não precisa vir de biquíni. Você pode só ajudar na organização e com o dinheiro. É por uma boa causa.

― Arrecadar dinheiro pra festa é uma boa causa pra você?

― Ah, vai, Emília. Por favor.

Emília pegou o cartaz e suspirou.

― Eu vou pensar.

Caroline bateu palmas de alegria. Antes de se afastar, Emília separou um pouco os lábios, preparada para perguntar sobre Damon. Mas percebeu que não tinha coragem o suficiente para de fato acabar com as suas dúvidas e preocupações.

No intervalo, ela, Corinne e Sara ficaram conversando no refeitório, bandejas espalhadas pela mesa. Tinha batatas fritas, sanduíches, Coca-Cola, suco de morango, uma banana, uma barra de chocolate branco, salada, Doritos, e Pringles.

― O Mike falou comigo hoje. Eu não consegui me afastar e tive que aguentar as perguntas e as reclamações ― Sara desabafou.

― Mas você explicou por que terminou com ele? ― Corinne perguntou, enfiando um Doritos na boca.

― Sim, mas ele não ficou tão satisfeito com a minha resposta ― Sara disse e em seguida bebeu vários goles de seu suco.

― Ah, segue em frente, Sara. Não fica pensando nisso ― Corinne aconselhou.

Sara prosseguiu e falou mais sobre Mike. Ela adorava falar sobre a própria vida. Não que isso fosse um completo incômodo para Emília, uma vez que Sara conseguia ser engraçada às vezes e a Gilbert gostava de manter certas coisas para si. Era bom ter uma amiga que não a questionava porque já estava muito ocupada sendo obcecada consigo mesma.

― Bizarro o que aconteceu com o professor Tanner, não é? ― Corinne comentou depois de Sara terminar o seu monólogo.

― Que animal matou ele mesmo? ― Emília indagou.

― Eu acho que ainda não sabem.

Emília olhou de reflexo para o corredor e bem neste instante, Stefan Salvatore passou pelo campo de visão dela. Então ele voltou.

Quando estava voltando para a sua casa, Tyler a parou na calçada:

― Ei, quer ir pra minha casa hoje?

Ela riu de surpresa e demorou alguns minutos para responder.

― Não, eu ainda tô um pouco doente. Preciso dormir um pouco.

Não era mentira, mas também não era toda a verdade. Sua cabeça doía e ela sentia um pouco de sono, porém poderia só engolir um comprimido e ir para a casa de Tyler tranquilamente. Ela só não sentia nenhuma vontade de fazê-lo.

Ela dormiu por quase três horas e acordou suando. Assim que se ergueu, decidiu beber água e apressou-se para descer as escadas. Quando seus pés tocaram o último degrau, a campainha tocou. Eu atendo, ela gritou para Elena e Jeremy saberem.

Era Stefan.

― Ah ― ela soltou involuntariamente. ― Oi.

Ele sorriu e o coração de Emília disparou.

― Oi.

― Você quer que eu chame a Elena? ― ela estava sussurrando, mas não sabia por que.

― Agora, não. Eu vim falar com você.

― Comigo? ― ela apontou para si mesma.

― Isso.

― Por quê?

― Posso entrar?

― Hum, tá bom ― ela abriu mais a porta e deixou espaço para ele passar. Quando ele o fez, Emília fechou e trancou a porta. ― Aconteceu alguma coisa? Tipo, eu sei que você sumiu por alguns dias, mas, hum, não precisa me explicar nada. Só tô comentando ― ela não entendia por que agia como uma idiota e nem queria refletir a respeito.

― Eu tive que resolver alguns problemas familiares.

Ele caminhou até a cozinha e Emília o seguiu, falando:

― Entendo. Mas já tá tudo resolvido agora?

Eles pararam perto do balcão. Emília cruzou os braços.

― Sim, tá tudo bem agora.

― Que bom. Aliás, eu não te agradeci até hoje por ter me levado até a enfermaria, quando eu desmaiei na sala. A Elena me contou. Obrigada, sério.

― De nada.

― Então, sobre o que você quer falar comigo?

― Sobre a sua irmã.

Ela suspirou de decepção e descruzou os braços.

― O que tem ela?

― Eu quero fazer uma surpresa pra Elena. Um jantar especial, pra me desculpar por ter sumido. Você é a irmã dela, então deve conhecer bem ela.

― Você quer saber o prato favorito dela?

― É, isso.

― Hum... ― sua mente ficou em branco. Ela não tinha certeza se era porque estava sob pressão ou se de fato não sabia. Por sorte, Jeremy adentrou a cozinha, uma expressão de curiosidade e espanto no rosto.

― Stefan?

― Ah, Jeremy! ― ela comemorou alto demais e então diminuiu o tom. ― Bem na hora. O Stefan quer fazer um jantar pra Elena e ele me perguntou qual o prato favorito dela ― Emília sussurrou a última parte: ― Me lembra qual é, por favor.

― Frango à parmegiana ― Jeremy respondeu prontamente, e Emília sentiu uma pontada de culpa.

― Isso, isso mesmo. Jeremy, por que você não chama a Elena? ― ela sugeriu, mas Jeremy não se mexeu. ― Vai! ― ela foi mais firme e ele a obedeceu.

― Eu posso...? ― Stefan apontou para as gavetas da cozinha.

― Sim, claro, fica à vontade. Você deve cozinhar bem, como a Elena.

― Ela cozinha?

― É, às vezes. Vocês dois combinam bastante ― ela disse e ele sorriu em resposta. De repente, Emília se lembrou de seu estado: suada, ainda com a roupa que havia usado na escola, cabelo embaraçado e esvoaçado. Ela fez o possível para não mostrar seu desespero. ― Eu preciso tomar banho.

― Você pode jantar com a gente, se quiser. Depois do banho.

― Eu vou pensar.

Ela tomou um banho rápido. Não precisava lavar o cabelo porque já tinha lavado na noite anterior. Vestiu uma camisola e desceu as escadas. Ao se aproximar da cozinha, avistou Stefan e Elena se beijando. Elena estava virada para Stefan, de costas para ela. Nenhum dos dois a viu ali. Nenhum dos dois viu quando ela subiu as escadas e voltou para o seu quarto.

 

Agorinha eu encontro vocês lá, só preciso ligar pro meu orientador, Jenna informou às sobrinhas antes delas atravessarem a porta para o lado de fora. Elena assentiu e Emília fez um sinal de "ok" com o dedo. No café da manhã, Jeremy disse que, depois da aula, não ia aparecer no lava a jato. Não precisou se justificar, as Gilberts já estavam cientes do motivo e não fizeram questão de interrogá-lo. (Mesmo não gostando de Vicki.)

Elena vestia roupas decentes, mas também colocara um biquíni por baixo. Apesar de Emília não ter manifestado a sua dúvida, explicou que prometeu a Caroline que ajudaria a limpar os carros. Sua irmã apenas balançou a cabeça e as duas caminharam em silêncio. Emília decidira ir no lava a jato assim que acordara e surpreendeu Corinne, mas nem cogitou a possibilidade de ser uma das gatas. Ela continuou com o seu tênis e vestiu short jeans e regata. Caroline não ficou decepcionada com a sua escolha; na verdade, ela a encarou como se já esperasse. As duas não haviam conversado mais cedo na escola. De longe, ela avistou Sara conversando com outras meninas enquanto ensaboavam um carro vermelho. Notou a presença de alguns meninos sem camisa, alguns com sunga.

Elena cumprimentou Caroline e então se afastou para falar com Bonnie. Emília se recordou da rápida conversa que teve com a irmã em casa, horas atrás, antes de partirem para a escola. Como foi o jantar com o Stefan? Ótimo, ela não parecia tão contente. Que problemas familiares ele teve que resolver? Eu não sei direito, alguma coisa com o irmão. Aquele esquisito que atacou a Caroline? É, ele. Ele não vai mais voltar. Que bom.

Se ela e Elena fossem mais próximas...

― Emília, você vai ficar no caixa ― ela apontou para uma mesinha no meio do estacionamento da escola. PAGUE AQUI, um cartaz enorme anunciava. Corações verdes desenhados ao redor. Um cartaz menor indicava os preços. ― A Jenny vai te trazer água agorinha ― Caroline apontou para Jenny, que estava concentrada limpando um veículo próximo, e demonstrou com gestos o que ela tinha que fazer. Emília se sentou em uma das cadeiras à frente da mesinha. ― Olha só, tem três regras: sem descontos pra amigos, não tem nada grátis aqui, e nada de pagar depois. Isso não é caridade.

― Não é mesmo ― Emília murmurou. Só tinha dinheiro em cima da mesa, é claro. Ela se virou para trás e viu a irmã com Stefan, ambos tirando suas jaquetas.

― Nossa ― Tyler chamou a sua atenção ―, eu não sabia que você viria.

Ele não estava sem camisa. Ainda bem, Emília celebrou internamente.

― Nem eu.

― Não vai tirar a roupa? ― o seu tom era claramente de provocação.

― Cala a boca. Você sabe que não. Eu só vim pra coletar o dinheiro.

― É uma pena. Eu pagaria o dobro se você ficasse de biquíni.

Ela revirou os olhos, mas riu logo em seguida.

Jenny a trouxe um copo vermelho com água. Emília agradeceu; Tyler se despediu e andou para outra direção. Enquanto Emília servia de caixa, ele ficou batendo um papo com os meninos do futebol. Às vezes, a olhava; às vezes, os olhares deles se cruzavam e ambos sorriam. Em determinado momento, Jenna apareceu e acenou para as sobrinhas. Emília pensou em ir embora quase o tempo todo. Não estava contente como gostaria e esperava. Precisa de ajuda?, Caroline perguntou. Não, não, eu tô bem.

― Ei, a gente tá ficando sem toalhas e aqueles paninhos ― Elena alertou, a camisa branca desabotoada e o biquíni roxo à mostra. Emília pôs os olhos rapidamente no colar gordo e redondo ao redor de seu pescoço; presente de Stefan, segundo Elena.

― Tá bom, eu pego ― Caroline falou.

Emília cuidou do dinheiro por mais alguns minutos; até ver a Forbes voltando da escola... e seguindo o caminho oposto que deveria seguir. Ela não estava indo até as meninas, ela estava indo para longe do lava a jato. Emília cerrou os olhos e estranhou. Não pensou muito; simplesmente se levantou e foi atrás de Caroline. Elena poderia olhar o dinheiro ou não, certamente ninguém roubaria todos aqueles dólares na cara dura.

Caroline?, ela gritou, sem ser ouvida. Caroline?, ela tentou de novo. Nada. Nenhuma reação. Caroline estava muito concentrada no que quer que estivesse prestes a fazer. Care?, sua voz saiu mais baixa e dócil. Care? Caroline?, ela não sabe quantas vezes falou essas duas palavras durante esse tempo que passou seguindo-a. Só então se deu conta que Caroline usava uma jaqueta escura, cobrindo o seu biquíni rosa com branco. Ela andava e andava. E Emília andava e andava. Estava hipnotizada. O que ela tá fazendo o que ela quer por que ela tá agindo assim?

O que o que o que.

Eventualmente, as duas chegaram a uma mansão desconhecida para a Gilbert mais velha. Grande, escura e assustadora. Mas definitivamente belíssima. Emília pausou os seus passos no gramado da mansão, mas Caroline, não. Ela entrou lá dentro, sem ser convidada. Novamente, Emília não teve coragem de fazer algo que queria.

Um enjoo insuportável abalou o seu estômago, subindo pela sua garganta. Quando deu por si, havia se inclinado para baixo e vomitado o que comeu mais cedo na grama.

E então foi embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Folklore" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.