Folklore escrita por Gorky


Capítulo 3
O último jogo


Notas iniciais do capítulo

olá, amiguinhos! voltei com mais um capítulo :) como deve ter dado pra perceber, eu não tenho um cronograma certo de quanto em quanto tempo vou atualizar, mas faço o possível pra não demorar muito. por favor, adicionem a história nos acompanhamentos, favoritem ou/e deixem algum comentário ♥ eu juro que não mordo e sou bem legal.
aproveitem!



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capítulo três

Emília Gilbert não era uma garota atlética. Ela não acompanhava esportes, não sabia absolutamente nada sobre esportes, e não tinha interesse no assunto. Mas Tyler Lockwood era o melhor jogador do time de futebol da escola (o que, considerando o nível dos demais jogadores, não significava muita coisa), então, como namorada dele, Emília se sentia na obrigação de assistir aos seus treinos.

Naquela sexta-feira, porém, havia um novo jogador em campo: Stefan Salvatore. Antes, ele estava apenas observando o treino da arquibancada, como ela, mas repentinamente Stefan se levantou e foi falar com o professor Tanner. Não olhou para Emília uma única vez. Será que ele sabe que eu existo? Ah é claro ele me levou para a enfermaria na segunda mas pode ser que a Elena não tenha contado que era minha irmã mas ela deve ter contado ou ele deve ter presumido que a gente era parente apesar da gente não ser extremamente parecida. Boa, Stefan, Emília ouviu os jogadores o elogiando (Tyler não estava incluso).

Ela não queria notar nada, mas Stefan lhe parecia um tanto charmoso naquele uniforme vermelho.

Emília soltou um "ugh" quando Tyler partiu para cima de Stefan, derrubando-o na grama. Com certeza estava tomando as dores de Matt. Ou com inveja do talento de Stefan. Ou os dois.

No horário do almoço, Elena a procurou na biblioteca, onde Emília gostava de comer escondida, sentada no chão entre as prateleiras.

― Mila, hoje eu vou preparar um jantar especial pra mim, pro Stefan e pra Bonnie. Lá em casa. A tia Jenna vai passar a noite trancada no quarto, trabalhando na tese dela.

― Ah ― Emília fez uma careta. ― Tá bom, eu vou pra outro lugar.

― Eu não tô te expulsando. Só quero saber se você vai jantar com a gente ou não.

― Eu não quero. Vou pra casa do Tyler à noite.

Elena assentiu, um sorriso forçado nos lábios. Ela já ia se afastando quando Emília a chamou:

― Ei. Você e o menino novo estão namorando?

― Hum ― Elena engoliu em seco, colocou as mãos no bolso da jaqueta. ― É, mais ou menos. Ainda é cedo pra dizer, mas acho que sim.

― E o Matt?

― Desde quando você se importa com a minha vida amorosa?

Emília deu de ombros e voltou a se concentrar no seu sanduíche preparado em casa. Ela odiava a comida da cantina.

Enquanto comia, lembrou-se da conversa que teve com Elena de manhã, pouco antes de saírem de casa. Elena a parara na porta para avisar que Carol Lockwood, possivelmente uma das pessoas mais odiadas por Emília, havia ligado.

― O que aquela bruxa queria?

― A festa dos fundadores é em dois dias. Ela quer algumas relíquias da família para colocar à mostra.

Emília revirou os olhos; ela já imaginava que a irmã consentira ao pedido da mulher do prefeito (outro imbecil). Toda vez que Emília sequer pensava no rosto de Carol, ela sentia um desejo horripilante de pegá-la pela nuca e afogá-la até a morte. Elena nunca entendeu esse ódio, e, sinceramente, nem Emília. Tyler não sabia disso, mas ele mesmo não se dava muito bem com a mãe. Nem com o pai.

Emília frequentava essas festas anuais em homenagem aos fundadores de Mystic Falls, mas ela parou de ir aos treze anos e não tinha nenhuma intenção de quebrar esse padrão.

Emília não contou ao namorado que pretendia ir à sua casa de noite, mas ele não pareceu triste quando abriu a porta e se deparou com a primogênita dos Gilbert. É uma hora ruim?, a voz de Emília soou mais doce do que ela esperava. Não, entra, ele respondeu. Ela não viu Richard e Carol. Ainda bem. O que houve?, ele perguntou, preocupado. Emília entendeu o porquê. Normalmente, ela se refugiava na casa dele quando alguma discussão séria acontecia na residência dos Gilbert. Sim, sim. Vamos subir pro seu quarto, ela colocou seus braços ao redor dos ombros do namorado. Tyler sorriu.

Tanto Emília quanto Tyler perderam a noção do tempo. Mas fizeram o possível para manter o silêncio; a última coisa que queriam era chamar a atenção dos pais de Tyler. Quando terminaram, Emília se enrolou na camisa-grande-demais-para-ela do Lockwood e se sentou na cama dele, enquanto Tyler continuava deitado, observando-a.

― Você vai no jogo amanhã?

Emília franziu a testa.

― Tem jogo amanhã?

― Sim, você não lembra?

― Ah, é. Tem mesmo ― ela fingiu lembrar. Tyler percebeu, mas não disse nada. Ele mudou de assunto imediatamente:

― Fala a verdade: por que você veio aqui? Brigou com a sua irmã de novo?

― Não, a gente até que tá se dando bem ultimamente. É que... ― ela colocou uma mecha de seu cabelo escuro para trás da orelha. ― Ela quis preparar um jantar hoje em casa pra Bonnie e pro novo namorado, o menino novo. E eu não tava afim de participar disso.

― Então ela e o Salvatore estão mesmo juntos? ― ele ajeitou a cabeça no travesseiro.

― Acho que sim ― ela deu de ombros e então olhou nos olhos de Tyler. Uma possibilidade cruzou a sua mente. ― Por que a curiosidade? O Matt te mandou perguntar isso?

― Ele continua apaixonado pela Elena, sabia?

― É claro que sim, ele sempre foi o cachorrinho da minha irmã. Nunca olhou pra nenhuma outra menina, só pra ela. Eles nunca se traíram, nunca terminaram um zilhão de vezes, quase não discutiam, ele só fazia o que ela queria o tempo todo. Eu não sei por que ela terminaria com um cara perfeito como ele.

Tyler molhou os lábios.

― Você quer começar uma briga agora?

Ela suspirou.

― Não.

Emília foi embora quando concluiu que estava tarde o suficiente para o jantar de Elena ter chegado ao fim. Enquanto subia os poucos degraus da varanda da sua casa, a porta da frente fora aberta por alguém. Um homem que ela nunca viu antes e uma garota loira que ela conhecia mais do que gostaria. Eles passaram por ela com rapidez, não reconhecendo a sua presença ali. Emília engoliu em seco. Aquele homem lhe deu arrepios.

Ela olhou para a porta que não havia sido fechada pelos dois. Elena agora estava na soleira, os olhos fixos na irmã.

― Quem era aquele com a Caroline?

― O irmão do Stefan ― Elena respondeu, séria. ― Entra.

Emília a obedeceu. Stefan encontrava-se parado ao lado das escadas. Ele parecia ainda mais infeliz que Elena.

― Oi ― Emília o cumprimentou com timidez.

― Oi ― ele sorriu um pouco.

Emília subiu para o seu quarto e só saiu de lá na manhã seguinte.

 

Tyler estava ocupado se preparando para o jogo, então ele e Emília não se viram durante toda a tarde; apenas se falaram rapidamente por telefone pouco depois de Emília acordar. Jeremy lhe questionou se ela havia mesmo voltado com Tyler e Emília confirmou.

― Algum problema?

― Ele é um imbecil, Mila. Quando vai perceber isso?

― Quando você parar de foder a drogada da Vicki, que tal?

Jeremy deu alguns passos para trás, uma expressão de surpresa no rosto. Ele sequer a respondeu e Emília não tentou segui-lo quando ele deu as costas. Quando enfim escureceu e a escola começou a encher de alunos no lado de fora, todos se preparando para jogar ou assistir ao jogo, Emília se desculpou:

― Ei, Jeremo ― ela chamou o irmão, em pé na parte de trás de uma picape parada e desconhecida, com alguns amigos (Eddie, Joshua e Troian). Os três seguravam copos vermelhos, enquanto Jeremy segurava uma garrafa de uísque. Um quarto menino, que Emília não conhecia, aproximou-se da picape, com um copo na mão. Eddie e Joshua acenaram para ela e Troian mandou um "e aí?". ― Foi mal por hoje cedo. Eu passei do limite.

― Se não prestou atenção, eu tô meio ocupado agora ― Jeremy retrucou, concentrando-se em despejar um pouco de uísque nos copos dos três rapazes.

― É, embebedando seus amigos. Que divertido! ― Emília tirou as mãos dos bolsos da calça jeans e subiu na picape. Ela roubou o copo do quarto menino, sem nem olhar a sua reação.

― O que tá fazendo? ― Jeremy franziu a testa. Não parecia mais irritado. O menino do lado de fora da picape tentou protestar, contudo, ao perceber que Emília nem se incomodaria em discutir, afastou-se do carro a passos largos e furiosos.

― Um pouco pra mim também ― Emília estendeu o copo para o irmão.

Ele hesitou por alguns segundos.

― Tem certeza?

― Sim, Jerry. Eu vou ficar bem, relaxa ― ela murmurou, olhando fixamente o rosto do Gilbert mais novo. Não queria que Jeremy comentasse sobre o seu remédio com os amigos dele ali do lado. ― Ei, desculpa mesmo pelo jeito que eu falei. É que... eu gosto mesmo do Tyler. Eu sei que você odeia ele e eu sei que você tem razões válidas pra isso, mas eu... eu gosto dele ― Jeremy ouviu o discurso da irmã com um certo descontentamento aparente. ― Mas, pelo menos, eu sei que não vou me casar com ele, então fica tranquilo. Você não vai precisar aguentar ele pelo resto da sua vida. E, sabe, você pode ficar com a Vicki pelo tempo que quiser. Eu não vou mais fazer nenhum comentário ruim sobre ela na sua frente.

― Eu não tô com ela. Ela... ― ele se interrompeu abruptamente.

― O quê?

Jeremy engoliu em seco e olhou nos olhos da irmã. Os mesmos olhos que os dele.

― Ela só quer ser minha amiga.

― Tá bom, mas fica sabendo que qualquer garota que você escolher, eu vou te apoiar ― ela tocou no antebraço dele e sorriu.

Jeremy cedeu e serviu uísque para Emília. Ela ficou conversando com o irmão e os amigos dele. Vários estudantes e funcionários da escola se movimentavam ao redor da picape e longe também. Tyler estava conversando com os seus colegas de time, Elena estava conversando com Stefan, Corinne não estava em um lugar onde Emília conseguia vê-la, Caroline estava com as suas colegas da equipe de torcida. Emília sempre gostou dos uniformes das meninas; a ponto de cogitar se juntar à elas, até assistir a um treino. Infelizmente, ao contrário de sua irmã gêmea, ela não foi feita para ser uma animadora.

A Gilbert esvaziou o copo duas vezes. Antes mesmo de terminar, ela já começou a se sentir enjoada.

― Vamos ser sinceros ― o professor Tanner iniciou o seu discurso, um microfone à sua frente. Emília fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo. Seu estômago não era mais tão resistente. ― No passado, a gente deixava que outros times viessem até aqui e acabassem com a gente ― ela percebeu que nem se lembrava qual era o time rival daquela noite. Que ótima namorada ela era! ― Mas isso está prestes a mudar ― ela desceu da picape com muito cuidado, não respondendo às perguntas do irmão e dos amigos. Só fez um sinal de "para" com a mão e correu para o mais longe possível, onde ninguém pudesse ver o que estava prestes a ocorrer. ― Temos novos talentos aparecendo no time e eu tenho que dizer que tem muito tempo ― Emília achou um carro vazio, por dentro e por fora, nenhuma pessoa ali ―, muito mesmo, que eu não vejo um garoto com essas mãos ― ela encostou sua mão no veículo e se agachou um pouco, vomitando na grama. ― Muitos aplausos para Stefan Salvatore ― os alunos aplaudiram com entusiasmo, enquanto Emília continuava vomitando. Um gosto nada agradável na boca. ― Para todos que estão esperando uma vitória, eu tenho só uma coisa a dizer ― ela limpou os lábios e se preparou para voltar à picape. ― Os Timberwolves estão famintos!

Eddie, Joshua e Troian não saíram da parte de trás do carro, mas Jeremy estava no chão. Literalmente, no chão. Um garoto o cobria de socos furiosos, enquanto uma multidão se juntava e gritava. Tyler, Tyler, para, você tá machucando ele, aquela era Vicki. Tyler. Emília fazia parte da multidão; ela não se mexia, não sabia o que fazer. Era como se estivesse congelada. O professor Tanner já havia terminado o seu discurso. E o jogo?, Emília pensou inapropriadamente. Tyler, para. Jeremy, meu Deus!, agora essa era Elena. Ei, ele já tá caído. Chega!, Stefan Salvatore apressou-se e segurou o braço de Tyler. Emília sentiu-se enjoada novamente. Ela queria correr para longe mais uma vez. Jeremy, não!, Elena gritou.

Jeremy pegou um pedaço da garrafa de uísque quebrada na grama e a arremessou com força na mão de Stefan. Não foi de propósito, ele queria atingir Tyler, mas Stefan usou a sua mão para impedir. Emília fechou os olhos na hora do impacto. Ela quis voltar para sua casa e escovar os dentes.

Foi culpa minha? Tyler, para com isso!, Matt pediu com raiva. Ele levou Tyler para outro canto. Emília pôde escutar seus sermões. Sai, cara, sai daqui!

― O que deu em você? Você tá sangrando ― Elena andou apressadamente até Jeremy. Os lábios dele haviam sido pintados com sangue. Emília se aproximou dos dois por instinto. ― Mila, Mila. O que aconteceu?

― Eu não sei, eu não vi. Quando eu voltei, eles já tavam brigando ― Emília sussurrou. Surpreendeu-se por ainda ter voz, mesmo que baixa e devagar.

― Por favor, leva o Jeremy pra casa.

― Não! Eu tô bem. Me deixa, vocês duas! ― Jeremy respondeu com rispidez, empurrando as mãos de Elena que examinavam seu rosto machucado.

Emília não ficou para ouvir o resto; ela decidiu seguir Matt e Tyler. Suas pernas tremiam, mas ela milagrosamente conseguiu se manter em pé. Não prestou muita atenção às reações dos alunos.

― Tyler, o que foi isso? ― ela cruzou os braços. Matt e Tyler viraram-se para encará-la, mas os olhos de Emília estavam somente no namorado. ― Por que você espancou o meu irmão? ― ela não gritou. Não por falta de vontade, mas por ser incapaz de aumentar o volume de sua voz naquele momento.

― Ele começou, tá bom? ― Tyler, no entanto, foi mais agressivo. Nada que Emília não pudesse lidar. ― Ele acha que eu ainda tô com a Vicki.

― E você tá? ― ela levantou a sobrancelha.

― É claro que não!

― Bem, eu conheço meu irmão e sei que ele não começaria a te bater do nada. Você falou alguma coisa pra ele, não falou?

― Emmy...

― Ah, vai se foder, sério ― ela revirou os olhos e lhe deu as costas. ― Não me segue, por favor.

Mais tarde, Emília descobriu que o professor Tanner havia sido assassinado. Ela devia, mas não conseguiu se importar com o ocorrido.

 

Quase meio-dia, Emília amanheceu com tremores e tontura. Seu corpo inteiro doía. Ela só conseguia ficar três minutos de pé. Vomitou duas vezes em menos de três horas. Sentia a sua pele fervendo. Se Emília fosse uma pessoa mais saudável, certamente desconfiaria que estava morrendo. Jenna passou no seu quarto e apoiou a mão na testa da sobrinha. Assustadoramente quente. Pegou o termômetro para conferir o quão grave a febre estava. Trinta e nove graus. Quer que eu fique em casa?, Jenna perguntou, já arrumada para a festa dos fundadores. Não, não. Isso acontece muito, minha imunidade é baixa. Eu vou estar ótima amanhã. Vai com a Elena e o Jeremy, eu preciso de silêncio agora. Tranca a casa e leva a chave com você.

Nesse instante, Elena parou na soleira e disse:

― O Tyler veio aqui pra pegar as coisas que a mãe dele pediu. Ele perguntou de você.

― Elena, eu não quero saber. Sai daqui, as duas ― Emília pediu, se virando para o outro lado da cama e enfiando-se ainda mais na coberta.

Ela dormiu até de madrugada. Acordava em alguns momentos, mas logo retornava a dormir. Queria que o tempo passasse, e dormir sempre fora o melhor remédio em todas as vezes em que ela adoeceu.

Seus sonhos variaram, um cenário diferente atrás do outro. Ela não se apegou a todos eles. Em um deles, talvez o último, um homem mais velho (muito mais velho, provavelmente mais velho que Grayson Gilbert) reuniu-se em uma mesa com seus filhos. Um, dois, três, quatro, cinco, seis. Seis filhos. Não, cinco. Um mais velho que o outro, nenhum gêmeo. Havia uma outra mulher, quase tão velha quanto o patriarca. Era uma armadilha, Emília quis alertá-los, mas ela não fazia parte daquele sonho. Ela só era uma observadora distante.

Todos comeram e beberam, alguns conversavam animadamente, outros permaneciam calados. Uma garota, a única filha do casal, começou a engasgar, as mãos em volta do pescoço. E depois um filho, e outro. E outro. Até todos caírem no chão. Com exceção do pai e da mãe.

Emília acordou sem ar. 


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