Folklore escrita por Gorky


Capítulo 17
Garota morta andando




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capítulo dezessete 

Sem sonhos estranhos. Sem sangue, sem presas, sem cadáveres. Sem nenhum Mikaelson. Pela primeira vez em muito tempo, Emília Gilbert se sentiu completamente em paz. Faz tempo desde a nossa última festa do pijama, Caroline disse no Salão dos Fundadores. Não procurar por Sara foi a melhor escolha que Emília poderia ter tomado. Provavelmente ela só tinha tido um imprevisto; era isso. Ela não precisava da ajuda de Emília. Nem tudo tinha uma explicação sobrenatural e fantasiosa. E, por aquela noite, enquanto passava as horas com Caroline, qualquer preocupação e ansiedade que ela carregava antes escorregaram como água de suas mãos. 

Mas a realidade voltaria a atormentá-la no início da manhã de domingo ― ou melhor… Elena. 

O celular de Caroline tocou em cima da mesa de cabeceira. Ela bufou e esticou o braço para alcançá-lo. Emília também escutou, mas se recusou a se mexer. Caroline sussurrou algumas palavras zangadas e então se virou para Emília: 

― Mila ― murmurou Caroline. 

― Hum?

― É pra você ― ela mostrou o celular para Emília, apesar da Gilbert estar de olhos fechados. 

― Quem é? ― resmungou Emília.

― Sua irmã. 

Se Emília pudesse, ela reviraria os olhos. Mas, mesmo aborrecida, ela pegou o celular da mão de Caroline e colocou-o desajeitadamente no seu ouvido. A lâmpada do quarto estava apagada, as cortinas, fechadas. 

― Que foi? 

Mila, onde você tá? ― a voz de Elena saiu firme, e um pouco desesperada. 

― Na casa da Caroline, eu falei pra tia Jenna.

Elena suspirou de alívio.  

Ah, que bom. 

― O que foi? ― ela repetiu. 

Aconteceu uma coisa com a sua amiga. 

Emília abriu os olhos impulsivamente. 

― Com a Corinne?

Não, com a Sara. Ela tá no hospital. Perdeu muito sangue.

Emília engoliu em seco e se sentou na cama. Os olhos sonolentos de Caroline estavam concentrados nela. 

― Como assim? 

A Caroline tá acordada?

― Não ― ela mentiu. Caroline não podia escutar Elena de qualquer forma. 

Foi o Stefan. Ele… perdeu o controle e atacou a Sara.

― Quê? ― gritou Emília. Caroline deu um pulo. 

Elena suspirou novamente, mas não de alívio. 

É uma longa história. Por favor, volta pra casa assim que der. 

Ela só ficou por mais alguns minutos. Tentou voltar para a cama e dormir, entretanto a imagem de Stefan atacando Sara não abandonou a sua mente (assim como a culpa por não tê-la procurado) e ela se sentiu obrigada a se levantar e ir embora. Despediu-se rapidamente de Caroline, que mal moveu um músculo. Na noite passada, ela confidenciou à Emília que não dormia direito há três dias, por conta da ansiedade trazida pelo Miss Mystic Falls. 

― Você vai mesmo embora agora? Tá muito cedo ― murmurou Caroline, com a cabeça no travesseiro. Naquele escuro, Emília mal conseguia vê-la. 

― Sim. Meu irmão teve um problema ― ela inventou. Como esperava, Caroline não a questionou nisso. 

Saiu a passos finos da casa de Caroline. Liz Forbes já havia partido para o trabalho. Ainda bem. Enquanto caminhava pela calçada, Emília fazia o possível para não fechar os olhos, balançando a cabeça ou massageando as têmporas. A luz do sol era forte, desgastante. Suas pernas fraquejavam, sua testa doía, seu estômago dava nós (deja vu)… ela não soube dizer como conseguiu chegar em casa. 

Bateu na porta várias e várias vezes, não se importando com o incômodo que poderia causar. 

― Cuidado, você não vai querer quebrar a porta ― comentou Jenna, ao deixá-la entrar. ― Por que tá aqui tão cedo? ― perguntou, bocejando. 

― Cadê a Elena? ― ela sussurrou, buscando ar nos pulmões. Virou sua atenção para a tia, que se remexia no seu casaco cinza. 

― Na casa do Stefan. 

Emília bufou e revirou os olhos. 

― Você não devia ser tão liberal com ela.

E então, ela não deixou tempo para Jenna absorver suas palavras, porque no segundo seguinte, Emília subiu os degraus em direção ao seu quarto. Ao adentrar seu banheiro, ela lavou o rosto (mais de uma vez), escovou os dentes e tomou um banho rápido. Vestiu uma calça jeans e uma blusa preta de manga comprida, apesar de não estar realmente frio lá fora. Ela não raciocinou essa decisão. Quando deu por si, já estava descendo os degraus, sem Jenna por perto para impedi-la de sair. 

Seu cabelo estava um pouco molhado, pois ela não tinha o prendido direito antes de entrar no banho. A sensação era incômoda, então Emília, de minuto em minuto, deslizava os dedos pelos fios louros, esperando que isso os secasse mais depressa. 

Ela só possuía um objetivo em mente: visitar Sara. Ver se ela estava bem, se ela ficaria bem. Elena não havia dado muitos detalhes na curta ligação entre as duas. E claro, ela estava com Stefan agora. Típico. 

Emília não queria vê-lo. 

Mas isso também é culpa sua, o pensamento veio espontaneamente. 

A corrida para o hospital foi tão familiar quanto perturbadora. Ela presumiu que aquele hospital era onde Sara estava internada ― era a maior clínica de Mystic Falls. Se alguém se machucava gravemente, era para lá que ele ou ela ia. 

Emília estava certa.

― Vocês são parentes? ― a recepcionista ruiva (não uma ruiva natural, claramente) perguntou quando Emília mencionou o nome de Sara Kirch. 

O que ela deveria dizer? A verdade? Provavelmente não. 

― Emília? 

Os olhos cansados da Gilbert voltaram-se para uma mulher alta e loira, trajando um longo vestido verde-água. 

― Barbara. 

Ela e a mãe de Sara só haviam se encontrado umas quatro (no máximo, cinco) vezes, mas, desde o princípio, ela insistia em ser chamada pelo primeiro nome. Mesmo pela filha. 

― A Sara tá bem? ― ela perguntou após recuperar o fôlego. Sua respiração continuou precipitada e irregular, e sua voz continuou baixa. 

― Sim, sim. Ela vai ficar bem ― Barbara deu um sorriso suave. A recepcionista olhou de uma para a outra. 

― Eu posso ver ela? ― Emília juntou as mãos na frente do corpo. Seus olhos eram os de uma garotinha desesperada. 

E culpada. 

― Ela tá dormindo agora.

Emília assentiu freneticamente e abaixou a cabeça. Focou-se nos próprios pés, cobertos por botas pretas. 

― Que tal você vir amanhã? ― sugeriu Barbara. 

Emília a encarou de novo, com um sorriso fraco nos lábios. 

― Tudo bem. 

Não havia mais o que dizer. 

Talvez ela e a recepcionista tenham trocado mais algumas palavras, mas essa era só uma suposição. Emília não estava mais com total controle sobre si mesma. 



De novo, foi um mistério para Emília como exatamente ela conseguiu voltar para casa. Desde o término com Tyler, tudo pareceu um borrão. Os dias após o jantar na mansão Lockwood, o Miss Mystic Falls, a noite com Caroline… por que ela faria isso, sabendo do relacionamento realmente feliz que Caroline tinha com Matt? Por que Caroline faria isso? Quando elas eram mais novas, costumavam justificar que “era diferente com outra garota; não contava se era com outra garota”. Não passava de um experimento. Pelo menos, era o que Emília gostava de acreditar. Antigamente. Agora, ela não podia mais (fingir) ser tão ingênua. Nem Caroline. Ela e Matt continuariam juntos? (Honestamente, Emília não se ressentiria se a resposta fosse sim. Ela teria Caroline de qualquer forma mesmo.)

E Sara…

Enquanto ela relembrava os velhos tempos com Caroline, Sara foi envolvida num conflito que ela nem devia fazer parte. Atacada por Stefan, Elena disse. Isso significava que ele havia a mordido? Por quê? Por que ele faria isso? Ele não era um “vampiro do bem”, se é que isso existia? 

E o assassino da irmã do Matt. 

Como todo mundo se esquecia disso com facilidade…

E ele se julgava tão superior ao irmão. 

Sim, ela odiava Vicki Donovan, mas se lembrava bem demais da crueldade de sua morte. Aquela festa a perseguia nos seus pesadelos. 

Mas ele salvou Elena também, um pensamento tímido e inesperado lhe ocorreu. Ele era o eterno salvador de Elena e o eterno assassino de Vicki ― e múltiplas pessoas. Emília não sabia pelo o que ela sentia raiva e pelo o que sentia gratidão. 

Ela girou a maçaneta e entrou em casa. E então, ela estava no chão. 

― Emília, Emília! ― Jenna agachou-se ao lado dela e segurou o seu rosto. Os olhos de Emília não se mantinham abertos por mais de um segundo. O tempo todo, ela os abria e fechava. Jenna pôs as costas da mão na testa da sobrinha. ― Meu Deus, você tá muito quente… você precisa ir para o hospital. John!

Eu acabei de voltar de lá, ela quis responder, mas nenhum som coerente saía. Ela nem reclamou quando John a carregou no colo até o carro. 



Mila. 

Mila. Acorda. 

Abre os olhos.

Mila.

― Mila, você precisa acordar ― a voz suave que sussurrava em seu ouvido era inconfundível. Mamãe. Tão perto que Emília podia sentir sua respiração, seu braço sobre a cama. A cama que não era dela, não era de Caroline, não era de Elena, muito menos de Tyler. ― Eu estou aqui. 

Mamãe. Emília pensou ter dito. Ela queria ter dito. Mas não tinha voz. Seu rosto formigava descontroladamente; uma sensação tanto desagradável quanto familiar. O déjà vu a perseguia. 

Emília relutantemente abriu os olhos. Não havia nenhum sinal de Miranda. Mas havia muitas silhuetas (muitas?) lhe rodeando, ajustando alguma coisa no seu corpo. Ela sentiu uma agulha ser enfiada nas costas da mão esquerda. Desagradável e familiar. Ela adormeceu de novo.

Abriu e adormeceu; abriu e adormeceu; abriu e adormeceu. Isso se repetiu mais vezes, Emília não pôde contar ao certo quantas. 

Quando ela enfim despertou, Emília imediatamente entendeu onde estava ― num hospital, o mesmo onde Sara estava, com paredes e cortinas brancas ao seu redor, Jenna como sua companhia. Está tudo bem? Como está se sentindo?, Jenna ficou lhe questionando. Emília quis chorar. 

Pelos próximos dois dias, ela falou pouco. Somente o necessário. Sonhou com Sara, com Stefan, com o Miss Mystic Falls e em como todo aquele dia pareceu mais um devaneio. Sonhou com os pais, a falta que eles faziam. Quando Emília era pequena, ela temia tanto perdê-los (apesar dos conflitos e discussões). Julgava que, no dia da morte deles, ela não aguentaria e se mataria para juntar-se aos dois. Mas não é assim que o luto funciona. Não para Emília. Meses após o acidente, ela ainda se esquecia de que eles estavam mortos. Às vezes, precisava se lembrar disso: meus pais estão mortos, eles não vão voltar nunca mais. Às vezes, essa constatação a chocava, como se fosse a primeira vez que ela a escutava. Ela deveria chorar mais por isso? Lamentar-se mais? Falar mais abertamente sobre o assunto ou não falar de jeito nenhum? Qual é a forma certa de se perder alguém? 

Ela refletiu sobre o acidente em si. A noite do acidente. Fica de olho no seu irmão. A gente não vai demorar. Não havia necessidade de seu pai ter acompanhado a sua mãe. O local da festa não ficava tão longe; levaria menos de meia hora para ir e voltar. Eles foram juntos porque queriam. Porque precisavam. Porque Miranda e Grayson, por muitos anos, estiveram tão ocupados com os distúrbios de Emília que deixaram de ter tempo para eles mesmos, para o casamento dos dois. Então, qualquer oportunidade que surgisse para ficarem a sós, eles agarravam. 

Foi culpa dela o acidente. Não de Elena.

(De novo.)

Mas o remorso de Emília jamais poderia cegá-la dos fatos ― eles cometeram erros também. Por que eles mentiriam sobre Elena? Por que mudariam a porra do aniversário de Emília? Será que ela realmente conhecia os pais que tinha? 

No terceiro dia, ela acordou para se deparar com Elena ao invés da tia.

― Oi ― o rosto dela se iluminou ao ver Emília abrindo os olhos. Elena estava sentada na cama, os dedos acariciando a mão da irmã. ― Como você está?

― Bem ― ela respondeu espontaneamente. Tentou se levantar, mas a dor persistia pelas suas costas, então desistiu. Elena a observou em alarme. Emília suspirou e disse: ― As convulsões já passaram.

― É, a tia Jenna me falou. Desculpa por não ter vindo antes.

Eu nem percebi, Emília pensou.

― Você viu a Sara? ― ela perguntou ao invés disso. Afastou a sua mão da de Elena. 

Elena piscou em confusão. 

― O quê?

― Sara. A garota que o Stefan atacou. Ela está internada aqui. Você viu ela?

Agora, Elena pareceu envergonhada. 

― Não. 

― Nem eu ― disse Emília, compartilhando do desconforto da irmã. ― Como está o Stefan?

Elena tentou sorrir. 

― Bem, finalmente. Ele não vai atacar mais ninguém. 

Como você sabe?, Emília quis questionar. Quis encher a irmã de perguntas. Mas não conseguiu. E Elena claramente não sabia o que dizer. Então, as duas só ficaram presas num silêncio desconfortável, olhando para todos os cantos do quarto, exceto para a outra.  

Foi Elena quem falou primeiro: 

― Eu encontrei a Isobel ― revelou, um olhar de assombro e medo. 

Emília franziu a testa. 

― Quem é essa?

Elena agiu como se estivesse diante de um fantasma. 

― Minha mãe biológica. Eu mencionei ela. 

― Certo ― Emília fingiu se lembrar. 

― Eu não entrei em detalhes sobre esse assunto antes porque você já tinha muita coisa pra digerir, mas eu… ― ela suspirou. ― Depois que a Jenna me falou que eu era adotada, eu procurei pelos meus pais biológicos. E eu descobri que a esposa do professor Saltzman é a minha mãe.

― Esposa? Ele tem uma esposa?

― Não ― Elena revirou os olhos discretamente. ― Ele tinha, mas ela morreu. Ou pelo menos foi o que ele achava ― Emília, repentinamente, relembrou de uma vez na cozinha que Jenna falou algo sobre Alaric ser viúvo. Elena não percebeu e deu continuidade à sua fala: ― Mas ela não está morta. Ela foi transformada.

― No quê?

― Em uma vampira. Pelo Damon.

― Damon? Como assim? 

Emília já não conseguia acompanhar aquela loucura. Soltou um grunhido espontâneo de frustração. 

― Eu sei, é uma coincidência maluca e você literalmente ainda tá internada ― disse Elena, exibindo vergonha novamente. ― Eu não devia jogar tudo isso em você de uma vez só, mas eu precisava te contar tudo isso por causa do que eu vou te pedir agora. 

Emília pôs as mãos no pescoço. No seu colar de verbena. Ficou surpresa por encontrá-lo ali. 

― O quê? ― sussurrou. 

― Quando você receber alta, você vai pra casa comigo e com a tia Jenna. E você não pode mais sair depois disso. 

― Quê? Por quê? 

― Por causa da Isobel. Ela é perigosa, Mila. 

― Mas ela é sua mãe.

Elena engoliu em seco. Havia dor em seus olhos. Ela vacilou antes de responder:

― Ela te ameaçou, Mila. Ela ameaçou te machucar. Ameaçou machucar o Jeremy e a Jenna. Então, por favor… toma muito cuidado. 

Emília continuou brincando com o colar. Por algum motivo, lhe trazia certo conforto. Ela deveria estar apavorada, deveria estar se escondendo atrás do cobertor do hospital, deveria estar preparando suas malas para fugir de Mystic Falls. Ou, ao menos, desejando poder fugir. Mas, não. Tudo o que Emília conseguia sentir era uma satisfação viscosa.

Porque alguém finalmente havia prestado atenção nela. 



Ela recebeu alta na noite seguinte. Elena cumpriu com a sua palavra ― ela veio buscá-la juntamente com Jenna. Elena não parecia nada bem. Emília só podia especular o porquê, mas não podia perguntar com Jenna tão próxima às duas. No carro, Jenna contou que John havia se machucado ao tentar trocar uma lâmpada. Elena engoliu em seco e fingiu casualidade. 

― Bem que eu queria ter visto isso ― retrucou Emília, rindo. 

Quando Jenna estacionou em frente à residência dos Gilbert, Emília e Elena andaram na frente, enquanto Jenna pegava as coisas de Emília (que ela e John haviam trazido após a internação da sobrinha). 

Emília parou a irmã na varanda, tocando o seu ombro.

― Ei, o que foi?

Elena olhou o seu rosto por alguns segundos, e, em seguida, sussurrou no ouvido de Emília: 

― É o Jeremy. Ele sabe de tudo.

Ela explicou que Jeremy fora sequestrado por Isobel, e que, em troca dele, Elena deveria entregar o chamado “dispositivo Gilbert”. Agora, pelo menos, Isobel havia deixado Mystic Falls. Emília não precisaria mais se esconder. 

― É tipo uma caixinha de música, enfeitiçada pela ancestral da Bonnie. Aparentemente, é prejudicial para vampiros. 

― E você entregou esse dispositivo pra essa mulher? ― seria estranho usar a palavra mãe. 

― Sim ― Emília arregalou os olhos, mas Elena adicionou: ― Mas eu falei com a Bonnie. Ela retirou o feitiço, então o dispositivo não serve pra nada agora. 

― Certo ― Emília não se convenceu. Por que não? Ela também não sabia. 

Por que ela sempre sentia que tinha uma parte faltando, uma parte que Elena não queria revelar?

Sua casa estava mais fria que o normal (ou era só impressão de Emília?). Felizmente, a Gilbert trajava um vestido longo e um cardigã. Mas, ainda assim, não conseguiu se aquecer por completo. 

― Cadê o Jeremy? ― ela perguntou para Elena. Jenna vinha logo atrás delas. 

― No quarto. 

Ela viu John na cozinha, mas não fez questão de cumprimentá-lo. Nem de agradecê-lo por ter a carregado para o carro. Para Emília, não mudava nada. Ela tinha que conversar com o irmão. 

Tinha que se justificar para ele, dizer que ela não queria envolvê-lo nessa história, que ela também estava confusa, que ela mesma não queria se envolver, que ela viu o corpo de Vicki Donovan e que era atormentada por essa memória desde então e que a última coisa que ela queria era que isso acontecesse com ele. Tinha que implorar por desculpas. 

Mas Jeremy não estava interessado em escutá-la. Nem a ela, nem a Elena. 

― Olha, eu não sei o que a Anna te contou, mas eu quero esclarecer as coisas ― começou Elena, na soleira do quarto de Jeremy. Emília a acompanhou, mais atrás, mais insegura. Ela logo chegou à conclusão de que Elena estava aliviada por não sofrer a fúria de Jeremy sozinha.

― É mesmo? ― zombou Jeremy. ― Porque o seu diário já esclareceu tudo pra mim.

― Você leu o diário dela? ― questionou Emília, arqueando uma das sobrancelhas. 

Os olhos de Jeremy posicionaram-se sobre ela; não havia só raiva e deboche ali. Também havia… decepção. 

― E você sabia de tudo. 

Emília abaixou a cabeça e lambeu o lábio inferior. 

― Me desculpa. Eu não queria que você se machucasse. 

Eu não queria que ninguém se machucasse, ela pensou.

Tarde demais, Emília. 

― Eu li sobre o Damon, que ele apagou a minha memória do que aconteceu com a Vicki ― ele revelou. 

― Jeremy, você não entende… ― Elena já agia como se essa fosse uma luta que ela considerava desistir. ― É que… a noite que a Vicki morreu foi como a noite que o papai e a mamãe morreram. Você ficou muito triste e doeu ver você daquele jeito. Eu só queria acabar com a sua dor, só isso! Me desculpa. 

Emília tocou no seu colar. Por que ela não falava nada? Ela era tão covarde assim? Pelo menos, Elena tentava. 

― Vai embora ― pediu Jeremy, a voz um sussurro. 

― Não, Jeremy…

― Elena! ― ele chamou, mais firme. ― Vai embora. Por favor.

Ele olhou para Emília e disse:

― Você também. 


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