Folklore escrita por Gorky


Capítulo 13
É bom ter uma amiga, parte dois




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capítulo treze 

O Natal de 2009 não foi um Natal feliz. 

Corinne e Angie viajaram e Sara havia arranjado um namorado novo, restando apenas Emília e os seus pensamentos intrusivos. Durante o feriado, ela fez o que estava ao seu alcance para evitar o tédio, evitar as maquinações de sua mente pessimista e ansiosa ― retocou as raízes de seu cabelo, roubou calmantes e cerveja de Jenna, bancou o cupido para a tia e o sr. Saltzman (mesmo não confiando inteiramente nele), saiu em vários encontros com Tyler, decorou a sua casa com a ajuda dos irmãos, comprou presentes natalinos para várias pessoas, dormiu por horas e horas…

Às vezes, ela mal saía do próprio quarto. Mal se alimentava. Mal falava com a tia e os irmãos. Colocava fones de ouvido e passava longos períodos do dia escutando música. Às vezes, o vazio levava o melhor dela. 

Depois do completo desastre que foi a festa de Bobby Harrison, Elena lhe contou as novidades (que não eram nada animadoras): a garota estranha e pequena que acompanhou Jeremy, uma tal de Anna, era na realidade uma vampira muito velha, que conheceu Stefan, Damon e Katherine na época da Guerra de Secessão e retornara à cidade para resgatar a sua mãe, outra vampira muito velha, que estava presa na tumba debaixo da igreja. Ela intencionalmente se aproximou de Jeremy para coletar informações, e, como parte de seu plano quase brilhante, sequestrara Elena e Bonnie para chantagear os irmãos Salvatore e obter o grimório da ancestral de Bonnie, aparentemente. Na noite em que Elena saiu com pressa de casa, ela e Stefan tiveram que desenterrar o sr. Salvatore, pai de Stefan, para conseguir o grimório. Depois de muitas negociações mal feitas, Stefan salvou Elena e Bonnie, mas, no fim das contas, eles decidiram de fato abrir a tumba ― com a ajuda da avó de Bonnie. O problema é que Katherine não estava lá. Ela nunca esteve.

(Isso deu um nó na cabeça de Emília.)

Damon ficou devastado, segundo Elena. 

Emília não o viu em momento algum no feriado. Também não arriscou perguntar sobre o seu paradeiro. Temia pronunciar o seu nome e, de alguma maneira, invocá-lo para a sua casa. 

Como consequência por ter usado demais de sua magia na tumba (ou algo assim), a avó de Bonnie não resistiu e faleceu, já em casa. Emília não foi ao funeral. Não se considerava próxima o bastante de Bonnie e sua família para isso (e não tinha certeza se aguentaria enterrar outra pessoa, mesmo sendo uma mera conhecida). Ela se sentiu péssima por isso depois, mas ninguém deu grande importância para a sua ausência. 

Mas, simultaneamente, Anna ganhou. Sua mãe de fato estava na tumba e ela conseguiu resgatá-la de lá. Só Deus sabe onde elas se enfiaram. Elena disse que esperava que as duas estivessem bem longe de Mystic Falls. 

Jeremy não sabia de nada disso. E nem poderia. 

Quando chegou o Natal, contudo, Emília e Elena prometeram uma à outra que não falariam sobre nada anormal. Elas comemorariam o Natal como nos velhos tempos. Mas sem Miranda e Grayson ― o que fez toda a diferença. 

(E em meio a tudo isso, Emília Gilbert enfrentava uma tempestade pessoal, que ela não ousava dividir com mais ninguém. Os seus sonhos tornaram-se mais intensos do que nunca, e a sua criatividade também; ao final do feriado, ela já estava ciente da história que queria contar e quais personagens ela desenhava há tantos anos. Esther, Mikael, Freya, Finn, Elijah, Kol, Rebekah, Henrik… a família Mikaelson, originária da Noruega, se mudaram para a América para um recomeço, após a aparente morte de Freya, mas o que eles encontraram não foi um destino muito melhor. Uma década sonhando com essa família e ela finalmente sabia como chamá-los. No entanto, a sensação de que ela estava esquecendo alguns nomes não a abandonava de jeito nenhum. Mikaelson, Mikaelson, Mikaelson. Mais novo que Elijah, mais velho que Kol. Um bastardo. Em todos os sentidos da palavra. 

Por que ela se importava tanto? São só personagens fictícios. Era mais provável que ela nunca terminasse aquela história mesmo.)

 

Na véspera natalina, Stefan presenteou Emília com um globo de neve. Ela se sentiu estranhamente comovida. 

― Feliz Natal, Emília. 

― Feliz Natal, Stefan. 

 

― Bom dia ― disse Emília, adentrando a cozinha na manhã de uma quinta-feira fresca. Jenna estava sentada em uma das cadeiras da mesa, com o seu laptop aberto na sua frente, e Elena de pé ao seu lado. 

Quando as duas ouviram Emília, Jenna se remexeu na cadeira e clicou em algo no laptop, e Elena engoliu em seco e olhou para a irmã com… medo. 

― Bom dia ― respondeu Elena, com cautela. 

Essas reações estranhas não escaparam de Emília, mas ela não comentou nada. Só estreitou os olhos e pausou antes de alcançar o balcão. 

― O que vocês tão fazendo? ― ela perguntou, a voz um murmúrio. 

― Nada ― Jenna deu de ombros, tentando parecer casual. Não funcionou. 

Emília balançou a cabeça e se calou. Ela foi até a geladeira e pegou uma caixa de leite; depois, uma caixa fechada de cereal em uma das prateleiras. Elena e Jenna a observaram silenciosamente, se entreolharam de vez em quando, como se fossem cúmplices em algo. Há alguns dias já, elas haviam se acertado (mas Emília ainda não descobrira por que elas brigaram em primeiro lugar). 

― Quer ir pra escola comigo e com o Jeremy? ― sugeriu Emília, compartilhando da hesitação da irmã. 

― Ah, não vai dar. Eu tenho uma consulta médica hoje ― respondeu Elena, com mais tranquilidade. 

― Pra quê?

― Só a minha consulta anual mesmo. 

Seu namorado não pode te dar o sangue dele?, Emília pensou com amargura. 

Na caminhada com Jeremy, ele percebeu que tinha alguma coisa errada e interrogou Emília a respeito, mas ela mentiu que estava tudo bem e mudou de assunto. 

No colégio, ela evitou Tyler a todo custo. Eles não conversavam desde o Ano Novo, por escolha de Emília. Tyler telefonou e mandou algumas mensagens, mas não insistiu e nem a procurou pessoalmente. Provavelmente achava que a Gilbert estava passando por uma de suas crises ― um palpite não tão distante da realidade. 

No refeitório, enquanto ela desenhava mais uma vez o rosto de Elijah e Corinne devorava um sanduíche ao seu lado, Angie se aproximou delas como um furacão. 

― Vocês vão no Grill hoje? ― ela bateu com as mãos na mesa, assustando Emília. Por pouco ela não erra um contorno. 

― Oi ― disse Corinne, de mau humor. 

Mas Angie não se abalou. Não abandonou o seu entusiasmo em nenhum instante. 

― Por quê? ― perguntou Emília, o lápis entre os dedos, os olhos focados na Kennedy. 

― É hoje a rifa dos solteiros. Vocês não lembram? ― Angie arregalou os olhos azuis. Parecia um cachorro pedindo por carinho. 

― Infelizmente, agora eu lembro ― resmungou Corinne, mordendo o seu sanduíche.

Emília riu baixinho e perguntou com mais educação:

― E o que isso tem a ver com a gente? 

― Vocês não querem ir comigo? ― Angie apertou suas mãos contra as alças da mochila preta. 

― Não ― respondeu Corinne. O sorriso sumiu do rosto de Angie. 

― Você quer um solteiro pra você? ― Emília juntou as sobrancelhas em confusão. Pelo o que ela lembrava, menores de idade não podiam comprar rifas nesse evento. 

― É claro que não. Eu só acho divertido acompanhar o sorteio e os encontros ― justificou Angie, com um leve desespero. ― Vocês não querem ir mesmo? 

― Eu, não. E você? ― Corinne se virou para a amiga. 

Emília respirou fundo. Olhou para Corinne e para Angie. Para Angie e para Corinne. Enfim, respondeu, após dar um longo suspiro: 

― Tá bom, acho que sim. 

Angie bateu palmas com animação, como Caroline faria. 

― Ah, que bom. Todo mundo que eu convidei não queria ir ― ela falou.

Corinne riu para si mesma, engolindo um comentário ácido. Emília já imaginava qual comentário seria. 

― A gente se encontra lá de noite, pode ser? ― Angie continuou, sem dar atenção para a Montana. 

Emília balançou a cabeça em afirmativa. 



Jeremy não quis ir para a rifa de solteiros. Emília não se zangou; ela também preferiria ficar em casa, mas já havia dito para Angie que lhe faria companhia. Elena e Jenna, por sua vez, estavam bem mais alegres. O Ric vai participar, Jenna contou no carro. Você não está com ciúmes?, questionou Emília. É claro que não, ele não é meu namorado. Ainda, Emília pensou. Ela sabia que Jenna pensava a mesma coisa. 



No Grill, quem distribuía as rifas era Caroline. Emília fez questão de passar longe de onde a filha do xerife estava. Mas não conseguiu escapar dos olhares que ela lhe lançava às vezes. Mais de uma vez, ela sentiu a necessidade de pedir desculpas, mas tinha medo da possível reação de Caroline. Você é uma covarde, Emília. 

― Oi, você veio mesmo ― Angie pulou até ela, jogando os braços ao redor de seus ombros. Era um tanto curiosa a sua euforia com aquele evento, na opinião de Emília, tão sem graça. 

― Eu não poderia perder ― a Gilbert forçou um sorriso.

Então, os seus olhos seguiram Kelly Donovan, a mãe de Matt (o que ela estava fazendo na cidade?), que comprava uma rifa de Caroline. A mente de Emília espontaneamente recordou um almoço de família que ela arruinou com os seus comentários desnecessários e intrometidos. 

― As galinhas estão soltas hoje ― ela falou com desgosto, para a confusão de Angie. 

As duas encontraram uma mesa vazia e se acomodaram ali. Quando um garçom perguntou se elas queriam algo, elas concordaram em pedir Coca-Cola e dois hambúrgueres.  

― Nossa, é o professor Saltzman ― apontou Angie, após o garçom já ter ido embora.

Emília riu com malícia ao vê-lo, próximo ao balcão, conversando com Jenna. 

― Por ele, eu compraria uma rifa. 

Carol Lockwood naturalmente estava lá, mas Tyler, não. Para o alívio absoluto de Emília. 

E então o sorriso desapareceu do rosto da Gilbert quando avistou Damon Salvatore. Seu coração errou uma batida e uma sensação estranha e desagradável percorreu as suas costas. Aquele não é o irmão do Stefan?, perguntou Angie. Emília assentiu, incapaz de pronunciar uma única palavra. 

Ela deixou Angie falar e aguardou silenciosamente o início do evento (com exceção de quando agradeceu o garçom por trazer seu pedido), ignorando o máximo possível Damon. 

No entanto, assim que começou, Emília não conseguiu se concentrar nas palavras condescendentes de Carol. Damon era um dos participantes, um dos solteiros que seriam sorteados para um encontro. Pobre coitada! 

― Conte para nós alguma curiosidade sobre Mystic Falls ― Carol pediu para o sr. Saltzman no palco do Grill. Ele se calou. 

Os olhos de Emília saltaram para o anel em um dos dedos de Alaric. Um anel idêntico ao anel de seu pai. O que Elena havia lhe dito uma vez? Que vampiros precisavam de anéis encantados para andar à luz do Sol. Mas Grayson não era um vampiro. E nem Alaric. Ele não pode ser. 

Por que ela estava tão obcecada com aquilo? 

Olhou para o lado, para a mesa onde Elena e Jenna estavam. Elas pareciam bem mais entretidas. 

― E finalmente, Damon Salvatore ― anunciou Carol, enamorada feito uma adolescente. Obviamente, ela desejava ser a mulher que sairia com ele. ― Nós não sabemos muito sobre você. 

― Bom, não caberia tudo em uma ficha ― ele respondeu, e Emília revirou os olhos. Ela desviou o olhar por dois segundos, e então viu Stefan acenando para Elena. Um sentimento de derrota a embalou. 

Damon continuava falando: 

― Há alguns anos, estive na Carolina do Norte. Perto do campus de Duke, na verdade. Eu acho que… Alaric estudou por lá. Não foi, Ric? É, porque… eu sei que a sua esposa estudou lá. Tomei um drinque com ela uma vez. Ela era uma ótima pessoa, eu já te disse isso? Porque ela era uma… uma delícia. 

Havia uma tensão no palco. E fora dele. Emília se remexeu na cadeira, desconfortável. Olhou para Elena, que assistia a tudo com uma expressão de horror no rosto. Elena engoliu em seco e, por alguma razão, se levantou da mesa e correu para o banheiro. E, por alguma razão, Emília foi atrás dela. 

Stefan também. 

― Deixa que eu cuido disso, Stefan ― ela falou na porta do banheiro. ― Homens não são permitidos aqui. 

O banheiro estava vazio, todos os cubículos abertos, com exceção das duas irmãs Gilbert. Elena jogava água no próprio rosto, enquanto Emília permanecia estática e incerta atrás dela, alguns passos à distância. 

Ela limpou a garganta antes de perguntar:

― O que foi aquilo? 

Elena ergueu a cabeça, encarando o reflexo da irmã no espelho. 

― O quê?

Emília revirou os olhos. Sempre tão sonsa. 

― O seu cunhado falando da esposa do sr. Saltzman. O que foi aquilo? ― ela respondeu, acerbamente. 

― Eu não quero falar sobre isso agora ― disse Elena, alcançando o dispensador de papel-toalha. 

― Mais segredos? ― Emília arqueou as sobrancelhas escuras. ― Você me prometeu que me falaria toda a verdade. 

― Isso não é sobre você, Mila. 

― Não, é sobre você. Como sempre. 

Emília se recusou a continuar no Grill. Ignorou Stefan e qualquer outra pessoa no caminho para fora. Até esbarrou em algumas e não se desculpou. Sua mente estava mais ocupada xingando Elena e a si mesma. Por que ela achou que seria uma boa ideia se envolver nesse mundo dos Salvatore? Teria sido melhor escolher a ingenuidade e ignorância diante dos fatos. 

Mas agora já era tarde. 

― Ei, ei. Espera ― era Angie, abrindo a porta do Grill cinco segundos depois de Emília. Do lado de fora, ela pôde enfim respirar. O ar frio da noite a arrepiava; de um jeito que mais a confortava do que assustava. ― O que foi, Mila?

― Eu não quero continuar aqui, não tô me sentindo bem ― Emília balançava a cabeça em negativa. Cruzou os braços, buscando se aquecer. 

― É só isso mesmo? ― murmurou Angie. 

― Sim, é ― ela se forçou a sorrir. Mas, então, se lembrou de que precisaria lidar com Elena quando voltasse para casa. E essa era a última coisa que ela queria. Sem perceber, ela resmungou: ― Ah, não! 

Angie a fitou com uma expressão indecifrável. E após alguns segundos a examinando, a Kennedy disse: 

― Se você quiser, a gente pode ir pra minha casa. Eu já jantei, mas sobrou bastante na geladeira, se você estiver com fome. 

Dessa vez, o sorriso de Emília foi sincero. 



Seus pais não vão se importar? Claro que não. Ainda tá cedo, não são nem nove horas. E eles te conhecem. Tudo bem. Eu só preciso avisar minha tia primeiro. 

E assim elas caminharam lado a lado até a casa de Angie, que ficava a um quarteirão do Grill. Emília já havia pisado ali antes ― era uma casa menor que a da família Gilbert, com dois andares e três quartos, onde Angie vivia com os pais e a irmã mais nova, Claire. Para Emília, ela era uma menininha de cinco anos adorável; a primeira a cumprimentá-la quando ela chegou com Angie. Os pais de Angie assistiam televisão na sala, sentados preguiçosamente no sofá. Eles não se incomodaram nem um pouco com a presença de Emília. Até expressaram sua surpresa pela filha enfim convidar alguma amizade para casa. 

― Sua irmã é muito fofa ― comentou Emília quando Angie a puxou pela mão para o andar de cima. 

― É porque você não tem que conviver com ela ― ela retrucou. 

Angelina Kennedy e Emília Gilbert não se conheciam há tanto tempo quanto Emília e Corinne, embora isso provavelmente faria mais sentido em teoria, pois, ao contrário de Corinne, Angelina nasceu e foi criada em Mystic Falls (que não era uma cidade grande; não passava nem perto). Por vários anos, ela e Emília estudaram em escolas diferentes, mas tinham conhecidos em comum. Aos catorze anos, Angelina se tornou a novata da turma de Emília; a garota loira e atraente que demorou alguns meses para se enturmar de fato. Ainda assim, Emília não a notou. 

Até Tyler. 

Angie costumava ser uma das “garotas do Tyler” ― as garotas com quem ele mantinha casos secretos no decorrer do relacionamento com Emília. Uma das primeiras, na verdade. Na época em que Emília ainda dava a mínima para as traições do namorado. Quando ela descobriu, graças a um grande esquema de telefone sem fio iniciado (curiosamente) por um dos integrantes do time de futebol, Emília confrontou Angie no meio do refeitório e as duas saíram no tapa. Ou melhor, Emília a atacou e Angie só berrou por socorro. As duas foram obrigadas a cumprir detenção. 

Na detenção, alguma coisa aconteceu entre elas: por mais enfurecida que estivesse, Emília queria ir embora, e Angie, por mais temerosa que estivesse, também; então, elas armaram um plano juntas para escapar, porque ambas viram uma oportunidade no cansaço do professor que as vigiava, o sr. Montgomery, que cochilava à beça, mas infelizmente tinha o sono leve. O plano não deu certo, mas serviu para aproximá-las. 

E, naquela noite em específico, Emília se recordou vivamente desse dia. Porque, na detenção, em meio às inúmeras tentativas das duas de fugirem, a Gilbert se pegou esquecendo de seu objetivo principal e se divertindo, verdadeiramente, com Angie. Ali, no quarto da Kennedy, ela sentiu algo similar. Esqueceu-se de seus problemas atuais e se concentrou unicamente nas palavras de Angie; nas piadas e histórias dela. 

Mas o tempo limitado não lhe escapou. 

Após alguns minutos a sós, elas decidiram descer e Angie esquentou comida no microondas. Emília devorou com gosto, lembrando-se com tristeza do hambúrguer que ela não terminou. Tudo por causa dos dramas da irmã. Por que ela ainda se importava, afinal?

― Eu acho melhor ir pra casa agora. Eu não disse que ia dormir aqui e minha tia vai ficar preocupada se eu demorar demais. 

Angie assentiu, sem ocultar a decepção. 

A sra. Kennedy se ofereceu para levá-la para casa, justificando que estava muito escuro lá fora, e Emília aceitou. Se ela não soubesse sobre bruxas e vampiros, ela provavelmente recusaria. 

No carro, a mãe de Angie perguntou se estava tudo bem. 

― Por quê?

― Sei lá, você parece meio abatida. Ou minha intuição de mãe está começando a falhar. 

Era tão óbvio assim? 

― Não, não. Eu estou ótima. Mas obrigada por se preocupar. 

Ela tentou não pensar em Miranda. 

― Boa noite, querida ― a sra. Kennedy se despediu ao estacionar na frente da residência dos Gilbert. 

― Boa noite. Obrigada por tudo. 

Ela não falou mais com Elena em casa. Achou melhor deixar aquilo para a manhã seguinte. 



Emília acordou mais cedo que Jeremy. Mais cedo que Elena, até. Porém, não mais cedo que Jenna. Andou sozinha para a escola e sentou-se em uma das mesas do lado exterior até o primeiro sino soar. Enquanto isso não ocorria, ela ficou desenhando a família Mikaelson no seu caderno. Kol era o seu preferido. 

No intervalo, ela mostrou os desenhos para Corinne, ambas habitualmente enfurnadas na biblioteca. 

― Eles são uma família muito antiga de vampiros. Muito mesmo. Têm mais de mil anos ou sei lá. Talvez tenham sido os primeiros vampiros do mundo, eu ainda não me decidi. Mas, enfim, a mãe deles, Esther, transformou os filhos em vampiros por causa da morte do caçula. Ela queria protegê-los dos… perigos que moravam perto. Mas ela não gostou do que criou, então, ela transformou o marido em vampiro, para que ele caçasse e matasse os filhos. Por séculos, eles fogem do pai. Mas ninguém sabe disso. 

― Você acredita em vampiros? ― zombou Corinne, bebendo um pouco de seu suco de morango. 

Emília riu de nervosismo.

― Não. É só uma história.

Em casa, ela não parou de desenhar. E escrever. Mas principalmente desenhar. Os irmãos Gilbert definitivamente tinham uma veia artística, o que era bastante curioso considerando a profissão de Miranda e Grayson. 

Jeremy desenhava, Elena escrevia, e Emília desenhava e escrevia. 

À noite, ela começou a sentir cólica e deitou de bruços no sofá. Jenna lhe deu um remédio, mas a dor se recusava a cessar. 

Ela e Elena não conversaram, até isso: 

― Ei, eu vou sair agora. Pode falar pra tia Jenna quando ela sair do banho? ― pediu Elena. Emília se ergueu um pouco do sofá, observando a irmã enrolar uma echarpe vermelha em volta do pescoço. Seus olhos ardiam. 

― Por que tá toda arrumada?

― Eu vou sair com o Stefan ― ela revelou, sem cerimônia. 

― Pra alguma aventura secreta sobrenatural que eu não posso participar? 

― Não ― respondeu Elena, com uma leve irritação no tom. ― Só um encontro normal, com a Caroline e o Matt. 

Emília riu. 

― Encontro duplo?

― Sim. Foi ideia da Caroline.

― É claro que foi ― a raiva de Emília se dissipou em segundos. ― Boa sorte. 

― É, eu vou precisar. 

Emília voltou a se deitar e Elena deu alguns passos hesitantes para a frente e separou um pouco os lábios, até parar a si mesma. Aquele não era um bom momento. Ela esclareceria tudo no dia seguinte. 



Pelas próximas horas, Emília ignorou as ligações de Tyler e nem se deu ao trabalho de ler suas mensagens. Ela preferiu se esparramar na cama e dormir, perdendo-se nos próprios sonhos. 

Ele a atormentou o tempo todo. Cada segundo do sonho. O homem sem nome. O Mikaelson bastardo; aquele que mudaria a sua vida para sempre assim que colocasse os pés em Mystic Falls. Ele apareceu em várias formas e situações no sonho. Numa floresta, com cabelos longos, numa carruagem velha, num castelo, num quarto que não pertencia à Emília e nem a ninguém que ela conhecia, num bar, já com os cabelos curtos, com Rebekah e… Stefan. Com o rosto jovem e imaculado, e então encharcado de sangue (que não pertencia a ele). Segurando uma arma, e então destroçando a jugular de uma pessoa com os próprios dentes. Assistindo à uma cidade queimar. Beijando uma mulher ruiva, e então loira, e então morena. Ele possuía um propósito, um objetivo a ser cumprido. Os olhos azuis, e então amarelos, e então vermelhos e negros. Um tipo diferente de monstro. 

Agora ela sabia o seu nome. E nunca mais ela esqueceria dele. 

Niklaus. 


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