Lua Negra - EPOV de Lua Nova escrita por rkpattinson


Capítulo 5
Capítulo 4 - Promessa


Notas iniciais do capítulo

Todos os direitos reservados à SMeyer.
As novas cenas que conferem à essa fanfic pertencem a mim.
N/A: Obrigada por TODOS os comentários! Espero que vocês gostem do capítulo tão esperado!



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VAGUEI POR FORKS ENQUANTO BELLA ESTAVA NO TRABALHO.

Não tinha me preocupado em decidir para onde iria. Minha única certeza era de garantir que Bella ficasse segura. Isso dizia respeito ao sumiço dos Cullens e a ausência de outros vampiros também.

Meu último descuido foi durante a estadia dos nômades na cidade. Após o fim de James, eu sabia que sua parceira queria me destruir. Ela sumiu desde a morte dele. Soube que Laurent tinha partido para Denali. Ele tinha algum envolvimento com Irina e talvez isso o prendesse no Alaska. Ele não era um problema.

Victoria era. Apesar de saber que ela queria minha cabeça jogada em uma fogueira, não podia falhar. Precisava garantir que ela não estaria por perto quando eu fosse embora. Percorri a cidade e os bairros. Nada além do cheiro de comidas pré-cozidas e poluição. Nos locais que Bella costumava visitar, seu cheiro estava misturado ao de outras milhares de pessoas. Camuflado. Tão distante que poderia pensar que ela não voltava ao lugar há pelo menos alguns meses.

Quando me aproximei da loja dos Newtons, procurei sua voz. Estava firme mas tinha um fundo embargado. Aquilo me chamou atenção. Fixei-me em uma árvore que não ficasse tão distante do galpão e observei. Seu coração estava acelerado e eu podia sentir o cheiro do suor de Bella — talvez fosse de suas mãos. Ela suspirou e atendeu os clientes que tinham acabado de chegar. Busquei me convencer que ela estava segura. E saí.

Vasculhei todas as possíveis rotas até a casa de Bella e a escola — lugares em que ela poderia facilmente ser pega sozinha —, buscando encontrar o cheiro de Victoria ou ouvir sua mente. Eu só sentia o cheiro de pinheiros, terra molhada e, quanto mais eu me aproximava da casa, o cheiro intrigante de Bella aumentava. Estava impregnado em tudo. Nada dos dois vampiros nem de intrusos.

A vampira elaboraria um plano para me encontrar. Eu sabia que uma hora ou outra ela voltaria. Deveria estar preparado. Precisava mostrar que não estávamos mais em Forks, que assim como eu, Bella partira. Diante do antigo trio nômade, o mais acessível e sociável era Laurent. Ele diria à antiga companheira que partimos e ela me procuraria do outro lado do país, esquecendo completamente de Bella. Que fossem atrás de mim. Isso não importava.

Fui até o hospital. Apesar de estar indo embora, sabia que Carlisle não abandonaria seu último turno. Passei pela recepção e, pela primeira vez, agradeci por me conhecerem. Próximo ao corredor que levava a mesma ala que Bella estivera quando a van de Tyler derrapou, sussurrei o nome dele. Se estivesse perto, ouviria.

Edward? Aconteceu alguma coisa com Bella? Pensou ele.

O nome dela ardia em minha cabeça.

— Não. Preciso de outro favor. — sussurrei, sentando-me nas poltronas dispostas em uma fila única no corredor.

Pode dizer.

— Você disse que iríamos para Ithaca no seu pedido de demissão? — falei olhando para baixo.

Não.

— Não. — Carlisle estava agindo sob a razão. Muito mais que eu nos últimos dias.

Imaginei que seria fácil Bella procurar informações sobre nosso destino. Por isso falei que ofereceram um salário maior na Califórnia. Tentaram fazer uma contraproposta, mas neguei. Já está tudo certo. Ele garantiu.

— Ela saberá que é mentira. — cochichei. Juntei a palma das mãos como se estivesse rezando e apoiei a ponte do nariz na ponta dos dedos, enquanto alguns médicos e pacientes passavam por mim. — Se… se ela me procurar, entenderá.

Sim. Sinto muito, Edward.

Bella entenderia que aquilo era na verdade uma pista falsa. Ela sabia que nunca iríamos para o Texas, um dos estados mais ensolarados do país.

— Obrigado, Carlisle. Só agora me ative aos detalhes.

Depois daqui, voltarei para casa e à noite partiremos. Estará lá?

— Sim. Até mais tarde. — respondi. Carlisle se desculpou mentalmente de novo. Mais para si mesmo do que para mim. Não respondi porque passei como um vendaval pelas portas moles do hospital. No fundo, ele sabia que não tinha culpa alguma naquilo. Ele estava apenas me ajudando e eu era muito grato.

Aproveitei o caminho de volta para conferir mais uma vez os odores que circulavam por Forks.

Quando se aproximou do horário dela chegar, resolvi esperá-la em casa. Deixei o carro estacionado na frente da casa. De alguma forma, queria mostrar a ela que seria breve. Charlie parecia relaxado quando abriu a porta. Seus pensamentos se agitavam um pouco quando me viu parado do lado de fora, mas logo ele recuperou a calma.

— Edward. — cumprimentou ele.

— Senhor Swan.

— Bella ainda não chegou do trabalho.

Talvez seja melhor voltar só amanhã. Pensou ele.

— Seria um incômodo se… eu esperasse ela aqui? — perguntei. — Estivemos muito ocupados na escola. — menti.

É lógico que ele iria querer ficar. Pelo menos não estava atrapalhando Bella na escola.

— Não. — disse, dando passagem para que eu entrasse. — Trouxe pizza para o jantar. — Charlie indicou que eu sentasse na poltrona, enquanto ele ia até a cozinha. Retornou com uma caixa de papelão nas mãos. — Aceita?

Sentei. A televisão estava ligada no canal preferido dele.

— Claro. — respondi. Aquilo seria nojento, mas já havia negado comer na frente de Charlie muitas vezes. Jovens adoravam pizza.

Ele me ofereceu a caixa aberta e eu estiquei o braço até a comida. Escolhi o menor pedaço e mordi. Lembrei de quando Bella me desafiou a comer um pedaço de comida humana no meio do refeitório da escola. Curiosidade era uma das maiores características de Bella. Ela se impressionava facilmente com as novidades que eu contava sobre minha realidade. Era engraçado ver as expressões de surpresa no seu rosto, sempre que eu fazia algo inesperado. Mastiguei a massa rápido, tentando não fazer caretas quando engoli.

Logo terminei minha fatia. Fitei a janela, imaginando que teria que me livrar daquilo mais tarde. Minha boca se contorceu em desprezo.

— Pegue mais uma. — disse Charlie apontando para trás. Ele havia devolvido o que sobrou à mesa da cozinha.

— Obrigada, mas acredito que minha mãe ficaria irritada se eu não voltasse com fome para o jantar. — sorri de verdade.

— Como quiser. — falou antes de abocanhar uma larga mordida na pizza em sua mão.

Após alguns longos minutos em silêncio, fingindo interesse no jogo da ESPN que passava na tevê, ouvi a caminhonete de Bella apontar na esquina. Ela respirou fundo dentro da cabine depois de estacionar.

— Pai? Edward?

Sem tirar os olhos da tela, ele a respondeu. Fiz o mesmo.

— Aqui. — gritou Charlie.

Finalmente ela chegou. Pensou Charlie aliviado.

— Oi. — disse. Podia sentir a tensão na sua voz.

— Ei, Bella. — respondeu Charlie — Acabamos de comer pizza. Acho que ainda está na mesa.

— Tudo bem. — percebi o movimento impaciente do seu corpo.

Bella estava encostada na soleira da porta. Tinha os olhos levemente arregalados e os ombros encolhidos. O que eu estava fazendo com ela? Como um monstro, estava assustando Bella. Todo meu silêncio ampara minha escolha, mas destrói sua confiança em mim.

Engoli o ódio e sorri.

— Vou logo depois de você. — garanti, voltando meus olhos para televisão.

Não fui.

Ouvi Bella remexer algumas coisas na cozinha e suspirar algumas vezes alto demais. Minutos mais tarde, o jogo ainda acontecia quando ela subiu. Agora não seria o melhor momento para criar coragem e até Bella, então me limitei a ficar sentado como já estava. Ouvi alguns flashes no andar de cima. Ela caminhou até o corredor e parou. Bella desceu a escada hesitante. Pisquei vagarosamente e permaneci olhando para têve. Sem avisar, Bella tirou uma foto. Ela se escondia atrás da câmera quando olhei. Tão linda.

— O que está fazendo, Bella? — reclamou Charlie.

— Ah, sem essa. – exclamou ela. Sorrindo, sentou ao lado do pai. — Você sabe que mamãe vai ligar logo para saber se estou usando meus presentes. Tenho de fazer alguma coisa antes que ela fique magoada.

— Mas por que está tirando fotos de mim?

Por Deus, olhe como estou. Pensou ele comicamente.

— Porque você é lindo e porque, como comprou a câmera, tem a obrigação de ser um de meus modelos.

— Sabia que não seria um bom presente. — murmurou Charlie tão baixo que duvida que Bella tenha ouvido.

— Ei, Edward, tire uma de mim e meu pai juntos. — disse ela sem me olhar.

Peguei a câmera sem tocá-la, enquanto Charlie suspirava e reclamava mentalmente.

— Você tem que sorrir, Bella – ela abriu um sorriso triste quando a lembrei.

Clic-clac.

— Deixem que eu tire uma de vocês, crianças. – sugeriu Charlie fugindo do foco.

Levantei e joguei a câmera para ela.

Sutilmente, ao lado de Bella, apoiei a mão em seu ombro. De maneira oposta, Bella abraçou minha cintura o mais forte que pode. Olhei para ela, mas ela continuou me evitando. Eu não a culparia.

— Sorria, Bella – lembrou seu pai.

O flash não chegou até meus olhos. Não senti o incômodo visível em Bella e Charlie após uma foto. Não fiz questão de fingir.

— Chega de fotos por hoje – disse Charlie, escondendo a câmera. — Não precisa usar o filme todo agora.

Eu queria ficar grudado nela, mas sabia que não devia. Soltei-a sem alarmar e sentei na poltrona de novo. Bella voltou a ficar encostada no sofá. Queria tocar seu rosto e dizer que estava tudo bem, que ela ficaria bem. Com as pernas unidas contra a barriga, ela encarou a televisão. Assim como eu.

— É melhor eu ir para casa – falei quando o jogo acabou.

— Tchau. — disse Charlie.

Aposto que a mãe dele está morrendo de fome.

Desajeitada, Bella me acompanhou até a porta. Eu não conseguia olhar para trás. Covarde, era o que eu era. Marchei até o carro quando ela falou.

— Vai ficar? — a voz de Bella era trêmula no meio da chuva.

— Esta noite não. — agradeci por ela não perguntar o motivo. Nem tinha começado e não aguentava mais mentir para Bella.

Sem olhá-la mais uma vez, entrei no carro e arranquei o mais rápido que pude para longe dela. Mais uma palavra e eu estaria voltando para o lado dela o mais rápido que eu pudesse. Embalando-a para dormir e observando o quão sortudo eu era por tê-la. E o quão desprotegida ela estava comigo ao seu lado.

Essa lembrança me fez voltar para a realidade. Eu era o perigo.

Mas eu ainda não estava pronto para partir. Precisava de… mais.

Estacionei na garagem de casa, onde estava quase toda minha família. Parte da mudança já não estava mais alí. Talvez Esme tenha preferido despachar. Alice receberia. Algumas caixas ocupavam os porta-malas abertos dos dois carros.

— Que bom que você chegou à tempo. — disse minha mãe quando desci do carro.

Passei o braço sobre seu ombro e ela sorriu, acolhendo-me como sempre fez.

— Pensei que estivesse fazendo plantão. — Rosalie cochichou com os braços cruzados.

Ignorei sua alfinetada. Ela sabia como me atingir, é claro. Mas ela estava magoada e, de certa forma, eu era culpado.

— Obrigado pelo que estão fazendo. — falei sem olhar para ela.

Como você está? Perguntou Emmett aproximando-se ao meu lado.

— Sobrevivendo como sempre fiz. — murmurei.

— Bom, acho que já pegamos tudo. — Carlisle tentou aliviar o clima. — Enviamos suas coisas mais cedo. — avisou ele.

— Está ótimo. — Nada estava bemEra mentira. Me sentia fraco.

— Vamos te ver amanhã? — ainda estava envolvendo minha mãe quando ela perguntou.

— Em breve. — notei seu sorriso cair. — Vou precisar de mais um dia.

Tentei lhe dar um sorriso. Fazer o seu reaparecer. Tudo o que consegui foi fechar os lábios em uma linha reta. Me sentia incapaz.

Depois de me despedir da minha família, voltei para casa de Bella. Dessa vez correndo pela floresta.

Lá estava eu, como quem furta, escondido nas sombras das árvores sob o véu da noite. Pendurado como todas as outras vezes, observei se havia algum movimento dentro do quarto dela.

Bella se remexia na cama inquieta. Hoje ela demorou a dormir.

De alguma forma, ela sentia.

Percebi na metade das aulas daquele dia, que eu não tinha voz.
Era como se eu tivesse, de fato, me desfazendo aos poucos. Como uma montanha de areia. Havia partes que eu já esqueci que existiam. A voz era uma delas. Bella não tinha culpa nenhuma. Senti a garganta arranhar quando deixei o ar entrar para sussurrar uma resposta correta para ela durante uma das aulas.

Bella falou sobre algumas fotos com Jessica que, por sua vez, pensou sobre como nosso namoro era estranho para ela. Senti repulsa ao ouvi-la falar de Bella de forma vulgar. Depois da aula, acompanhei Bella até a picape e saltei para meu carro.

Durante toda tarde, refiz a mesma rota do dia anterior, vasculhando odores desconhecidos pela cidade. Era a única forma de manter os motivos de tudo aquilo vivo em minha memória. Porque… em poucas palavras, ela me desarmaria. Me faria desistir. Ficar longe, acostumar meu corpo a ausência do dela, era a melhor forma.

Usei isso como pretexto e, pela noite, não visitei o quarto dela. Será que ela entenderia isso como sinal? Ela me chacoalhava e me faria acordar desse pesadelo? Antes do horário de dormir, escalei a árvore mais próxima ao quarto dela. A mesma de sempre. Me sentia um intruso, mas eu precisava saber se ela estava bem.

Ela analisava três pilha de fotos sob a cama. Tinham fotos minhas, fotos nossas. Seus olhos brilhavam, mas não havia só amor. O rosto dela podia ser traduzido em confusão e mágoa. Não sei qual estava mais evidente. Aquilo era demais. Senti meu coração morto apertar. Voltei para casa correndo o mais rápido que pude.

Senti uma lasca de desespero quando a noite se aprofundou. Assim como Alice, Bella teria raiva de mim. Dos meus atos, das minhas escolhas. Seria muito pior. Não suportaria ver decepção e arrependimento em seus olhos. Imaginar aquilo me faz tremer.

Inconscientemente, segurei o telefone de casa e disquei um número de telefone. Tocou quatro vezes — estava pronto para desistir — quando Charlie atendeu. Não tinha como saber como ela estava, mas a voz sonolenta dele não revelava qualquer movimentação fora do normal. Permaneci calado, então ele desligou. Sentia o gosto da decepção.

Percebi que, assim como ela, eu não esqueceria seu número. Quantas vezes eu seria tentado ligar para sua casa? Nem que fosse para ouvir sua voz alguns segundos… Eu nunca mais ligaria. Não podia estragar tudo por egoísmo. Isso era uma promessa.

Um grito ficou entalado em minha garganta o dia inteiro. Queria poder dizer que aquilo era errado. Queria dizer que eu estava errado, porque sabia que estava. Era consciente dos meus atos. Errado por deixar a garota… a mulher que eu amava. Eu sabia que nunca a esqueceria, que nunca deixaria de amar Bella. Mas… ela saberia? Depois do que eu planejava fazer, ela lembraria das vezes que falei o quanto era especial para mim? Eu tinha falado o suficiente quando tive a oportunidade? Já era tarde demais? Não podia desistir agora.

Troquei de roupa e parti para a escola. Ao me juntar ao amontoado de adolescente, notei que não caçava desde a fatídica noite. Esqueci completamente os alertas que meu corpo dava. A sede parecia ser insignificante.

Sabia que a noite dela não tinha sido boa pelas olheiras arroxeadas abaixo dos olhos castanhos que eu amava, quando ela chegou à escola. Isso tinha virado uma tortura e ia acabar hoje.

Ao final das aulas, esperei Bella no estacionamento. Podia sentir todas as células mortas do meu corpo reverberar em desespero. Tremi por dentro. Suspirei baixo quando paramos ao lado da picape. Daria início ao fim.

— Importa-se se eu aparecer hoje?

— É claro que não. — ela pareceu surpresa. O que aquilo significava?

— Agora? — perguntei abrindo a porta pra ela.

— Claro. — disse ela me olhando e depois voltando-se para a cabine. — No caminho, vou colocar uma carta no correio para Renée. Encontro você lá.

Olhei o envelope no banco do carona. Deveriam ser as fotos que ela organizou na noite anterior. Uma onda de culpa rondou minha cabeça. Quase vi tudo girar. Pisquei rapidamente. Eu não podia deixá-la com aquelas fotos. Ela precisava, de todas as formas, me esquecer. Seguir em frente.

— Eu faço isso. — sussurrei culpado, esticando o braço para pegar o pacote. — E ainda vou chegar em sua casa antes de você. — Doía tentar sorrir, mas forcei.

— Tudo bem. — ela não se animou.

Fechei a porta da picape e segui para meu carro.

Saí antes de Bella em direção à cidade. Estacionei em frente à loja e abri o pacote. Tinham fotos variadas. Ela e o pai juntos. Algumas de Jessica, Mike, Angela e Eric na escola. Outras do quarto e de sua cama. Outras dos meus irmãos e eu. Mas a maioria das fotos eram minhas com Bella. Em pouquíssimas vezes ela estava sozinha.

Delicadamente, tirei as fotos em que eu estava sozinho, deixando apenas as fotos com os outros Cullens e as que ela estava presente. Guardei as fotos no porta luvas antes de fechar o pacote e sair do carro. Enviei no formato express para o endereço que Bella escreveu no envelope.

Eu tinha esquecido de todas as marcas que deixei em seu quarto. Sabia que teria que voltar, procurar pelo que pudesse lembrar que existo. Eu seria um fantasma.

Voltei o mais rápido que pude. Estacionei na vaga de Charlie e continuei dentro do carro. Fechei as mãos em punho e encostei a cabeça no encosto do banco com os olhos fechados. Nada estava confortável. Tudo me incomodava. Contei os minutos para que esse dia demorasse a chegar e agora que chegou, eu queria ter o poder de congelar. O que eu faria? O que eu diria? Tudo que eu tinha pensado parecia minúsculo na frente do que eu sentia, do que eu — verdadeiramente — queria dizer.

Suspirei o mais profundo que consegui, reunindo forças para fazer o que tinha que ser feito. Permanecei na mesma posição até ouvir o motor da picape virar a esquina. Abri os olhos, ouvindo o coração de Bella acelerar enquanto estacionava. Peguei as fotos no porta-luvas e guardei no bolso da calça. Assim que ela desceu da cabine, saí do carro também.

Anestesiado, andei até ela, peguei sua mochila e coloquei de volta no banco.

— Vamos dar uma caminhada. – sugeri sem emoção. A mão dela estava gelada quando segurei. Bella não respondeu.

Imaginei que fazer isso ao ar livre fosse uma boa ideia. Exatamente porque eu sabia que Bella odiava o filtro verde, úmido e chuvoso que Forks tinha. Quem sabe ela conseguisse associar o cenário a mim. Ela teria mais motivos para me odiar ou para odiar Forks e, depois de se formar, voltar para o lugar ensolarado que ela amava. Fazia sentido, daria certo.

Caminhei até o bosque, de onde ainda conseguimos ver a casa de Charlie. Ela parecia travar os pés no chão a cada passo que dava. Dessa vez eu sabia que seria minha última tocando seus dedos. Parecia que mais uma parte de mim se desmanchava.

Como quem desfaz um laço, soltei sua mão.

Foi rápido e fácil. Senti a tontura querer me atingir novamente. Por que eu ainda me sentia preso na energia que vinha dela? Como um membro fantasma, ainda podia sentir o calor de Bella em minha pele, queimando meu disfarce quase perfeito.

Encostei-me em uma árvore para conseguir falar.

— Tudo bem, vamos conversar — disse firme.

Respirei fundo.

— Bella, nós vamos embora.

Bella respirou fundo também.

— Por que agora? Mais um ano...

— Bella, está na hora. — interrompi — Afinal, quanto tempo mais poderemos ficar em Forks? Carlisle não pode passar dos 30, e ele agora diz ter 33. Logo teremos de recomeçar, de qualquer forma. — Mais uma meia verdade.

Seu rosto estava confuso. Estava pronto para manter a mentira e fazê-la acreditar. Mas, na verdade, torcia para que ela me confrontasse, não acreditasse em nada que eu dissesse a partir de agora. Ela continuou me olhando quando eu percebi. Bella tinha entendido errado minha mentira e certo a minha verdade. Endureci meu olhar.

— Quando você diz nós... — sussurrou.

— Quero dizer minha família e eu. — falei pausadamente. Monstro.

É mentira, Bella!

Ela balançou a cabeça freneticamente. Esperei, escolhendo as palavras de um doente para dizer a ela.

— Tudo bem. Vou com você. — Ela queria ir comigo?

— Não pode, Bella. Aonde vamos... não é o lugar certo para você. — menti.

— Onde você está é o lugar certo para mim. — Precisaria mentir melhor.

— Não sou bom para você, Bella. — queria que fosse mentira.

— Não seja ridículo. — ela tremia — Você é a melhor parte da minha vida.

— Meu mundo não é para você.

Não menti, porque na verdade, meu mundo era Bella. Sempre seria.

— O que aconteceu com Jasper... Não foi nada, Edward! Nada!

— Tem razão. Foi exatamente o esperado. — essa foi a única verdade completa que falei desde o início da nossa "caminhada".

— Você prometeu! Em Phoenix, você prometeu que ficaria...

— Desde que fosse o melhor para você — interrompi.

— Não! Tem a ver com a minha alma, não é? — gritou ela. Eu conseguia ver as lágrimas brotarem em seus olhos. — Carlisle me falou disso, e eu não me importo, Edward. Não me importo! Você pode ter minha alma. Não a quero sem você... Ela já é sua!

Suspirei. O quanto Carlisle tinha falado sobre isso com ela? Queria me destruir com a mesma violência que Emmett e Jasper acabaram com James. Qual diferença existia entre ele e eu? Ambos havíamos machucado Bella. Eu era igual a ele. Merecia o mesmo fim.

Eu podia sentir raiva em mim.

— Bella, não quero que você venha comigo. — falei o mais lento que consegui, olhando seus olhos, mantendo a frieza. Os humanos acreditavam em qualquer coisa, bastava não desviar o olhar deles.

— Você... não... me quer? — Eu quero... para sempre!

— Não. — respondi sem tirar meus olhos.

fim se aproximava cada vez mais.

— Bom, isso muda tudo. — Não acredite em nenhuma palavra, por favor.

Bella desviou os olhos para o vazio, então voltei a fitar as árvores.

— É claro que sempre a amarei... de certa forma. Mas o que aconteceu na outra noite me fez perceber que está na hora de mudar. Porque... estou cansado de fingir ser uma coisa que não sou, Bella. Não sou humano. — olhei para ela, tentando enfatizar a importância da mentira que eu contaria em seguida. — Permiti que isso durasse tempo demais, e lamento.

— Não lamente. — sussurrou. — Não faça isso. — Me desculpe, meu amor.

— Você não é boa para mim, Bella. — Sabia que isso faria Bella acreditar no que eu dizia de uma vez por todas. Covarde.

Bella não disse nada por um tempo. Ela não me enfrentaria. Não em bateria.

— Se... é isso que você quer.

Assenti.

Não acredite em mim, por favor.

— Mas gostaria de lhe pedir um favor, se não for demais – falei covardemente.

Eu precisava garantir que ela ficaria bem. Ela devia ficar bem.

— O que quiser. — prometeu, olhando em meus olhos. Parecia que ela sabia, sem perceber, como me desarmar. Senti meu corpo comprimir.

— Não cometa nenhuma imprudência, nenhuma idiotice. — falei ao me recuperar. — Entende o que estou dizendo? — Bella precisava entender tudo que estava oculto naquelas palavras, mas ela parecia não estar ali.

Ela apenas confirmou com a cabeça.

— Estou pensando em Charlie, é claro. — menti — Ele precisa de você. Cuide-se... por ele.

Bella assentiu.

— Vou me cuidar. — ela prometeu e aquilo me trouxe um pouco de alívio.

— E, em troca, vou lhe fazer uma promessa. — comecei a falar a segunda verdade completa dessa conversa — Prometo que esta será a última vez que vai me ver. Não voltarei. Não a farei passar por nada como isso novamente. Você poderá seguir com sua vida sem qualquer interferência minha. Será como se eu nunca tivesse existido.

Coloquei o sentimento mais visceral que pude em minhas palavras: a necessidade de que ela vivesse. Imaginá-la sendo feliz me fez sorrir.

— Não se preocupe. Você é humana... Sua memória não passa de uma peneira. O tempo cura todas as feridas para a sua espécie. — continuei.

— E as suas lembranças? — perguntou. Sempre pensando em mim…

— Bem… não vou esquecer — nunca —. Mas minha espécie... Nós nos distraímos com muita facilidade.

Que mentira idiota.

— Acho que isso é tudo. Não vamos incomodá-la de novo. — confessei, distanciando-me dela. Cada passo para trás, o sentido contrário me puxava.

— Alice não vai voltar — confirmou. Não era uma pergunta.

Assenti olhando seus olhos.

— Não. Todos já foram. Fiquei para trás para lhe dizer adeus. — admiti.

— Alice foi embora? — sua voz se perdia no vazio entre nós.

— Ela queria se despedir, mas a convenci de que uma ruptura sem trauma seria o melhor para você.

Podia ver como ela se sentia traída.

— Adeus, Bella. — O desespero me invadiu quando terminei de falar.

Por favor…

— Espere! — obriguei meu braço a permanecer parado ao lado do corpo quando ela estendeu o braço em minha direção.

Não faça isso, Bella.

Fitei o rosto de Bella, corroído pela dor que causei. Dessa vez não era sobre técnicas mentirosas. Apenas não consegui desviar os olhos porque queria gravar o rosto o máximo que eu pudesse. Essa era Isabella Swan, meu único eterno amor.

Aproximei-me dela e toquei os lábios da forma mais cautelosa que consegui em sua testa. Queria tomá-la, mas eu sabia que não poderia fazer isso. Nunca mais. Eu tinha uma promessa a seguir. Deixei o cheiro dela me invadir pela última vez. Sua pele macia e quente ardia sob a minha e os batimentos urgentes dela minaram marcas em meu cérebro.

— Cuide-se. — sussurrei sem forças. Tão rápido quanto me aproximei, eu saí. Queimaria se continuasse aqui. Fugi na estúpida esperança de sobreviver.

Agora está livre, Bella.

 


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Notas finais do capítulo

E aíí?? O que acharam?



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