Lua Negra - EPOV de Lua Nova escrita por rkpattinson


Capítulo 4
Capítulo 3 - Como Areia


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é dedicado à Nat, Bianca, Thata, Nana, Vic e Letty. Vocês acreditaram em mim quando eu pensei em desistir, me ajudaram a sempre melhorar e ainda estar aqui. Então, obrigada, amo vocês! ♥

N/A: Lembrando que essa é uma fanfic EPOV baseada na história original de Lua Nova.
Todos os direitos reservados a SMeyer.
As novas cenas que conferem à essa fanfic pertencem a mim.



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O CAMINHO ATÉ NOSSA RESIDÊNCIA PARECIA ESTRANHAMENTE MAIOR.

Eu era o mais rápido do clã. Tentei usar todas minhas habilidades para chegar o mais rápido possível em casa, mas não adiantou. Minha mente estava inteiramente congelada naquela que era a única importância da minha vida. Não havia se passado nem meia hora que tinha deixado Bella segura em casa e já estava me provando não ser capaz de suportar um dia longe dela.

Um fantasma me visitou quando lembrei da vez que fui embora logo ao conhecer Bella. Fugi e estava para repetir o mesmo ato de covardia. Dessa vez enxergava os motivos, estaria fazendo o mais seguro. Mas, até que ponto aquilo era certo? Toda a vida de Bella havia sido contaminada pela nossa natureza. Assim como ela estava em nosso ciclo de conversas, respeitava nossas necessidades e sabia, como ninguém, lidar com monstros num mundo humano. Bella havia se tornado filha de Carlisle e Esme, irmã de Emmett, de Rosalie, de Jasper e — amiga também — de Alice. Elas haviam se aproximado como minha irmã previu.

Havia muito mais envolvido. Não era apenas a respeito dos meus medos, mas dos sentimentos da minha família e acima de tudo, da segurança dela. Era doloroso demais perceber que ela só estaria completamente livre se todos sumissem. Só assim estaria livre para seguir.

Apesar de Esme ter feito o planejamento e decoração de todas as casas que nos mudamos, e provavelmente faria da próxima, meu pai e ela já amavam Bella, seria difícil. Emmett e Jasper apesar de gostarem dela, não iriam se opuser em partir. Rosalie com certeza daria um show que eu não assistiria. Esfregaria todos os erros que cometi. Mas Alice, ela sim sofreria. Não havia forma de me desculpar.

Conseguia ouvir os pensamentos alvoroçados na sala. Assim que pus os pés na sala de casa, Alice correu até meu lado. O cômodo já estava limpo do acidente da noite passada. Agradeci internamente.

— Edward… — o olhar dela era aflito. — Está tudo tão confuso.

Sabia que ela se referia ao meu futuro.

— Alice falou que você iria contar algo importante, Edward. — disse Esme, de mãos dadas à Carlisle, que lhe incentivou a continuar com um aperto suave. — Bella está bem?
— Sim. — respondi e deixei meus olhos caírem. Até quando eu teria certeza dessa resposta? E se algo acontecesse à Bella? Por um momento, senti meu corpo esfriar mais que o normal, se é que fosse possível. Fechei os olhos, deixando os outros esperando. No segundo seguinte, soltei a respiração presa. Não haveriam riscos sobrenaturais, apenas acidentes que os humanos estavam acostumados a lidar. Não, ela ficaria bem. — Ela vai ficar bem. — complementei. Falar em voz alta parecia ajudar a tornar aquilo uma realidade, não apenas um desejo.

Não, por favor, não. Alice gemeu em minha mente. Tão claro como o nascer do sol atrás das janelas de vidro em nossa sala, ela via meu futuro.

Olhei para eles, ainda confusos antes de finalmente falar. Eu precisava tentar. Minha família teria motivos para me odiar, afinal, naturalmente, não precisaríamos sair tão cedo de Forks. Mas eu tentaria.

— Vou embora. — falei ríspido demais. — Talvez não entendam o porquê, talvez não queiram entender. — parei para encher o pulmão do ar que eu não precisava respirar. — Farei tudo para proteger Bella.

De mim.

Tudo por uma humana, frágil e quebrável. Rosalie olhava a ponta de uma mecha loira em suas mãos. E como sempre, ignorei seus pensamentos hostis.

Ela estava cinquenta por cento errada. Fisicamente, Bella era frágil e quebrável como todo ser humano. Mas, não era uma humana comum. Apesar de saber que nunca poderia ouvir seus pensamentos, eu sabia que a personalidade de Bella era o que ela tinha de mais forte. Tinha a persistência, a determinação e o altruísmo que pude notar em pouquíssimas pessoas em todas as décadas de existência. Tinha qualidades que eu não poderia enumerar. Sim, tudo por ela.

Eles permaneceram calados, tentando manter a ordem mentalmente. Mas Alice… Alice nem me olhava.

— Isso talvez seja pedir demais — continuei. — Na verdade, eu não tenho esse direito, mas não tenho outra opção. — olhei diretamente para a baixinha cabisbaixa. — Preciso que todos partam também.

Alice não levantou o olhar. Em contrapartida, Rose me fuzilou.

— Como você tem coragem de pedir isso? Não vou largar tudo que construí por causa de uma humana qualquer. — Rosalie se aproximou até que estivesse apenas alguns passos à minha frente, de queixo levantado. — Arque com seus erros.

Queria apontar todas as falhas em suas palavras, queria destruir sua arrogância com meus dentes, mas não tinha forças.

— Gata. — Emmett pousou as mãos nos ombros dela e tentou puxá-la para trás, mas estava estática até começar ceder.

Procurei xingamentos em algumas daquelas mentes. Com exceção de Rosalie, havia medo, tristeza, compreensão, saudade e culpa. Não haviam negações ou objeções. Talvez Jasper tenha me ajudado sem que eu pedisse, porque ele parecia concentrado.

— Carlisle, eu sei que tem seu compromisso com o hospital… — olhei meu pai nos olhos, buscando reprovação ou decepção. Sutilmente, como em dezembro de 1919, ele me ofereceu o meio sorriso mais compreensivo que pode. Sabia que se eu fosse capaz, estaria chorando.

— Não se preocupe, Edward. — começou ele — Agora pela manhã, avisarei que me surgiu uma oportunidade melhor de emprego. — ele parecia ter planejado antecipadamente.

Um grande amigo contactou-me esta semana. Ele queria saber se eu não estava entediado de medicar depois de todos os anos. Carlisle quase sorriu com a lembrança. Então me ofereceu a vaga como professor em Cornell, mas eu neguei. Tudo parecia resolvido… até agoraTalvez esse seja um bom destino para nossa família, filho. Não havia pena nos olhos do meu pai, mas tinha alguma coisa que eu não conseguia entender.

— Não irei com vocês. — argumentei a afirmação dele em voz alta.

— Como não? Para onde você vai? — disse minha mãe.

— Isso é ridículo! Por que precisamos ir embora? Deixe-o ir. — gritou a loira.

— Você não acha que seja a hora de devolvermos o favor à Edward, Rosalie? — Carlisle olhou-lhe nos olhos. — Ele foi tolerante durante todos esses anos, mudando-se para cada canto desse país quando o foi proposto. — Ela batia o pé no chão como uma britadeira. Um pouco mais de força e quebraria o chão de madeira.

— Carlisle… — ela já tinha diversas desculpas em mente, quase na ponta da língua quando foi interrompida.

— Somos uma família, Rose. — respondeu Esme docemente. — Se é disso que Edward precisa para segurança de Bella, — agora dirigindo-se a mim — nós iremos para onde for preciso.

Sentirei muita falta dela. Pensou ela depois de desviar o olhar. Rosalie fez uma cara emburrada ao lado de Emmett e permaneceu calada.

— Estarei indo embora nos próximos dias… — Comecei a falar — Preciso me certificar de algumas coisas antes. Sei que já pedi demais, mas se possível, partam o quanto antes. — lancei um olhar à Carlisle, que assentiu.

— Sem despedidas? — perguntou Emmett com um semblante triste. Balancei a cabeça, torcendo para que fosse o necessário que entendessem.

— É injusto. — a voz fina de Alice rasgou a sala. — Você sabe que não tem esse direito, Edward. — ela continuou enquanto se aproximava. — Bella… Bella é minha melhor amiga. — disse direcionando um olhar culpado para Rosalie.

— Sinto muito. — falei olhando o mais compreensivo que pude.

— Sente? — seu rosto se transformou em agonia física. — Isso não vai mudar o futuro dela, Edward. — Alice não falava das possibilidades que me amedrontavam.

Sua mente percorreu diferentes futuros possíveis e todos terminavam na mesma infeliz imagem que tive algum tempo atrás.

Mesmo com a oportunidade de seguir sem que eu interferisse, Bella continuava com o rosto sob as sombras, olheiras profundas, mais magra e inexpressiva. Na primeira vez que a vi assim, ela parecia cadavérica. Mas, dessa vez, percebi o quanto ela estava viva e isso tornava as coisas mais difíceis. Bella estava sobrevivendo, assim como fiz em toda minha existência, porém completamente vazia. Vazia de tudo que a fazia ser ela mesma.

Apertei os olhos e engoli seco. Eu teria, de alguma forma, fazê-la entender que estava livre para seguir a vida que quisesse. Ela não poderia, não deveria nem merecia aquele provável futuro.

— Alice… — eu queria poder dizer algo que fizesse sentido, mas não fui capaz. Deixei a frase morrer, enquanto Alice avançava.

— Imagina o quanto é frustrante para mim? — ela começou a falar com olhos feridos, deixando os ombros caírem. Sem perceber, fora dos olhos humanos, costumávamos ter uma postura ereta demais, perfeita demais. Mas parecia que seu corpo tinha esquecido isso completamente. A postura de Alice era acuada, como um animal ameaçado. — Tinha certeza desde o início que ela faria parte da nossa família, que ela seria alguém para você como Jasper é para mim. Tive certeza de que a previsão estava sólida. Eu a queria aqui. E agora… — ela abriu as mãos no ar — Sinto-me inútil, Edward. Para quê serve esse poder, então?

Sabia como Alice se sentia. Quando percebi que não conseguiria ouvir os pensamentos de Bella naquele refeitório, me senti fracassado. Era conflitante demais não saber se estava definhando ou apenas falhando como uma máquina. Senti que meu poder de nada valia, me senti incapaz. Talvez minha irmã não percebesse, mas sabia exatamente o que ela sentia. Era terrivelmente frustrante. Assim como todas as vezes desde quando essa conversa começou, eu não tinha respostas para suas perguntas.

— Essa nunca foi minha intenção, Alice. Você não acreditaria se eu dissesse o quanto isso é difícil para mim.

— Não precisa dizer, Edward. — ela respondeu antes de se afastar. Conseguia sentir a mágoa que cultivei nela.

Ao nosso redor, todos estavam atentos. Por não saberem o que Alice me mostrara, continuavam esperando. Eu não queria compartilhar essa possibilidade com mais ninguém. Nunca me perdoaria se aquele fosse realmente o fim.

Quis começar a falar, mas Alice não me olhava nem parecia querer escutar.

— E não precisa pedir, eu não irei. Use a mentira que quiser, sua escolha já foi feita. — disse ela rispidamente, alcançando e puxando a mão de Jasper porta à fora. Aquilo doeu. Todos sabiam as técnicas que eu usaria para mentir perfeitamente para um humano.

A discussão havia acabado.

Subi até o quarto para trocar a roupa por peças limpas. Ainda conseguia sentir o cheiro de bolo e cera quente em minhas roupas. Carlisle me esperava encostado no batente da porta principal com as mãos dentro dos bolsos.

— Farei o máximo para adiantar nossa mudança, Edward. — disse quando me aproximei. — É do seu destino que me preocupo. Para onde você vai?

Carlisle não queria se intrometer em minhas escolhas, mas, como pai, temia.

— Ainda não sei. Não consegui pensar nisso... — Olhei para meus dedos pálidos. — Talvez Europa ou quem sabe América do Sul. — O corpo de Carlisle relaxou um pouco quando citei possibilidades. Quis lhe dar algo no que se segurar, porque na verdade eu sumiria.

— E voltará para casa? — vasculhei seus pensamentos, buscando entender onde ele queria chegar. Mas, assim como os outros, Carlisle não enxergava o que eu queria gritar. Meu verdadeiro lar tinha um coração que facilmente perdia o compasso das batidas. Houve um tempo que não tinha nada, além de mais alguns minutos de vida em uma maca de hospital. Carlisle recuperou o significado de família em mim. Mas o sentimento de pertencer a algum lugar, de sentir conforto e proteção ao escurecer… isso só foi possível para mim após décadas de descrença. Comigo, diferente de muitas pessoas, o amor só aconteceu quando eu esqueci que ele podia existir.

— Não sei. — sussurrei.

— Esme concorda em se mudar para Ithaca, mas terei que conversar com os outros com mais calma. — ele apoiou a mão sob meu ombro esquerdo — Emmett está tendo dificuldades em convencer Rosalie.

Ele até usou a possibilidade de poder celebrar um outro casamento e uma nova lua-de-mel. Você sabe como ela pode ser inflexível algumas vezes.

Lancei um olhar duvidoso arqueando uma de minhas sobrancelhas. Meu pai bufou, ele havia sido modesto. Rose era assim sempre.

— Alice? — sussurrei uma afirmação, mas saiu como uma pergunta.

— Ela tentou convencer Jasper de ir para Denali, mas acredito que irão se juntar a nós.

Ele se culpa por tudo isso.

— Não devia. — Eu sou o culpado. — Ela nunca irá me perdoar. — falei ao me desvencilhar dele, abrindo a porta.

— Não quero que isso piore a confusão que consigo ver dentro de você, filho. Ao pedir que fossemos embora, você pediu muito mais para Alice. — falou ele, caminhando ao meu lado para o lado de fora da casa. — Todos nós a amamos. — ele não pronunciou o nome dela.

— Com uma exceção.

— Alice está perdendo uma irmã, — continuou ele, ignorando minha interrupção emburrada — então dê tempo para ela. Você a conhece como ninguém. Logo estará sorridente pela casa novamente.

— Não irei culpá-la se me odiar para sempre. — segurei meus cabelos, bagunçando o ninho que faziam em minha cabeça. — Eu também me odeio.

Não precisa ser assim, Edward. Vejo o quanto você está sofrendo e ainda nem deu adeus.

Ele não mentia.

— Deve ser assim. — olhei sinceramente para meu pai antes de atravessar o gramado. Ele não disse nada. Seus pensamentos foram ofuscados pelo som de água quando me aproximei e pulei o rio.

Ainda não era hora de ir à escola. Estava cedo, Bella estaria tomando o café da manhã e algum remédio para dor. Ela ainda não sabia, mas eu precisava ficar o mais próximo dela nas poucas horas que tínhamos, mesmo que ainda de longe. Mesmo que fosse apenas para ouvir seu coração bater. Talvez Alice estivesse certa, era injusto.

Corri pela floresta em direção à casa dos Swans. Perguntei-me quantas vezes ainda faria esse trajeto. Quantas vezes ela ainda me veria chegar ou quantas eu estaria lhe esperando no escuro do seu quarto. Perguntei-me qual dessas vezes seria a última.

Nas sombras, escalei a árvore mais próxima da janela do quarto de Bella. Eu conseguiria vê-la da distância que estava. Por outro lado, ela não me veria. Na verdade, não havia motivos para estar ali. Era apenas saudade do passado que ainda vivi. Quem estava querendo enganar. Não existia uma chance sequer de eu esquecer cada pedacinho dela. Minha memória me tornará incapaz. Sentenciado a nunca esquecer um só dia da minha existência ilimitada.

Ela não estava no quarto.

O barulho da água vindo do banheiro entregava Bella. Conseguia ouvir o tamborilar dos dedos na pia quando parou. Nenhum movimento nem barulho de chuveiro, da descarga, do armário sendo aberto ou da porta para anunciar que saia do cômodo. Estaria pensando em invadir sua casa para descobrir se precisava de ajuda, se não fosse pelas batidas do coração e da sua respiração ofegante.

A voz trêmula de Bella invadiu minha mente quando ela cochichou: — Fragilidade inútil.

Bella fungou. Tudo ardeu dentro de mim. Ela agitava um recipiente que emitia o som de várias pedrinhas se chocando — seu remédio para dor —, enquanto uma porção de água era colhida. Segundos depois, lá estava ela tamborilando novamente a pia.

O raspar da escova nos fios embaraçados eram rápidos e sem gentileza alguma. Percebi que minha postura quase me entregava para os humanos. Estava quase totalmente inclinado, ainda me segurando nos galhos mais altos, quando vi Bella entrar no quarto. Inclinei para trás novamente.

Sem querer invadir a privacidade de Bella, saltei duas árvores no sentido contrário do seu quarto. Esperei ouvir os passos apressados nos degraus para me esconder em outra árvore mais próxima da cozinha.

Estava completamente anestesiado que nem notei a presença de Charlie. Na verdade, eu teria que ter feito um pouco mais de esforço. Assim como nos outros dias, sua mente estava silenciosa. Ele já estava de saída quando Bella despejou algum líquido em uma tigela e depois abriu uma caixa. Deixei o ar inundar meu olfato. Era leite e cereal matinal. A normalidade de uma vida humana tinha defeitos. Quase tremi ao lembrar do aspecto que o líquido branco dava aos grãos. Totalmente desagradável.

Bella comeu rapidamente. Ela organizava algumas coisas na geladeira, quando resolvi voltar para casa e conseguir ir o mais civilizado para aula. Fui o mais rápido que pude e estacionei no lugar de sempre. Hoje eu estava sozinho. Sabia que seria um dia difícil, assim como amanhã também. Nenhum seria pior que o último, então eu suportaria.

Ela faria perguntas que eu não poderia lhe dar a resposta mais sincera. Não queria mentir, mesmo com a necessidade. Algumas seriam apenas omissões. Mas, ainda sim, ela teria o direito de se sentir traída.

Do estacionamento, ouvi sua picape na entrada. Respirei fundo, absorvendo o máximo de controle e calma que o clima frio e úmido de Forks poderia me oferecer. E com isso, todos os odores daquele ambiente aberto também. Logo o cheiro de Bella me consumiu, machucando minha garganta. Meses atrás seria sinônimo do meu maior pesadelo. Hoje significava meu maior medo. Tinha medo de não conseguir senti-lo se misturando à nuvem de odores que a casa dela ou a escola exalavam. Tinha medo que desaparecesse. Porque enquanto o cheiro dela estivesse presente, significava que Bella estava aqui. Bem e segura. Viva.

Andei até ela. Bella me olhava com mil perguntas em seus olhos e mesmo assim não as fez. Talvez esperasse que eu fizesse isso primeiro. Me machucava deixá-la sem respostas, mas eu não tinha opção. Chegaria a hora. Agora, eu viveria o presente.

Abri a porta para ela.

— Como você está?

— Perfeita — revelou. Eu sabia que era mentira.

Desde que conheci Bella, a escola não era mais uma tortura. Mas, especialmente hoje, a aula voltou a me incomodar. O motivo dessa vez era a rapidez com que ela fluía. Tentei me prender aos pequenos detalhes, esperando que os professores dissessem que hoje teríamos algum tipo de treinamento extra ou uma nevasca fora de época nos prendesse dentro do prédio. Contra minha vontade, a manhã voou.

Perguntei algumas vezes mais sobre o braço, mas Bella continuou afirmando o inegável. Ainda sim, de alguma forma inacreditável, ela pensava em meus sentimentos. Como ela podia ser assim? Disposta a guardar todos os sentimentos para si, enquanto eu destruía tudo o que deveria ser normal em sua vida.

Passei a contar os segundos próximo ao almoço na tentativa de encontrar um erro natural. Era possível o movimento de translação e rotação ser mais rápido que o habitual? Deveria existir algum fenômeno que explicasse isso, porque o tempo não parava. Acelerava, acelerava e acelerava. E com ele, meu tempo escasso ao lado de Bella esvai.

Escorregava entre meus dedos. De alguma forma, uma porção de grãos permanece na palma da mão, mas não é o suficiente. Essa quantidade serve apenas para lembrar do que quis guardar, do que quis manter consigo. Carregando solitárias partículas de rochas degradadas. Sentia que o próximo a se degradar seria eu, como areia.

— Onde está Alice? — perguntou ansiosa. Senti os olhos de Bella pousarem em meu rosto. Meu estômago vazio se revirou.

— Está com Jasper. — respondi sem olhá-la. Estava envergonhado. Sem coragem.

— Ele está bem?

— Ele se afastou por um tempo. — A primeira meia verdade.

— O quê? Para onde?

O momento de reutilizar a incrível arte de mentir com facilidade para humanos chegou.

— Nenhum lugar específico.

— E Alice também. — ela afirmou. Pus meus olhos nela e Bella olhava o vazio entre nós.

— Sim. Ela vai ficar fora por um tempo. Estava tentando convencê-lo a ir a Denali. — Outra meia verdade. De um olhar vago, o rosto dela foi tingido por uma dor que eu não sabia de onde vinha.

— Seu braço está incomodando?

— Quem liga para meu braço idiota? – murmurou Bella, revoltada.

Permaneci calado até o final das aulas.

— Vai aparecer esta noite? — perguntou enquanto andávamos até a picape.

— Mais tarde? — Será que ela tinha percebido alguma coisa? Será que Bella precisava daquele tempo para reavaliar nosso namoro? Por um lado, eu continuaria quebrado. Por outro, facilitaria tudo. Ela sairia ilesa e isso bastava.

— Tenho que trabalhar. Preciso compensar com a Sra. Newton por ter faltado ontem.

— Ah! – já havia esquecido do trabalho com o Newton.

— Então, você vai quando eu estiver em casa, não vai? — perguntou ela impaciente.

É claro que sim.

— Se quiser.

Deixe-me ir.

— Eu sempre quero. — contive o alívio dentro de mim.

— Tudo bem, então — forcei indiferença, dando-lhe um beijo na testa, fechando a porta da picape para ela.

Dentro do carro, vendo Bella sair tão rápido, soltei a respiração. Toda minha tentativa de agir normalmente não havia saído como eu queria. Achei que seria capaz de fingir, mas com Bella eu não tinha filtros. Eu sabia que, de uma forma ou de outra, ela sabia que não estava tudo bem. Isso estava deixando ela ansiosa e nervosa. Essa não era minha intenção. Tinha que terminar logo. Bastava.

Voltei para casa, voando pela estrada.

Escutei Esme e Rosalie fecharem as últimas caixas na cozinha, enquanto Emmett descia a escada com as mãos cheias e Carlisle legendava outras caixas na sala.

— Olha quem chegou! — disse Emmett animado.

Vamos hoje para New York, bro! Emmett impôs um sotaque maior na voz quando pensou. Senti uma onda de emoção ao ver o comprometimento da minha família com meus pedidos. Eu não merecia nem eles.

— Em quê posso ajudar?

— Acredito que já fizemos tudo. — respondeu Carlisle — Faltam apenas suas coisas. Esme preferiu deixar você escolher o que queria levar.

— Farei isso agora. — Apoiei a mão no corrimão quando percebi. — Alice e Jasper não estão aqui?

— Foram na frente. — Esme surgiu na passagem da cozinha para sala. — Ela achou melhor conferir se a casa é boa mesmo. — completou, enviando-me imagens de uma casa mais discreta, apesar de grande, próximo a um lago. Sua cabeça estava ansiosa com a novidade, mesmo com a tristeza evidente. O novo endereço rodeava sua cabeça enquanto falava. Sabia que ela queria me atrair e impedir que me afastasse.

Você sabe… Esme me lançou o olhar que eu conhecia.

Alice não precisava "conferir" porque ela via tudo antes mesmo de escolhermos as casas que nos mudávamos. Como disse, ela foi pega de surpresa. Sem avisos, completamente frustrada. Então, partiu antes de todos para me evitar. Evitar a "não despedida" de Bella. Eu tinha certeza que isso era o melhor para Bella. Uma partida menos traumática. Mas, em algum momento, esqueci como isso afetaria minha irmã. E, é lógico, Jasper também.

— Certo. — respondi, oferecendo um breve sorriso à minha mãe. — Trago em instantes.

Peguei algumas caixas vazias no hall e encaixotei sem escolher. Joguei CDs, livros e diários em uma caixa. Em outras três, dobrei roupas e calçados. Eu sabia que Alice faria questão de comprar uma loja inteira para renovar nossas roupas de acordo com as estações de Ithaca, mas isso não me importava. Deixei do lado de fora, apenas uma camisa branca de botão e uma calça jeans.

— Isso é tudo. — falei ao colocar as caixas no chão, ao lado da mudança. Sorri para os outros e voltei para a floresta. Eu podia sentir que o fim estava próximo. Minha família iria hoje e eu partiria amanhã. Estava decidido. Conseguia sentir o gosto amargo do vazio.

Como no passado, eu ainda não era forte o suficiente. Eu sabia que teria que sobreviver à tentação de voltar. Mas, se ficar significasse condenar Bella a qualquer possibilidade desgraçada, partir não poderia ser um pecado, poderia? Nunca saberia quão dentro estava do meu próprio purgatório.

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Em agradecimento aos comentários e interações lá no twitter (me sigam /rkpattinson), fiquem com um trecho que faz parte da próxima atualização!
Acho que você já imaginam…
Espero que gostem!

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PRÉVIA
Capítulo 4: Promessa

Anestesiado, andei até ela, peguei sua mochila e coloquei de volta no banco.

— Vamos dar uma caminhada. – sugeri sem emoção. A mão dela estava gelada quando segurei. Bella não respondeu.

Imaginei que fazer isso ao ar livre fosse uma boa ideia. Exatamente porque eu sabia que Bella odiava o filtro verde, úmido e chuvoso que Forks tinha. Quem sabe ela conseguisse associar o cenário a mim. Ela teria mais motivos para me odiar ou para odiar Forks e, depois de se formar, voltar para o lugar ensolarado que ela amava. Fazia sentido, daria certo.

Caminhei até o bosque, de onde ainda conseguimos ver a casa de Charlie. Ela parecia travar os pés no chão a cada passo que dava. Dessa vez eu sabia que seria minha última tocando seus dedos. Parecia que mais uma parte de mim se desmanchava.

Como quem desfaz um laço, soltei sua mão.

Foi rápido e fácil. Senti a tontura querer me atingir novamente. Por que eu ainda me sentia preso na energia que vinha dela? Como um membro fantasma, ainda podia sentir o calor de Bella em minha pele, queimando meu disfarce quase perfeito.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Cenas COMPLETAMENTE novas dos Cullens!



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