Scientist escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 7
Capítulo 7 – A vida continua, mas com você nela




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Capítulo 7 – A vida continua, mas com você nela

                Peter pegou no sono tão profundamente que levou alguns minutos para sua mente voltar à lucidez quando acordou. Abraçou Gwen pela cintura, ainda de olhos fechados, e respirou fundo, sentindo o peso agradável dela sobre seu peito, seu cabelo dourado e macio, agora completamente solto, fazendo cócegas em seu braço. Pela falta de reação, ela devia ainda estar dormindo. Abriu os olhos para admirar sua esposa e beijar o topo de sua cabeça. Gwen dormia serenamente, e ele mal podia acreditar que a lembrança de quando ela dormira assim contra ele em um de seus encontros, e tinha até uma foto disso, evoluíra para os dois abraçados da mesma forma após seu casamento. Conseguir sentir a pele dela contra a sua agora, tornava o momento ainda mais agradável. Dormirem na mesma cama, apesar disso, não era uma novidade para os dois.

Às vezes Peter ia até ela de madrugada quando precisava de seu conforto, nem que fosse apenas para observá-la dormir da janela e saber que estava bem e viva, após algum pesadelo ou paranoia. Ou quando Gwen tinha pesadelos ou temores, ou se sentia sozinha, e ligava para ele no meio da noite. Ela o convidava para se juntar a ela debaixo das cobertas, Peter beijava sua testa, e os dois se abraçavam até dormir, mas nunca tinham passado disso. Ele nunca quis ter pressa com ela ou causar qualquer coisa que a fizesse se arrepender depois. Quando seus pais, e depois apenas sua mãe, ou um dos irmãos ia até o quarto de manhã, caso ela demorasse a aparecer, Peter já tinha ido embora. Essa era a parte ruim, precisar sair no momento mais aconchegante de estar abraçado com ela ao acordar.

Ele não sabia que horas eram agora, mas decidiu que isso não importava quando se tinha um anjo adormecido em seus braços. Só então Peter pensou que Gwen deveria dormir quase tão pouco quanto ele em algumas noites, sendo tão dedicada a seus estudos e pesquisas, e constantemente preocupada com a vida de seu pai e também a dele. Hoje devia ser uma das raras vezes que ela conseguira aproveitar bem seu tempo de sono, e ele esperava que isso se repetisse tanto quanto possível, apesar de agora os poderes dela serem uma preocupação extra para os dois.

                Gwen se mexeu algumas vezes em seu sono, felizmente não parecendo perturbada por algum pesadelo ou lembrança ruim, apenas acordando. Seus olhos verdes se abriram e ela tomou uma respiração profunda como ele, depois se espreguiçando por baixo do lençol e o abraçando com mais força. Peter procurou sua mão e ela entrelaçou seus dedos, olhando para ele e sorrindo.

                - Bom dia, garoto inseto.

                Ele sorriu.

                - Aranhas não são insetos, são aracnídeos, Gwen.

                - Eu sei disso – ela respondeu fingindo estar chateada – Não estrague o apelido que te dei.

                Peter riu e a beijou nos lábios.

                - Você está bem?

                Gwen assentiu.

                - Melhor noite da minha vida. Podíamos ficar assim pra sempre – ela disse desenhando padrões em seu peito com as pontas dos dedos.

                Peter sorriu e retribuiu acariciando seus cabelos.

                - Eu não reclamaria... Mas se você ainda quiser sair mais tarde, podemos ir de teia pelo nosso roteiro planejado. Ia ser muito engraçado ver a cara dos recepcionistas do hotel nos vendo entrar pelo hall mais tarde sem sequer termos saído.

                Gwen gargalhou.

                - Eu adorei a ideia.

                Os dois riram juntos e passaram bons minutos se divertindo discutindo as possíveis repercussões disso enquanto finalmente se levantavam e iam para o banheiro. O hotel não era luxuoso. Assim como o casamento e o planejamento da lua de mel, quiseram algo modesto, mas um dos diferenciais é que os cômodos tinham um bom tamanho, um local aconchegante com uma mesa e duas cadeiras para jantar, e o banheiro contava com uma banheira enorme que acomodava perfeitamente os dois. E foi exatamente para onde seguiram para relaxar e se limparem para sair.

Peter apoiou as costas na banheira e Gwen se acomodou entre suas pernas e contra seu peito. Ele a abraçou e afastou seu cabelo louro, beijando seu pescoço e sentindo uma das mãos da esposa se erguer para acariciar seu cabelo.

                - Eu achei que ia ficar tão atrapalhado com você ontem à noite... Que nem da primeira vez que te chamei pra sair.

                Gwen abriu um sorriso enorme com essa lembrança e deitou a cabeça para trás em seu ombro.

                - Eu fiquei tão feliz naquele dia. Como fiquei ontem à noite. Você cuidou de mim como sempre faz, deu tudo de você pra manter minhas emoções bem. Você é bom nisso, Peter.

                - Em que exatamente? Nisso, ou em cuidar de você?

                Gwen riu.

                - Estava falando sobre cuidar de mim, mas foi bom nisso também.

                - Fui? Então acha que não vou ser da próxima vez? – Peter perguntou beijando sua bochecha.

                Gwen soltou uma gargalhada ao senti-lo sorrir contra sua pele e perceber que ele estava brincando com ela.

                - Isso eu aprendi com você, desde aquela vez que te chamei pra sair – ele falou beijando agora seus cabelos – E sabe... Você também. Você é perfeita em tudo. Menos em algumas vezes que decide usar seu super poder da teimosia.

                Gwen se virou para ele rindo, se sentindo mais feliz do que em qualquer outro momento de sua vida, e o beijou. Peter a abraçou e estendeu as pernas na banheira para acomodá-la em seu colo quando Gwen se virou de frente para ele e começaram a repetir as mesmas coisas que haviam feito na noite passada, mas ambos se sentindo muito mais seguros do que fazer e de como interagir com o outro agora, e dessa vez com menos desconforto para Gwen, embora ainda assim Peter insistisse em cuidar dela com o mesmo amor gentil de antes, bem como ela faria por ele.

******

                Apesar do quanto se divertiram pensando em como brincar com os recepcionistas do hotel, decidiram sair pelo hall de entrada como pessoas normais. Se alguém insistisse em entender o que aconteceu, isso lhes tomaria um tempo que não queriam perder. Pelo pouco tempo que tiveram para se casar, tinham decidido ter uma lua de mel mais simples e passar os próximos cinco dias indo a lugares que gostavam ou que queriam conhecer e nunca tinham tido tempo para tal, e treinando as habilidades aranha de Gwen, o que tinha lhes rendido boas risadas enquanto usavam as teias para tentar organizar o quarto momentos atrás. Ela tinha melhorado bastante nos últimos dias, e Peter já deixara seus lançadores com ela, embora a tivesse proibido definitivamente de usar a teia para voar pela cidade ou subir muito alto antes que ele tivesse certeza de que ela estava pronta.

                Agora eles estavam se encaminhando de táxi para a Times Square, onde havia uma sorveteria chamada ICE & VICE, cujo diferencial era ter combinações de sabores inusitados e casquinhas coloridas. Os dois tinham se deparado com o lugar enquanto pesquisavam ao acaso antes do casamento, tentando decidir aonde poderiam ir para se divertir. Os dois já tinham passado por lá antes, mas nunca com tempo para parar e conhecer o lugar.

                - Podíamos pedir que tragam a combinação mais louca que tiverem e vermos no que dá – Peter falou quando já estavam sentados olhando o menu.

Gwen Riu.

                - Não. E se for algo impossível de comer como, sei lá, sorvete de carvão com peixe?

                Peter gargalhou discretamente.

                - Aí já é maldade, não acho que eles fariam isso com clientes novos e recém casados. Mas acredite, Gwen, existem pessoas que tem paladar pra isso, ou essas opções não estariam no menu.

                No fim das contas Peter tinha se arriscado com sorvete sabor pizza e hortelã, e Gwen com canela e merengue.

                - Pizza com hortelã? – Ela perguntou ao marido, se divertindo com a escolha.

                - Pizza refrescante, deve ser bom. O seu lembra nosso bolo.

                - Foi ao acaso, mas você tem razão.

                Os dois foram interrompidos quando um garçom trouxe seus pedidos numa bandeja. Eles tinham pedido casquinhas em formato de cesta e deixado a escolha das cores a encargo do restaurante, curiosos para ver em que ia dar. E a menos que estivessem sendo espionados ou aquilo fosse um recado de algum novo super vilão à espreita, era uma coincidência muito fofa. O sorvete de Peter viera numa casca vermelha, e o de Gwen em uma branca.

                - Aproveitem seus sorvetes – o rapaz lhes disse – Esse é uma cortesia que sempre oferecemos aos recém casados que vem aqui – ele falou colocando um pedido extra na mesa – É um sabor tradicional, mas feito de um jeito mais inovador. O sorvete é de morango e contém flocos de chocolate e pedaços macios de caramelo. Esperamos que gostem.

                - Muito obrigado – Peter agradeceu com um sorriso.

                - Obrigada, certamente voltaremos aqui mais vezes – Gwen falou.

                - Ficamos felizes – o jovem disse com um sorriso antes de voltar ao balcão.

                O sorvete presente viera numa casquinha de cesta cor de rosa e com duas colheres azuis.

                - Eu devo ficar feliz ou me preocupar de isso ser um recado de algum super vilão? – Peter sussurrou para a esposa – É muita coincidência de uma vez só.

                Gwen beijou sua bochecha.

                - Essas coisas acontecem mesmo de vez em quando. E que saibamos todos os super vilões no momento estão presos ou mortos. Teríamos descoberto algo com tudo que andamos vasculhando na sua busca de segurança pré-casamento. Então vamos relaxar e aproveitar.

                - Faz sentido – Peter deu de ombros começando a comer – Olha... Tem pedaços de pizza dentro – ele comeu mais um pouco – E com hortelã é ainda melhor! É uma pizza refrescante!

                Gwen riu com a empolgação e aceitou a colher que ele lhe estendeu.

                - Você tem razão! É bom... – ela disse – Vamos testar o meu – ela sugeriu, levando a colher à boca e depois oferendo um pouco a ele – Parece mesmo nosso bolo.

                - Acertei nesse também.

                 Passaram os próximos minutos comendo, conversando e observando as pessoas que iam e vinham do local, e agora estavam aproveitando o sorvete de cortesia.

                - Quando eu era criança, tio Ben e tia May me levavam pra tomar sorvete às vezes. Eles gostavam de um bem parecido com esse. Vamos trazer todos aqui antes de irmos embora? Não sabemos quando e se vamos voltar a Nova York um dia, embora eu ache que sim. Também tem coisas boas aqui.

                - Eu gostei da ideia. Vamos vive-las e guarda-las juntos, e quando entrarmos naquele avião é isso que vamos ter no coração. Muito melhor do que se tivesse sido naquele dia.

                Peter sorriu e assentiu.

                Depois de pagar a conta e saírem, decidiram continuar se aventurando pela Times Square, o que os levou para a famosa escadaria vermelha da TKTS. Eram quase três da tarde, quando começavam a vender ingressos promocionais para apresentações noturnas da Broadway e off-Broadway.

                - Sabe... Faz muito tempo que eu vi um desses shows – Gwen falou – Estamos bem em frente à venda de ingressos promocionais e um monte de títulos bons em cartaz.

                - Nossa... Que coincidência. Acho que vou convidar minha esposa pra assistir – ele sorriu enquanto a puxava pelas escadas.

                Os dois tiraram mais algumas fotos e se dirigiram ao local de venda, analisando os títulos disponíveis da temporada, que iam desde filmes antigos e famosos a animações infantis da Disney ou histórias reais de pessoas famosas.

                - Não sabia que você curtia o ABBA – Peter falou após comprarem ingressos para o musical Mamma Mia, inspirado na banda ABBA.

                - Não é o tipo de música que costumo escutar com frequência, mas meus pais sempre gostaram muito, e é uma boa música.

                - Tia May e tio Ben sempre gostaram deles também, embora ela não seja muito de ouvir música.

                Gastaram seu tempo passeando e relaxando até o horário em que precisariam estar no teatro, e felizmente tinham conseguido bons lugares.

                - Imagina se resolvessem fazer um musical do Homem Aranha – Gwen sussurrou para o amado durante uma pequena pausa do show.

                Peter fez esforço para esconder o riso.

                - Só você pra ter essas ideias – ele sussurrou de volta – Dá até medo do que iam inventar.

                - Você tá sendo pessimista, há muitas pessoas que gostam dele.

                - Queria que você escrevesse o roteiro então – ele sorriu brincando com ela e beijando sua têmpora, vendo Gwen sorrir e apertar sua mão mais forte.

                - Sou melhor escrevendo pesquisas, mas seria interessante.

******

Os dois se divertiram tanto que sequer perceberam em quanto tempo o show passou, e mais tarde saíram de mãos dadas, rindo como dois adolescentes despreocupados com a vida. Embora eles de fato ainda fossem, diferentes dos outros adolescentes do mundo, preocupações era o que não faltava para dois. Mas não essa semana, essa semana era deles. Caminharam para o primeiro local deserto que encontraram, de onde puderam voltar para o hotel de teia, passando pela recepção e não conseguindo segurar o riso quando estavam no elevador, lembrando-se de sua brincadeira pela manhã. Ao chegarem à porta, Peter segurou sua mão e a fez olhar para ele.

— Eu tenho uma surpresa pra você.

— Além de jantarmos no quarto?

— Não são só os artistas da Broadway que são criativos, dê algum crédito ao Homem Aranha – ele sussurrou a segunda frase – Veja tudo que eu já criei.

Gwen riu e se surpreendeu quando ele puxou uma venda do bolso, que ela não tinha ideia de quando ele tinha guardado lá, e deixou que ele a vendasse e a guiasse para dentro do quarto.

— Quando você me deixará ver?

— Calma, garota inseto – Peter disse ao beijar sua bochecha e tirar seu sobretudo e o dela para deixá-los mais confortáveis.

Gwen sorriu ao ouvir as mesmas palavras que dissera a ele tempos atrás enquanto limpava seus ferimentos e Peter tentava beijá-la. Ela o ouviu jogar as peças de roupa em cima da cama e disparar várias teias para algum lugar.

— O que você tá fazendo?

— Mas que garota impaciente eu tenho... Os bandidos tão ferrados se não responderem suas perguntas em dois segundos.

Gwen gargalhou.

— Pronto, apressada – ele disse descobrindo delicadamente seus olhos, arrumando seu cabelo louro com os dedos, e jogando a venda junto com os casacos.

As luzes das lâmpadas do quarto estavam baixas, e Gwen ficou boquiaberta com as belas velas coloridas, e aromáticas, que adornavam a mesa, o jantar pronto para os dois, e a mensagem feita com teias presas entre duas pernas da mesa, recriando com letras ainda mais bonitas o Eu te amo que ele escrevera para ela na ponte naquele dia terrível. Era a essa lembrança que Gwen se agarrava para não se prender às ruins do que aconteceu depois. Ela suspirou e não lutou quando as lágrimas se juntaram a seu sorriso.

                Peter beijou sua testa e as mãos dele apoiaram seus cotovelos quando as dela pousaram no peito de seu herói, onde ele a deixou chorar enquanto beijava seus cabelos. Gwen sentiu uma corrente elétrica de emoção passar por dentro de seu corpo. Ela nunca saberia o que fizera para merecer tanto carinho, mas estava mais do que grata e feliz por Peter dar isso a ela.

                - Eu adoraria ter feito isso pra você na torre do relógio, que nem naquela noite que você cuidou de mim e fugimos pela janela do seu quarto pra seus pais não verem, mas ainda estão concluindo os reparos, e não quero voltar lá tão cedo depois... – ele não quis terminar – E acho que você também não.

                Ela assentiu e o abraçou. Peter a segurou contra ele, afagando os fios dourados atrás de sua cabeça enquanto Gwen respirava e se acalmava.

                - Você é especialista em me deixar sem palavras – ela disse baixinho, e ele sentiu um sorriso em sua voz.

                Peter riu no mesmo tom.

                - Eu não sei como ia continuar minha vida sem você nela... Dessa vez nosso relógio não vai parar. Você vai ler isso até a teia dissolver daqui duas horas ou até pegarmos no sono, e nós vamos pra Inglaterra, de uma só vez.

                Ela lhe deu outro aceno de cabeça positivo e o enlaçou pelo pescoço, intensificando o abraço.

                - Eu te amo. Obrigada!

                - Você é minha direção, pra sempre.

Peter beijou sua têmpora, e Gwen finalmente o encarou, ainda o abraçando da mesma forma e sorrindo, lágrimas ainda marcadas em seu rosto, mas um brilho de felicidade indescritível em seus olhos verdes. Em sua perfeita sincronia, os dois fecharam os olhos e seus lábios se encontraram. Teriam se esquecido do jantar se a luz das velas não se fizesse tão presente mesmo com seus olhos fechados. Peter caminhou com ela para mais perto da mesa, sendo cuidadoso para não esbarrar em nada e acabar derrubando algo, e terminou o beijo quando os dois finalmente precisaram respirar.

Gwen admirou a mesa mais uma vez, sem nunca parar de sorrir, e olhou de volta para o marido com o toque suave dele em seu rosto. Peter secou suas lágrimas com os polegares e acariciou seu rosto no processo.

— Destruidor de maquiagens – ela brincou.

— Eu sei que essa também é à prova d’água. Sempre dramática – ele balançou a cabeça negativamente brincando com ela.

Gwen riu e admirou a mensagem escrita nas teias mais uma vez antes de dar a Peter mais um beijo e os dois se sentarem para comer.


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