Scientist escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 4
Capítulo 4 – Choque




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Capítulo 4 – Choque

Mesmo com Gwen viva, Harry devidamente preso e à beira da morte, e todos os equipamentos do Duende Verde destruídos, Peter ainda não conseguia não se sentir paranoico todos os dias e não ser assombrado pela quase morte de Gwen em seus sonhos. As pessoas diziam que essas coisas melhoram com o tempo e uma terapia, coisa que ele se imaginou precisando um dia, mas realmente precisar era muito diferente de imaginar. E como ele chegaria num terapeuta e diria com toda naturalidade do mundo que era o Homem Aranha e quase deixou a mulher que ama morrer numa batalha? Teria que ser alguém de extrema confiança.

É nisso que ele estava pensando, de novo, enquanto caminhava pela rua perto da casa de Gwen, não conseguindo evitar ir até lá depois de resolver algumas coisas do casamento, que seria em duas semanas. Fora acordado por seu sentido aranha essa manhã, e não sabia dizer se realmente havia algo errado ou se seus sentidos ainda estavam perturbados pelos acontecimentos recentes.

Ele e Gwen tinham conseguido, com certa dificuldade, confirmar suas inscrições na faculdade sem precisarem comparecer presencialmente, após provarem o que aconteceu, que ela esteve internada por alguns dias, e que precisavam de tempo para reorganizar a viagem. Após muita conversa, tinham tomado uma decisão radical. Todos das duas famílias se mudariam. Não tinham outros entes próximos na cidade, e Gwen não era a única em risco por causa do Homem Aranha. Ainda estavam acertando certos pontos desse tópico. Foi pensando nisso que Peter pegou o celular tocando no bolso, e sorriu ao ver o nome de Gwen, mas só até ouvir sua voz assustada na linha.

— Peter... – ela parecia estar chorando, e o sangue dele gelou, o que podia estar acontecendo agora?!

— Gwen...?! Onde você está?!

— Em casa. Sozinha. Minha mãe saiu com meus irmãos pra resolver umas coisas...

— Gwen... Se tem alguém perigoso com você, diga a chave está na portaria.

— Não, amor. Eu realmente estou sozinha, mas tem algo muito estranho acontecendo e eu não faço ideia do que é. O que eu disse a você que senti na UTI. Eu acordei sentindo de novo e agora... Você é o único pra quem posso pedir ajuda. É até bom eu estar sozinha. E acho que tenho febre...

O coração de Peter acelerou.

— Gwen! Mantenha a calma. Eu estou perto da sua casa. Vou entrar pela janela. Em que parte do apartamento você está?!

— No meu quarto.

— Não saia daí. Eu chego em menos de dois minutos!

— Certo – ela disse num sussurro, deixando Peter ainda mais apreensivo.

Ele guardou o celular e sumiu no beco mais próximo, tirando a roupa e se transformando no Homem Aranha em tempo record. Como prometido, em menos de dois minutos ele chegou ao prédio de Gwen e encontrou uma forma de chegar à janela dela sem ser notado durante o dia, logo entrando, deixando a mochila e a máscara de lado e olhando o quarto, ficando abismado com o que viu.

Gwen parecia nem ter coragem de olhar para ele enquanto estava presa à parede pelos pés e uma das mãos, numa típica pose de Homem Aranha. Peter só não ficou em choque por mais tempo por ser Gwen ali. E qualquer problema envolvendo sua noiva era uma urgência para ele.

Mil teorias começaram a se formar em sua cabeça quando ele caminhou até ela e subiu na cama.

— Peter... O que é isso? O que pode ter acontecido no hospital? – Perguntou ainda angustiada.

— Vamos discutir isso depois que eu te tirar daqui – falou calmamente – Fica calma, eu tô aqui, e eu não vou deixar você cair.

A tristeza que inundou seus olhos castanhos fez Gwen saber o quanto ele ainda se sentia culpado pelo incidente que quase resultou em sua morte.

— Peter... Não foi culpa sua. Vou falar isso até você absorver.

Ele sorriu, se aproximando dela, beijando sua têmpora, e a segurando por baixo dos joelhos e nas costas.

— Gwen... Como isso aconteceu?

— Eu só... Resolvi passar por cima da cama pra chegar do outro lado e minha mão prendeu na parede. Eu não consegui soltar e comecei a... Testar. E fiquei presa aqui.

Peter assentiu.

— Eu não sei se isso é o que tô pensando, mas você precisa se acalmar. Também aconteceu comigo da primeira vez. Foi dentro do metrô, tive sérios problemas por causa disso.

— E você quer que eu me acalme depois de saber disso?

— Sim... Com o tempo se torna instintivo. Você faz, controla, e nem percebe. Respira fundo, Gwen. Relaxa – Peter sussurrou beijando o rosto da amada – Eu tô aqui.

Gwen seguiu as instruções e se confortou com os braços e os lábios dele contra ela. Em poucos segundos a pressão na palma de sua mão aliviou, e conseguiu encolher o braço contra o corpo.

— Isso... – Peter sorriu – Tá indo muito bem, querida.

Gwen sorriu, apesar da situação estranha e desconfortável, era a primeira vez que ele a chamava assim.

— Vou te tirar daí agora – Peter falou com seu sorriso travesso.

— O que você...?

Ele a calou com um beijo cheio de carinho e zelo, abraçando-a contra ele, fazendo com que Gwen nem percebesse quando conseguiu desprender os pés da parede, e Peter a acomodou no colo, lentamente sentando na cama com ela. Ele a observou preocupado quando se separaram, levando a mão livre a sua testa.

— Você tem febre. Aconteceu comigo também... Se bem que senti mais calafrios do que alteração de temperatura – ele disse pasmo.

— Peter... O que tá acontecendo comigo?

— Os outros sintomas. Você ainda sente?

Gwen o observou apreensiva antes de responder. A expressão de Peter transbordava preocupação e o que lhe parecia medo.

— Não. Foi só por um instante quando acordei.

— Gwen... O que você lembra da dor que te acordou no hospital?

— Pareciam agulhas. Pequenas, no entanto. Ardeu. Como um inseto.

Ela riria da expressão de Peter se a situação não fosse preocupante. Viu o noivo pegar o celular dela em cima da cama.

— Com licença, Gwen.

Ela assentiu e destravou o aparelho para ele. Por alguns minutos Peter pesquisou alguma coisa, e ela se perguntou como as respostas para algo assim estariam na internet. Gwen estava acima da média no quesito inteligência, e tinha suas próprias suspeitas do que estava acontecendo. Se estivesse certa, como isso afetaria a vida deles?

Peter apertou o celular contra a testa e fechou os olhos, nitidamente frustrado ao encontrar o que queria.

— Não... Não, não, não...

— Peter...? Se for o que tenho em mente... Ou se não for também, diga logo.

Ele a encarou, seu rosto tomado por apreensão, e entregou o celular a ela. E lá estava. Uma aranha geneticamente modificada fugira recentemente do que ainda restava da Oscorp. Tinha constituição mais robusta que uma aranha comum, era branca ao invés de preta como quase sempre, e linhas pretas e rosa choque adornavam sua cor alva. Fora recapturada no dia anterior nas imediações da própria Oscorp, onde descobriram que a aranha fizera um ninho, por isso voltou para perto. Mas nenhum sinal de ovos ou filhotes, para o alívio de todos.

— Foi o que temi – Gwen falou simplesmente – Então foi isso que você passou quando foi picado? Isso explica como eu consegui quebrar aquele copo só de tocar nele hoje de manhã... Minha mãe achou que eu tinha derrubado sem querer. Como eu não tinha explicação, deixei que ela pensasse isso.

Peter a olhou chocado, depois permaneceu em silêncio por um tempo, parecendo até em transe.

— Peter...?

— Gwen! Você não tem noção do que isso significa? Um dos motivos de nos mudarmos é pra manter você mais segura, e agora você é como eu. Apesar das coisas boas de ser o Homem Aranha, é algo que não desejo pra ninguém. As pessoas que amo sempre entram na conta dos que resolvem me tomar como inimigo! Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades. E por mais ciente que eu fique disso a cada dia, nem sempre parece que posso lidar com elas como deveria.

Gwen o olhou com tristeza, suspirando e sentindo os olhos umedecerem ao alcançar mais um estágio de entendimento do que Peter queria dizer com às vezes ser o Homem Aranha dói.

— Gwen... Desculpe.

Ela balançou a cabeça negativamente e ergueu a mão para pedir que ele se aproximasse, o abraçando perto de si e beijando seus cabelos quando Peter soltou um suspiro de dor.

— Eu não quero isso pra você.

— Eu sei – Gwen disse acariciando sua nuca – Mas aconteceu. E vamos lidar com isso. E eu preciso da sua ajuda agora mais do que nunca.

Peter ficou em silêncio, com o rosto enterrado em seu pescoço.

— Pense no lado bom disso. Foi o que me trouxe de volta pra você. Eu ainda podia melhorar naturalmente, mas quem sabe quando, e quem sabe com que sequelas? Eu vou poder me defender melhor agora quando você não estiver por perto. Quedas não serão mais um problema, se você me ajudar com as teias...

— Eu não vou te deixar de novo.

— Eu sei.

— O que vamos fazer?

— Vamos descobrir juntos. Não tem nenhum psicopata atrás de nós agora. Temos tempo.

Peter suspirou ao pensar em falar algo e desistir.

— Estamos bem – Gwen sussurrou – Estamos seguros. Estamos aqui juntos. E eu preciso que você me ensine a controlar isso. Não pretendo contar a minha mãe e meus irmãos. Ao menos não acho que devo... Tia May sabe?

Peter finalmente se ergueu para encará-la.

— Sim... Mas levou um bom tempo pra descobrir.

— Você contou?

— Mais ou menos... Foi uma situação inusitada... Eu vou fazer lançadores pra você. Tenho feito testes pra melhorar os meus, aumentar o alcance e a velocidade. Quero que aprenda a usar o mais rápido possível.

Gwen concordou.

— Se for igual como foi comigo, essa febre vai passar ainda hoje. Sua visão vai melhorar. Você vai ficar fisicamente mais forte, ter reflexos melhores e mais rápidos. Tem o sentido aranha, o tinido... Você vai sentir situações de perigo por perto e vai saber quando eu estiver por perto. E eu preciso te ensinar a lutar – ele deslizou a mão pelos cabelos em nervosismo – Mas comigo tudo isso aconteceu imediatamente e só uma vez, não dias depois... Talvez a substância que a aranha injetou precise do corpo em bom estado pra se manifestar, por isso te curou antes. Não é a mesma que me picou de qualquer forma... A Oscorp tem que parar com isso – Peter falava pensativo, agora mais para si mesmo – Temos que nos casar rápido. Vai ser difícil te tirar muito daqui até lá.

Gwen sorriu.

— É uma ótima desculpa.

Ele devolveu o sorriso, apesar do quão perturbado estava.

— Preciso aprender a controlar isso antes do casamento. E o que vou fazer com a força? Minha mãe vai suspeitar se eu quebrar coisas toda hora. São os meninos que costumam fazer isso, não eu.

— Fácil. Coloque a culpa nos seus irmãos.

Peter gargalhou quando Gwen riu e deu um tapa em seu ombro.

— Viu como é simples? Sua mão não grudou em mim. Com a força extra é a mesma coisa. Metade é se manter calma, a outra é se habituar e pegar o jeito. E eu concordo sobre o casamento, mas essa é uma desculpa que não podemos usar. Você vai ter que arrumar outra. Ou podemos nos virar pra inventar desculpas por mais duas semanas até lá, Mulher Aranha.

— Ei, achei que eu mesma pudesse escolher meu nome de heroína.

— Nem fui eu que escolhi o meu. E você ainda é uma aprendiz. Só vai se tornar heroína se for muito necessário e se eu te promover.

— Ei!

Peter riu e beijou a testa da amada, ficando de joelhos com ela no colo e a deitando da forma certa na cama, puxando as cobertas sobre ela em seguida e sentando-se a seu lado.

— Durma um pouco. A febre vai ter melhorado quando acordar.

— Você podia deitar aqui comigo.

— Sua mãe e seus irmãos podem voltar a qualquer momento. Diferente de quando venho te fazer companhia de madrugada, podem querer entrar aqui pra ver você. Todos ainda estão meio paranoicos.

— Você tem razão. Precisamos no casar logo.

Peter riu e se inclinou para beijá-la nos lábios.

— Dorme, Gwen Aranha – ele sussurrou.

Ela riu e devolveu o beijo antes de se acomodar sob os lençóis.

— Você pode esperar minha mãe voltar antes de ir?

— Você sabe que nem precisa me perguntar isso. Eu tava resolvendo algumas coisas do nosso dia especial no caminho pra cá. Eu tenho que concluir antes de ir pra casa, mas eu venho ver você de novo antes. E quero que me ligue se qualquer coisa acontecer. Se você ficar presa em algum lugar de novo, e sua mãe ou irmãos aparecerem, fique em silêncio total, tem uma chance de nem perceberem que você tá lá. E lembre-se sempre, se estiver calma não vai ficar presa e nem cair.

— Ainda bem que não tenho medo de altura, nem depois daquilo.

— Isso ajuda bastante.

Gwen assentiu e Peter a beijou uma última vez. Ela fechou os olhos, ele segurou sua mão e acariciou seu cabelo até a respiração de Gwen denunciar que ela estava realmente dormindo.

Meia hora depois Peter ouviu passos e vozes conversando, e já tendo se precavido escondendo sua máscara e seu uniforme com as roupas que usava antes, simplesmente permaneceu sentado na beirada da cama de Gwen, ainda brincando com os cabelos da amada, esperando que alguém entrasse para verifica-la. A mãe de Gwen abriu a porta em silêncio, ficando surpresa ao ver Peter, e sorrindo para ele.

— Bom dia, Peter.

— Bom dia, senhora Stacy – ele devolveu o sorriso.

— Aconteceu alguma coisa com Gwen? – A mulher perguntou com apreensão.

— Eu estava aqui por perto resolvendo algumas coisas do nosso casamento e ela me ligou preocupada porque se sentiu um pouco mal quando acordou.

— Sim, ela estava meio tonta e se sentindo fraca. Nós tivemos um milagre, mas ela ainda precisa de repouso.

— Foi o que eu disse a ela.

— Ela passou mal de novo?

— Sim, um pouco... Então ligou pro primeiro número que apareceu nos contatos, e por sorte eu estava perto, então vim aqui fazer companhia e cuidar dela enquanto vocês voltavam. Ela tá com um pouco de febre, mas deve passar logo.

Helen ficou em silêncio por um instante, perdida em sua preocupação com a saúde da filha, mas logo voltou sua atenção para Peter.

— Você é um anjo. Gwen não poderia ter escolhido alguém melhor.

Peter sorriu.

— Você pode ir terminar o que estava fazendo se quiser, eu ficarei com ela daqui a pouco. Mas pode ficar também se desejar.

— Eu vou ficar com ela até a senhora chegar se não for incômodo.

— De forma alguma. Só vou cuidar dos meninos antes. Obrigada, Peter.

Ele sorriu de volta antes dela fechar a porta e sair. Olhou para Gwen e sentiu seu coração preenchido por uma paz que nem se lembrava quando sentira pela última vez, apesar da preocupação com o que o futuro traria agora que ela também tinha poderes. Ajoelhou-se ao lado da cama para ficar mais perto dela e beijou seus cabelos enquanto velava seu sono.


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