Scientist escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 29
Capítulo 29 – Despedida




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Capítulo 29 – Despedida

 

               Depois de passearem por pontos turísticos importantes de Oxford e no dia seguinte comemorarem o aniversário de cinco anos das trigêmeas com outras crianças do condomínio e alguns amigos, duas semanas atrás, ainda indo passar algum tempo no Cutteslowe and Sunnymead Park, conhecido por ter atrações para as crianças, hoje estavam seguindo para aproveitar os sorvetes artesanais da iScream Gelateria, a mesma sorveteria aonde Peter e Gwen haviam ido celebrar após os primeiros exames de Gwen quando descobriram sua gravidez cinco anos atrás. Depois seguiriam para a Excelcior Plush. Dali algumas semanas eles partiriam para Nova York, e queriam aproveitar ao máximo todos os lugares que gostavam de Oxford antes de se despedir.

                Tinham ligado para Richard no momento da festa, as meninas gostavam do avô, e ele delas. Acabaram não conversando muito, devido à animação em que as três estavam para brincar e correr com os amigos pelo jardim, mas ainda fora um momento memorável.

As crianças os puxaram com empolgação ao verem a placa de entrada da sorveteria quando chegaram. Peter e Gwen riram, sentindo o coração explodir de felicidade. Atrás deles, May e Helen conversavam, e os irmãos de Gwen faziam o mesmo uns com os outros e com Jane.

                - É fofo! Parece uma casinha de boneca gigante! – Emma disse com um sorriso enorme.

Tinha algum tempo que eles tinham vindo com as filhas a esse lugar, e provavelmente as lembranças das três ainda não eram claras o suficiente para o lugar não parecer mágico e novo a cada vez que o viam.

                - Agora que você falou... Eu concordo totalmente – Gwen respondeu à filha.

                Em cinco anos o local não havia mudado muito. Parecia uma grande cabine branca com enormes janelas de vidro e uma faixada azul Tiffany com o nome do local circulando a cabine retangular. O interior era iluminado, com paredes brancas, móveis de madeira clara e banquinhos feitos com galões metálicos de leite e assentos da mesma madeira. Pelos armários e mesas estavam distribuídas casquinhas de sorvete tradicionais e cobertas com chocolate, várias caixas pequenas e coloridas com adornos comestíveis para os sorvetes, lustres que pendiam do teto e flores cor de rosa enfeitando todo o local, tornando-o extremamente aconchegante e tranquilo. Algumas placas decorativas estavam acima dos armários, e um grande freezer exibia vários potes grandes de sorvete de muitas cores diferentes, todos acompanhados por colheres para sorvete feitas de um acrílico transparente em cores variadas.

                Sendo ainda muito cedo, não havia ninguém além deles no local, e o casal simpático de meia idade que sempre trabalhava no lugar os cumprimentou com um sorriso.

                - São os primeiros de hoje – o senhor disse – Vocês por acaso são aquele casal... Que veio aqui quando estavam esperando o primeiro filho, e depois voltaram algumas vezes com três bebês e depois com três menininhas?

                - Sim, somo nós – Peter falou, também sorrindo – Elas são os bebês.

                - Elas parecem ainda mais lindas cada vez que as vemos – a senhora sorriu, sendo retribuída com sorrisos das três crianças – O que vão querer hoje?

                Pouco depois, os dez preencheram o balcão enquanto comiam e conversavam, acompanhados por tantos sabores de sorvete diferentes que nem tinham ideia, com destaque para o sorvete azul de algodão doce, adornado por calda de menta e MM’s, que as trigêmeas tinham escolhido.

                - Em Nova York tem uma dessas? – Hope perguntou.

                - Tem várias, amorzinho – Peter respondeu – Não exatamente iguais a essa, mas são muito legais também. Quando eu e a mamãe nos casamos fomos a uma sorveteria que servia até sorvete de carvão.

                As trigêmeas emitiram um som de repúdio com uma careta, fazendo seus pais rirem.

                - Deve ser horrível – Destiny falou.

                - Talvez não, tem quem acredite que carvão faz bem pra saúde – Philip disse à sobrinha.

                - Mas não é por isso que é gostoso – a pequena respondeu – Você já comeu pra saber?

                - Não.

                - Na próxima vez que apostarmos algo, o perdedor vai comer sorvete de carvão e peixe pra nos dizer se é bom – Gwen falou.

                Todos na mesa riram.

                - Estão falando do lugar aonde fomos antes de nos mudarmos? – Helen perguntou.

                - Sim. Que eu saiba ainda existe.

                - Então vão deixar Oxford? – O senhor perguntou do balcão.

                - Sim... – Peter começou – Nós nem pretendíamos ficar aqui por dez anos, só íamos estudar e voltar. Mas as meninas nasceram e acabamos ficando, e aproveitando pra estudar mais. Agora vamos voltar como tínhamos planejado. Estamos num tour de despedida pela cidade.

                - Que pena – a senhora falou com um sorriso triste – Vamos sentir falta das passagens de vocês por aqui, são pessoas difíceis de esquecer. Venham nos ver quando estiverem por aqui de novo.

                - Tenha certeza que viremos. As crianças nunca deixariam passar – May falou, fazendo-os rir novamente.

                Uma hora depois eles estavam na loja de pelúcias. Os irmãos de Gwen e Jane foram direto para a sessão com bonecos temáticos de super heróis, May e Helen estavam olhando animais de pelúcia com as meninas, e Peter e Gwen admirando uma enorme prateleira com vários mini Casais Aranhas.

                - Eu nunca pensei que ia chegar nesse ponto.

                - Nem eu – Gwen respondeu.

                - Podíamos ficar ricos cobrando pelos diretos de uso da nossa imagem.

                Ela riu.

                - Não poderíamos, porque descobririam nossa identidade no processo, querido.

                Peter riu em concordância, mas o momento foi interrompido pelo sentido aranha, e os dois se entreolharam, depois verificando onde estavam os outros membros da família.

                - Vou dizer a tia May que vamos ao banheiro, então saímos e tentamos resolver isso rápido.

                - Certo.

                - Tia, Helen, eu e Gwen vamos sair rapidinho pra ir ao banheiro. Fiquem de olho nas meninas pra nós, certo?

                - Claro, querido – May lhe respondeu com um sorriso que deixava claro que sabia suas intenções.

                - Não encontraram um aqui dentro da loja mesmo? – Helen perguntou.

                - Não sabemos, vamos procurar – Gwen lhe disse.

                Em menos de dois minutos o casal tinha saído da loja por uma das entradas mais vazias e se escondido em um lugar alto do polo comercial em que estavam, onde esconderam seus pertences e se colocaram em seus trajes.

                - Não parece ter nada errado acontecendo – Peter falou enquanto olhavam em volta, até um rangido alto chamar a atenção deles.

                - Parece ser nos fundos da loja.

                Os dois seguiram de volta ao local e rastejaram pelas paredes até chegar ao lugar, que apesar de isolado, não tinha teto como o restante da loja. Viram o mesmo velhinho de óculos escuros que sempre os atendia arrumando algumas caixas, sem perceber que a pilha maior não estava firme e começava a pender. Era tarde quando o idoso se virou para ver a pilha caindo, dando a Peter e Gwen apenas um segundo para que ela o puxasse do chão para a parede enquanto Peter prendia as caixas com teias, uma delas ainda caindo onde o homem estava um segundo atrás.

                - Nossa, que sorte eu tive – ele falou.

                - Como bichos de pelúcia podem pesar tanto? – Peter se questionou enquanto reorganizava as caixas, dividindo-as em duas pilhas menores.

                Gwen levou o idoso para o chão, e pode ver Excelsior escrito em seu colete, que ele sempre usava quando estava ali.

                - O senhor não devia deixar as pilhas tão altas quando não tiver ninguém ajudando – Gwen sugeriu, ajudando o marido a finalizar a tarefa e também reduzir a altura de outras pilhas.

                - Você tem razão... No final das contas não importa qual idade temos, sempre temos algo a aprender, não é? – O homem sorriu.

                Gwen riu simpaticamente em concordância.

                - Vamos nos lembrar disso – ela falou.

                - A propósito, nós já vimos nossas mini cópias que você tem na sua loja. Gostamos muito – Peter falou.

                - Eu fico feliz em saber, Casal Aranha – ele sorriu – Agora preciso voltar ao trabalho. Obrigado por organizarem o estoque.

                O idoso voltou para dentro pela porta dupla dos fundos do estabelecimento, deixando Peter e Gwen sozinhos.

                - Você também acha que ele parece saber mais do que aparenta? Eu sempre tenho essa impressão dele quando o encontro.

                - É bom saber que não sou doida, porque sempre pensei o mesmo.

                Eles deram de ombros, voltando para o topo para verificar se havia algo mais de errado acontecendo, e não encontrando, puderam retornar à loja antes que o restante da família estranhasse a demora.

                - Vocês voltaram – o idoso sorriu ao vê-los todos juntos dentro da loja, fazendo Peter e Gwen congelarem por um instante, em dúvida se ele os havia reconhecido – Faz tempo que não os vejo aqui – ele disse, deixando-os finalmente respirar aliviados.

                - Viemos nos despedir. Vamos voltar pra Nova York – Peter falou.

                - É mesmo? Então vão conhecer nossas lojas em Nova York. A Excelsior Plush está em todos os lugares possíveis pra alegrar as pessoas.

                - É bom saber disso, elas adoram vir aqui – Gwen falou, indicando as três filhas, que no momento estavam maravilhadas com a prateleira do Casal Aranha.

                - O senhor já viu o Casal Aranha? – Destiny perguntou empolgada.

                - Acredita que eles acabaram de me salvar de um desabamento acidental no estoque da loja?

                - Sério?! – Agora eram Simon e Howard que tinham se empolgado.

                - Sim, eu estava organizando o estoque e de repente BOOM!

                As crianças riram, contagiando o restante deles também.

                - Aí a Mulher Aranha me puxou pra longe e o Homem Aranha segurou as caixas, e me salvaram de um vexame. Ainda me ajudaram a arrumar tudo depois.

                - Eles tavam aqui e nós nem vimos? – Philip lamentou.

                - Você nunca os viu, rapaz?

                - Só na TV ou passando no alto em algum lugar da cidade – Jane respondeu por ambos.

                - Não desanimem, todos temos nossos dias de sorte. Espero que no de vocês, não precisem ser salvos de algo pra vê-los.

                Philip riu.

                - Que assim seja – ele respondeu.

******

                Mais tarde, após todos já estarem em casa, e as crianças com May, Peter e Gwen estavam revisando documentos e alguns detalhes para viajarem dali alguns dias. A loura se cansou e suspirou depois de alguns minutos, levantando-se para poder se espreguiçar.

                - Quer ir dormir? Podemos terminar isso amanhã – Peter falou, também se levantando.

                - Não tô com sono ainda, só... Quero fazer algo mais relaxante agora.

                Peter sorriu, puxando-a para o quarto e procurando algo em seu celular. Ela sorriu quando uma música das Spice Girls começou, e reconheceu a playlist que os dois tinham feito juntos ao longo de tantos anos. Seu herói deixou o celular no criado mudo, e caminhou até ela, puxando-a pela cintura e pacientemente esperando que Gwen se ajustasse a ele. Ela entrelaçou seus dedos na mão livre dele e repousou a outra mão em seu ombro enquanto trocavam um sorriso e se moviam pelo quarto.

                - Mais relaxada agora?

                - Bastante – ela respondeu repousando em seu peito, e os dois se abraçaram.

Ficaram assim por duas músicas, então os olhos castanhos dele a olhavam com uma profundidade e amor que Gwen não sabia estimar enquanto dançavam lentamente pelo quarto, ao som de Too Much. E Peter até parecia perdido ou hipnotizado em seus olhos verdes. E aqui ela constatou, mais uma vez, o que estava em seus pensamentos desde o primeiro abraço dos dois quando se tornaram namorados no ensino médio. Isso duraria para sempre, isso era um amor verdadeiro, não havia mais dúvida, não precisavam mais de tempo e vivência para obterem essa resposta. E ela acreditaria cegamente se alguém lhe dissesse que os dois já tinham vivido juntos e se amado intensamente em todas as vidas que viveram antes dessa.

Ambos fecharam os olhos em sincronia e uniram suas testas, continuando a dançar sem dizer uma palavra, e por um momento perdendo a noção de que eram dois seres, dois corpos, e duas almas separadas. Talvez até mesmo perdendo a noção de que existiam fisicamente, de que eram algo além de uma consciência de paz e leveza. Gwen só acordou desse torpor ao sentir os lábios do marido nos seus, e prontamente o retribuiu, sentindo uma das mãos dele mergulhar entre seus fios dourados e se moldar a sua cabeça carinhosamente. Eles paravam para respirar às vezes, e continuavam o beijo em seguida, quase como tinham feito em sua lua de mel. Mas dessa vez não havia o nervosismo e as dúvidas, Peter não estava preocupado com a melhor forma de deixá-la confortável ou se lhe causaria dor, Gwen não estava preocupada em desapontá-lo ou com o que poderia acontecer. Eles já sabiam de tudo isso, e um era tudo que o outro precisava agora.

— Eu não quero que isso acabe... Nunca – Gwen sussurrou contra seus lábios.

— Isso o que?

— Nós.

Peter abriu os olhos para vê-la, e sorriu.

— Não vai... Eu sei que muitos casais fazem promessas eternas que se quebram por várias razões ao longo do caminho. Mas quando nos casamos eu fiz uma promessa que pretendo manter. E isso não tem nada a ver com votos religiosos ou papéis assinados pra um cartório. É algo muito maior. Que nem tem nome, porque é profundo demais pra entender completamente. E o melhor disso é que não tem a menor importância não saber. É algo que só se sente.

— De onde você tira essas coisas? – Gwen sorriu, com os olhos brilhantes de emoção.

— Eu fui poeta numa vida passada – ele brincou sorrindo, vendo-a gargalhar – Como disseram naquela novela brasileira que Helen e tia May assistiram uma vez. Casamentos podem ser desfeitos. O que nós temos é algo muito maior que isso, que nunca termina, que é grande demais pra definir, é um tempo que não existe, como um instante sendo sentido pra sempre. Eu vou morrer se um dia você ficar longe de mim.

Gwen inspirou fundo para não chorar quando emoldurou o rosto do amado com as mãos, vendo seus olhos escuros também cheios de lágrimas e urgência, uma urgência boa, de confirmar outra vez tudo que havia acabado de dizer.

— Nós fomos tão felizes aqui. Eu vou sentir saudade – Peter falou – Mas é bom voltar pra casa. E agora eu quero viver tudo de novo lá com você, colocar memórias novas e melhores em cima de todas as que nos causaram dor.

— Eu também, eu quero construir isso com você.

Peter assentiu.

— Eu te amo, Gwen... Meu anjo.

Ela sorriu.

— Adoro quando você me chama de anjo... Também te amo, Garoto Inseto – Gwen respondeu antes de receber os lábios dele nos seus novamente.

Suas meninas estavam com cinco anos, e dormindo na casa de tia May hoje, ajudando-a com suas malas e se divertindo enquanto eles dois terminavam as suas e as delas. Eles as amavam tanto, mas estavam gratos pela noite sozinhos, porque provavelmente não dormiriam tão cedo. E ainda havia dias até a viagem. Eles mereciam essa noite para eles.

A música acabou na playlist do celular, e mudou para Rooftop Kiss, de James Horner. Os dois continuaram se beijando enquanto se moviam em perfeita sincronia. E quando estavam deitados juntos em sua cama, todas as suas roupas jogadas aleatoriamente pelo quarto, e Peter sobre ela, abraçando-a e beijando sua bochecha apaixonadamente, Gwen se permitiu abraça-lo de volta e fechar os olhos, e sentiu que estaria em paz se desaparecesse desse mundo agora. Mas ela estava longe de ter essa intenção. Eles ainda tinham muita vida pela frente, muita felicidade para compensar o começo difícil de sua história juntos, e três pequenos anjos para cuidar.

 


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Notas finais do capítulo

A novela a qual Peter se referiu é "Deus Salve o Rei", transmitida na Rede Globo de 2018 até 2019.



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