Scientist escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 28
Capítulo 28 – Nós vamos te segurar




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Capítulo 28 – Nós vamos te segurar

                - Pai... – Peter começou, notando o quanto Richard ainda ficava emocionado desde que ele começou a chamá-lo assim de novo, algumas semanas atrás – Nós temos algo pra contar. Queríamos ir devagar.

                - Eu entendo – ele respondeu – O que seria?

                - Há alguém que se empolgou quando ouviu falar de você. Estão dormindo agora, mas você pode falar com elas numa próxima vez.

                - Você disse que tem uma família grande agora. Quem seria?

                - O senhor tem três netas – Gwen respondeu, sentada ao lado de Peter na cozinha enquanto falavam por chamada de vídeo mais uma vez, eram dez da noite em Oxford agora.

                - Três?! Eu achei que vocês teriam pelo menos uma criança agora. Ou talvez nenhuma, devido ao trabalho— disse surpreso – Quais as idades delas?

                - Quatro – Peter lhe disse.

                - E as outras duas?

                - Todas têm quatro – Peter riu com alegria.

                - Gêmeas?!

                - Vão fazer cinco anos dia 6 de novembro – Gwen falou – Pretendemos viajar pouco depois disso, talvez já passar o Natal aí.

                Richard sorriu, o que era raro para ele. Mesmo quando criança, raramente Peter via seu pai sorrir quando não estava se divertindo com a família ou com o filho, dadas as mil preocupações de seu trabalho perigoso sempre ocupando seus pensamentos. Talvez... Talvez, agora isso se tornasse mais frequente.

                - Como elas são?

                - Destiny parece comigo, mas tem os olhos de Gwen. Ela é a mais velha. Hope é ao contrário, tem cabelos dourados e olhos castanhos. E Emma... Nenhum de nós esperava. Ela já nasceu ruiva, e tem olhos verdes também. Parece um clone de Gwen. Mas facilmente você as confunde se estiverem com o cabelo escondido num chapéu ou numa touca.

                Peter pegou uma foto e a posicionou na frente da câmera, para que Richard visse as três brincando sorridentes num parque durante o verão.

                - Elas são lindas, filho! Sua mãe as amaria muito.

                - Eu tenho certeza que sim. Tia May é louca por elas.

                - Como sempre foi por você... Sua família sabe, Gwen? Sobre as aranhas.

                - Não. Nós achamos melhor não contar. E dois dos meus irmãos ainda eram crianças na época. Não achei que saberiam lidar com isso. Pensamos que talvez chegue um dia em que seja inevitável, e de vez em quando falamos algumas coisas que parecem não ser nada pra que comecem a se acostumar com a ideia. Às vezes desconfiamos que minha mãe sabe, mas ela nunca confirmou isso.

                - As meninas têm algo disso?

                - Não sabemos ainda – Peter respondeu – Elas são muito inteligentes, mais do que consideramos normal pra idade delas às vezes. Mas... São filhas de Gwen.

                Gwen riu, aceitando o elogio.

                - Até agora não notamos nada – Gwen continuou – É por isso que há anos nós estamos tentando inserir a ideia pra minha mãe e irmãos, como se fosse brincadeira. Se algo acontecer quando nós dois não estivermos por perto, não vai ser um choque tão grande.

                - É uma boa ideia – o mais velho disse – Elas sabem?

                - Não – Gwen voltou a responder – Queremos que elas se tornem mais responsáveis e tenham um mínimo de maturidade pra lidar com isso antes.

                Richard concordou com um aceno de cabeça.

                - Alguém acordou – Peter disse baixinho, olhando na direção da entrada da cozinha e tentando ouvir novamente os passos de uma das filhas.

                Elas eram tão parecidas que até o som de seus passos era semelhante, mas eles vinham aprendendo a distinguir. E provavelmente era Hope quem estava acordada. Ficaram em silêncio enquanto ouviam a pequena caminhar pelo corredor, e finalmente aparecer de pijama e pantufas na entrada da cozinha, abraçada a seu ursinho de pelúcia creme. Todas elas tinham um igual, com a cor parecida com a de seus cabelos.

                - Ei, princesa – Peter chamou – São mais de dez da noite. Teve um pesadelo?

                - Não. Perdi o sono. O que tão fazendo?

                - Não é assim que estávamos planejando, mas... Quantos planos já não mudamos? – Peter questionou baixinho para a esposa, que acenou positivamente, ajudando-o a decidir.

                - Vem cá – Peter chamou a filha, afastando um pouco a cadeira da mesa e sentando-a em seu colo – Você não ficou com medo do Coelhosomem, não é? – Ele brincou, rindo junto com a lourinha enquanto lhe fazia cócegas beijando seu pescoço.

                - Não – ela respondeu entre as risadas.

                Olhando para o monitor, viram Richard sorrir novamente, e uma nova emoção inundar seus olhos. A última vez que Peter vira esse olhar em seu rosto fora um dia antes de tudo acontecer, quando seus pais estavam brincando com ele na sala de estar.

                - Querida – Gwen chamou – Você não disse que queria conhecer seu avô? Estávamos conversando pra combinar isso, mas já que você acordou, pode falar com ele agora se você quiser.

                Hope ficou boquiaberta e olhou surpresa para a tela, ficando vários segundos em um quase transe para Richard.

                - Boa noite, pequena – ele disse.

                - Boa noite – Hope respondeu sem nenhuma timidez – Você parece com o papai.

                Richard riu com alegria.

                - Destiny! Emma! Venham aqui!

                - Hope! – Gwen a advertiu baixinho – Se acordarmos os vizinhos vamos ter problemas, amor.

                - Desculpa! – Ela exclamou, pulando do colo de Peter e correndo de volta para onde tinha vindo.

                Os três adultos se entreolharam e riram surpresos a princípio, mas logo três pares de pezinhos entraram correndo na cozinha quando Hope voltou sem o ursinho e puxando as irmãs pela mão. Destiny bocejou e coçou os olhos com a mão livre, um pé calçado na pantufa cor de rosa, outro descalço.

                - Sua doida – Emma reclamou, fazendo os pais rirem – Por que fez isso?

                - Ela não fez por mal, Em. É que seu avô tá aqui – Gwen disse indicando a tela do celular.

                - Sério?! – Destiny e Emma exclamaram, subindo sozinhas no colo dos pais para alcançar a mesa.

                - E eu?! – Hope reclamou.

                - Tem espaço pra todo mundo – Peter lhe disse, puxando-a para se sentar em sua outra perna, ao lado de Destiny.

                - Parece com o papai – Emma disse.

                - O senhor também é cientista?! – Destiny perguntou.

                - Sim, eu sou, querida.

                - Papai e mamãe tem um laboratório que não deixam a gente mexer.

                - Pra não explodir que nem nos filmes – Hope falou, fazendo os adultos rirem.

                - Então vocês já entraram lá?

                - Sim – Emma respondeu.

                - Mas sem mexer. Elas sabem que os itens do laboratório podem ser perigosos quando você não sabe usá-los. Mesmo assim sempre deixamos trancado – Peter respondeu, seu olhar dizendo a Richard tudo que ele precisava para saber que, na verdade, as crianças não tinham visto tudo que havia lá.

                - Por que o senhor tava longe? – Emma fez a pergunta que eles sabiam que viria de alguma delas em algum momento, só não esperavam que fosse agora.

                Richard ficou um tempo em silêncio, pensando em como responder tal coisa a alguém que tinha apenas quatro anos, e tentando se lembrar de como Mary explicaria isso a Peter quando ele tinha essa idade.

                - Vocês gostam de bolo?

                - Sim! – As três exclamaram juntas.

                - Já viram alguém fazer?

                - Já – Destiny falou.

                - Então devem saber porque precisamos seguir uma receita – Richard falou, vendo as três assentirem – O bolo precisa de açúcar pra ficar bom, mas se você colocar mais do que deve, ou trocar por sal, fica ruim. Quando eu fui viajar, eu estava fazendo um trabalho pra ajudar as pessoas, mas alguém que trabalhava comigo não queria seguir a receita das fórmulas, e isso podia ser perigoso pra os outros. Então eu viajei e levei as receitas, pra que ninguém as usasse errado.

                - E o que aconteceu com essas pessoas?

                - Foram fazer outras coisas. Eles não querem mais minhas receitas – Richard simplificou, não querendo detalhar nada pesado da história para as crianças.

                - Ainda bem – Hope falou.

                - Vocês deviam voltar a dormir ou vão perder o sono de vez – Peter falou.

                - Ah, não – as três reclamaram.

                - Ouçam seu pai, dormir é muito importante. Quando crescerem não terão tanto tempo pra dormir como agora. Podemos conversar de novo outro dia.

                As três pareceram pensar quando Gwen deu uma sugestão.

                - E se colocarmos o colchão na sala, fizermos um forte com as cadeiras e os cobertores, e dormirmos nós oito lá?

                - Mas mamãe... – Destiny contou nos dedos, fazendo Richard trocar um olhar admirado com o filho por sua neta tão pequena já saber contar – Somos só cinco.

                - E seus ursinhos? – Gwen sorriu.

                - Vamos pro forte! – Emma pediu empolgada.

                - Se despeçam do vovô e vamos pegar as coisas.

                - Tchau – as três disseram juntas.

                - O senhor vem nos ver um dia? – Hope perguntou.

                - Nos veremos quando vocês estiverem aqui – Richard respondeu.

                - O que achou delas? – Peter perguntou quando Gwen também se despediu e saiu junto com as três para buscar algumas coisas para o forte.

                - Encantadoras e sociáveis como sua mãe. E muito inteligentes e fluidas pra quatro anos de idade.

                - Não é? – Peter sorriu – Obrigado por ligar. Eu tenho que ir agora.

                - Vá cuidar das suas filhas. Você me orgulha como sempre pensei que seria.

                Peter sorriu outra vez, não sabendo o que dizer e apenas assentindo.

                - Boa tarde, pai.

                - Boa noite, Peter.

                Peter desligou, tomando uma respiração profunda e absorvendo mais esse momento. Ainda era estranho falar com Richard Parker, ainda era estranho ligar o celular e ver seu pai morto. E mais estranho ainda por sua mãe não estar ali, confirmando que ela havia sumido para sempre sem que nunca mais pudesse vê-la e fechar aquele buraco em sua alma. Talvez quando chegasse a Nova York, e visse o nome de Mary gravado numa lápide, seu cérebro pudesse processar melhor tudo isso e seguir em frente.

                - Você tá bem? – Gwen apareceu na entrada cozinha enquanto as meninas passavam correndo com seus ursinhos por trás dela, seguindo para a sala.

                - Sim... É que isso ainda parece estranho. É estranho não ver minha mãe com ele também. Isso confirma que ela sumiu pra sempre e que o espaço continua vazio. Talvez quando eu vir o nome dela gravado numa pedra em Nova York...

                - Me senti assim quando perdi meu pai, até que o vi sem vida na ambulância. Só me disseram quando chegamos no hospital, mas eu já sabia. Fiquei me iludindo até nos confirmarem.

                - E quando confirmaram? Isso passou?

                - Mais ou menos. Ainda parecia que tinha um vazio em casa. Mas sabíamos que isso não ia mudar, então era um pouco menos difícil seguir em frente do que se não soubéssemos – Gwen disse, voltando a sentar-se ao seu lado.

                - Às vezes fico com medo que você se canse de mim com todas as questões pendentes que tenho na minha vida.

                Gwen acariciou seu cabelo enquanto negava com um aceno de cabeça.

                - Eu nunca vou me cansar de você por isso. E que bom que você me disse. Não nos curamos se ficarmos guardando. Não sei se vai ser mais fácil agora, mas você sabe que tô bem aqui pra você – ela falou entrelaçando seus dedos.

                Peter fez menção de falar, mas ela o interrompeu repousando um dedo em seus lábios.

                - Não. Nem pense nisso – Gwen lhe disse antes de puxá-lo para um beijo longo e cheio de amor – Você tinha que viver esse luto um dia – ela sussurrou quando se afastaram – Deixe isso acontecer agora, e peça ajuda se for demais pra você. Você não é mais uma criança que não sabe o que fazer. Eu tô aqui. Tia May, minha mãe e irmãos. Danny, Mil... Você tem muita gente agora. Se você cair, nós vamos te segurar.

                - Eu não mereço você – Peter sussurrou com carinho, ganhando outro beijo.

                - Eu te beijaria até amanhecer agora – Gwen lhe disse, acariciando a nuca do amado – Mas prometemos construir um forte – ela sorriu.

                Peter sorriu de volta.

                - Eu te amo – ele disse, beijando-a de volta.

                - Ei! E nosso forte?! – Destiny puxou a mão de Gwen, fazendo-os se separarem e rirem.

                - Vamos agora, amor – ela respondeu para a filha.

                Seguindo a pequena para a sala, onde Emma e Hope puxavam cobertores e travesseiros sobre o colchão de casal que Gwen havia colocado ali, posicionaram as cadeiras da cozinha em volta, puseram uma das cobertas sobre elas, e logo estavam os cincos confortavelmente abraçados e aquecidos lá dentro.

                - Quando vovô vai ligar de novo?

                - Quando ele tiver tempo de novo, Hope – Peter lhe disse.

                - Por que não nos chamaram?

                - Por que era tarde, Em – Gwen explicou – Mas não deve demorar pra nos falarmos de novo.

                - Contem uma história – Destiny pediu.

                - Certo. Mas sem Coelhosomens dessa vez – Gwen falou.

                Peter riu concordando.

 


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