Scientist escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 25
Capítulo 25 – Erros do passado




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Capítulo 25 – Erros do passado

                - Que coisa... Seu pai te contatar justamente quando estamos planejando finalmente voltar a Nova York.

                - Pois é... – Peter respondeu enquanto tomavam café muito cedo na manhã seguinte, suas meninas ainda dormindo.

                Peter perdera um pouco o sono com a situação, além de sair de madrugada junto com Gwen para deter alguns criminosos numa rua próxima, o que felizmente só levou alguns minutos e exigiu que saíssem pela porta da frente e por uma das janelas do corredor, a fim de manter a casa completamente trancada. Suas filhas ainda não sabiam sobre seus poderes, estavam esperando que crescessem mais para contar, quando tivessem mais maturidade e consciência para manter o segredo. Portanto, desde que tinham completado dois anos e meio, eles passaram a evitar usar qualquer uma de suas habilidades especiais diante delas. Em situações como a dessa noite, apenas um deles saía se possível, chamando o outro somente se o problema se intensificasse, e, infelizmente, às vezes acordando May para ficar de olho nas meninas.

 Já tinham pensado em várias desculpas para dizer às pequenas caso elas acordassem de madrugada e eles não estivessem, e lhes dizer que elas poderiam ligar para May ou os Stacy se precisassem. Mas felizmente isso nunca havia sido necessário, suas meninas não tinham insônia, e quando algo demorava, um deles sempre corria para casa assim que possível para verificá-las. Nas poucas vezes que isso aconteceu, as encontraram dormindo da mesma forma que haviam deixado.

— Pelo sistema daqui, as meninas deviam começar a estudar em breve. Elas terão cinco anos em algum tempo – Peter falou pensativo.

— Eu achei uma boa ideia as educarmos em casa enquanto isso justamente porque não sabíamos se nessa fase ainda estaríamos aqui ou de volta a Nova York.

— Isso foi bom, Gwen. Assim não vão ter dificuldades pra se adaptar. E as três são tão inteligentes quanto nós dois. Temos o que... Sete meses até lá? É pouco pra tomar decisões e realizar algum plano de mudança?

— Fizemos isso em tempo recorde quando viemos pra cá. Acho que não será tão difícil. Mas se vamos mesmo, é melhor retomar essa conversa com todo mundo, e pensar onde vamos morar, como vai ser isso. Nos acostumamos tanto a nos vermos o tempo todo. Mas ainda podemos ficar perto um do outro.

Peter assentiu.

— Uma vez perguntei a tia May se, caso voltássemos mesmo, ela preferia procurar um lugar novo, perto de nós talvez, ou tentar voltar pra mesma casa. Ela disse que mesmo às vezes ficando triste porque lembra de tio Ben, ainda se sente em casa lá, e que voltaria se pudesse. Mas agora que sabemos que meu pai tá lá, se for verdade... Não sei... Sua mãe já falou sobre isso?

— Já. Ela disse praticamente o mesmo de tia May, embora ela tenha vontade de viver algo totalmente novo também. Os meninos também gostam dessa ideia, de recomeçar. Philip pensa em morar sozinho. Mas não acho que será por muito tempo. Ele disse que Jane quer estudar em Nova York. E como queremos voltar pra lá, é um presente do destino.

Peter sorriu.

— Fico feliz por eles – ele falou.

— Eu também. Você descobriu algo sobre o número enquanto eu secava meu cabelo? – Gwen perguntou tomando mais um gole de seu chá.

Peter balançou a cabeça positivamente.

— Tentei rastrear do nosso laboratório. E a localização apontou exatamente o lugar onde eu e tia May morávamos. Eu olhei o satélite algumas vezes, mas não vi meu pai ou alguma prova de que ele tá lá. Eu vou tentar ligar, mas... A princípio, acho melhor fazer isso sozinho.

— Tem certeza?

— Sim.

— E tia May?

— Se for algo perigoso, se for uma armadilha, eu não quero envolve-la nisso. Quero verificar primeiro. Meu trabalho hoje começa algumas horas depois do seu. Vou sair antes, dizer que vou te levar e resolver algumas coisas na cidade. Enquanto isso vou procurar um lugar seguro pra isso. No jantar falamos a respeito com todo mundo, dependendo do que acontecer.

Gwen concordou.

— Promete que vai ligar pra mim se você precisar, por favor – ela implorou, estendendo a mão sobre a mesa para pegar a dele.

Peter apertou a mão da esposa de volta e assentiu.

— Eu prometo.

Os dois comeram em silêncio por mais algum tempo até Gwen levantar mais uma questão.

— Peter... Sobre... Aumentarmos o número de aranhas nessa casa – ela brincou sorrindo, vendo-o rir baixinho – Em breve. Você acha que devemos prosseguir? Ainda mais diante disso?

Ele a encarou enquanto pensava.

— Não sabemos exatamente o que vamos encontrar em Nova York. Nossas pesquisas e a carta do meu pai sugerem que as coisas andam muito mais tranquilas com a queda da Oscorp, mas não temos como ter certeza até chegar lá. Se houver algo difícil, provavelmente vai se intensificar com o tempo. Então agora seria o melhor momento pra nós, já que o começo é sempre o mais difícil. E as meninas já tem idade pra serem boas irmãs mais velhas. Acho que não há problema em prosseguirmos. Mas é com você. Quando se sentir pronta, o tempo que o seu corpo precisar pra transição. E você vai ficar de férias de novo por um tempo.

Gwen voltou a acenar positivamente.

— Vamos fazer alguns check ups de saúde, e começar a planejar isso?

— Sim.

— Quando?

— Quando você quiser. Podemos decidir quando eu resolver essa questão repentina.

— Certo. Mas vamos com calma. Só o estresse já diminui nossas chances.

Peter concordou.

— Será que vamos ter mais três?

Gwen riu.

— Se isso acontecer de novo, eu realmente vou começar a considerar que nossas mutações tem algo a ver.

******

Peter observou o que podia ver da cidade do topo do edifício onde estava. Era bastante alto, não havia inquilinos ou moradores nos últimos andares para que houvesse qualquer risco de alguém ouvi-lo, e ficava perto do trabalho. Ele e Gwen podiam alcançar rapidamente um ao outro se necessário. Ficou vários minutos encarando a tela do celular com o contato preparado para chamada de vídeo, reunindo a força e coragem necessárias para aquilo. Seu coração disparou e o ar faltou por alguns instantes, e o herói teve que respirar fundo para se acalmar, pensando em como parecia mais fácil até lutar com vários criminosos do que fazer essa ligação.

Enfim tocou o botão que ativaria a conexão, e o indicador de chamada apareceu enquanto o número era contatado. Os poucos segundos que a ligação levou para ser atendida, como se quem estava do outro lado esperasse desesperadamente por isso, pareceram muito mais longos para ele. E finalmente um rosto apareceu, e a antiga cozinha dos Parker se tornou reconhecível, ainda a mesma, nas mesmas cores. A luz estava acesa, e só então se lembrou da diferença de fuso horário, e que lá deveria ser ainda bem cedo.

Peter ficou mudo, e as lágrimas arderam em seus olhos ao reconhecer o rosto de seu pai. Mais velho e visivelmente cansado e tão nervoso quanto o filho, mas era ele. Usando óculos, barba e não mais tão em forma quanto no passado, mas de algum jeito ainda muito parecido com o que Peter se lembrava. Richard ficou em silêncio enquanto os dois se encaravam, e a mente do mais jovem brigava com ele, buscando evidências de que estava sendo enganado, como que tentando se proteger de mais uma dor.

— Peter... – ele conseguiu dizer, fazendo o coração de Peter acelerar novamente.

Ele não conseguiu responder nada a princípio, pois o nó em seu peito prendeu as palavras na garganta.

— Não quero brigar – Richard avisou.

— Agora que liguei... – Peter finalmente disse – Não sei se consigo falar com você.

— Mas eu quero te dizer algumas coisas se não se importa. Eu sei que é impossível de entender, Peter... Eu achei que assim que te visse saberia o que dizer, mas não sei. E não sei dizer que eu sinto muito. Mas esse sou eu.

A expressão de Peter se contorceu inconscientemente enquanto ele buscava lógica nas palavras confusas de seu pai, confusas como os pensamentos de ambos agora.

— Sou eu, Peter. Sinto muito.

— Quem me garante que você é meu pai?

— Sou eu, Peter. Eu tenho que dizer...

— Meu pai tá morto! Ele tá morto! Quem é você?!

— Naquele dia... Eu tive que desaparecer e eu sinto muito. Me entenda... Eu tive que desaparecer pra te manter seguro... Te manter seguro...

— O que? O que?! Diga! Diga o que quer dizer! O que você vai dizer?! Onde esteve?! Você morreu!

— Eu tive que morrer pra você sobreviver – Richard continuou a responder calmamente, aceitando sem contestar o surto de raiva, esperado, do filho – Eu tive que desaparecer pra manter você seguro. Me escuta. Eu tive que ir pra manter meus erros longe de você. Eu tive que ri pra impedir que o Osborn te ferisse. Me entende? Eu tive que ir pra mantê-lo seguro. Peter, eu sinto muito.

— Sua intenção foi inútil... Você me privou da sua presença a vida toda pra nada! Minha esposa quase foi morta por um Osborn! Eu a segurei sangrando e inconsciente no meu colo! Eu vi a vida deixa-la, e ela voltou por um milagre! Seus erros continuaram aqui e eu quase perdi tudo! Por causa do Homem Aranha!

Richard o olhou sem nada dizer por um tempo.

— Não... Por causa de uma pessoa má. O que você fez foi bom. Você usou os erros que eu cometi pra salvar vidas da melhor forma que estava ao seu alcance, o que tem feito até hoje pelo que me parece. Eu sinto muito mesmo, de qualquer forma.

Peter afundou o rosto em sua mão livre enquanto chorava, e Richard outra vez o observava em silêncio, lamentando que a distância física o impedisse de segurar seu filho nos braços agora.

— Por que agora? Por que voltou agora? – Peter perguntou quando conseguiu se acalmar, minutos depois.

— Sua mãe sabia que haveria um momento na sua vida em que você precisaria de nós mais do que nunca. Antes de ela morrer, lhe prometi que estaria lá pra você a todo custo. E quando essa hora chegou eu não estive. Quando alcancei você, descobri que tinham ido embora pra muito mais longe do que eu esperava. Então decidi ficar e limpar a bagunça que ajudei a criar. E finalmente as coisas parecem em ordem. Nova York ainda tem crime, mas sob melhor controle sem vilões insanos pra todo lado. Eu voltei porque... Não queria que você perdesse a esperança. Se a perdemos, então todos eles venceram. Sua mãe e todas as vidas que se foram, teriam morrido por nada.

— Então não era uma metáfora, e nem brincadeira...

— Eu não brincaria com a morte de Mary. E sinto muito se você preferia que fosse ela aqui agora.

— Essa não é a questão... Mas o que você quer? Por que nos contatar agora?

— Achei que tinha sido claro. Mas entendo o quanto é confuso... Achei que May estaria com você.

— Eu não queria metê-la nisso se fosse uma armadilha.

Richard assentiu.

— Fico feliz que cuide bem de sua tia. Peter... Isso não precisa ser repentino, eu sei que não vai ser. Eu não sei quantos anos de vida me restam, mas quando eu partir, só quero que saiba que você e May tem sua casa em Nova York de volta.

Peter ficou mudo por um tempo, não sabendo o que responder.

— Você disse que tem uma esposa? Mas tudo bem se não quiser falar sobre isso agora.

— Sim... Talvez você a veja se me ligar quando eu estiver em casa.

— Então você quer manter o contato?

Peter respirou fundo para não chorar novamente, enquanto a raiva e a saudade ainda brigavam dentro dele.

— Você sumiu por todo esse tempo... Eu não sei o que fazer agora.

— Eu entendo. Eu também não sabia quando perdi vocês de vista por um tempo. Descubra. Mas eu gostaria de falar com May em algum momento se for possível.

Peter assentiu.

— Estamos trabalhando hoje. Ainda não falamos disso com mais ninguém. Talvez você possa nos ligar amanhã à noite. Às oito horas quem sabe...

— Isso serão três da tarde pra mim. Tudo bem, eu posso. Obrigado, Peter.

Peter assentiu.

— Vocês pensam em voltar um dia?

— Sim. Mas ainda não temos certeza. As coisas sempre foram bem aqui. Sem vilões loucos e policiais inimigos.

— Eu entendo. Mas posso garantir por minha própria experiência que agora é melhor.

— Vou considerar isso.

— É Gwen... Que está com você? Ela realmente se recuperou?

Peter levou um tempo para responder, qualquer lembrança daquele incidente ainda doía mortalmente.

— Sim. Ironicamente foi a Oscorp que ajudou a salvá-la, mas...

— Eu imaginei.

Os dois passaram mais um tempo ensaiando conversas que talvez estivessem caminhando para uma futura normalidade, e respeitando os silêncios que não sabiam preencher. Quando a ligação acabou, com a promessa de ser retomada no dia seguinte, Peter se deitou de costas no concreto da cobertura do edifício onde estava, não tendo certeza do que fazer agora, e segurando o celular com força contra o peito, como se o momento que acabara de viver pudesse desaparecer de sua memória caso não o fizesse. Não se moveu quando seus sentidos o alertaram da presença de Gwen, e a Mulher Aranha apareceu caminhando ao seu lado, puxando a máscara e fazendo seus cabelos dourados dançarem com o vento enquanto ela guardava a peça na mochila, que deixou no chão ao lado deles. Gwen sentou-se ao seu lado e aceitou o convite para se deitar em seu peito enquanto ele a abraçava.

— Criminosos?

— E meu intervalo – ela respondeu – Já fez aquilo?

— Eu desliguei pouco antes de você aparecer.

— Você tá bem?

— Melhor do que achei que ficaria.

— Como foi?

— Eu nem sei dizer. Mas era realmente ele. E ele vai me ligar de novo amanhã à noite. Quer ver tia May.

— Do que vocês conversaram?

— De coisas difíceis.

— Me conte quando você achar que deve.

Peter a encarou intensamente, vendo o amor dela fluir de seus olhos verdes claros para ele. E Gwen imaginou o que deviam ter falado ao ver seus olhos castanhos avermelhados e ainda brilhantes de lágrimas.

— Eu sinto muito – ela lhe disse.

Peter se virou para ficarem de frente um para o outro, oferecendo seu braço para que ela se deitasse enquanto entrelaçavam os dedos da mão livre e se olhavam.

— Ele disse que se afastou pra que os erros dele e os Osborn não me machucassem. Mas isso não serviu pra nada no fim das contas. A aranha ainda me encontrou, e eu quase perdi você por causa de um Osborn.

— Talvez você não queira ser lembrado disso agora, mas... Eu tenho certeza que muitas pessoas que podiam estar mortas hoje se sentem gratas por o Homem Aranha existir e ter estado lá pra salvá-las. Especialmente eu.

— Ele disse algo assim. Mas não pareceu tão bonito quanto agora – Peter conseguiu sorrir.

— Eu acho que isso vai ser bem confuso e difícil. Mas você tem muitas pessoas com você agora. Vai ficar tudo bem.

Peter colou sua testa na dela enquanto a olhava profundamente.

— Obrigado – ele sussurrou – Eu te amo.

Gwen assentiu, aceitando o contato quando Peter a beijou, e apreciando secretamente o quanto os dois haviam crescido juntos desde que se conheceram na adolescência, o quanto eram mais fortes agora, e como conseguiam se apoiar em momentos como esse.

— Eu te amo, garoto inseto. E nós vamos ficar bem.

Peter assentiu e se permitiu ficar abraçado à amada pelos próximos minutos. Eles ainda tinham um tempo razoável até Gwen precisar retornar ao trabalho e seu turno também começar. O coração dela batendo contra o dele enquanto lhe contava mais do que havia conversado com seu pai era tudo que ele precisava agora.

 


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Notas finais do capítulo

Uma das cenas desse capítulo foi inspirada numa cena deletada de "O Espetacular Homem Aranha 2". Pessoalmente falando, eu acho que foi deletada pelo quão ridícula iria soar. XD Se vocês assistirem vão entender. Tudo qeu Richard Parker fala que ele "foi embora pra NÃO acontecer", aconteceu do mesmo jeito, de formas terríveis, e talvez muito pior do que poderia ter sido se ele ficasse. É um trauma que Peter adquiriu meio que à toa. E eu "realmente" quero saber como Mary morreu nesse universo. Já descobrimos que Rhino não teve um fim muito feliz e suave, de acordo com o próprio Andrew Garfield, o que Peter fez com ele naquela luta não era algo adequado pra ser mostrado ao público, garantia nos dada pelo próprio Peter em "Sem Volta Para Casa".



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