Scientist escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 2
Capítulo 2 – Ninguém disse que seria tão difícil


Notas iniciais do capítulo

*Encontrei a imagem disponível em "CuteWallpaper.org".



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Capítulo 2 – Ninguém disse que seria tão difícil

A princípio Gwen não se lembrava de quem era ou qual poderia ser seu nome. Tudo que havia em sua cabeça eram a queimação das agulhas que pareciam ter acabado de perfurar seu pescoço, fazendo-a recobrar a consciência momentos depois, e um som que cortava seu coração, de alguém chorando e lhe pedindo para ficar com ele. A voz era tão doce e lhe trazia tanta segurança, apesar do quão desesperada estava na lembrança que havia ficado. Quem era ele mesmo?

As cores vermelho e azul, e o castanho de seus olhos e cabelos começaram a se registrar na mente de Gwen, e uma sensação de terror de ser jogada para um precipício, sem aviso ou paraquedas, também se instalou. Alguma coisa a atingindo e um impacto que fez tudo ficar escuro, e novamente alguém chorando.

A queimação se intensificou, espalhou-se para o peito e depois para o restante do corpo. Sua cabeça parecia que ia explodir e seu pescoço, antes dormente, agora latejava. Gwen sentiu a parte de trás da cabeça formigar fortemente, e as lembranças voltaram como uma bomba. Peter, Harry enlouquecido, a batalha, sua queda, Peter chorando, e depois o nada. Onde estava, e como viera parar aqui? Onde estava seu Aranha?

Sentia-se mal, e tonta, apesar de seus olhos fechados não lhe deixarem ver nada em volta girando. Seu coração começou a acelerar, mas não conseguia se mexer. O som de bips mecânicos surgiu, ressoando cada vez mais alto, e atraindo vários pés e vozes desconhecidas e cheias de preocupação até ela.

— O que está acontecendo?!

— Ela estava estável!

A queimação e o formigamento se transferiram de todo o corpo para as palmas das mãos e as solas dos pés de Gwen de repente, e outro mal estar a atingiu, fazendo-a abrir os olhos e se assustar com a quantidade de paramédicos e o ambiente a sua volta. Lágrimas deixaram seus olhos. Ela não entendia bem o que tinha acontecido com ela, mas não queria morrer.

Seus lábios gesticularam "Peter" de forma interrogativa, mas ninguém notou isso, como também não notaram a aranha de aparência incomum, escapando pelo duto de ventilação do quarto.

— Gwen... – uma voz feminina gentil a chamou, e o rosto de uma jovem surgiu acima dela – Você pode me ouvir? Está consciente? Se sim, pisque duas vezes.

Levou um tempo, mas Gwen respondeu positivamente.

— Ela está consciente e nos entendendo. É um milagre!

Gwen continuou observando a correria e as vozes no quarto por alguns instantes, até que sua consciência voltou repentinamente a mergulhar na escuridão.

— Ela nos deixou de novo!

— O coração! Precisamos estabilizar o coração!

Os médicos preparavam o que era necessário quando repentinamente os bips cardíacos de Gwen voltaram ao normal, deixando todos meio intrigados.

— Peter...

Os médicos olharam para ela ao ouvir, agora todos em silêncio enquanto tentavam entender o que se passava.

— Gwen, você está conosco? – A mesma jovem de antes perguntou.

Gwen não respondeu.

— O que ela disse?

— Foi um nome? Parecia... Peter?

— É o garoto que custamos pra cuidar ontem. Ele não parava de chorar por causa dela. Tão desesperado quanto a mãe. Tão triste...

— Acha que deveríamos trazê-lo aqui? Se ela...?

— Ainda não. Temos que entender o que acabou de acontecer e cuidar dela...

— Doutor – um dos mais jovens chamou a atenção do grupo – Veja...

Todos se aproximaram para ver o local que ele apontava.

— Pode ser uma reação alérgica dos medicamentos? Ou uma picada de algum inseto?

No lado esquerdo do pescoço de Gwen havia uma marca vermelha, arredondada e saliente, com o que pareciam duas pequenas perfurações, mas já quase inexistentes.

— Ela não tem histórico de alergias. E não há insetos aqui – uma das enfermeiras falou.

— Seja o que for, coletem uma amostra de sangue, temos que identificar e tratar agora, seja o que for que aconteceu. E só então falar com a família.

Os demais assentiram enquanto preparavam o necessário.

******

— Família de Gwen Stacy! – Alguém chamou no corredor.

Peter, May e Helen correram na direção da enfermeira, cada um tendo seu mini infarto particular com o medo do que poderiam ouvir.

— Minha filha... – Helen não conseguiu terminar a pergunta.

— Algo inusitado aconteceu. E muito estranho. Estamos investigando.

— O que aconteceu com a Gwen?! – Peter se apressou.

— Deixe-a dizer, querido – May pediu.

— Ela estava estável, apesar de permanecer inconsciente e em risco – a mulher falou calmamente – E de repente o coração apresentou uma alteração, mas quando chegamos até ela, simplesmente normalizou. Ela chegou a abrir os olhos por alguns segundos e podia nos ouvir, até me respondeu com um gesto, depois ficou inconsciente de novo. Acreditamos que ela talvez tenha tido alguma reação aos medicamentos. Está com um pouco de febre, o que nos preocupou bastante, mas está bem. A amostra de sangue está em análise.

— Gwen não tem histórico de alergias – Helen falou.

— Sabemos. Mas ela está frágil, pode acontecer. Foi apenas uma marca na pele que encontramos, no pescoço. Até pensamos na possibilidade de uma picada de inseto, mas temos muito cuidado com isso aqui, e teríamos visto se já estivesse quando ela chegou.

— Quando esteve consciente... – Helen falou – Como ela reagiu? Está com dor? Ela entende o que aconteceu com ela?

— Ela chorou. Rápido, sem agitação. E disse que podia me entender. Mas com um gesto que pedi que ela fizesse, e foi só isso antes de adormecer de novo. Ministramos medicamentos pra dor, não creio que seja isso que a incomodou. Ela está confusa e acordou aqui de repente...

A jovem viu os olhos de todos ali se encherem de lágrimas novamente, em especial do garoto.

— Você é Peter, não é?

Ele assentiu.

— Depois de perder a consciência novamente, ela falou. Só uma palavra. Peter...

Peter arregalou os olhos, desistindo de segurar suas lágrimas agora.

— Ela disse mais alguma coisa?! Ela parecia com raiva ou triste?! – O jovem questionou.

— Não... Soou como um pedido.

Peter ficou mudo e as duas mulheres mais velhas olharam para ele.

— Se ela estiver bem após os exames, permitiremos que a vejam, começando por você, se a senhora não se importar – ela disse a Helen, que pareceu pensativa, mas acenou positivamente – Se ela quer vê-lo e isso lhe fará bem, pode até ajudá-la a se recuperar melhor e mais rápido.

— Se Gwen quer vê-lo, faça isso. Eu não negaria nada que ela pedisse agora. Só Deus sabe como ela gosta de Peter.

Peter olhou para a mulher entre suas lágrimas e agradeceu com um aceno de cabeça.

— Obrigada, Helen – May agradeceu, recebendo um sorriso da mulher – Há alguma outra previsão?

— Por enquanto não. Eu trarei mais notícias assim que possível.

Os três assentiram e a viram sorrir e se afastar.

— Eu vou ligar para os meninos – Helen falou ao se despedir deles e se afastar.

— Viu, Peter? Temos esperança.

— Febre e ossos danificados não são uma boa combinação, tia May.

— Tente ser um pouco otimista, ela nos diria se fosse tão sério. E você verá Gwen em breve, fique forte pra ela - a tia pediu afagando seu rosto.

Peter concordou e sorriu.

******

— O que encontraram no sangue dela? – Peter perguntou enquanto a mesma enfermeira de antes o guiava à UTI do hospital.

— Nenhum sinal de alergia ou reação adversa aos medicamentos, o que ainda está nos intrigando. Ela parece melhor a cada minuto, mas o estado dela era gravíssimo... Achamos que íamos perdê-la quando o coração acelerou e normalizou do nada. Geralmente isso não é bom. Mas ela ficou bem. Isso é maravilhoso, mas inexplicável.

Peter não quis pensar em qual milagre poderia estar atendendo suas preces agora, só queria não estar preso em um sonho do qual acordaria numa realidade onde Gwen teria de fato partido.

— Você está bem? Disseram que também chegou aqui ferido. Você estava com ela?

— Sim... Estávamos perto do local onde aquele Duende voador apareceu. Então o Homem Aranha apareceu e nos separamos num tumulto e no meio de paredes quebrando. Eu passei bastante tempo procurando por ela quando recuperei a consciência. E coincidentemente alguém me disse que tinha visto o Homem Aranha trazê-la pra cá.

— Você tem muita sorte então – a jovem sorriu – Vocês dois estão vivos, a notícia chegou a você rápido, ela está se recuperando, e ama muito você pelo que parece.

Chegando a uma porta dupla, ela empurrou uma para os dois passarem e seguiu com ele até o último leito, abrindo a porta sanfonada para que entrassem.

— Você pode ficar alguns minutos com ela, eu virei chama-lo daqui a pouco pra que a mãe dela e depois sua tia possam vê-la também. Não mexa em nada, e se as máquinas fizerem qualquer som estranho, chame um de nós ao invés de se apavorar.

Peter assentiu, ainda sem olhar para a amada.

— Ela está consciente?

— Não. Não totalmente pelo menos, mas fale com ela mesmo assim. Isso sempre ajuda.

A jovem enfermeira sorriu e o deixou com Gwen, fechando a porta ao sair. Peter andou em silêncio até ela. Inconsciente, com soro, máquinas, telas e sons monitorando suas condições vitais. Uma tala envolvia seu pescoço e parte de seu cabelo louro parecia ter desaparecido, além das bandagens em volta de sua cabeça. Ela parecia pálida e frágil, protegida por cobertores e com uma máscara de oxigênio.

Peter escondeu o rosto nas mãos e se esforçou para não emitir nenhum som quando o choro voltou contra sua vontade. Respirando fundo para se controlar, ele se aproximou, segurando a mão da amada por baixo do cobertor, estranhamente fria e parada.

                - Você nunca vai ter ideia do quanto é amável, e do quanto eu quero você de volta, Gwen – ele sussurrou – Eu sei que estou sendo egoísta, como já fui vezes demais. Eu abandonei você e tia May quando mais precisavam de mim, eu voltei pra você antes de calcular todas as consequências. Mas, por favor, me dê uma chance.

                Ele sempre ouvira dizer que pessoas nessas condições podiam ouvir o que lhes era dito. Ele não sabia se era verdade, mas esperava que ela o escutasse ou ao menos sentisse suas palavras.

                - Eu te amo, Gwen Stacy, eu te amo – ele sussurrou contra a pele dela ao beijar sua mão – Eu não quero que você fique só por minha causa se isso for demais pra você. Mas eu quero que você saiba e leve com você pra onde for, o quanto você é amada. Você é o sol pras pessoas, em qualquer lugar que você esteja – disse baixinho beijando sua mão novamente.

                Peter não se importaria de passar o resto de sua vida ali segurando sua mão e esperando por ela, mas lembrando-se de seu tempo limitado, e de que qualquer minuto com ela ainda podia ser o último, decidiu aproveitar cada segundo que restasse.

                - Sabe daquela nossa decisão louca de ir pra Inglaterra? Quando você sair daqui, se você ainda quiser, eu ainda quero ir com você. Estaremos seguros. E eu sei que ainda temos tanto pra viver... E que parece que estou pedindo isso levado pelas emoções de agora, mas é um pensamento antigo. Gwen... Você casaria comigo? – Peter conseguiu dar um pequeno sorriso com a ideia.

                Sim, ele vinha pensando nisso já tinha meses. Talvez a tivesse pedido naquele pôr do sol na ponte se o momento não estivesse reservado para uma reconciliação. Não queria ir com pressa, embora a vida de herói jogasse a todo momento sobre ele que esperar muito nunca era uma boa opção para o Homem Aranha.

                Peter passou o resto do tempo a observando e segurando sua mão. Gwen moveu os dedos nos dele enquanto dormia, e ele não sabia dizer se ela o ouvira ou se estava sonhando com alguma coisa. Mas se fosse a segunda opção, ele esperava que fossem bons sonhos, e não uma repetição daquela noite. Ele adoraria que ela falasse de novo enquanto dormia, só para ele dessa vez, mas sentir o movimento de seus dedos nos dele, provando que estava viva, preencheu seu coração de esperança.

                - Você disse que queria me ver. Eu tô aqui – ele brincou.

                Lembrando-se das informações fornecidas pela equipe médica de repente, Peter olhou para o ponto onde deveria haver uma marca no pescoço de Gwen, mas não passava de uma leve mancha vermelha. Fosse o que fosse, estava se recuperando.

                Os passos de alguém surgiram ao longe, e ele preparou-se para ter que deixa-la outra vez, por mais que odiasse a ideia. A mãe de Gwen e tia May também precisavam vê-la.

                - Eu amo você – Peter sussurrou ao beijar sua testa da forma mais suave que podia, mal fazendo pressão em sua pele – E eu estou aqui. Vou sair daqui a pouco, mas estou por perto te esperando.

                - Peter? – A mesma enfermeira gentil surgiu – Agora você deve dar tempo para a mãe de Gwen.

                Ele assentiu e voltou a acomodar a mão de Gwen sob o cobertor, olhando demoradamente para ela antes de se virar para sair, perdendo o pequeno sorriso que cruzou os lábios dela enquanto ainda dormia.


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