Scientist escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 11
Capítulo 11 – O mais belo recomeço




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Capítulo 11 – O mais belo recomeço

                Peter e Gwen observavam a cidade abraçados do topo da Carfax Tower, um dos pontos turísticos mais famosos de Oxford, e agora também um dos lugares deles quando a torre não tinha visitantes ou quando queriam relaxar à noite. Era um dos locais de fuga aos quais mais tinham se apegado, sendo em parte uma boa lembrança, por ser uma torre com um relógio e que ficava mais vazia à noite, consequentemente perfeita para os dois. E era bem mais baixa que a torre que ainda assombrava os pesadelos de ambos de vez em quando.

                Hoje era uma das poucas noites que os horários de todos eles não batiam, portanto não jantariam juntos, e os dois estavam livres para mudar a rotina. Então escolheram ir até à torre observar o céu e a cidade. O clima estava agradavelmente quente, sendo uma combinação perfeita com a brisa fria da noite.

                - É bom estar assim com você sem termos nenhum assunto tenso pendente.

                - Demais – ela respondeu – Sem ser uma fuga... Somos só nós.

                Peter concordou. Outro dia eles tinham assistido uma peça teatral a céu aberto do topo da torre, e já tinham tirado boas fotos no lugar. Se realmente retornassem a Nova York, sentiriam falta daqui. Mas também sentiam falta de casa. E tinham planos. Haviam encontrado meios para curar vilões, ao menos os antigos, mas era um começo para os que ainda viessem.

                E continuavam tão felizes. Ele sempre ouviu histórias de como o amor de vários casais esfriava com os anos, ou como ambos entravam em um tipo de choque e se afastavam após eventos muito traumáticos, o que felizmente não acontecera com eles, assim como não tinha acontecido com May e Ben, ou com Helen e George. Ainda que o pai de Gwen não estivesse mais aqui, era visível que o laço entre os dois era firme, e Gwen sempre confirmava isso. E no fundo, Peter esperava que tivesse sido assim com seus pais também, fosse o que fosse que tivesse lhes acontecido.

                - Como vai seu discurso pra formatura? Dessa vez eu vou estar lá!

                - Acho bom! – Gwen lhe disse ao beijá-lo – Ou eu mesma paro a formatura pra arrancar você da mão dos bandidos – falou com outro beijo, lembrando-se com amor da última conversa que tiveram parecida com essa.

                - Vou chegar antes dos professores se preciso, Gwen Aranha – Peter prometeu retribuindo o beijo.

                - Tá quase pronto. Você vai ser o primeiro a ouvir quando eu terminar de escrever – ela disse afagando o rosto do amado, que virou para beijar a palma de sua mão antes de encará-la novamente.

                - Eu tô ansioso por isso. Nem acredito que você vai ser oradora de novo. A vida nos deu tantas segundas chances aqui.

                Gwen apenas sorriu, e Peter viu seus olhos verdes se encherem de lágrimas quando a emoção de tudo que viveram a tomou. E céus! Ela era tão bonita sorrindo!

                - Você anda muito emocional ultimamente – ele brincou com ela, lhe dando seu melhor sorriso.

                - É a formatura chegando, todos ficam assim. Até você que eu sei.

                - Só porque você tá aqui – Peter disse a beijando mais uma vez, demoradamente.

                Gwen o enlaçou pelo pescoço e se permitiu ficar no contato com ele por todo o tempo que era possível ficar sem respirar.

                - Vamos pra casa? – Ela perguntou num sussurro, suas mãos deslizando da nuca para os ombros do marido.

                Peter concordou com um aceno de cabeça, e os dois fizeram seu caminho de volta de teia.

******

                Peter e Gwen acordaram entrelaçados após uma noite memorável passada em claro, protegidos apenas pelo lençol no lugar de seus trajes de aranha e suas roupas. Com a faculdade se aproximando do fim, em alguns dias tinham mais tempo para ficar juntos assim. E para a felicidade de ambos, hoje estavam de folga tanto da faculdade quanto do trabalho.

                Estariam perfeitamente dispostos a dormir por no mínimo mais duas horas seguidas quando o sentido aranha acordou os dois ao mesmo tempo. Abriram os olhos e seu primeiro instinto foi se apertarem no abraço que estavam por um instante, depois olharem um para o outro e em volta do quarto.             

                - Eu detesto quando isso acontece nas horas que não tô vestido – Peter reclamou ainda sonolento.

                - Você sentiu?

                - Como se tivesse alguém estranho por perto?

                - Sim.

                Os dois levantaram em silêncio, recolhendo e recolocando suas roupas, verificando cada cômodo do apartamento em seguida e não encontrando ninguém ou qualquer coisa errada. Ligando a TV e o rádio, e checando o celular, não havia sinal de criminosos aprontando na cidade.

                - Tia May...

                - Mamãe e os meninos.

                Os dois concordaram com um aceno de cabeça e acomodaram seus lançadores de teia por baixo das mangas compridas de suas roupas, em seguida saindo de casa e indo cada um para uma porta.

                - Tia May...? – Peter chamou enquanto batia, tentando evitar assustar a tia ou alertar algum invasor com a campainha.

                Ele arrombaria a porta se fosse necessário, mas felizmente ele a ouviu destrancar a fechadura em pouco tempo.

                - Peter...? Aconteceu alguma coisa?

                - É o que queremos saber. Eu e Gwen fomos os dois acordados pelo sentido aranha de repente. Mas aparentemente não há nada errado acontecendo, e o sentido aranha nunca falhou. Tem certeza que não há algo preocupante acontecendo que não pode me contar em voz alta? – Sussurrou a última parte.

                - Não, está tudo bem.

                Peter concordou e olhou para Gwen, vendo que Howard finalmente abria a porta, ainda sonolento.

                - Aconteceu alguma coisa? – Ele perguntou.

                - É que... Ouvimos barulhos lá fora e acordamos assustados, achamos que valia a pena verificar se é algum invasor. Tá tudo bem aí? – Gwen mentiu, sua mãe e irmãos ainda não sabendo sobre sua identidade aranha.

                - Tá sim. Hoje é um dos raros dias que todos nós estamos de folga, tá todo mundo dormindo ainda. Menos Simon, que tá empolgado com uma série de HQs que tá lendo.

                - Oi, Gwen – o irmão mais novo a cumprimentou quando passou pela sala de entrada, com uma edição de alguma HQ de super herói na mão.

                - Oi, Simon – ela sorriu.

                - Mamãe e Philip ainda dormem. Nos vemos todos no almoço? – O louro perguntou.

                - Sim, Simon – Peter respondeu – Eu e Gwen acordamos assustados com um barulho, mas deve ter sido só alguém de mudança ou reorganizando a casa em algum lugar.

                - Ah, tá – o mais novo respondeu – Não percebi, tava muito distraído.

                - Já vi que se o mundo estivesse nas suas mãos, nós estaríamos perdidos – Gwen brincou com o irmão – O que o Homem Aranha e a Mulher Aranha achariam disso?

                Simon gargalhou.

                - Vou perguntar um dia se eu os vir – ele brincou de volta enquanto ia para outro lugar do apartamento.

                Howard riu dos irmãos antes de voltar a falar.

                - Vocês vão entrar?

                - Agora não, Howard – Gwen lhe disse – Nos vemos no almoço – ela falou ao beijar a bochecha do irmão e ganhar um sorriso dele.

                - Até mais tarde, Peter, tia May.

                Os dois sorriram e acenaram de volta, vendo Howard fechar a porta.

                - Que coisa estranha... Sempre sabemos de onde vem o alerta. E parece que foi exatamente aqui – Gwen tentava entender.

                - Já olharam o restante do prédio e as redondezas? – May perguntou.

                - Não – o sobrinho lhe disse – Mas agora já saberíamos. Vamos verificar assim mesmo. Até mais tarde, tia May – Peter a abraçou, sentindo a tia sorrir e afagar suas costas.

                - Até logo, tia May

                - Até, Gwen.

                Quando May fechou a porta, os dois se separaram para verificar discretamente todo o condomínio, que não sendo muito grande, não levou mais que poucos minutos até se reencontrarem em seu andar e seguirem para o telhado, de onde também não notaram nada de errado acontecendo, e por fim voltaram para casa.

                -  Isso já te aconteceu antes? – Gwen perguntou.

                - Nunca. Não tenho explicações. Acho que por enquanto só podemos esperar... Quer tomar banho?

                Gwen sorriu e acenou positivamente.

                Se livraram de suas roupas outra vez e removeram os lançadores, seguindo para o chuveiro juntos. Foi quando já tinham terminado e Peter estava prestar a desligar a água, que percebeu que Gwen não estava só abraçada a ele, mas também meio adormecida. É, eles tinham passado a noite quase toda acordados, mas não esperava que ela fosse reclamar seu sono perdido agora. Parando para pensar, ela parecia mais cansada nos últimos dias, e Peter temia que fosse sobre a saúde dela que o sentido aranha estava tentando avisar. Podia ser apenas o cansaço do esforço de fim de faculdade, Gwen sempre se esforçava ainda mais do que ele. Mas não conseguia não ficar paranoico com o bem estar dela. Agora eles já tinham certeza que os ferimentos de ambos cicatrizavam mais depressa quando estavam um com o outro e em boas condições psicológicas, mas alterações no sentido aranha eram novidade.

                - Gwen – ele sussurrou com carinho quando a abraçou mais perto, vendo que ela estava mesmo dormindo – Amor, vamos sair, nos secar e dormir mais um pouco?

                Ela abriu os olhos devagar, parecendo absorver as palavras dele.

                - Eu aceito – murmurou de volta.

                Peter fechou a torneira e ajudou a esposa cansada a se secar e vestir roupas confortáveis. Logo estavam os dois abraçados na cama de novo.

                - Gwen, você tem se sentido bem? Parece mais cansada ultimamente.

                - Tô mesmo. Muita coisa pra fazer e estudar.

                - O trabalho vai bem?

                Às vezes os dois trabalhavam juntos, mas não o tempo todo.

                - Sim.

                Peter parou de perguntar ao perceber que ela estava adormecendo de novo, e acariciou seu cabelo louro enquanto Gwen descansava confortavelmente em seu peito, logo voltando a dormir junto com ela.

******

                Três meses. Era o tempo que faltava para Peter e Gwen concluírem finalmente seus estudos de seis anos em Oxford. Os dois já trabalhavam em suas respectivas áreas ligadas à ciência e medicina, e tudo que tinham aprendido ao longo dos anos não só os levara a pensar em possíveis curas para os vilões que Peter já tinha combatido como em inovações para o Casal Aranha.

                 Os dois agora podiam voar. A ideia de Gwen, anos atrás, após alguns ajustes e mudanças, funcionou perfeitamente bem. Mais lembrava um esquilo voador quando o mecanismo era acionado do que algo relacionado a aranhas, mas funcionava bem, e levando-se em conta que era com o vento que os filhotes das aranhas seguiam para viver suas vidas quando cresciam o suficiente, eles ainda estavam na proposta. E agora, já há muito tempo na verdade, todos já sabiam que o Homem Aranha de Nova York era o mesmo de Oxford, embora, para o alívio de ambos, continuassem sem fazer a mínima ideia de sua identidade, e Peter tivera sucesso até hoje em deixar a imprensa nas sombras sobre o motivo da mudança.

                Eles andavam refletindo e conversando sobre retornar para Nova York, por várias razões, apesar do índice de crimes ser maior. Tinham mais preparo, mais conhecimento, mais habilidade, e muito mais recursos e truques para combater os criminosos agora, isso os deixava mais tranquilos. Coincidentemente, ou não, desde que os dois tinham deixado Nova York, nenhum novo vilão maluco havia aparecido, alguns tinham tentado, mas felizmente as autoridades foram rápidas o suficiente para intercepta-los no início de seus planos. Ambos esperavam que alguma dessas pessoas não estivesse secretamente aguardando pela chance de se encontrar com o Homem Aranha, fosse em Nova York ou Oxford, para só então se revelar. Ainda não tinham certeza de quando voltar, precisavam de tempo para se organizar bem, e seria bom esperar que os irmãos de Gwen pudessem concluir a etapa de estudos em que cada um estava agora.

                Peter estava distraído pensando sobre isso de novo enquanto aguardava o início de mais uma aula preparatória para o exame final da universidade quando uma agitação no corredor chamou sua atenção, e ele, junto com vários colegas de classe, olhou para a porta quando uma jovem que ele só conhecia de vista a abriu com pressa.

                - Peter! Quem é Peter Parker?!

                - Sou eu! – Ele levantou imediatamente, correndo até à garota na porta.

                - Você é o marido de Gwen? – Ela perguntou com os olhos arregalados de nervosismo.

                - Sim, sou eu. Aconteceu alguma coisa com Gwen?!

                - Ela tá na enfermaria. Passou mal no início da aula.

                - Obrigado! – Peter gritou o agradecimento enquanto já disparava pelo corredor na direção dos primeiros socorros do local, ignorando completamente os alunos e funcionários que olhavam para ele sem entender nada, e lutando para não sair voando de teia.

                Peter chegou à frente da enfermaria em tempo recorde, ofegando para recuperar o ar antes de entrar.

                - Gwen! – Ele chamou ao passar pela porta e fechá-la novamente, caminhando para ela na maca em que estava sentada.

                - Você chegou – a enfermeira simpática falou com um sorriso enquanto observava o casal trocar um beijo breve, mas tranquilizador.

                - Peter – Gwen sorriu, fazendo-o se acalmar ao vê-la bem – Pedi pra chamarem você porque descobrimos uma coisa. Mas é segredo até hoje à noite, vamos contar em casa primeiro.

                - Como assim, meu amor?

                - A pressão de Gwen baixou um pouco, por isso o mal estar. É um sintoma comum, apesar de indesejado. Vamos ajustar algumas coisas no dia a dia e provavelmente não vai acontecer mais.

                - E por que isso aconteceu? – Peter perguntou, recusando-se a soltar a mão da amada, e sem ideia de porque ela não parava de sorrir.

                - Podemos conversar sozinhos? – Gwen pediu à mulher.

                - O momento é de vocês, eu vou resolver outras coisas por enquanto. Felicidades pra vocês. Não vou contar pra ninguém, mesmo porque faz parte do meu trabalho não contar – ela disse, pegando alguns papéis e saindo do local.

                - Querida, eu não sei se tô entendo, nem o que aconteceu, e nem porque você tá sorrindo tanto.

                Gwen gargalhou e o puxou para outro beijo antes de encará-lo com seriedade.

                - Você não suspeitou nem um pouco de porque eu venho me sentindo mais cansada e porque nosso sentido aranha parece tão doido ultimamente em momentos que não tem nada errado acontecendo? Eu até pensei nisso, mas achei que era coisa da minha cabeça. Só nos restam três meses aqui, achei que eu tava pensando demais.

                - Gwen, me conta antes que eu tenha um infarto.

                Ela sorriu de novo e acariciou seu rosto, respirando fundo enquanto isso.

                - Eu tô grávida. Foi isso que você e eu sentimos ontem de manhã.

                Peter arregalou os olhos e fez menção de falar, mas nenhum som saiu.

                - Gwen... – ele abriu um sorriso enorme, e os dois se envolveram em um abraço quando a beijou profundamente.


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