Contrato de Casamento escrita por Emmy Alden


Capítulo 2
Dois


Notas iniciais do capítulo

Olá!!
versão revisada do capítulo 2 ♥



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"Some say, "She's such a fake,"

That her love is made up

No, no, no

Let's have another toast to the girl almighty"

(Girl Almighty)

 

SEBASTIAN

Aquela mulher era louca.

Maluca.

Pirada.

Doida varrida.

O que ela estava fazendo?

Santiago apenas encarou cada um de nós e então, nossas mãos.

Não havia nenhum anel de noivado nelas.

Sartori também percebeu, pensou rápido e continuou:

— Sabemos como é burocrático assumir algum relacionamento aqui dentro da empresa e estávamos apenas...nos curtindo um pouco, entende?

A insinuação de um relacionamento casual saindo da boca de ninguém mais, ninguém menos que Olivia Sartori era desconcertante.

Principalmente um envolvendo nós dois.

Mesmo que eu fosse capaz de reconhecer o tom implícito de nojo na voz dela.

As palavras —mentiras— saíam da sua boca com tanta naturalidade que eu não tinha como fazer nada além de observar enquanto minha colega de trabalho nos jogava no abismo do possível desemprego e de um processo judicial.

— Grande foi minha surpresa quando, há uma semana e meia, no dia 4, — Ela voltou a olhar para mim, suas unhas cravando fundo no meu braço. — Ele resolveu pedir a minha mão. Claro que como ainda decidimos não contar para ninguém, nós ainda não providenciamos o anel, nem nada. Foi uma decisão...repentina.

Victor se pronunciou:

— Vocês estão noivos há uma semana e meia, é isso? — ele olhou diretamente para mim, sua expressão um misto de confusão e surpresa. Senti minha cabeça assentindo lentamente contra minha vontade como se eu estivesse num estupor. Era provável que houvesse algum veneno na ponta das unhas de Olivia.

Qualquer pessoa com olhos, sabia que não tinha a menor possibilidade de eu e Sartori estarmos juntos.

Era inconcebível.

Inimaginável.

Insalubre!

— Pensei que você tinha achado "ridícula" a cláusula do casamento. —o advogado disse voltando a encarar Olivia.

— E ela é. Ridícula e retrógrada, essa é a minha crítica, mas como pode ver não tenho. — ela fez uma pausa se corrigindo. — Não temos nada contra casamentos.

O doutor Santiago ficou em silêncio.

Não era possível que ele estivesse caindo naquele papo furado.

Não era possível que eu ainda não conseguisse me pronunciar.

— Está bem. — ele declarou enfim. — Perfeito, então. Quer dizer, quase. A vaga precisa ser preenchida daqui a duas semanas. Se vocês tinham planejado uma festa de casamento enorme para daqui 6 meses, vão ter que adiantar um pouco. Pelo menos a parte do cartório.

Minha boca finalmente se abriu como se eu fosse falar algo, mas as palavras de Victor quase fizeram eu me engasgar.

Festa de casamento. Cartório.

Com Olivia Sartori?

Minhas mãos estavam suando?

Eu sabia que não deveria ter dormido com uma garota chamada Olivia.

Sabia que era mau agouro. Agora eu estava num impasse de me casar com uma mulher que eu nunca toquei — e que com certeza nunca tocaria — ou perder a porra do meu emprego.

Virei a cabeça para encará-la, o sorriso meticulosamente criado ainda estava em seu rosto.

Ah, se eu fosse afundar, ela iria junto comigo. E sem aquele maldito sorriso. Quem iria estar sorrindo por último era eu.

— Não vai ser problema. — me ouvi dizer e senti Sartori ficar tensa ao meu lado. Ótimo. Que ela sentisse o gostinho do desespero. — Já estávamos combinando de juntar nossas famílias nesse recesso, tenho certeza que elas conseguirão organizar alguma coisa.

 

OLIVIA

Juntar nossas famílias?

Eu estava presa num pesadelo.

Só poderia ser um pesadelo.

— Bem, visto que estamos esclarecidos e que vai acabar tudo bem no final, — o doutor Santiago continuou juntando os papéis sobre a mesa e se levantando. Nós o imitamos, ambos tensos como um elástico esticado no limite. — Só posso desejar felicitações para o casal e, como provavelmente voltarei a vê-los apenas daqui a duas semanas, desejo também um bom recesso.

O advogado abriu a porta da sala de reuniões para nós, ergueu uma mão para que eu apertasse e então fez o mesmo com Sebastian.

Quando passamos pela soleira, demos de cara com Marco, o seu queixo quase encostando no chão enquanto seu olhar alternava entre de nós dois.

Ele tinha escutado. O que queria dizer que todo o edifício em breve também saberia.

Mia estava um pouco mais atrás com uma expressão confusa, mas quando Sebastian pegou um minha mão na sua — um pouco forte demais — a minha assistente parecia uma testemunha do momento em que Jesus andou sobre as águas. Quer dizer, se as águas na verdade tivessem sido um rio de lava.

— Querida Olivia, poderia me acompanhar na minha sala por um instante? — Não precisei olhar para Sebastian para saber que ele estava com um falso sorriso e com os dentes cerrados.

Ele também não deu chance de resposta porque já me puxava pela mão.

Só me deixei levar porque ainda estava meio anestesiada pelo que tinha acabado de fazer, caso contrário teria muito bem arrancado seu braço com os dentes.

Eu havia entrado na sala de Sebastian poucas vezes na minha vida e nunca fiz questão de retornar.

Não era como se fosse um inferno, embora o dono fosse o satanás, mas era um tanto pessoal demais.

Na mesa, havia várias fotos dele com a família — nenhuma namorada, como era de se esperar— a parede era repleta de designs de autoria própria, vários materiais de publicidade que ele criou ou ajudou a criar. Vários prêmios nas estantes...

Nossas salas eram milimetricamente idênticas, mas enquanto a minha teria dado para acomodar um time de futebol inteiro e a rainha da Inglaterra requisitando um pouco de espaço pessoal, a sala de Sebastian me deixava nervosa de me mexer um centímetros e acabar fazendo tudo desabar na minha cabeça.

Ele conseguiu ajeitar duas mesas ali dentro: uma ao fundo, encostada na parede, com dois computadores e uma mesa digitalizadora, e outra no centro da sala onde as pessoas sentavam para conversar com ele.

Ele fechou as cortinas sob o olhar dos curiosos do lado de fora e enfim soltou minha mão.

Passei os braços cruzados pela cintura quando quase esbarrei em uma maquete perto da porta.

— Você deveria tirar isso de tão perto da entrada. — murmurei, mas se Sebastian me ouviu, resolveu não demonstrar.

Me abracei mais forte ainda, contendo a vontade de arrumar aquela bagunça.

Ele passou a mão pelos fios de cabelo escuro diversas vezes, antes de respirar fundo e se virar para mim.

— Que porra você acabou de fazer? — Sua voz não foi um grito ensurdecedor como eu esperava, como eu no lugar dele haveria feito. Seu tom era calmo como um mar depois da tempestade.

A única diferença era que a tempestade estava a minutos de acontecer.

— De nada. — Foi o que eu me permiti dizer.

A mão de Sebastian bateu com força na mesa principal onde vários papéis de esboço, lápis, canetas e marcadores estavam espalhados, mas eu não me abalei.

Apenas observei um dos papéis deslizar e flutuar no ar suavemente por alguns segundos antes de cair na ponta do meu scarpin.

— De nada? De nada? — ele questionou. — Você acabou de mentir para o advogado da empresa onde trabalhamos dizendo que nós vamos nos casar. Ou seja, você acabou de mentir usando o meu nome.

— Eu não percebi que você tinha me desmentido na frente do advogado da empresa onde trabalhamos.

Uma risada incrédula saiu dos lábios de Sebastian.

— Você é insana, Sartori! Insana.

Eu era insana.

Ou pelo menos estava insana.

Não costumava agir por impulso, eu não era uma pessoa impulsiva.

Eu analisava a situação com cuidado antes de encontrar uma saída.

Porém, pensar em perder meu emprego... Eu não teria condições de me manter na capital. Não teria um trabalho garantido assim que fosse demitida. Teria que voltar para casa por tempo indeterminado.

Sebastian poderia ser um gênio da criação — venhamos e convenhamos, ele era muito bom no seu trabalho individual, ele só não sabia liderar uma equipe —, mas eu era a garota de vendas, que cuidava da parte comercial.

Para achar uma pessoa que fosse organizada o suficiente, boa com números e soubesse das estratégias de mercado naquela cidade enorme era só sacudir uma árvore na esquina e cairiam pelo menos dez. Na primeira sacudida.

Não era talento o que eu tinha. Era esforço, dedicação.

E num cenário competitivo como o que eu estava, esforço e dedicação era praticamente um pré-requisito para estar no jogo.

Então que Deus me perdoe por ser impulsiva uma vez na vida.

— Me desculpe por fazer você ainda ter uma chance de salvar sua vaga na empresa. Ouviu o que o doutor Santiago disse: o senhor Boscher não vai voltar atrás nesta cláusula.

Sebastian não parecia convencido.

— Você considerou que eu posso ter...uma namorada? Alguém?

Foi a minha vez de rir.

— Você tem alguém, Ferrante? De repente, você parou com seus casinhos de uma noite e finalmente achou uma louca para aquietar o facho com você? — Os olhos de Sebastian eram puro fogo de ódio. — Uma amiga que vai fazer o papel da sua noiva de mentira e vai acabar confundindo e complicando as coisas entre vocês?

Dei dois passos em sua direção, tomando cuidado de não pisar na folha caída aos meus pés.

— Vá em frente, Sebastian! O advogado ainda deve estar na sala de reunião. Vá lá e conte que tudo o que falei é mentira, que eu estava só tentando salvar a nossa pele. — Mais um passo e então apontei o dedo em seu rosto. — Pode ir, mas no fundo você sabe que não há ninguém melhor do que eu para fazer isso com você.

Eu estava a poucos centímetros de distância de Ferrante e esperava do fundo do meu coração que aquele papo estivesse funcionando.

Pelo menos um pouquinho.

 

SEBASTIAN

Olivia tinha um ponto.

Eu não tinha mesmo ninguém.

E, por algum tipo de feitiço, ela sabia que as poucas vezes que pedi ajuda de alguma colega para fingir que era alguma coisa próximo de uma namorada ou eu acabei ferrando tudo indo para cama dela ou a pessoa acabou ferrando tudo indo para minha cama e confundindo os sentimentos.

Eu não queria nem imaginar o que aconteceria num noivado — casamento — de mentira com qualquer colega que eu viesse a ter.

Porém, com Sartori era diferente.

Tínhamos um objetivo em comum.

Olivia preferiria andar em brasas ardentes do que dormir comigo.

E não é que ela não fosse atraente, mas eu também preferiria ouvir o grito de 10 banshees a 2 centímetros do meu ouvido do que enfrentar qualquer que fosse o monstro raivoso que encontraria ao meu lado na manhã seguinte.

Olivia não sabia relaxar e muito menos se entregava a coisas tão mundanas como impulsividade.

O que me deixava curioso sobre o porquê ela estava fazendo aquilo...

Seja como for, ela estava certa porque éramos mesmo um par perfeito para aquela situação: sabíamos nossos limites e éramos religiosos sobre não ultrapassar nenhum deles.

Ela era a melhor pessoa para fazer essa loucura comigo.

Eu era a melhor pessoa para fazer essa loucura com ela.

Observei dedo apontado para minha cara e então ergui minimamente o olhar para encarar seus olhos, eu tinha apenas poucos centímetros de vantagem sobre ela, mas Sartori conseguia fazer com que eu me sentisse a menor das criaturas.

Duas semanas.

Um noivado relâmpago.

Um casamento relâmpago.

Um divórcio relâmpago.

Sem complicações. Sem sentimentos. E, com certeza, eu conseguiria aquela promoção no lugar de Sartori.

— Está bem. — eu disse simplesmente.

Olivia arqueou uma sobrancelha.

— É?

— Sim, faremos isso.

Foi quase imperceptível, mas percebi os ombros dela saírem do estado "extremamente tenso" para o "normalmente tenso", como era de costume vinte e quatro horas por dia.

Será que ela relaxava pelo menos por 5 segundos a cada dois meses?

— Ok. — Ela abaixou o dedo e pareceu notar o quão perto estava de mim, pois colocou um passo de distância entre nós.

— Mas teremos um contrato. — comentei.

Ela zombou.

— Um contrato? Sério mesmo?

Assenti com a cabeça.

— Não posso correr riscos de você sair se apaixonando por mim, Sartori.

— Prefiro andar pelas brasas ardentes do inferno, Ferrante. — Eu não disse? — Mas é bom mesmo que tenhamos um contrato. Tenho algumas cláusulas especiais.

Ela acrescentou com um sorriso amarelo, dando um tapinha no meu ombro antes de se abaixar, pegar uma folha de papel que estava no chão, empurrar contra meu peito como se fosse um pano de chão sujo e sair da sala.

Pisquei para a porta fechada.

Eu estava noivo.

De Olivia Sartori. 

✥✥✥

 


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Notas finais do capítulo

AVISO: essa capítulo foi atualizado com a versão revisada no dia 06/11/2022 (os capítulos seguintes que não tiverem esse aviso (até o cap 14) ainda não foram revisados e serão atualizados

Agradecimento especial para: Fernanda Mara que está acompanhando a história! Espero que esteja gostando ♥ e obg por ler!!

Oiiiii!
O que acharam do capítulo? Não esqueçam de comentar, acompanhar ou favoritar a história! Seu incentivo é muito importante!
Espero que estejam todos bem e até a próxima ♥



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