O começo do fim para mim foi no ano de 1969, quando não consegui mais esconder meus sentimentos de Andrômeda. Tudo começou no Natal, ela ficou em Hogwarts por sua família se sentir boa demais para comemorar um feriado trouxa e eu fui para casa. Não queria deixá-la sozinha no feriado, sentia um aperto no peito por isso, entretanto não havia nada que eu pudesse fazer.

Quando cheguei em casa, mamãe me disse para ir até a Borgin & Burkes porque papai estava lá e queria falar comigo. Eu detestava aquela loja e quase tudo que existia na Travessa do Tranco, sentia nojo da maioria de artefatos vendidos naqueles lugares. Sempre que ia lá – o que acontecia no máximo duas vezes por ano – eu tentava destruir alguns objetos ligados à magia das trevas, a fim de não deixar que fossem comercializá-los.

A loja estava com a fachada limpa e bem cuidada, como meu pai e seu sócio sempre gostavam de conservar, fazendo com que fosse possível visualizar o interior. Havia um bruxo mascarado comprando algo e meu pai estava no caixa analisando um saco de moedas. Não esperando o cliente ir embora – como meus pais sempre pediam – adentrei a loja e fui recebido com três varinhas apontadas em minha direção.

— Que recepção calorosa! – Debochei. – Papai, Sr. Borgin, estranho comprando coisas ilegais. Como vão?

— Modos, Jeremy. – Exigiu meu pai, com os dentes trincados.

Segurei a vontade de dar de ombros e fui me sentar ao seu lado. Poucos segundos depois, o homem com uma máscara preta que cobria todo o seu rosto se aproximou, analisando-me.

— Esse é seu garoto? – Meu pai assentiu. – Fiquei sabendo que irá se casar com uma das garotas Black de Cygnus.

Senti meu punho se fechando ao ouvi-lo falar sobre Andy, mas conservei minha expressão despreocupada.

— Sim, eles se casarão assim que saírem de Hogwarts. – Meu pai afirmou, com orgulho. – Mas não é algo de conhecimento geral ainda, então peço que guarde a informação até anunciarmos o noivado.

— Claro, claro. – O homem concordou. – Eu vou levar minha encomenda agora, se não se importam.

Papai assentiu, sorrindo ao ver o homem colocar mais um saquinho de moedas sobre o balcão. Virando-se para mim, disse:

— Jeremy, pegue a caixa número 215 no depósito superior.

Enquanto saía, ouvi o homem perguntar se eu era confiável, recebendo uma resposta acalorada de meu pai, o qual afirmava que sim, como seu herdeiro e futuro dono da loja, eu era a pessoa mais confiável possível. Assim que toquei a caixa, senti minhas mãos pinicarem e doerem, entretanto, sorri com a certeza que aquilo nunca chegaria nas mãos daquele homem. Abrindo-a, encontrei uma poção avermelhada que reluzia como se fosse sangue. Não sabia ao certo o que aquilo fazia, mas a loja possuía um modo seguro de se livrar de qualquer coisa venenosa de modo seguro – uma forma de eliminar evidências indesejadas. Rapidamente, entrei na sala destinada a isso e vesti as luvas e máscara no canto, destampando a substância viscosa do caldeirão. 

Ao destampar a substância, um forte cheiro de podre se infiltrou no ar, sendo rapidamente substituído pelo odor de queimado quando o líquido rubro alcançou o caldeirão. Algumas chamas trepidaram, consumindo as evidências de minha deslealdade. Voltando à outra sala, coloquei água no vidro e fiz um pequeno corte no meu dedo, deixando algumas gotas de sangue caírem no recipiente, deixando-o com uma cor avermelhada para parecer mais com a poção anterior. Antes que conseguisse descer as escadas e entregar aquilo para o comprador, o Sr. Bogin apareceu, o rosto desconfiado.

— O que você está fazendo, moleque? Por que a demora?

— Eu não estava encontrando a caixa. – Dei de ombros. – Você poderia melhorar a organização.

— Não me provoque, Jeremy. Seu pai pode confiar em você com todo esse papo de herdeiro, mas você não me engana. – Ele se aproximou mais. – Faça qualquer coisa para nos prejudicar e você pode misteriosamente desaparecer.

— Não me ameace, Sr. Bogin. – Semicerrei os olhos. – Você não teria coragem de cumprir essa promessa e nós dois sabemos disso. Eu sou importante demais para ser descartado assim. Já você…

Não esperando a resposta do homem, empurrei a caixa para os seus braços com mais força do que o necessário.

— Leve, se está tão desconfiado.

Ele já estava descendo as escadas quando um barulho o fez voltar. Olhando ao redor, percebi que não havia fechado a porta da sala de destruição de evidências e as pequenas explosões que ainda aconteciam no caldeirão ressoavam por todo o ambiente. Porra!

— O que foi isso?

— Eu não ouvi nada.

— Jeremy Burke. – Ele me segurou pelo pescoço. – Que merda você fez?

Não estava conseguindo respirar e assisti impotente enquanto seus olhos varriam o local. Quando já tinha certeza que seria descoberto, um pequeno gato preto saltou de uma das prateleiras, assustando Bogin e fazendo com que ele me soltasse.

— Tanto alvoroço por causa de um simples filhote. – Disse, acariciando o pescoço enquanto lutava para respirar. – Assim alguém poderia pensar que você tem algo a esconder.

Ele ignorou meu comentário sarcástico, olhando para o animal com ódio. Tentou chutá-lo, mas eu fui mais rápido e peguei o gatinho em meus braços.

— Vou me livrar dele. – Garanti.

Bogin assentiu, ainda me olhando com raiva.

— Seja rápido, precisamos que você entregue algumas encomendas.

Concordei, pensando em como destruiria todos aqueles artefatos das trevas. Logo senti o animal em meu colo esfregar a cabeça em meus braços e isso me fez sorrir. Nunca prejudicaria aquele pequeno ser, precisava encontrar um lar para ele. Uma ideia surgiu em minha cabeça, a qual sempre estava pensando em uma sonserina em específico.

— O que acha de morar em Hogwarts, amiguinho?