O casamento de Bellatrix foi um dos eventos mais importantes na minha história com Andy. Algo mudou naquele dia, talvez meus sentimentos por ela tenham ficado evidentes demais para que nossa amizade continuasse a mesma… ou talvez foi um erro algumas decisões que tomamos. Na realidade, não importa, por mais que eu repassasse todos os momentos em minha cabeça durante anos, nunca cheguei a uma conclusão satisfatória sobre esses "talvezes". 

Tudo à nossa volta estava tão verde e escuro, a decoração em nenhum momento parecendo com a de um casamento. Não foi surpresa quando a noite apareceu com um vestido tão negro quanto o céu sem estrelas. Ela não sorria e seu noivo também não, apesar de ambos almejarem aquela união há muito tempo. Um pensamento incômodo adentrou minha mente: eu e Andrômeda seríamos assim no dia do nosso casamento arranjado? Por mais que fôssemos amigos e ela pudesse desenvolver afeição por mim, seríamos felizes iniciando uma vida juntos para agradar nossas famílias?

Andy percebeu minha expressão e interpretou aquilo como desconforto por ser arrastado para aquela comemoração.

— Eu sinto muito, Jem. – Ela enganchou o braço no meu e andamos lentamente pelo salão. – Eu realmente queria poder evitar isso aqui.

— Está tudo bem, Andy. Poderia ser pior. – Respondi com sinceridade, afinal, tudo sempre pode piorar quando nossas famílias estavam envolvidas

— Pior como? 

— Nossas mães nem nos chamaram para falar sobre o nosso casamento para os convidados. Isso com certeza seria pior. – Andy sorriu, confidente. – Vamos só beber alguns drinks, dançar algumas músicas e evitar ao máximo confraternizar.

— Excelente plano.

Sorri, pegando duas taças de champanhe de uma mesa próxima. Me aproximei e lhe entreguei, observando-a tomar um pequeno gole. Andy não estava linda, estava simplesmente magnífica. Era difícil desviar o olhar dela, de seus olhos brilhantes e dos lábios agora molhados do líquido borbulhante. Dos cabelos encaracolados descendo pelos ombros e se aninhando junto ao vestido, o qual era uma tortura particular de se olhar. Verde definitivamente era a cor de Andrômeda Black. Ninguém poderia negar.

Ela me puxou para dançar, dizendo para fugirmos de minha mãe, e eu a deixei me arrastar por entre aquelas pessoas que não gostávamos. Deixei ela se aproximar e enganchar os braços em volta do meu pescoço e aproximar o rosto do meu. Andy estava de salto, o que fazia seu rosto ficar consideravelmente mais próximo do meu, mais tentador e reluzente.

— Você ficou maravilhoso com esse terno. – Andy disse.

— E você está uma tentação com esse vestido.

Ela riu, balançando a cabeça negativamente.

— Eu estou falando sério. – Espalmou sua mão em meu ombro.

— Eu também. 

Flertar assim com Andy tinha um charme e encanto que me atraíam de forma inexplicável. Eu era como os pequenos insetos que se apaixonam pelas luzes das velas e, no fim, acabam chamuscados e mortos. Ela seria minha perdição e eu não poderia me importar menos com isso enquanto ela estava tão próxima. Entretanto, logo percebi o quanto estava incomodada com os olhares em nós, com os sussurros evidentes e a atenção exacerbada. 

De alguma forma, a puxei para o jardim e fiz algum discurso ilógico sobre podermos fugir naquele momento. Eu sabia que racionalmente isso não seria possível, mas apenas queria tirá-la daquele ninho de hipócritas e trapaceiros. Andy merecia muito mais do que aquilo e eu seria um babaca se dissesse que não fiquei feliz quando, no futuro, ela conseguiu mais. Não poderia guardar rancor ou ficar chateado se sabia que ela estaria segura e alegre.

— Você sabe que não podemos, Jem. – Andrômeda disse, os olhos brilhantes de emoção. – Isso somente faria nossos pais nos afastarem e arrumarem outras pessoas para casarem conosco, o que seria muito pior. Conviver com essas pessoas, estando sobre a constante avaliação delas, é horrível, mas ser separada de você seria muito pior.

Não me segurei e a abracei, sentindo-a relaxar automaticamente. Aquela reação poderia me fazer ver estrelas, saber que ela confiava tanto em mim.

— Você é a porra da minha galáxia, Andy. Não vou deixar que eles nos separem.

Uma verdade e uma mentira. Era óbvio que cada palavra que saiu da minha boca era sincera, porém eu estava enganado quando pensei que abraçar Andy me faria ver estrelas. Eu ainda não a tinha beijado e quando ela encostou os lábios, eu juro que poderia nomear cada maldita estrela do céu. Elas estavam todas ali, tornando Andy o ser mais lindo do universo. Da galáxia. Da minha galáxia.

Naquela noite eu não pensei em mais nada além dela.

Só que nas próximas semanas, não foi Andrômeda Black que dominou meus pensamentos. Foi Hellen Bedwyn, melhor amiga da minha melhor amiga. Uma vez ela me disse que existe um momento na nossa vida do qual nos arrependeremos para sempre. Que, se fosse possível, pegaríamos um vira-tempo e faríamos de tudo para que fosse diferente. Ela tinha apenas doze anos e toda a sabedoria do mundo. Mas o que Hellen não raciocinou, e o que eu fui pensar apenas após beijar Andy, é que não sabemos se esse diferente será melhor ou pior. Não há como prever o futuro, por mais que alguns bruxos afirmem que sim. Destino é uma merda que não existe e, se existisse, eu não estava destinado a ficar com Andrômeda Black. Nós podíamos funcionar como amigos, mas como namorados estaríamos sempre à sombra de nossas famílias e de tudo que esperavam de nós. Por mais que fugíssemos disso, não havia como nascermos de novo. Talvez em outra vida, Andy.

Eu me arrependi durante cada dia por ignorar o que aconteceu entre nós, por fazê-la ficar confusa e chateada. Mas eu não podia iludir a nós dois e continuar com isso. Não era certo brincar com os meus sentimentos assim, eu era uma mariposa chamuscada, mas ainda não estava morta.

Por mais que Andrômeda fosse minha galáxia, eu seria apenas mais uma estrela em sua constelação.