Detetive Potiguar VERSÃO ROTEIRO escrita por Helen


Capítulo 2
PARTE 2 - A missão de Cleiton Cariri




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10 INT. ESCRITÓRIO PARTICULAR - DIA

O ESCRITÓRIO PARTICULAR é uma sala pequena, muito simples. Há uma escrivaninha no centro, com duas cadeiras de plástico, uma geladeira velha e uma lixeira. Além disso, o certificado de conclusão de curso de detetive está orgulhosamente pendurado no centro da parede.

CLEITON pede para que MIXELE se acomode, enquanto abre a geladeira. Nela, só há uma sacola de pão de forma integral, uma embalagem de KINDEROVO aberta e vazia e uma garrafa de vodka, COM ÁGUA.

CLEITON tira a garrafa de vodka e a coloca na mesa, procurando um copo de plástico na gaveta da escrivaninha.

CLEITON ADULTO

(oferecendo a Mixele)

Você quer? É água.

MIXELE

(acenando negativamente com a cabeça, um pouco incomodada)

Não, moço, brigada.

CLEITON ADULTO

Tudo bem.

CLEITON pega o copo, enche e bebe. Ele grunhe como se tivesse bebido uma vodka de verdade, e joga o copo na lixeira, errando. Ao notar que o copo está no chão, ele senta na cadeira, como se nada tivesse acontecido, e se recompõe.

CLEITON ADULTO (cont'd)

Enfim. O que a traz até aqui?

MIXELE

É que a dúvida me incomoda.

CLEITON ADULTO

(visivelmente confuso com a frase)

Entendo, entendo. Por favor, continue.

MIXELE

É que eu sou casada há quatro anos, sabe?...

CLEITON ADULTO (V.O)

Quando ela disse "casada", eu já sabia o que ela ia pedir.

CLEITON suspira, tentando parecer interessado. A cena vai acelerando gradualmente enquanto ele fala.

CLEITON ADULTO (V.O.)

A Mixele passou umas duas horas falando sobre o casamento dela, sobre o marido dela, sobre a sogra que tinha passado férias em João Pessoa e tinha colocado fotos de biquíni, o que era "uma afronta a moral e aos bons costumes", etc. Eu não queria ter prestado atenção a nada nisso, mas eu não tinha nada melhor para fazer.

CLEITON olha o celular rapidamente.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Nem mesmo meu celular tinha notificações.

A cena volta à velocidade normal. MIXELE dá um longo suspiro depois de seu monólogo.

MIXELE

Eu acho que meu marido está me traindo.

CLEITON pisca os olhos lentamente, com a cabeça apoiada no braço.

CLEITON ADULTO (V.O.)

Não era o caso que eu queria, mas era o caso que eu precisava.

CLEITON se ajeita na cadeira, dando um longo suspiro.

CLEITON ADULTO

Tá certo.

MIXELE sorri de satisfação. Os dois começam a conversar.

CLEITON ADULTO (V.O.)

Mixele me deu todo o tipo de informações que você pode imaginar.

Um par de sapato social é mostrado.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

O número de sapato dele.

Uma foto antiga de criança é mostrada.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

O apelido de criança dele.

Uma imagem de bobó de camarão é mostrada.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

A comida favorita dele.

As imagens seguintes são sobrepostas às anteriores, à medida que CLEITON narra.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

O nome do gato de estimação, nome do melhor amigo dele, lugar onde ele trabalha, horário que ele saía de casa, algumas mulheres que davam em cima dele, o programa de TV favorito... enfim. A maioria das informações eram inúteis, mas eu não podia dizer isso pra minha cliente.

MIXELE aparece se despedindo de CLEITON enquanto ele acena.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Pelo menos ela me pagou uma parte ali mesmo.

CLEITON conta o dinheiro nas mãos, alegremente.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Agora o resto era comigo.

 

11 EXT. LOJA DE BICICLETAS - DIA

SEU LIMA vê MIXELE se afastando ao longe. CLEITON aparece, com um semblante feliz.

SEU LIMA

Finalmente apareceu um trabalho?

CLEITON ADULTO

Finalmente, seu Lima. Vai dar até pra pagar o aluguel próximo mês.

SEU LIMA

Muito bem. Quero ver você trabalhando, e não farreando com aqueles corno da faculdade.

CLEITON ADULTO (V.O.)

Eu nunca mais vou farrear com eles, se preocupe.

CLEITON ADULTO

Ah, talvez eu não venha amanhã não, visse.

SEU LIMA

Na investigação, né? Boa sorte aí.

Espero que tu ache o culpado.

CLEITON ADULTO

Eu vou achar. Mais cedo do que o senhor imagina.

SEU LIMA

Vê se não dorme tarde, viu?

CLEITON ADULTO

Claro. Vou acordar amanhã bem cedo.

 

12 INT. CASA DE CLEITON (QUARTO) - DIA

O quarto de Cleiton é bem simples: uma cama, um guarda-roupa e um abajur antigo. Algumas roupas estão jogadas no chão e na cama.

CLEITON acorda preguiçosamente, saindo das cobertas. Ele pega o celular ao lado do seu travesseiro e olha as horas. Ao ver que horas são, ele dá um sobressalto e sai pulando da cama.

CLEITON ADULTO

Ave minha nossa senhora!

Rapidamente ele vai até o guarda-roupa põe o sobretudo e calça as chinelas. Antes de sair do quarto, porém, lembra do chapéu e coloca-o na cabeça, retirando-se.

 

13 INT. RUA DE MIXELE - DIA

A rua onde mora MIXELE fica no Tirol, um bairro rico da cidade. É um lugar cheio de árvores bonitas e canteiros gramados, alguns flanelinhas e várias clínicas médicas.

CLEITON está dentro de um carro velho, fingindo ler um jornal. Ele baixa o objeto, encarando uma casa do outro lado da rua. De início, ele parece bem concentrado, até dar um longo bocejo.

CLEITON ADULTO

Que caninga. Não posso nem virar a noite que eu já fico assim. ACORDA!

(ele dá um tapa em si mesmo. O tapa dói mais do que o esperado)

Ai!

(ele massageia a própria bochecha)

Foi mal, Cleiton.

CLEITON olha pela janela do carro, encarando um flanelinha. O próprio apenas desvia o olhar, fingindo ignorar a estranheza do detetive.

FLANELINHA

Cada um com suas mania, né.

O foco volta a ser Cleiton, que revira os olhos e põe o jornal na cara de novo. Contudo, ele fica espiando por detrás.

CLEITON ADULTO (V.O.)

Você deve pensar que um cara como eu lendo um jornal dentro de um carro deve parecer algo suspeito. Mas na verdade, é a coisa mais normal do mundo.

A câmera mostra a casa de Mixele, ao longe.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Todo o detetive que se preze espia desse jeito. É verdade, eu vi nos filmes. Se liga...

 

14 INT./EXT. RUA NOIR - NOITE

Tudo fica em preto e branco. Está chovendo. O carro de Cleiton se transforma em um Chevrolet Opala. Ele ainda está fingindo ler o jornal, e olha discretamente para a casa de Mixele.

CLEITON ADULTO (V.O.)

(voz dramática)

Então aqui é o antro do mal. O lugar onde a desconfiança cresceu e tomou lugar.

A câmera mostra uma casa antiga, obscura, pequena.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Por fora, parece apenas uma casa. Mas por dentro, é como um grande cemitério de amores perdidos, um lugar onde a bondade e a compreensão já se perderam há muito tempo.

(ele faz uma pausa)

Esse lugar foi corrompido pela natureza humana, tão incapaz de manter as boas relações por causa de sua poderosa ganância.

Cleiton coloca o jornal novamente na cara, enquanto a câmera se aproxima.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

E eu, como detetive, devo lidar com os gritos de socorro daqueles que chamam pelo meu trabalho, que precisam da minha competência infalível para...

 

15 INT./EXT. RUA DE MIXELE - DIA

O celular de Cleiton vibra no bolso, fazendo toda a cena voltar a ser colorida. Ele baixa o jornal e encara o aparelho, lendo uma mensagem.

CLEITON ADULTO

Ah... Ele já saiu.

CLEITON liga o carro e sai, um pouco envergonhado.

 

16 EXT. RUA DO ESCRITÓRIO - DIA

Cleiton chega estacionando o carro, desliga o veículo e sai. Ele tenta abanar a si mesmo, com calor, e percebe uma cigarreira ali próximo, que vende ventiladores de brinquedo que vem com balas. Cleiton compra um desses e se senta num dos bancos altos, observando o prédio do escritório de longe e se refrescando.

CLEITON ADULTO

(para o vendedor)

Você trabalha há muito tempo aqui?

VENDEDOR

Sim, faz um tempo. Era na época em que só tinha aquela escola pra lá.

(ele aponta para uma rua)

Qual era o nome?... Não sei, ela há no mínimo uns dez anos....

CLEITON ADULTO

(ignorando o que ele disse)

Aquele prédio ali...

(ele aponta para o escritório)

Ele é o que?

VENDEDOR

(olha de relance para o prédio)

Ah, é uma corretora. Esses negócio de imóveis, sabe. Eles vivem saindo pra resolver as coisas.

CLEITON ADULTO

Você não notou alguma....

(gesticula com as mãos)

Alguma coisa... fora do normal?

VENDEDOR

Tipo o que?

CLEITON ADULTO

Tipo... pessoas saindo.... acompanhadas...

VENDEDOR

Isso é fora do normal?

CLEITON ADULTO

Pra você pode não ser, mas pra mim é.

VENDEDOR

Ok...?

CLEITON ADULTO

Senhor...?

(faz uma pausa, esperando que ele diga seu nome)

VENDEDOR

O que é?

CLEITON ADULTO

Senhor....?

(ele faz a mesma pausa, com o mesmo objetivo)

VENDEDOR

Diga. Algum problema?

CLEITON ADULTO

(suspira)

Você por acaso...

(ele põe o celular no balcão e o arrasta

até o homem)

Já viu este homem?

VENDEDOR

(olha para a foto)

Esse aí não é o Linaldo?

CLEITON ADULTO

(se fazendo de sonso)

É mesmo?...

VENDEDOR

Ah, você é o detetive que a Mixele contratou.

(ele dá uma risada)

Ela tinha me dito que tinha contratado alguém.

CLEITON ADULTO

Você conhece a Mixele?

VENDEDOR

Claro. Ela sentou aqui, nesse mesmo banco, perguntando a mesma coisa.

CLEITON ADULTO

Ora ora, então meu trabalho vai ser muito mais fácil. Sabe, a minha cliente disse que...

VENDEDOR

É, é, eu já sei de toda a história. Ela passou duas horas me contando.

CLEITON ADULTO

Então o senhor sabe da legítima importância que tem a minha investigação.

VENDEDOR

Sim.

CLEITON ADULTO

(esperando ele dizer alguma coisa)

Então.... senhor....?

VENDEDOR

O que é?

CLEITON ADULTO

(suspira)

Você viu Linaldo saindo mais tarde do que os outros?

VENDEDOR

Não.

CLEITON ADULTO

Nunca sai com uma outra mulher, assim?...

VENDEDOR

(olhando para um ponto em movimento)

Tipo, ele sai com ela e os dois entram num carro?

CLEITON ADULTO

Isso! Exatamente!

VENDEDOR

(aponta pra rua)

Tô vendo agora.

CLEITON ADULTO

(ele se vira na direção apontada)

O que?!

A cena muda para LINALDO dentro de um carro com uma outra mulher, prestes a ligar o motor. Cleiton sai correndo até o seu próprio carro, na intenção de segui-los. O vendedor dá uma risada.

VENDEDOR

(para Cleiton)

Boa sorte, detetive!

Cleiton acelera rapidamente.


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