Detetive Potiguar VERSÃO ROTEIRO escrita por Helen


Capítulo 1
PARTE 1 - A origem de Cleiton Cariri


Notas iniciais do capítulo

Esclarecimentos: (V.O) = Voice Over. Fala por cima da cena, como se fosse uma narração.

(cont'd) = Indica que a fala é a continuação da fala anterior.

INT./EXT. = INTERNO/EXTERNO. Indica a localização onde vai se passar a cena (dentro ou fora de um certo cenário)



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A história se passa nos dias atuais, cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Cleiton é um homem de etnia indígena, determinado e sonhador. Até demais. Ele vive pelo objetivo de se tornar o melhor detetive que sua cidade já teve, mas tem que lidar com a realidade que não é tão épica assim.

 

1 INT./EXT. CASA DE CLEITON (SALA) - DIA

CLEITON CRIANÇA está sentado diante de uma TV, hipnotizado pelas imagens preto e branco.

CLEITON ADULTO (V.O.)

Eu sempre sonhei em ser um detetive. Quando era pivete eu passava horas vendo e revendo as fitas do meu pai com filmes Noir, essas coisas.

CLEITON CRIANÇA lê uma edição de Sherlock Holmes, rodeado de outros livros.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Minha mãe achava os filmes muito violentos, então ela comprava livros pra mim. Eu achava legal como os caras conseguiam pensar em tanta coisa pra resolver um crime.

Aparece CLEITON CRIANÇA olhando para uma poça de água derramada de um balde caído.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Eles não 'tavam nem aí pro que tinha acontecido.

CLEITON CRIANÇA segue uma trilha de pegadas de cachorro.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Eles estavam interessados em saber a causa.

Há um cachorro molhado no fim da trilha.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Desmembrar as ações em cadeia.

CLEITON CRIANÇA olha para o cachorro e depois olha para cima. Um periquito está pendurado fora da gaiola. CLEITON CRIANÇA olha com mais atenção e percebe que o bebedouro dele está vazio.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Descobrir a verdade.

A câmera entra na mente de CLEITON CRIANÇA. Ele reconstrói toda a cena "do crime": o balde d'água, o periquito saindo da gaiola com sede, o cachorro se aproximando para atacar e derrubando o balde.

Voltando à realidade, CLEITON CRIANÇA sorri com a descoberta e olha para o cachorro. O animal o olha de volta, confuso.

 

2 INT. CASA DE CLEITON (COZINHA) - NOITE

CLEITON ADULTO está mexendo no computador, concentrado.

CLEITON ADULTO (V.O.)

Eu nem sabia como fazia pra virar um detetive, na verdade. A gente só vê o povo investigando, mas nunca entrando na profissão, né?

Ele fica surpreso.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Mas aí um dia eu descobri.

Ele preenche um formulário numa mesa.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Precisava fazer um curso por correspondência. Eu nem pensei duas vezes. Me inscrevi e passei uns meses estudando até que finalmente ganhei meu certificado.

 

3 INT. ESCRITÓRIO PARTICULAR - DIA

CLEITON está colocando o certificado moldurado na parede.

CLEITON ADULTO (V.O.)

Foi o dia mais feliz da minha vida. Eu me sentia como um pai de primeira viagem.

Ele aparece sorridente.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Nesse dia eu fiz um juramento: Eu iria ser o mais famoso detetive que Natal já teve. Talvez eu virasse até um ícone nacional, imagina? Um Sherlock Holmes do Brasil. Ei, esse podia ser o nome de um filme!

Ele faz uma cara de estranhamento.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

(tom de desaprovação)

É... não. Ia ficar muito malhado. Tinha que ser um nome original, um nome filé, um nome que todo mundo lembrasse.

Ele dá de ombros.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

Bom, tanto faz. Agora, o que importa mesmo é que eu sou um detetive.

Ele se vira para trás, fazendo uma pose confiante.

CLEITON ADULTO (V.O.) (cont'd)

O melhor detetive que Natal vai ter!

CLEITON sai alegremente do ESCRITÓRIO PARTICULAR, fechando a porta atrás de si.

 

4 INT. PROVADOR DE SHOPPING - DIA

CLEITON sai do provador, vestindo um terno. Ele se olha no espelho e desaprova a visão, voltando ao provador.

Na segunda tentativa, CLEITON veste um sobretudo e um colete, porém desaprova de novo.

Enfim, na terceira tentativa, CLEITON sai de chapéu fedora, regata, sobretudo, bermuda e chinelo. Ele se olha no espelho, orgulhoso, e abre um sorriso de satisfação.

 

5 INT. BAR - NOITE

CLEITON está sentado numa mesa cheia de copos e garrafas de bebida. Vários figurantes o acompanham, rindo sem motivo aparente.

CLEITON ADULTO

Olha... como detetive eu... eu declaro que... a BIBIDA... é a culpada de tooodo o mal... tooodos os males... por isso... eu vou acabar com ela...

(vira o copo, todos comemoram)

FIGURANTE

Cleiton, você vai pagar pra todo mundo, né? Agora que você é detetive.

CLEITON ADULTO

Claaaaaro... pode botar na minha conta.

(todos vibram)

Eu sou um bom detetive. Eu vou resolver os problemas de todo mundo!... Todo mundo...

(ele ri sozinho, e aponta pra cima)

Mais bebida!

(todos comemoram novamente)

 

6 INT./EXT. CASA DE CLEITON (SALA) - DIA

CLEITON está dormindo no sofá, que é um tanto desbotado. O texto "UM MÊS DEPOIS" aparece. A sua casa é bem simples, sem muitas decorações. Ele acorda, olha ao redor, meio tonto, e se levanta.

CLEITON faz uma tapioca e come com ovo.

CLEITON escova os dentes.

CLEITON sai de casa e fecha o portão.

 

7 INT. LOJA DE BICICLETAS - DIA

A LOJA DE BICICLETAS é um lugar limpo e organizado. À esquerda do vão de entrada estão algumas bicicletas quebradas, postas em apoios. SEU LIMA, o dono do estabelecimento, está por trás de um balcão, no canto direito do vão de entrada. Ele está numa ligação quando vê CLEITON passar.

SEU LIMA é um senhor na faixa dos cinquenta anos, apesar de não aparentar muito. É um homem sério, pouco vaidoso e solitário.

SEU LIMA

(afasta o telefone do rosto)

Cleiton! Cleiton, vem cá!

CLEITON se aproxima.

CLEITON ADULTO

O que foi, seu Lima?

SEU LIMA

Tu tem como me transferir cinquenta reais?

CLEITON ADULTO

Seu Lima, pelo amor de Deus, eu sou pobre, tenho esse dinheiro não.

SEU LIMA

(revira os olhos)

Tem pelo menos vinte e cinco?

CLEITON ADULTO

(tira celular do bolso)

Deixa eu ver.

CLEITON abre o aplicativo do banco e olha seu saldo:—585,90 (quinhentos e oitenta e cinco reais e noventa centavos negativo).

CLEITON ADULTO (cont'd)

Vixe.

SEU LIMA

Que foi?

CLEITON ADULTO

Então...

(coça a nuca)

Eu acho que não tenho não, visse.

SEU LIMA

Tu gasta esse seu dinheiro em que, hein?

CLEITON ADULTO

(gesticulando)

Passagem de ônibus, aluguel do senhor, água, luz, parcela das minhas roupa...

SEU LIMA

E essas tuas farra que tu vai? Tu não gasta lá não?

CLEITON ADULTO

Olha... Veja bem. Eu considero aquilo como um investimento.

SEU LIMA

Investimento de que?

CLEITON ADULTO

Amizade.

SEU LIMA

(dá uma risada)

Amizade, né? Morre, pra ver se algum deles aparece no teu enterro!

SEU LIMA se retira para os fundos da loja. CLEITON volta a olhar o celular, em pânico.

CLEITON ADULTO

De onde veio essa conta?!

CLEITON olha o extrato.

CLEITON ADULTO (cont'd)

Pera... esse aqui não é o lugar do...

(ele tem uma súbita revelação)

Foi os universitário. Não, boy, só pode ter sido. Aquelas caninga nunca tem dinheiro pra nada.

CLEITON guarda o celular, pensativo.

CLEITON ADULTO (cont'd)

E agora, eu vou fazer o que?

 

8 INT. BAR VINTAGE - NOITE

Subitamente, um raio ilumina a cena, transformando-a em um cenário de filme Noir. Tudo fica preto e branco, CLEITON aparece com roupas mais elegantes e chuva começa a cair fora da LOJA DE BICICLETAS, que se transforma em um BAR VINTAGE.

CLEITON ADULTO (V.O.)

(visivelmente fazendo drama)

Minha vida desce por uma ladeira interminável de traições.

(encara o lado de fora)

Está frio esta noite. Tão frio quanto o coração das pessoas que me apunhalaram pelas costas e só agora posso ver suas verdadeiras faces.

(ele acende um cigarro e fica de frente para a chuva)

Como eu gostaria de ter ao meu lado alguém que pudesse me tirar desse mundo sombrio.

Uma bela mulher de vestido vermelho se aproxima de CLEITON. Não vemos seu rosto ainda.

MULHER

Com licença...

CLEITON ADULTO

(sem olhar para ela)

Diga.

MULHER

Você sabe onde está o detetive?

CLEITON ADULTO

(dá uma risadinha charmosa)

Eu sou o detetive. E você é...?

 

9 EXT. LOJA DE BICICLETAS - DIA

De repente, MIXELE toma o lugar da mulher. Ela é uma senhora de quarenta e poucos anos, vestindo uma camisa de Nossa Senhora e uma saia jeans. O cenário preto e branco dá lugar ao original.

MIXELE

Meu nome é Mixele, moço.

CLEITON se assusta com a súbita mudança no cenário e na personagem. Ele olha ao redor, confuso.

CLEITON ADULTO

Oi?

MIXELE

Com X. Mixele com X.

CLEITON ADULTO

Ah.

(limpa a garganta)

Sim, sim, meu nome é Cleiton. Cleiton Cariri.

MIXELE

Você é o detetive?

CLEITON ADULTO

Sim, madame.

MIXELE

Eu preciso do senhor.

CLEITON ADULTO

(faz uma pausa, ainda atordoado com a realidade)

Certo. Vamos ao meu escritório.

CLEITON aponta para uma porta ao lado da LOJA DE BICICLETAS e eles vão.


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