O Melhor Aluno da Classe escrita por 4everCurds


Capítulo 4
Capítulo 3 - Friendzoned




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No outro dia

Freddie Benson

Eu não quis contar nem a Jeremy e nem a Gibby que eu me encontraria com a Srta. Puckett no shopping. Do jeito que eles são, é capaz de estragar tudo mesmo de longe. Então, para todos os efeitos, eu achei melhor guardar isso para mim, o que foi difícil, porque eu queria escrever na minha testa o fato de que eu havia ganhado a chance de pagar um sorvete para a minha professora gata.

Talvez, eu nunca vou contar isso para ninguém, mas eu não dormi na noite de sexta para sábado. Eu não conseguia parar de pensar no que dizer para a Srta. Puckett quando a encontrasse. E que noite longa foi aquela! Eu literalmente vi cada minuto passar. Mas foi uma grande burrice da minha parte, porque logo de manhã eu estava um caco.

Quero dizer, eu estou relativamente acostumado a dormir tarde e acordar cedo (escondido da minha mãe, é claro), mas, mesmo assim, eu estava destruído de manhã. A sorte é que a Srta. Puckett havia marcado para 4 horas da tarde, o que me permitiu dormir das sete até o meio dia. 

Minha mãe chegou do plantão de manhã e interrompeu meu sono para perguntar se eu estava dormindo. Às vezes, eu não entendo ela. Então inventei uma desculpa, dizendo que havia ficado até tarde fazendo um trabalho. É claro que eu me sentia mal mentindo para a minha mãe, mas, se não for assim, ela nunca vai largar do meu pé. Ela não entende que eu não sou mais criança.

Então meio-dia eu me levantei e almocei sob um sermão de Marissa Benson, que disse repetidas vezes que eu não deveria dormir tão tarde. Depois, joguei videogame até duas horas da tarde, quando parei tudo para ir me arrumar.

É claro que minha mãe veio com as perguntas, dizendo que achava que eu iria ao cinema à noite. Foi difícil enrolar ela e eu até acho que ela não se convenceu com a história que contei. Por isso, quando deu três e meia eu saí de casa o mais rápido que pude. Quanto menos ela pensasse, melhor seria.

Então tomei o 62 e desci na frente do shopping em 10 minutos. Eu não queria me atrasar, mas, mesmo correndo esse risco, antes de seguir para a praça de alimentação, passei em uma loja e comprei uma dessas caixas em formato de coração cheias de chocolate por dentro.

Depois, segui para a praça de alimentação pensando em como pediria desculpas para a Srta. Puckett, pois meu relógio de pulso já marcava quatro e cinco. Mas quando cheguei lá não a vi.

Será que ela não vem? - me perguntei, apreensivo.

Uma hora depois

Olhei para o meu relógio: Cinco horas e seis minutos. Ela não viria, me convenci. Então, chateado, me levantei e já ia saindo quando senti uma mão quente contornando meu ombro, indo do esquerdo até o direito. Olhei e, como por um milagre, toda minha chateação foi embora.

—Foi mal pela demora - ela disse e se sentou, colocando o capacete e uma mochila pequena sobre o chão.

Então, também me sentei e falei:

—Tudo bem.

Bom, pelo menos, ela veio - pensei.

—E aí? - Ela mexeu as mãos sobre a mesa. 

Encarei-a meio hipnotizado, não nego. Ela era tão bonita, cara. Bem melhor do que aquelas garotas esnobes do colégio. E olhando assim, mais de perto, ela era ainda mais linda. 

—Esse chocolate é para mim? - De repente, ouvi ela perguntando.

Balancei minha cabeça e voltei para o planeta Terra. Só aí que eu percebi que a encarava feito um lunático.

—S-sim - gaguejei e a entreguei a caixa.

Com todos esses meus devaneios, até esqueci dos chocolates.

—Obrigada, então - ela disse e eu sorri de orelha a orelha.

Eu devia estar parecendo um bobão, mas quem liga? Era eu ali, não o idiota do Griffin que se acha o maioral por viver afundando minha cabeça na privada.

Mas outra vez eu me deixei levar por aquele par de olhos azuis e me esqueci de outro detalhe: o sorvete.

—Olha, a gente poderia continuar aqui se encarando assim. Por mim tudo bem. Mas… 

—Ah, é mesmo! O sorvete - quase saltei de vergonha na cadeira.

A Srta. Puckett riu e mordeu os lábios. Puts! Como eu amava quando ela fazia aquilo. Mas eu não podia perder o foco e o foco era descobrir onde eu havia guardado o troco dos chocolates.

A bermuda caqui que eu usava tinha tantos bolsos e eu nunca havia me dado conta do tanto de coisa que eu carregava nos bolsos até que me vi diante do olhar envolvente da Srta. Puckett.

—Espere aí rapidinho. Deve estar por aqui - falei tirando tudo dos bolsos e colocando em cima da mesa.

Mas é incrível como a gente nunca acha as coisas quando estamos procurando. Até parece que o universo conspira contra nós. Até minha carteira eu virei do avesso, mas juro que não achei 1 centavo. Mas foi só quando eu peguei a nota fiscal da caixa de chocolates que me dei conta da burrada que havia feito. A caixa havia sido 65,98. Meu Deus, que tipo de chocolate custa isso tudo? E como eu fui dar todo o dinheiro assim? Onde eu estava com a minha cabeça? E pior era que além de não ter dinheiro para pagar o sorvete, eu tampouco tinha dinheiro para ir embora.

—Algum problema aí? - a Srta. Puckett perguntou, provavelmente porque me viu batendo a mão na minha testa repetidas vezes.

Eu tinha a mania de fazer isso quando as coisas davam errado e, dessa vez, foi por bobeira minha. Geralmente, era por culpa de Jeremy ou Gibby.

—Eu gastei todo o meu dinheiro na caixa de chocolates sem perceber - respondi num tom baixo, eu não queria que ela pensasse que eu era um tapado.

—Todo dinheiro? - ela riu.

—Sim. Até o dinheiro do ônibus.

Ela riu mais uma vez  e pegou uma carteira preta na mochila, de onde tirou um cartão. Depois, ela se levantou e, antes de ir na direção do McDonald's, perguntou:

—Um sundae?

Assenti, sem graça.

—De qual você prefere? - ela perguntou.

—Chocolate - respondi, mas minha voz quase não saiu.

Então ela disse que já voltava e eu a assisti caminhar até o McDonald's, enquanto me sentia um pateta.

Alguns minutos depois

A gente não ficou muito tempo na praça de alimentação. Foi a conta de tomarmos nossos sundaes, o meu de chocolate e o dela de morango. Depois, ela se levantou e disse que precisava ir. 

Eu queria ter falado mais e ter tido dinheiro para pagar os sundaes, mas como a minha vida é vergonha atrás de vergonha, eu nem me surpreendi muito com o mico que paguei.

E eu já estava preocupado, sem saber como iria para casa, quando ela, ainda na praça de alimentação, me estendeu o capacete e disse: 

—Pega. Eu vou te deixar em casa.

A ideia era ótima, só a execução é que eu não tinha muita certeza se iria dar certo. Eu não quero que minha mãe me veja chegando em cima de uma moto. Ela odeia motos. Mas eu seria muito burro se perdesse aquela oportunidade. Por isso, mesmo sabendo dos riscos, aceitei a carona.

Então, depois que eu aceitei, descemos juntos para o estacionamento em silêncio. Eu acho que ela esperava que eu dissesse algo, mas eu estava com vergonha. 

—Você vai sem capacete? - perguntei quando vi que ela subiu na moto sem nenhuma proteção.

—A sua cabeça é mais importante do que a minha - ela respondeu num tom engraçado e eu ri.

Então, coloquei o capacete e juro que, por um instante, achei que aquelas cenas de filme iriam acontecer comigo, onde eu não consigo amarrar o capacete e a Srta. Puckett me ajuda; então nós dois nos encaramos e eu a beijo.

Mas tudo não passou de um delírio meu, pois nada disso aconteceu infelizmente. Eu consegui prender o capacete e, timidamente, subi na moto.

—Pode segurar em mim - a Srta. Puckett disse justamente no momento em que eu me perguntei onde me seguraria, pois não vi suporte nenhum.

Naquele momento eu quis que a Ridgeway inteira me visse. Eu estava com os meus braços ao redor da cintura da Srta. Puckett. Que se dane o mundo! E ela era tão cheirosa que eu poderia morrer naquele exato momento; mas de fato quase morri (de susto) quando ela acelerou a moto. Minha alma ficou lá atrás, na vaga do estacionamento.

Cinco minutos depois

A Srta. Puckett parou a moto em frente minha casa e eu pude finalmente soltar a respiração. Por Gandalf! Como ela corre. 

—Pode descer se quiser - ela disse vendo que eu ainda estava em cima da moto e segurava sua cintura como se fosse um colete salva-vidas em alto mar.

Eu confesso que, em partes, era porque eu ainda não havia superado a velocidade com a qual ela pilotou. Mas também é verdade que eu simplesmente não queria soltar sua cintura e descer da moto.

Mas, como tudo que é bom acaba rápido, eu tive que descer para não passar mais vergonha, além das que eu já tinha passado.

—Ah, pera aí! Esse capacete tem um truque - ela disse se virando para soltar o capacete da minha cabeça já que eu não estava conseguindo.

Ok. Aquele poderia ser o momento ideal para aquela cena clichê de filme acontecer, porque ela ficou bem próxima e seus dedos fizeram cócegas no meu pescoço. Mas o máximo que aconteceu foi meus óculos irem parar na minha testa quando ela finalmente desgrudou o capacete da minha cabeça.

—Foi mal - ela disse rindo.

—Tudo bem - falei enquanto consertava meus óculos.

Eu fiquei alguns segundos me decidindo sobre o que diria logo em seguida. Simplesmente iria me despedir dela e, talvez, perderia a oportunidade de repetir um encontro? Ou eu venceria minha timidez, nem que fosse por um instante, e faria um avanço?

Optei pela segunda ideia, apesar de não ter garantia de que ela daria certo.

—Posso te dar um beijo? 

Tá. Talvez eu tenha avançado demais.

Ela riu e eu também ri, mas de vergonha.

—Um beijo? 

—Se não for pedir muito - falei.

Não sei porque estava insistindo naquela ideia. E quase deu tempo de desistir se ela não tivesse segurado meu queixo, feito um impulso e beijado minha bochecha.

—Isso é tudo que eu posso te dar - ela disse enquanto eu viajava a mil por hora até o céu.

É claro que o melhor teria sido um beijo na boca - se é que eu posso sonhar - mas aquilo já estava de bom tamanho, afinal, eu nunca havia ganhado um beijo de alguém que não fosse minha mãe ou minhas tias.

E talvez, só talvez, aquele beijo tenha me deixado um pouco empolgado. Porque, sem pensar duas vezes, tentei roubar dela um beijo na boca, mas ela virou o rosto mais rápido do que eu esperava e eu acabei atingindo sua bochecha.

—Truque velho, hein! - ela exclamou enquanto eu corava de vergonha.

—Eu ia beijar sua bochecha mesmo - menti tentando aliviar minha vergonha.

Ela riu e ligou a moto novamente, dizendo:

—Claro! E eu nasci ontem.

Cocei meu cabelo, entre a vergonha e a vontade de rir. Então, quando a Srta. Puckett colocou o capacete e deu a entender que já ia embora, tomei a coragem que eu quase nunca tinha e perguntei:

—A gente pode se encontrar de novo?

—Não - ela respondeu antes do esperado por mim.

A princípio, eu fiquei sem graça, porque o seu “não” saiu categórico. Mas então ela sorriu e eu me senti mais aliviado. Ou nem tanto.

—Olha só, lindinho. Não é por nada, mas você é muito novo para mim. Se você tivesse uns 25 anos, até poderíamos tentar. Quantos anos você tem?

—Dezessete - respondi, frustrado.

Eu nunca odiei tanto ter 17 anos como odiei naquele momento.

—Dezessete? Olha aí. Um bebê pra mim. 

Ela me encarou por mais alguns segundos e, em seguida, talvez, porque tenha visto minha frustração, tirou o capacete para dizer:

—Olha, se isso te faz se sentir melhor, nós dois podemos ser amigos.

—Ou seja, vou ficar na friendzone— falei com um meio sorriso que, talvez, mais do que tudo, refletia minha tristeza.

Eu não queria ser só amigo da Srta. Puckett.

—Comigo, sim - ela respondeu.

—Mas eu não ligo para a diferença de idade - argumentei.

—Você não, mas eu sim.

—Por quê? Quero dizer… Eu sei que eu só tenho 17 anos, mas eu posso ser o homem da sua vida.

Ela riu diante das minhas.

Okay. Eu confesso que eu também achei cafona o que eu disse, mas foram as palavras que eu encontrei.

—Uma coisa eu tenho que admitir: você é mesmo mais homem do que muitos que já passaram pela minha vida, mas isso não te faz menos bebê para mim. Imagina o que sua mãe ia pensar.

Quando ela falou “mãe”, os pêlos dos meus braços arrepiaram e, como por instinto, eu olhei para trás, na direção da minha casa.

—Ela não ia achar nada legal - confessei.

—Então…

—Mas ela também não precisa saber.

—Ah, danadinho! - a Srta. Puckett exclamou e riu - Não vai fazer nada escondido da sua mãe. Se quer saber, isso nunca dá certo. Ouça o conselho de quem já teve a sua idade.

—Se você tivesse uma mãe igual a minha, ia querer esconder muitas coisas. Ela é muito superprotetora.

—Se ela é superprotetora, é porque ela te ama. 

Ah, era fácil para a Srta. Puckett dizer aquilo, afinal, não é ela que convive 24 horas com minha mãe. Mas eu não tive coragem de dizer tudo que pensei. Tudo que saiu pela minha boca foi:

—Você não conhece a minha mãe.

—Por quê? Ela é má?

—Ela não é má. Ela só…

Pausei e pensei por um instante.

—Ela só não entende que eu cresci.

—Você é filho único?

—Não. Eu tenho uma irmã mais velha. Ela mora em Nova York.

Por falar na Fran, eu sinto tantas saudades dela. Mas desde o Natal passado ela não vem à Seattle, pois, por causa da insistência da minha mãe em querer controlar demais minha vida, as duas brigaram.

—A minha irmã já me convidou para ir morar com ela em Nova York, - continuei - mas eu não quero, porque…

Cocei a cabeça sem saber como dizer.

—Por quê? - a Srta. Puckett perguntou.

Ela já havia desligado a moto novamente. Estávamos conversando, o que era bom, muito bom. Pois, pela primeira vez na minha vida, eu estava falando aquelas coisas para alguém diferente e que parecia interessada nas minhas palavras.

—Porque foi muito difícil fazer amigos na cidade onde eu nasci, imagina do outro lado do país - respondi com um pouco de vergonha.

Um silêncio se estabeleceu de repente entre nós dois e eu tive medo de ter pesado o clima com aquele meu breve desabafo. Mas, por sorte, depois de alguns instantes, a Srta. Puckett rompeu o silêncio, perguntando:

—Você gosta de baseball?

—Gosto - respondi me animando.

Eu não sabia o que estava por vir, mas pressenti que fosse algo bom.

—Então, um amigo meu me deu dois ingressos para um jogo de baseball que vai ter amanhã… Inclusive, eu ia até vender os ingressos. Mas… Você quer ir comigo?

Eu não pensei duas vezes. Na verdade, acho que nem pensei em nada. Apenas respondi:

—Claro!

—Eu só quero deixar bem claro para você que o de amanhã não vai ser um encontro - ela disse com espaço entre as palavras enquanto tinha um sorriso torto lindo.

—Poderia ser se você quisesse - falei com uma coragem que não sei de onde saiu.

—Não vai ser um encontro. Ponto final. Esse jogo de baseball não anula o fato de que você é muito novo para mim.

Ri e senti em mim mesmo uma certa irreverência. O que a Srta. Puckett estava fazendo comigo? Ela me fazia querer cometer uma loucura. E de fato eu estava prestes a cometer uma.


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